O Silêncio é Dourado

O Silêncio é Dourado



FOGOS DE ARTIFÍCIO

Por Nix 

Música: Garbage - Silence is Gold






If I am silent

Then I am not real

If I speak up then

No one will hear

If I wear a mask there's

Somewhere to hide






"Quatro de fevereiro;




As coisas são no mínimo engraçadas. Quem foi o sábio que uma vez me disse que a ironia acompanha o destino?



Hun. Não me lembro. Mas essa pessoa estava certa.

É, ela estava certa.

Hoje, às três da manhã, nasceu meu primeiro filho, Amadeus. É. Amadeus, mesmo que tenha morrido por falta de oxigênio no cérebro antes que pudesse ter um verdadeiro nome. Amadeus. Sempre gostei desse nome. Se ele fosse uma menina, chamar-se-ia Nemesis.



Nemesis Snape...

É bonito. Tem certa... Força...



Pois bem... Amadeus morreu, complicações pós-parto, não havia o que se fazer além de assistir o maldito bebê definhar, esse discurso médico ensaiado de sempre...



Bebês definham? Sentem dor?



Eu, que já causei tanto desespero, peguei-me rezando, pedindo que meu filho não sofresse. Que encontrasse o caminho certo, aceitasse toda e qualquer ajuda oferecida...



Pela primeira vez em muito tempo, eu me senti verdadeiramente humano. Sofri como alguém normal. Gritei de dor em meio a um campo de batalha chamado vida.



Amadeus (seria um absurdo chamá-lo por outro nome!) partiu, deixando em meu coração um enorme vácuo.



Não...



Não só um...



Na verdade eu não sei como explicar.

E não quero.



Está frio. O Lord está ganhando.




Severus."




--




"Dez de fevereiro;




As pessoas continuam me encarando, aquele misto de pesar e raiva contida que me enoja. Eu entendo que me odeiem, mas não entendi até agora o motivo de tanta falsa compaixão. 



Sim, eu sou o pobre rapaz de 18 anos que perdeu o filho recém-nascido e a esposa em uma madrugada qualquer da semana passada. E daí? Existem tantos órfãos jogados nos malditos hospitais abarrotados de gente, e quem se sensibiliza por eles? NINGUÉM. E quem é que liga para os aurores agonizantes atirados na sarjeta imunda? 



A população está mais preocupada com a própria pele.



Não que eu me importe.



Mas, depois de ter perdido tudo o que eu tinha, tudo o que eu amava, coisas simples agora me parecem extremamente confusas.



Houve uma reunião esta noite. Lucius foi proclamado o braço esquerdo do Mestre, uma vez que o 'posto de braço direito' já é ocupado pelo garoto Crouch. Aquele rapaz é no mínimo perturbado. Ele me assusta. 



Mas quem não é perturbado por aqui?



Lucius está irradiando orgulho e eu não entendo o porquê de tanta pose. Há uma semana eu mencionaria os motivos sem sequer parar para pensar...



Agora eu não entendo nada. Não entendo Malfoy.



Eu sequer me entendo.



...



Também recebi uma proposta, uma estranha mensagem, nesta manhã. 



Apenas uma pena dourada.



E eu sei o que isso significa. Eu sempre soube.




Severus."




--




"Doze de fevereiro;




Eu jamais me senti tão mal em toda a minha vida. O único alicerce que eu tinha se foi e finalmente eu entendi que eu estou sozinho mais uma vez. Apesar de tanta gente me rodear... Eu sempre estou sozinho.



Sim, as pessoas me rodeiam, sim, elas estão ao meu lado, mas não, elas não transmitem o que eu procuro. Não amam. 



Não com a intensidade que eu gostaria de encontrar nos olhos de todos os seres humanos. 



Passaram-se 24 horas e eu estou mudando. É rápido demais para que alguém possa acompanhar, ou até mesmo compreender. O que eu estou percebendo é que tudo isso foi um erro. Minha vida foi um erro, e a pior parte de tudo é isso é o fato de eu sempre estar culpando alguém pelo meu sofrimento, pela minha dor, pelo meu azar em qualquer coisa. 



Finalmente eu estou pensando do jeito que deveria pensar. Como um adolescente de 18 anos.



Erroneamente.



