Capítulo 2



Capítulo 2





Malfoy’s Mansion
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Já posso ouvir risadas no andar debaixo. Provavelmente meu tio acabou de contar alguma piada, na qual somente ele achou graça e o restante das pessoas apenas riram para parecerem educadas. É claro que estou em meu quarto, evitando ao máximo o contato com toda aquela comemoração. Infelizmente uma hora terei que descer. Minha mãe já mandou Willy, o fiel elfo doméstico da nossa família, me chamar três vezes.

O pior é que sei que, desta vez, minha vontade de desaparecer dessa festa não tem nada a ver com os convidados e as brincadeiras ridículas. Minha vontade de não estar lá embaixo, junto com os outros, é para não ter que ver Rose Weasley. Isso é ridículo, eu sei. Não estou com medo de encará-la. Na verdade meu medo é de não resistir e ir até ela falar tudo. Sou impulsivo às vezes, e não sei se diante dessa situação vou conseguir me manter indiferente.

Eu estava parado em frente à janela, quando a porta do meu quarto se abriu – de novo – e meus melhores amigos, Vincent e Sophie, entraram. Nós três nos conhecemos desde quando nascemos. Costumávamos dizer que éramos trigêmeos de pais diferentes. Mas as coisas mudaram um pouco quando Vincent descobriu seu grande amor por Sophie, e ela o correspondeu. Bom, depois disso a teoria dos “gêmeos” foi embora, já que não dá pra ser irmão da sua namorada.

- Como você ainda não está vestido? – Sophie me perguntou horrorizada. Me virei automaticamente para encará-la e conferir se seu espanto era real ou não. Como deveria imaginar, ela estava ironizando a situação. – Moletom não combina com festas de natal.

- O Scorpius também não combina, entretanto estará lá embaixo junto com todos nós! – Vincent concluiu e nós rimos. Definitivamente, do trio, ele era o único que sabia manter o humor.

- Não quero descer. – dei de ombros e caminhei até eles – Mas como sou obrigado, não vejo motivos de trocar de roupa.

- Tudo bem! Vá de moletom então. Você continua gato, embora mal vestido!

- Obrigado Sophie!

- De nada!

Vincent me encarou com as sobrancelhas erguidas. Sua expressão desconfiada nada tinha a ver com o fato de sua namorada ter me elogiado. Como meu melhor amigo, ele desconfiou de longe que havia algo errado comigo, antes mesmo deu me virar para encará-los.

- Certo, você não está com essa cara de mal humorado por causa da bagunça do primeiro andar. – isso não foi uma pergunta – Mas algo me diz que não vai contar o motivo dessa revolta.

- Na verdade, não! – eu fui sincero. Não estava pronto para admitir aos meus amigos que meu problema chegaria em alguns instantes, sorrindo com a expectativa de uma linda festa de Natal. – Certo, se me derem licença, vou me trocar antes que minha mãe suba e acabe parindo outro filho em espanto, por me ver nesse estado. Gosto de ser filho único, se é que me entendem.

Não precisei dizer duas vezes, e os dois saíram do quarto, prometendo me esperar lá embaixo. Vincent ainda disse algo como “se não descer, virei te buscar e te arrasto pra lá nem que esteja vestindo uma cueca!”, e considerando a sanidade do meu amigo, tenho certeza que essa é uma ameaça real.

~¤~


O barulho no andar debaixo aumento. Posso jurar que ouvi as vozes de alguns velhotes, sócios do meu pai. Chatos e mais idiotas que eles não existem. Quando todos pensam que acabaram com suas brincadeirinhas estúpidas, sempre nos surpreendem e mandam alguma ainda pior.

Já não podia mais adiar. Se tinha que enfrentar uma festa de natal e ainda por cima encarar minha “nova antiga grande paixão recém descoberta”, que fosse agora!

Saí do meu quarto e bati a porta com mais força que o necessário ao passar. Por algum motivo a raiva começava a dar sinais de que tomaria conta do meu ‘eu’, e precisava controlar isso antes que descontasse minha fúria no primeiro que aparecesse.

