Capitulo 9





Com um suspiro de frustração, olhou para a porta e pensou que, quanto mais tempo ficasse ali em cima ruminando suas tristezas, mais tempo a mãe teria para ficar ainda mais íntima de Harry Potter. Decidiu descer e provar que tinha determinação suficiente para enfrentá-lo.
O vestíbulo estava vazio, e a porta da rua fechada. Gina hesitou um pouco, imaginando onde estaria a mãe. Como a porta da biblioteca estava aberta, decidiu dar uma espiada lá dentro, procurando não fazer ruído para não ser vista. Mas mal tinha dado um passo quando Harry apareceu na porta.
— Precisa de alguma coisa? – ele perguntou com educação, mas em tom frio.
— Eu... é... – deu de ombros, meio sem jeito — estava procurando minha mãe – respondeu, tentando parecer à vontade. — Pensei que ela estivesse ajudando você a arrumar os livros.
— Não. Como pode ver, estou sozinho. Mas se está curiosa para ver como estou usando o escritório do seu pai, fique à vontade.
— Garanto ao senhor que...
— Ora, vamos! — Ele sorriu com desprezo. — Sei muito bem o que você estava pensando.
— Sabe mesmo? – Gina sentiu uma nova onda de indignação — Não sei como é possível, já que...
— Pelo amor de Deus! Não podemos parar com essas agressões? Não sei o que pensa que eu sou, mas estou aqui para trabalhar... só. Acredite ou não, posso passar sem... companhia feminina.
— Acho que o senhor me interpretou mal, sr. Potter... – Gina ia protestar, o rosto vermelho de raiva e vergonha, mas ele simplesmente virou as costas e começou a arrumar os livros na estante.
Humilhada, ela enfiou as mãos trêmulas nos bolsos do casaco e saiu da biblioteca. Felizmente, sua mãe não estava por perto, o que deu a Gina tempo de se recompor.
Durante a refeição, a mãe conversou quase que unicamente com Harry, e Gina ficou meio esquecida, mexendo no prato sem apetite, o que era pouco comum nela. A sra. Weasley fazia perguntas e mais perguntas, que Harry respondia com autoridade e paciência, sem a menor sombra de vaidade.
Quando a sra. Hetherington veio tirar a mesa, a sra. Weasley perguntou ao convidado:
— Quando vai embora, Harry?
— Acho que já vou indo – respondeu com um sorriso — Tenho coisas para fazer na cidade, mas estava pensando em trazer mais alguns livros depois de amanhã, se você não faz objeção.
— Nenhuma – exclamou a sra. Weasley, se levantando. — Não gostaria de ver o jardim antes de ir embora?
— Ótima idéia – concordou Harry, educado, mas sem muito entusiasmo.
Gina quase engasgou com um gole de café quando a mãe completou o convite.
— Poderia ter sugerido isso antes, se soubesse que Gina vinha almoçar em casa. Não se importa de mostrar o jardim ao sr. Potter, não é, querida?
Dizendo isso, ela saiu para dar umas ordens à governanta e deixou a filha e o hóspede a sós.
— Olhe, podíamos esquecer o passeio turístico – disse Harry, ríspido, vestindo o casaco de brim. — Não tenho mesmo muito tempo e tenho certeza de que você tem coisas melhores para fazer.
— Como queira – respondeu Gina, dando de ombros.
— Não é bem o que “eu” quero, e você sabe disso. Não fui eu que comecei essa troca de agressões.
— E o que é que eu digo à minha mãe, então?
— Não me diga que está com medo do que a mamãe vai dizer. — Suspirou, irritado. — Diabos! Eu vou é embora daqui.
Gina ficou confusa. Não costumava ser tão indelicada com as pessoas. Achava que tinha motivos para não gostar dele, mas será que aquela situação desagradável não tinha sido mesmo provocada por ela? Tentou corrigir o erro.
— Sr. Potter... – chamou quando ele já estava quase na porta.
— O quê? – ele se virou sem muito entusiasmo.
Gina deu uns passos na direção dele e parou.
— É que... bem, terei prazer em lhe mostrar o jardim... se quer mesmo vê-lo – ofereceu, meio sem graça.
— Proposta meio forçada, não? – comentou Harry depois de um silêncio que para ela pareceu interminável.
— Só estou tentando... bem, se vamos viver na mesma casa, não podemos continuar... provocando um ao outro.
— Preciso voltar para a cidade.
Aquilo foi demais para Gina.
— Você é mesmo um... um... idiota! – exclamou furiosa. — Você me obriga a convidá-lo para ver o jardim e depois me deixa falando sozinha! O que quer que eu faça? Que me ajoelhe aos seus pés?
— Ei... – sorriu, divertido. — Não pedi para você fazer nada. Quem pediu foi sua mãe! Mas, se está assim tão desesperada para me mostrar o jardim, vamos lá!
— Eu... eu... ora, vá para o inferno! – gritou Gina, fora de si, voltando para a mesa.
— Acho que eu irrito você de verdade, não é?
Daí um instante Harry estava parado atrás dela. Gina se sentia absurdamente vulnerável e não queria que ele visse o ódio e o medo estampados em seu rosto.
— Por favor... deixe-me em paz – pediu, quase implorando.
Harry segurou-a pelos ombros e obrigou-a a olhar para ele. Como ele era mais forte, não adiantava lutar, mas Gina manteve a cabeça abaixada até que uns dedos fortes a obrigaram a levantar os olhos.
— Acho que preciso pedir desculpas, não – Gina quase não reconheceu a voz suave e incrivelmente delicada. — Não estou acostumado a conviver com pessoas de sociedade e você é seria demais, sabia?
— Não preciso de sua piedade. – Gina afastou a cabeça. — E agora... se me dá licença....
— Não dou – ele a interrompeu, firme. — Vai me mostrar o jardim, e depois vou levá-la para tomar chá num daqueles cafés tão simpáticos de Malverley.
— Não... – Gina ia protestar, mas o toque suave daqueles dedos morenos fez com que ela se calasse.




Continua...

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