Eu nunca agi por impulso. E isso fez com que eu perdesse milhares de ótimas oportunidades. O fato de eu ser racional e lógico, ser controlado, cercado por uma barreira de gelo que nada nem ninguém poderia atravessar, fez com que eu me transformasse em algo que eu não sou.



Aílis estava me modificando...



Aílis começou com esse processo que está prestes a ser finalizado...



A culpa está me corroendo. É a dor mais intensa que eu já senti em toda a minha vida. É algo psicológico que até agora não afetou a matéria. E se Aílis estivesse aqui, ela colocaria as mãos sobre a minha cabeça, fecharia os olhos e realizaria um milagre.



Ela era a minha melhor amiga. Ela era meu único amor...



Amadeus a matou. E, como pagamento, perdeu o direito de viver...



Ou seria um presente? Não seria melhor se todos os bebês simplesmente morressem? Uma criatura inocente merece habitar um mundo de guerra como esse, onde ninguém pode confiar em ninguém, onde o espaço entre uma calçada e outra é medido pelo número de corpos nela espalhados...



A culpa.

O arrependimento...



Como eu sou burro, meu Deus, como eu sou idiota...



Não. Eu nunca fui religioso. Nunca entendi o sentido de todas aquelas palavras estranhas e de difícil significado, nunca tentei compreender o porquê de pessoas dedicarem a sua vida por algo que a existência nunca foi confirmada...



Aílis. Minha Aílis, que falava com os mortos, via coisas e era considerada maluca.



Ela era especial...



Penso em aceitar a proposta. Virar a casaca, como diriam os jovens. Mudar de lado. Trair aqueles que nunca me acolheram e, de um jeito ou de outro, sempre me traíram.



Por Aílis. Por Amadeus. Por mim mesmo.



De certo eu acabaria morrendo. Sei esconder meus pensamentos, mas o Mestre - e por que eu o chamo de mestre? - tem muito mais poder em suas mãos frias...



Ele bagunçaria o meu cérebro, arrancaria as respostas...



Vale a pena? Fazer mais gente sofrer por...



Minha causa?...



Eu não sei mais o que fazer.



Não sei mesmo.




SS."








Silence is golden

I have been broken

Safe in my own skin

So nobody wins






"Vinte e oito de Fevereiro;




Nada aconteceu nesses últimos dias. Quero dizer, aparentemente, e para aqueles que me cercam.



Dentro de mim explodiu uma revolução. É como se a guerra estivesse se desenrolando no meu coração, como se balas de canhão ricocheteassem na minha alma. O que eu pensei ser uma simples fase mostra-se cada vez mais forte a cada segundo.



Mexi nos livros de minha falecida esposa. Li anotações, passei noites em claro vasculhando o que ela me deixou com uma curiosidade até então desconhecida.



A informação é registrada em meu cérebro na forma de dolorosos tapas na face. Coisas que eu nunca imaginei existirem agora fazem parte do meu cotidiano. 



...



Ontem um grupo de jovens fez uma espécie de manifestação. Gente da minha idade, alguns mais velhos, alguns mais novos, gritando na chuva e pedindo uma única coisa:



Paz.



Crianças sentadas no meio-fio, chorando em busca de seus ideais, acreditando até o fim em seus sonhos utópicos...



Ninguém mais sabe o que fazer. Estamos todos perdidos...



Não pensei na proposta. Não pensei em nada, para falar a verdade...



Apenas no perfume... No sorriso...



...



Acho que eu deveria estar dormindo...



Ser um Death Eater é...



O que é ser um Death Eater?




Snape."




--




"Cinco de Março;




O mundo dos Death Eaters, ou o submundo. Uma sala de prazeres, bebida e mortes. Um mercado de carne, onde prostitutas e gigolôs são disputados entre homens e mulheres fora de si. Porcos transam em cantos escuros enquanto uma música perturbadora enche nossa mente de pensamentos negros.



Essa seria uma... Espécie de... Descrição do nosso quartel-general em dias de festa.



Dizem por aí que, a cada dez rapazes trouxas mortos, nós estupramos uma adolescente bonitinha...



Na verdade, não é bem assim. Nós (por que digo nós?) preferimos...



Ah, eu não consigo escrever sobre isso!

Enfim...



Os únicos que podem encostar nos prisioneiros são Bartô e Lucius, além do Lorde, é claro. (lorde, lorde, lorde...). E eles preferem rapazes. Garotos bonitos e fortes, de rosto angelical, e muitas vezes mais velhos do que aqueles que os molestam.