Entretanto, não é tão simples assim. Sou genioso como meu pai, embora ele saiba se controlar bem melhor que eu. Parei no topo da escada, repetindo mentalmente que ninguém ali tinha culpa pelo meu humor altamente negro e perigoso, e que precisava me manter centrado antes que meu olhar denunciasse todo meu ódio. Respirei fundo. Talvez eu tivesse alguma sorte e os pais da Rose decidissem não ir à festa. O que me daria muito tempo, já que só teria que encará-la novamente na escola.

Ok, sou um completo azarado do destino. Merlin deve estar gargalhando a essa altura, divertindo-se com o fato de que mal acabei de pensar na ausência dos Weasley, e eles apareceram à porta de entrada, acompanhado pelos Potter. Na frente vinham o Sr. e Sra. Weasley, junto com o Sr. e Sra. Potter. Atrás, vinham James Potter e sua namorada Claire, seguidos pelo também casal, Hugo Weasley e Lily Potter. Todos os casais entraram de mãos dadas. Segundos depois, Alvo Potter apareceu. Estava sozinho. Provavelmente a namorada festejava com os pais, e é claro que ele não se opôs a isso. Faltava alguém no grupo. Alguém que eu torço para não ter vindo. Alguém que eu realmente torço para ter decidido passar o Natal na casa dos avós ou em qualquer outro lugar bem longe da minha casa. E, como se tivesse lido minha mente, a pessoa que eu menos queria no local – menos até que a presença do marido idiota da tia Daphne – Rose Weasley apareceu à porta.

Pela primeira vez na vida me senti nauseado por vê-la. É tudo tão ridículo. Como uma presença tão insignificante pode me deixar tão transtornado? Por Merlin, essa menina estúpida, que acabou de entrar, era simplesmente Rose Weasley! A chata e politicamente correta Monitora Chefe, que sempre que pode, inferniza minha vida com seus discursos de boa samaritana. A garota idiota, que diz que me odeia, sem ao menos me conhecer. Não posso sentir-me tão perturbado com essa presença tão imbecil.

Decidido, desci as escadas. Se é pra enfrentar todas as piores sensações do mundo, que seja agora e de uma vez só. Meu coração não pode ficar mais disparado do que já está e meus olhos com certeza não podem denunciar mais minha fúria do que já denunciam.

- Oh filho, você está aí! Estava procurando você! – minha mãe disse docemente e é claro que minha raiva diminuiu um pouco.

- Desculpe mãe! Você me conhece e sabe o quanto sou relutante a participar de jantares como esse! – sorri para minha mãe e beijei seu rosto.

Em seguida encarei os convidados recém chegados – exceto, é claro, Rose Weasley. Cumprimentei o Sr. Potter e o Sr. Weasley. Elogiei a beleza da Sr. Weasley e da Sra. Potter. Dei um breve abraço em Alvo, Hugo e James, e beijei os rostos de Lily e Claire. Rose Weasley continuou parada, observando de longe, as crianças brincarem junto à Árvore de Natal. Era hora de falar com ela também.

- Weasley? – aparentemente a despertei de algum transe. Seus olhos se focaram um pouco confusos nos meus e ela me encarou de uma forma estranha. Podia jurar que tentava esconder algo por trás das íris azuis vivos.

- Malfoy! – ela disse, educadamente e estendeu sua delicada mão para me cumprimentar.

Apenas observei esse movimento, sentindo algo em meu estômago dar saltos e rodopios. Preciso perguntar ao Vincent como ele controlava essas reações antes de namorar a Sophie.

- Bem vinda e Feliz Natal! – segurei rapidamente a mão dela. Estava gelada e parecia tremer levemente.

- Obrigada e Feliz Natal também! – ela me respondeu, ainda no seu tom educado e puxou sua mão de volta. Dei-me conta de que talvez não fosse a mão dela que estava gelada. Talvez fosse eu quem estava assim, e acabei transmitindo essa sensação para ela.

Juntos, todos nós caminhamos para a sala de estar, que obviamente, estava apinhada de pessoas que sorriam e conversavam. Bandejas encantadas passavam voando entre os convidados, com bebidas e aperitivos. Tudo estava perfeitamente organizado. É claro que não podia esperar outra coisa. Minha mãe quando se empenha em algo, sempre o faz bem feito.

Fiquei durante um tempo aturando tudo. Conversei com meus melhores amigos e depois com Alvo, seu irmão e seu primo. Alvo, apesar de Grifinório, também era um grande amigo meu.

Depois saí discretamente pela porta dos fundos e fui para o jardim, coberto de neve. Era melhor ficar ali, entre a neve e o nada, do que ouvir todas aquelas vozes juntas e escutar a risada melodiosa de Rose Weasley.

Caminhei pela neve até estar suficientemente afastado de casa, e encostei-me em uma das esculturas que haviam distribuídas por todo jardim. Precisava esvaziar minha mente de pensamentos, que dessa vez, nada tinham a ver com minha descoberta fascinante ou o jantar. Precisava bloquear o verdadeiro motivo que me levava a odiar tanto o Natal. Motivo que escondia de todos e tentava manter guardado a sete chaves, para me manter forte suficiente e não estragar a festa das pessoas.

Confesso que não sei quanto tempo fiquei pensando. Minha cabeça latejava tanto, que precisei recostá-la na escultura, levar minhas mãos às têmporas e massagear forte, como se isso pudesse fazer com que minha dor passasse, ao invés de piorá-la.

- Scorpius? – a voz irritante e infantil do meu primo me chamou. Me virei para ele sem vontade – Tia Ast disse para procurar você e dizer que o Jantar será servido em minutos.

- Ok.

- Você está bem? – ele perguntou.

- Sim!

- Não me parece bem... – ele disse como se estivesse constatando algum fato importante.

- Mas estou. Agora volte lá pra dentro, está frio aqui! – ordenei, me lembrando mentalmente de que Pierre é apenas uma criança e que não tinha culpa do meu nervosismo.

- Você deveria entrar também! Sabe, o tio Ben disse que nos contará histórias e lendas de natal depois do jantar e...

- Pierre, quando você vai entender que eu não me importo? Que saco! Volte você para essa maldita festa e me deixe em paz! Não ligo pra todo esse circo e se quer saber? O espírito natalino deveria ser extinto. Toda essa falsidade me enoja! – despejei tudo em cima da criança. Definitivamente eu não sabia onde estava com a cabeça. – Suma.da.minha.frente! – disse entre os dentes. E então o rosto do meu primo se contorceu numa pequena máscara de choro e o perdi de vista, quando correu novamente em direção à casa.


***





Weasley’s House
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Pelo barulho que se formava no andar debaixo, com certeza Alvo e toda sua família já estavam aqui. Não poderia mais adiar a minha tortura. Teria mesmo que passar o Natal na casa dos Malfoy e encarar o filho deles de perto, quando o que eu mais queria era me manter longe. Devo ser a pessoa mais azarada do mundo!

Respirei fundo e antes que minha mãe começasse a mandar pessoas me chamarem, saí do meu quarto, desci às escadas e fui em direção à sala de estar, onde todos estavam reunidos.

- Uau, priminha, você está uma gata! – Alvo caminhou em minha direção, segurou minha mão e me fez girar para que ele pudesse conferir meu visual – Se eu não tivesse largado a vida de pegação e me tornado um rapaz sério e apaixonado, daria em cima de você e só pararia quando aceitasse sair comigo!

Eu ri. Só Alvo mesmo para enxergar algo demais em mim. Estava tão simples. Quero dizer, em vista da Claire que desfilava seu lindo vestido prateado, com um decote incrível e sua linda “manta” branca para se proteger do frio, ou até mesmo Lily, que trocara o vestido por uma linda calça com belíssimas botas à mostra e um sobretudo preto por cima de sua bela blusa cinza decotada, eu estava incrivelmente simples. Havia separado um vestido vermelho, tomara-que-caia que vinha até os joelhos e tinha uns pequenos riscos irregulares prateados. Nos pés, eu usava uma sandália prateada, com algumas pedrinhas discretas de cristal – presente da minha mãe. Obviamente eu congelaria se resolvesse sair de casa vestida dessa forma, então por cima da roupa, assim como Lily, também usava um sobretudo, só que ao invés de preto, o meu era creme, quase branco. Meus cabelos estavam metade presos, metade soltos, e permiti que alguns fios caíssem sobre meu rosto. Como eu havia percebido antes, perto das meninas, eu era carta fora do baralho.