É nauseante...



Lembro-me de ter ouvido Bellatrix dizer entre risos que um dia Sirius estaria nas mãos de Malfoy e ela assistiria ao espetáculo de camarote.



Bem, eu admito que eu também assistiria. Eu odeio o lindo, popular, rico e maravilhoso Sirius Black. 



Mas... Por que eu estou enrolando tanto? Escrevendo sobre coisas que não merecem a minha atenção... E, acima de tudo, perdendo tempo?



Hun... Ontem tivemos uma dessas festas 'amigáveis.'



Não sei bem o motivo. Mas sei que fiquei bêbado em menos de uma hora. Talvez, em menos de vinte minutos. Toda a minha sobriedade fora pro espaço e isso nunca, nunca mesmo, havia acontecido em toda a minha existência. 



Verdadeiramente... Bêbado.



Um pouco depois, percebi Nott sentado ao meu lado com um sorriso demente nos lábios e uma dose de absinto exageradamente grande em suas mãos pequenas. 



"E aí, Sevvie, rapaaaaaz." ele disse, dando tapinhas em minhas costas. Eu subitamente senti ganas de torcer o pescoço do imbecil...



"Oi, Nott." respondi de mal-humor. Queria whisky, não conversas. 



"Sabe Sevvie, fiquei sabendo aí que desde que a tua 'mina' morreu tu não dá uns 'cata' em ninguém... Tá ligado?"



Certo. Existem duas coisas que me deixam realmente nervoso:



1-) Que mencionem a minha mulher.

2-) Dialética incompreensível.



Nott incluíra as duas coisas em apenas uma frase e eu realmente não estava respondendo por mim. Mas também estava bêbado demais para fazer alguma coisa contra aquele panaca.



"Então cara, eu e o Vincent descolamos um carinha legal pro'cê."



Bom, certamente a bebida alterara o meu raciocínio lógico. De repente, eu estava ao lado de um rapaz de calça jeans e quase dois metros de altura, olhos azuis e cachos castanho-avermelhados, um sorriso meio demoníaco extremamente sedutor...



Ele me agarrou pela camisa, colando seu corpo junto ao meu e rindo enquanto me empurrava escada acima. No andar superior havia alguns cubículos com certa... Privacidade...



E um segundo depois, havia uma varinha apontada para a minha nuca, olhares ameaçadores e pessoas correndo de um lado para o outro, lacrando portas, colocando feitiços antiescuta em todas as salinhas, atirando corpos desacordados para o corredor. 



Olhos verdes me fuzilaram e eu entendi. 



Eles estavam ali para me buscar.



"Acho melhor amarrar o coisinho aí..." disse uma voz conhecida, e, meio segundo depois, mãos fortes me seguravam pelas axilas, arrastando-me até um canto qualquer e amarrando as minhas mãos e pés com uma facilidade sobre-humana. Os imundos da Ordem da Fênix. Os ladrõezinhos, arrombadores de QG's.



Acho que um pouco depois eu vomitei. Não sei, mas foi ridículo. A minha situação era constrangedora. Olhando atentamente para aquele suposto garoto de programa com sorriso bonito, percebi como fora cego, burro e tapado.



Aquele homem era Frank Longbotton. Frank Longbotton! Disfarçado de GIGOLÔ e andando pela nossa festinha como se isso fosse a coisa mais certa a se fazer. 



"Snape. Escute".



Diálogo confuso. Propostas maravilhosas. Minha mente pouco a pouco foi se abrindo. Gritos. Até cuspe! Eles são verdadeiros bárbaros, mas admito: são bárbaros inteligentes. Houve um momento que fui esbofeteado na cara. Oh, sim, as velhas técnicas de persuasão. Funcionam, podem ter certeza!



Pisaram no meu calo, não respeitaram meus sentimentos e muito menos meu luto. Mencionaram o nome de Aílis em vão. E até mesmo o de Amadeus! Amadeus, que nem tinha nome, foi vítima da conversa nojenta daquele punhado de delinqüentes. 



Eu aceitei! Aceitei!



...



Não sei se isso é o certo. Mas a verdade é que... Ser um Death Eater é errado. E eu aceitaria qualquer coisa para poder sair de onde eu estava. Até mesmo ser um agente-duplo, até mesmo correr o risco de ser torturado até a morte ou coisa pior.



Eu percebi que...



Eu não tenho mais nada a perder.



Ah, Aílis... Ajude-me. Não importa onde você esteja. Ajude-me só mais uma vez... E eu lhe esquecerei para sempre.




Severus."








If I raise my voice

Will someone get hurt?

And if I can feel it

But I won't get touched

If no truth was spoken

Then no lies can hide







"Trinta de Março;




Aílis... Seja uma boa mulher e me ajude. OK? 



É! Por que as coisas estão DANDO ERRADO. Você sempre disse que os espíritos podem voltar e ajudar as pessoas, então mexa essa sua bunda e faça alguma coisa, e faça LOGO, porque acredite, eu estou PRECISANDO. 



...



Ou será que você já fez a sua parte?



Dumbledore é uma boa pessoa. Um homem cheio de si, certo... Certo de seus princípios. Um homem que faria qualquer coisa para obter o que deseja...



...



A coisa mais difícil é ficar parado nos momentos de calmaria. Deitar na grama e olhar para o céu... Do nascer ao pôr do sol. Contar as estrelas que pontilham o manto azul-marinho que é a noite.



Eu estou pirando.



Descobri que Remus Lupin e Sirius Black mantém um caso sórdido. São dois imbecis que começam a se amassar a qualquer oportunidade, não importa onde estejam.



O filho de Lílian e James é um garotinho engraçadinho. Olhos verdes, cabelos... Ridículos, pele morena e sorriso angelical. Crianças são todas iguais, de qualquer maneira. Todas choram, gritam e comem papinha.



Eu não gosto de crianças...



Não estou fazendo sentido. Preciso preparar venenos para Lucius. Irei sabotar todos eles.



...



Huuuuun.

As coisas estão melhorando.




S. Snape."




--




"Ainda Trinta de Março;




Não. 

Eu definitivamente não estou bem.




O mesmo de sempre."








Silence is golden

I have been broken

Safe in my own skin

So nobody wins






"Quinze de Abril;




Aniversário de 19 anos de Aílis.

Ela me ajudou, mas eu não posso fazer o que prometi...



Não posso esquece-la.



...



Aniversário de um ano do meu afilhado.



Draco não é como as crianças de sua idade. Não há festas. Não em tempos como este...



Mas o garotinho merecia um presente...



Lucius é IDIOTA. Não dá atenção ao menino. Narcissa está magoada... Ela é jovem demais, inocente demais... E bonita.



Muito bonita.



Draco parece um anjo. Tem o rostinho redondo, bochechas coradas, cabelo branco de tão loiro, olhos cinzentos que absorvem a cor que prevalece no ambiente. Na maior parte do tempo, são azuis como um céu sem nuvens.



Mãos de pianista.



E eu lhe dei um piano.



É óbvio que ele não vai tocar piano com um ano de idade. Mas eu percebi sua empolgação ao bater nas teclas, vi a alegria radiar daqueles olhinhos brilhantes quando eu dedilhei qualquer coisa naquele instrumento.



Se Lucius não quiser ser o pai daquele pequeno milagre, eu o serei...



...



Um dia eu jurei nunca amar ninguém...



Parece que eu não sou muito bom em cumprir promessas.




S."




--




"Oito de Maio;




Há tempos esse diário tornou-se uma obrigação. Um relatório sobre a minha vida, meus pensamentos... Um marco. Um registro.



Assim que a guerra acabar...



Assim que...



Se eu morrer, espero que estes escritos sejam dados para alguém que consiga compreender o drama que estamos vivendo. 



Se eu morrer...



Aílis sempre me disse que não há nenhum problema em desencarnar, se você tiver feito tudo certo enquanto estava no mundo terreno...



Mas eu tenho medo...

Muito medo.



Tem que existir algo após a morte.



Não faz sentido... Sofrer tanto em vida... E depois...



Acabar...



Acabar, acabar, acabar...



Cinzas em um céu nublado...



Cinzas na terra e no mar...



Batalhas diárias contra a sua própria mente, em corridas onde não importa a sua colocação e sim o seu estado... E se você estiver em condições, muito que bem. Se não estiver, uma pena, mas vá lutar mesmo assim.



...



Não sei o que escrever. Faltam-me palavras. E idéias. E gestos. Nada poderia descrever o que acontece agora, a não ser imagens e sentimentos.