- Não deixe Alice te escutar falando essas coisas! – eu o repreendi e toquei a ponta do seu nariz com meu indicador – Não quero causar discórdia entre casais!

- Não esquenta! Sempre deixei bem claro para Alice, que, apesar de estar com ela, sempre vou amar você. É inevitável tentar fugir desse sentimento! – Alvo suspirou dramaticamente e todos nós rimos.

- Bom crianças, agora que já estamos prontos, vamos sair logo antes que cheguemos atrasados ao jantar. – meu pai disse, e todos que estavam sentados se puseram de pé, imediatamente.

Eu gemi em descontentamento. Pensar no jantar me fazia lembrar de Scorpius Malfoy, e isso era a última coisa que eu queria.

~¤~


A mansão Malfoy é um lugar inexplicável. Já estive algumas vezes nela, mas não em épocas festivas. Com certeza a Sra. Malfoy havia feito um ótimo trabalho enfeitando a casa dessa forma. Estava tudo tão lindo. Às luzes piscando nas árvores cobertas de neve. As pequenas fadinhas que sobrevoavam os arranjos e esculturas espalhados pelo jardim... Tudo era tão perfeito, tão único

Distraí-me observando os detalhes e quando dei por mim, já estava parada à porta de entrada, sozinha. Todos já estavam parados no Hall, cumprimentando os anfitriões. Sorri para mim. Era impressionante o quanto me distraía fácil.

Assim que coloquei meus pés na entrada da casa, senti meu coração congelar e a respiração falhar. Scorpius Malfoy estava parado no topo da escada, e observava cada movimento que fazíamos, com um olhar estranhamente transtornado. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo e pude sentir meu rosto queimar, devido à intensidade com que aquela íris azul acinzentada observava tudo. Virei imediatamente meu rosto e ao longe, vi umas crianças brincarem junto à grande árvore de natal. Observá-las me distraiu. Para ser sincera, não estava observando. Estava apenas olhando para aquele ponto, enquanto meus pensamentos vagavam e esperava meu coração parar de bater desesperadamente contra meu peito.

- Weasley? – a voz arrastada do Malfoy me fez sair do meu transe momentâneo, e me virei para encará-lo. Essa não foi uma boa idéia, já que no instante que encontrei seu olhar, senti algo saltar em meu estômago. Esperava não dar sinais do meu verdadeiro estado emocional.

- Malfoy! – tentei me manter tranqüila. Sabia que ele estava me chamando para me cumprimentar, afinal, ao que me parecia já havia falado com todos. Ergui minha mão, esperando que ele a segurasse e torci internamente para não reagir ao seu toque.

- Bem vinda e Feliz Natal! – no instante em que ele segurou minha mão, senti meu corpo gelar por inteiro e um leve tremor me percorrer por inteiro. Senti um ódio inexplicável de mim, já que não havia motivos para reagir dessa forma. Idiota, idiota, idiota! Esperava não ter dado sinais da minha reação.

- Obrigada e Feliz Natal também! – disse gentilmente e puxei minha mão por puro reflexo.

Não demorou para que todos fôssemos para a Sala de Estar, onde se encontravam todos os convidados. Alguns rostos eram familiares para mim, é claro. Minha família e a família Malfoy trabalhavam juntas em alguns projetos, então alguns dos sócios dos Sr. Malfoy, também eram amigos e sócios do meu pai e do tio Harry. Além dessas pessoas, reconheci de longe Vincent e Sophie. Apesar de serem sonserinos, eram muito legais e divertidos. Eram meus amigos desde o 1º ano de escola.

Me aproximei deles, junto com Alvo, para conversarmos um pouco. Rimos e brincamos uns com os outros, até que mamãe me chamou para apresentar-me a esposa do Sr. Füchz, um daqueles sócios da família. O Sr. Füchz era um tipo de homem que quando pensamos que não pode contar nenhuma piada pior, ele se supera. Ainda não conhecia sua esposa, e era por isso que mamãe me chamava.