Mas algo me diz que logo isso tudo acabará...




Snape."








Silence is golden

Nobody guessing

Safe in my own skin

So nobody wins






"Vinte e sete de maio;




Às vezes eu tenho certeza de que poderia ensinar muita coisa a todos que me rodeiam. Às vezes sinto como se tivesse muito mais conhecimento do que qualquer outro. Sei todas as respostas para todas as perguntas, não importa quais sejam.



O sentido da vida está tatuado em minhas costas. Eu posso proclamar o destino de todos no mundo, caso esteja inspirado.



Grande tolo, eu, bobo da corte e simples objeto...



O que me parece óbvio, o que me parece correto, quase sempre é motivo de gozação. Dizem que eu sou apenas um garotinho, uma criança crescida que finalmente se deu conta de que está no mundo dos adultos.



O mundo dos adultos...



Onde a mentira é a chave para a sobrevivência. E quem não acompanha o ritmo do jogo está fora. Está morto. Sangrando enquanto a chuva lhe fustiga o rosto.



O mundo dos adultos... E não só deles.



Crianças. Jovens. Adolescentes, que o seja... Conhecem a mesma realidade. Têm o mesmo jogo de cintura para camuflar determinadas situações de maneira que, no final de tudo, as coisas saiam boas apenas para o lado que interessa.



Aqueles pequenos montes de células são cruéis. Talvez mais cruéis do que nós. Não se importam em mudar as peças do jogo de xadrez quando o adversário não está olhando. Jogam sujo, chutam as costelas daqueles que já estão caídos, cometem uma carnificina por algo supérfluo...



...



Eles pegaram uma garota... Nunca ouvi alguém gritar tanto.



Mas...



Logo tudo acabará. 



Engraçado que eu poderia fazer alguma coisa. Matar três imbecis, abrir a cela, desafiar Voldemort tendo em mãos o meu diário e, quem sabe, um tinteiro...



...



Isso não é engraçado, para falar a verdade... Quero dizer, o que a coitada fez para merecer tudo isso?



Para merecer estar aqui?



Ninguém merece esse lugar! Ninguém!

E eu não agüento mais todos os olhares orgulhosos, não agüento mais os coros de vitória, não agüento mais vestir preto simplesmente porque me obrigam a vestir preto e não porque eu quero vestir preto!



CHEGA CHEGA CHEGA!!!



Chega.




Severus Snape."








Did you hear me speak?

Do you understand?

Did you hear my voice?

Will you hold my hand?

Do you understand me?






"Sete de Junho;




Eu estou perdido.



...



Nunca vi tantas mortes. O cheiro de podre invade nossas narinas cada vez que respiramos. Não sei porque nós simplesmente deixamos os corpos por aqui...



Talvez uma hora a comida acabe. Talvez uma hora nós sejamos presos dentro de nossa própria fortaleza...



E, cedo ou tarde, teríamos que comer...



Dumbledore não permite que eu vá embora. Disse que isso não faz parte do trato que fizemos anteriormente. Mas nesses últimos dias meu pote de vingança praticamente transbordou.



Preciso matar. Preciso sentir o gosto do sangue do meu inimigo, preciso cravar o punhal em um peito qualquer e admirar o coração que sangrará lentamente, em uma espécie de tortura a qual nós já estamos acostumados.



...



Eu estou perdido.



Enfiado em um labirinto sem saída...



Não sabemos o que vai acontecer. Não sabemos o que aconteceu. Eu nunca saio daqui, de qualquer maneira. Os pedidos de poções são entregues, eu as faço, algumas eu saboto e as outras não, e a vida segue seu rumo.



Apatia.



Poderia encarar o teto por horas seguidas sem sentir nada.



Como eu posso não sentir nada, sabendo que eu estou sentindo alguma coisa?



Está na hora de fazer alguma coisa. 

Não posso mais sabotar poções e murmurar desculpas esfarrapadas como 'os ingredientes não estavam em seu melhor estado' ou 'a umidade do ar interfere no funcionamento de poção X'... Eles não vão mais acreditar!



Eu quero matar...



Eu quero matar... 



Matar matar matar matar matar duas sílabas cinco letras oxítona...



Fausto vende sua alma ao demônio.



Mas eu ainda guardo nas mangas a minha única vantagem...



Eu nunca tive alma.



...



E seria um personagem perfeito para os romances de Goethe.



...



E como não há mais o que se falar, acho que irei transcrever um dos meus poemas favoritos...



Para que alguém saiba que eu tinha cultura, ao menos.




"Os Corvos




Senhor, quando os campos são frios

E nos povoados desnudos

Os longos ângelus são mudos...

Sobre os arvoredos vazios

Fazei descer dos céus preciosos

Os caros corvos deliciosos.



Hoste estranha de gritos secos

Ventos frios varrem nossos ninhos!

Vós, ao longo dos rios maninhos,

Sobre os calvários e seus becos,

Sobre as fossas, sobre os canais,

Dispersai-vos e ali restais.



Aos milhares, nos campos ermos,

Onde há mortos recém-sepultos,

Girai, no inverno, vossos vultos

Para cada um de nós vos vermos,

Sede a consciência que nos leva,

Ó funerais aves das trevas!



Mas, anjos do ar, no alto da fronde,

Mastros sem fim que os céus encantam,

Deixai os pássaros que cantam

Aos que no breu do bosque esconde,

Lá, onde o escuro é mais escuro,

Uma derrota sem futuro."




Boa-noite.



Estou irônico hoje.




Sevvie."




--




"Vinte de Junho;




Um grupinho acaba de chegar, jovens de rosto corado e lábios vermelhos, cheios de energia e força.



Crianças poderiam destruir o mundo. Elas são fortes demais...



Não entendo onde arranjaram esses 'novos comensais da morte', mas, bem, eles estão aí...



Eu estaria extremamente indiferente a isso se, por acaso, um deles não tivesse recebido a tarefa de me AJUDAR.



...



Isso vai arruinar tudo. 



E bem, eu estou sem muito o que falar. 



Se alguém descobrir o que eu estou fazendo - e finalmente eu recebi uma missão! - tenho certeza que minha cabeça rolará pela calçada suja...



...



Aílis. É sua vez. Venha tirar esse panaca que pensa que sabe alguma coisa sobre poções daqui.



E rápido.




Eu."








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"Não sei que dia á hoje, mas o mês é Julho... E nós estamos no meio dele, creio eu;




Se havia alguma maneira das coisas piorarem, bem, agora não existe mais nenhuma. É o ápice. É assustador demais, e eu não acredito que possa ficar pior. 



O bom de tudo é que aquele rapazinho mongo e metido a mestre de Poções não agüentou dois dias por aqui. Foi embora. Ou pelo menos tentou ir embora... Creio que a Ordem da Fênix tenha o encontrado morto, jogado em algum campo de trigo, porque nós adoramos jogar mortos no campo trigo, é por demais poético. 



...



Dia sete foi meu aniversário. Eu acho. 



...



Não. Não foi dia sete... Acho que foi um pouco depois...



Mas isso não importa. Agora eu tenho 19 anos.



...



E recebi um presente...



Uma corrente... Um pingente vermelho em formato de estrela.



Dumbledore me espanta.



E, bem, toda essa situação me espanta, para falar a verdade...




S."




--




"Vinte e Cinco de Julho;




Pela primeira vez eu fui ao campo de batalha...



...



Eu...



Eu...



A batalha de hoje foi a maior até então. Um hospital trouxa foi invadido. Um hospital de crianças com problemas, jovens especiais, cheio de senhoras que não se importavam em cantar e ensinar meninas em estado terminal a fazer crochê.



Todos. Foram. Mortos...



Desde a enfermeira na portaria até os bebês em incubadoras...



Foi covardia. Céus. Foi muita covardia.



Eu queria gritar. Queria salvar a vida daquelas pobres criaturas que sequer entediam o que estava se passando. Eu queria ajoelhar em um canto e chorar minhas mágoas, deixar as lágrimas lavarem a vergonha de meu rosto.



Por quê?



Por quê?



...



Eu não podia ter feito aquilo...



Um fogo arde em minha alma. Me consome. Me destrói.



Covarde, Severus, Covarde, Imundo, Nojento.



Filho de uma Puta.



E não mais do que isso.




Snape."




--




"Dezessete de Agosto;




Calmaria.



E só calmaria.



O Lord está atrás de Sirius Black.



E eu sei onde ele está.




Severus Snape."