Conversei durante algum tempo com a Sra. Füchz e quando senti que o rumo da conversa mudava perigosamente para minha vida pessoal e quantos namorados eu havia conquistado durante meus 7 anos em Hogwarts, inventei uma desculpa qualquer e saí de fininho para o jardim. O único assunto que realmente me incomodava, era falar sobre minha vida sentimental. Não que ela fosse monótona. Quero dizer, durante meu tempo em Hogwartz, tive dois namorados. O primeiro namoro durou cerca de 6 meses e eu terminei, com a desculpa de que precisava de tempo para me concentrar n os NOM’s. A desculpa parecia ridícula até para mim, afinal de contas, ainda não tínhamos terminado o quarto ano, mas Luke Thomas aceitou normalmente, e eu agradeci, pois não queria magoá-lo dizendo que não sentia mais nada por ele. Pra minha sorte, minha fama de NERD acabou ajudando para me livrar do primeiro relacionamento. Meu segundo namoro durou mais tempo. Comecei a namorar Jared Wood, no final do 5º ano, quando já havia passado pela fase dos NOM’s. Terminamos quando ele se formou no 7º ano. Foi uma separação triste para mim. Gostava muito de Jared, mas ele estava certo quanto manter um relacionamento à distância. Eu tinha que voltar pra escola e completar meu último ano, e ele ficaria aqui fora. Teríamos pouco tempo para nos ver, então sem dúvida, essa era a decisão mais sensata. Depois disso, não me envolvi com mais ninguém. Não que tivesse tempo pra isso, já que desde que iniciei o 7º ano, meus pensamentos sempre estiveram voltados para meu cargo na Monitoria e os NIEM’s.

O jardim da Mansão dos Malfoy parecia não ter fim. Sempre achei o lugar muito bonito, e com a decoração natalina, tudo parecia incrivelmente perfeito. Estava encantada com tudo ali. Parei durante um tempo para observar as fadinhas que voavam em volta do chafariz e depois segui caminhando, analisando todos os detalhes mágicos. Precisava elogiar a Sra. Malfoy pelo trabalho, sem dúvida.

Toda minha distração e encanto desapareceram quando ouvi uma voz rude, praticamente gritando ao longe. Caminhei depressa para ver se havia algum problema, até que pude ouvir claramente as últimas palavras da pessoa que gritava.

- Pierre, quando você vai entender que eu não me importo? Que saco! Volte você para essa maldita festa e me deixe em paz! Não ligo pra todo esse circo e quer saber? O espírito natalino deveria ser extinto. Toda essa falsidade me enoja! Suma.da.minha.frente!

Fiquei chocada, é claro. Principalmente quando o menino chamado Pierre, passou por mim correndo, com lágrimas nos olhos. Tinha que ser o Malfoy! Aquele monstro insensível e cruel. Nunca imaginei que ele pudesse ser tão rude assim com uma criança.

Revoltada demais para me manter calada, caminhei em passos duros em direção ao rapaz que se encontrava encostado em uma das esculturas cobertas de neve. Estava com os olhos fechados, e parecia ter a intenção de enterrar os dedos nas têmporas, com a ferocidade que massageava. Olhando de perto, senti certo remorso por vê-lo naquele estado. Provavelmente havia algo mais ali do que uma simples raiva do Natal. Mas eu não poderia me deixar abalar, afinal de contas, ele havia sido cruel com uma criança e tinha que ouvir de alguém que estava agindo errado.

Cruzei meus braços em frente ao meu corpo e o encarei severamente.

- Malfoy! – disse rudemente, e no mesmo instante ele abriu seus olhos e me encarou com uma expressão vazia.

- Eu já sei que está na hora do jantar Weasley! Agora pode se retirar. – ele disse em tom monótono e revirou os olhos. Aquilo me enfureceu.

- Acha mesmo que eu vim aqui te chamar para o jantar? Por favor! Vim aqui porque vi a forma que tratou seu primo! Você tem noção de que Pierre é só uma criança? – despejei tudo de uma vez só, enquanto ele me encarava indiferente, com uma das sobrancelhas erguidas.

- Já acabou?

- Não! – eu respondi severamente. – Sabe, não é porque você é um insensível por completo que tem o direito de estragar a festa das pessoas! Tratar uma criança assim porque você não gosta do natal, é algo imperdoável!