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"Dezenove de Agosto;




Há uma menina. Uma menina de 18 anos, baixa, magra, rosto bem-feito e cabelos lisos. Uma menina normal, sem nenhum grande atrativo.



Ela é chamada de Acantha. Acantha... A ninfa que Apolo amava.



Essa menina, Acantha, está perdida por aqui. É só olhar dentro dos olhos castanhos para perceber que o lugar dela com certeza não é este. 



Acantha será morta por Lucius ao pôr-do-sol do dia 20. Amanhã, aliás.



Não entendo. Por que o imbecil vai matar a garota? Nós já estamos perdendo gente demais, nesses malditos ataques súbitos.



Nós somos como os Judeus e não lutamos aos sábados. Amém.



Queria poder salvar a menina... Queria mesmo.

E quem sabe eu não consiga...?



Acantha Browne não vai morrer ao último raio de sol do vinte de agosto.



Não vai MESMO.




SS."




--




"Vinte de Agosto, quase dia Vinte e Um;




Ela é minha nova ajudante de poções. Sinceramente, eu não sei como consegui...

Frank Longbotton virá buscá-la próximo ao vendedor de postais em Trafalgar Square.



Minha missão é protege-la até lá.



E, bem... O que eu posso fazer? Ela é quieta. Acho que só estou ajudando ficando de bico calado.



Batalha de hoje - Mortos



Letícia Laubren (Ordem)

Charles Cusack (DE)

Watanabe (DE)

Uma mulher de cabelos dourados. Ninguém conseguiu identificar. (DE)

Amanda Keyes (DE)



Olha só.



Os Comensais estão perdendo a guerra!




Severus Snape."








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"Vinte e Dois de Agosto;




Longbotton não veio. Eu não tenho mais o que falar, para falar a verdade. Tudo é rotina. As mortes são rotina. As explosões são rotina. O choro, o desespero, o gosto metálico do sangue de seu inimigo...



Rotina, rotina, rotina, tédio, tédio, tédio...



Browne é estranha. Quero dizer, ela é uma garota fria, normalmente escondida por detrás de um enorme livro que parece pesado demais para que seus pulsos finos o sustentem. 

Nós não temos mais o que fazer. Eu passo a manhã fazendo poções, a tarde analisando poções e, na maioria do tempo, sabotando-as aleatoriamente, e, de noite, eu deito no meu sofá que há mais de dois anos me serve de cama e encaro o teto. 



No meu teto existem exatamente, nada mais nada menos do que 539 ripas de madeira que são alguns centímetros maiores do que a minha mão. Aliás, ripas essas que estão prestes a virar pó, uma vez que os cupins estão acabando com tudo. Eu sinceramente não me importo.



De vez em quando eu fico imaginando o que aconteceria se todo esse teto viesse a desabar sobre mim...

Se todo o quartel-general caísse e nada sobrasse... 



Browne é o verdadeiro oposto de Aílis.

Talvez seja ruim.

Talvez seja perfeito. 



...



Não que eu a ame. Longe disso.

Mas... Houve uma pequena atração. Não sei o motivo. Mas aquele coração de mármore é algo que desejo conhecer...

Em poucos dias, em meia dúzia de palavras trocadas.



E no final, tudo daria errado...

E por isso mesmo, jamais começará.



Pois Aílis...



Ainda carrega meu coração acorrentado aos seus pés. E a minha alma.

E tudo o que ela poderia levar.




Snape."




--




"Sete de Setembro;




Ela se foi. Cedo ou tarde, todos se vão.



Longbotton a levou para a Noruega, de onde Acantha não deveria ter saído. 



E mais uma vez eu estou sozinho, apenas com ratos e cupins para me fazer companhia. 

Brincamos com punhais até que os mesmos nos façam sangrar. 



E aí a gente grita.



E aí a gente morre...




Severus."




--




"Vinte de Setembro;




Os Potters fugiram. Assim como os Longbottons. Assim como Sirius Black. Assim como Remus Lupin. 



Chegamos em um ponto onde não vale mais a pena sair pelas ruas arriscando a própria pele. Deixem os civis morrerem. Deixem as lágrimas rolarem. Essa guerra nunca foi justa mesmo.



Eu continuo preso. Sempre estive preso, para falar a verdade, e mesmo quando lutei para escapar de minha gaiola dourada, mesmo quando fiz um ato impensado, mesmo quando aceitei algo sem sentido...



Minha alma está enjaulada. 



Quero dizer, qual foi o lado bom de tudo isso? Qual foi... O benefício? A Europa Bruxa está completamente desestabilizada, a economia foi para o buraco, ninguém manda em ninguém, mães perdem seus filhos em tumultos para nunca mais vê-los. 



Há anos brincamos desse jogo estúpido que ninguém agüenta mais.



As perdas pouco interessam. Os ganhos são supérfluos. 



Crianças que perdem o brilho dos olhos... Anjos caídos arrastando-se pelas ruas imundas em procura do perdão divino...



Ninguém presta por aqui...



E a única coisa que podemos fazer é esperar. Esperar pelo conforto que nunca virá. Pelo perdão inexistente daqueles que deixamos para trás.



Esperar pelo fim.



E que o mesmo esteja próximo.




Amém."








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"Quinze de Outubro;




Irlanda: destruída.

Escócia: destruída.

Inglaterra: destruída.



Próxima parada?



... 



Gales, muito provavelmente.



Ele mantém os olhos em Gales, não se sabe o motivo...



Porém, eu estou desconfiado. Ele descobriu alguma coisa. Ele está feliz. Ele ri, e as colunas que seguram este prédio balançam.



Eu espero que não seja nada de ruim.



Eu espero que alguém o mate logo. Arranque a cabeça desse monstro e a pendure em praça pública.



Queimem o corpo e atirem as cinzas ao mar.



Ou entreguem aos lobos. Pouco me importa.



Mas alguém o faça parar. 




Snape."




--




"Trinta de Outubro;




O FILHO DA PUTA DO PETER PETTIGREW TRAIU OS POTTERS. É POR ISSO QUE VOLDEMORT QUER GALES!!! ELE ESTÁ PARTINDO ESSA MADRUGADA PARA GODRIC'S HOLLOW. DUMBLEDORE NÃO RESPONDE AOS CHAMADOS.



...



Eles irão morrer.



E É TUDO MINHA CULPA! EU FUI BURRO!



Aquela menina não merece. Nem aquela criança...



E por mais que eu odeie James... Oh, céus.



ALGUÉM O PARE!




Severus Snape."




--




"Primeiro de Novembro;




O fim.



De uma era. De uma época. De uma vida.



De uma constante.



De uma guerra.



Os fogos de artifício explodem no céu estrelado desta madrugada. As pessoas festejam a paz, celebram o amor, agradecem aos deuses. 



Hoje, e para sempre, as pessoas dirão:



À Harry Potter, o Garoto-que-Sobreviveu e deteve o Lorde das Trevas. 



Levantarão seus cálices e brindarão.



Nada sobrou. Nada além... Da morte. Da força de vontade ao recomeçar do zero o que a história levou milênios para criar. 



E os sobreviventes contarão aos seus filhos e netos como um bebê de pouco mais de um ano pode vencer o Invencível. Como esse pobre menino perdeu seus pais... E entrou para a história.



Ele é o Herói. Ele é o Deus Encarnado.



De olhos verdes como a esperança.



Há certa tristeza nesse show de cores. Nos fogos que explodem em nome de uma criança, a chuva dourada sobre nossas cabeças, os rodamoinhos prateados, flashs brancos e azuis...



A expectativa.



O ápice. Por um mero instante, estão todos unidos, admirando ao belo espetáculo que representa uma nova Era.



E sempre há algo extremamente depressivo em tudo isso...



O final.



Onde nós nos pegamos sozinhos, na escuridão, desejando por mais.



Mais mais mais...



Implorando por mais uma amostra daquele espetáculo de luzes que nada mais são do que a alegria de um povo. 



E, de alguma forma, quando as coisas acabam...



É triste. E um sentimento de solidão invade nossa mente.

...



E eu estou aqui, no meio de uma rua deserta, olhando para tudo isso. Olhando para trás e enterrando as desgraças.



Procurando um futuro nestes fogos de artifício...



Admitindo meus erros e, acima de tudo, permitindo que as lágrimas caiam sobre o meu rosto.



E é o fim, e é o começo, e é o um ciclo interminável em que vivemos.



Apenas respirem. E continuem a caminhada.



Assim como eu.



Adeus.




Severus Snape." 







I have been broken

Silence is golden

I have been broken

Safe in my own skin




 



N/A: Dedicado à quem eu amo. Obrigada por existirem.



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