- E quem foi que lhe enganou, dizendo que preciso do perdão de alguém? Por favor, Weasley! Achei que fosse mais inteligente que isso. – precisei respirar fundo para não azará-lo em sua própria casa.

- E eu achei que você fosse mais sensato!

- Sabe, não entendo o motivo de estar discutindo minhas atitudes com você! – ele disse de repente, e sua voz estava mais fria do que a própria neve – Até onde me lembro, essa é minha casa, e acho que posso agir da forma que eu bem quiser! Você não tem nada a ver com minha vida ou com a forma que costumo ser, então por que está se metendo?

- Porque você tratou mal uma criança! – respondi o óbvio.

- E daí? Se alguém tem o direito de reclamar é minha tia Daphne e não você! Então pare de agir como salvadora e não venha me dar lição de moral em minha própria casa! Aliás, o que está fazendo aqui? Não devia estar se divertindo, conversando e rindo com seus amigos e família?

- Eu... Eu não lhe devo explicações, sabia?!

- Ah, interessante! Você não me deve explicações, mas quer cobrá-las de mim!

- Eu não estou cobrando nada!

- Está fazendo o que então? Bancando a psicóloga barata, tentando entender meus motivos para mandar o pirralho pastar?

- Não! Eu estou tentando entender o que é você! – sem pensar, sem me preparar para isso, soltei essa frase.

Um silêncio absurdo se instaurou depois disso. Ficamos nos encarando, sem expressões nos rostos – ou pelo menos eu achava que não estava demonstrando nenhuma expressão – durante um longo tempo. Até que, por fim, ele suspirou.

- Por quê?

- Porque você sempre tenta me provar que é diferente do que imagino! Você tenta me dizer que todas as opiniões formadas que tenho sobre você são erradas! Só que quando estou pronta pra tentar enxergar esse seu suposto “lado bom”, o vejo agir exatamente da forma que o imagino. – disse tudo rapidamente. Malfoy ficou em silêncio, apenas me encarando. Parecia refletir sobre algo muito importante.

- Você tem razão! – ele começou a falar e seu olhar severo me fez tremer como uma criança amedrontada – Por algum motivo estúpido sempre tento mostrar a você que não sou o que imagina. Por algum motivo idiota, tento fazê-la mudar de opinião... Mas que saber de uma coisa? Cheguei à conclusão de que isso não é importante! Você está certa. Sou um completo insensível, frio, que despreza todas as pessoas ao seu redor e que está sempre pronto para machucar qualquer um que se aproxima. Sou exatamente aquele cara que adora ser o centro das atenções, e fica muito feliz por ter diversas garotas correndo atrás. Sou exatamente a pessoa que gosta de ver o outro sofrer e se rebaixar! Então, Weasley, deixe de procurar em mim um lado bom. Ele não existe!

Senti meus olhos queimarem de fúria, e dessa vez não era pela pessoa que estava parada à minha frente. Era raiva de mim mesma! A vontade que tive ao ouvir esse discurso foi de correr e me esconder por um longo tempo. Como eu podia ser tão burra e me apaixonar justamente pelo cara mais grosso que existia? Será que minha mente era alguma espécie de “mente doentia” ou coisa do tipo?

Enquanto engolia em seco, pensei em diversas coisas para dizer ao Scorpius Malfoy. Coisas das mais loucas às mais baixas. Imaginei-me batendo nele e gritando coisas sem sentido. Mas não podia fazer isso, é claro. Precisava manter a compostura, e mostrar que aquilo não havia me afetado. Na verdade, as palavras dele não deveriam realmente me afetar, pois sempre soube que ele era exatamente assim. Mas, por algum motivo ridículo, elas me machucaram. Cada palavra de Scorpius Malfoy me atingiu de uma forma terrivelmente dolorosa. E eu nem ao menos sabia explicar, ao certo, o motivo.

- Não deveria fazer sua mãe esperar. Ela ficaria triste se não fosse jantar com os convidados! – foi à única coisa que disse, antes de sair dali, deixando-o para trás. A última coisa que precisava naquele momento era começar a chorar na frente dele.






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