Doce Momento



Doce Momento


Lentamente ela dançava. Abraçada ao homem mais importante de sua vida. Pelo menos até aquele momento. A música doce e triste lhe enchia o coração da sensação de perfeição de um momento. Um momento único e mágico.
Mais um giro e de novo nos braços dele. Ele tinha o mesmo cheiro de sempre, um cheiro de biscoitos e cerveja amanteigada, misturada com o perfume que certamente sua mãe que escolhera. Ela teve de conter uma risadinha.
Ele reparou que os ombros frágeis de sua filha, protegidos apenas por um fino tecido, sacudiam, e a afastou para encará-la com um olhar curioso e preocupado. Ela estaria chorando? Não. Ela estava rindo silenciosamente. Aquilo o intrigou profundamente.
— Que foi minha filha?
— Nada papai. Apenas lembranças... Recorda quando o senhor me levou ao meu primeiro baile? Garoava naquela noite, e todas as minhas amigas estavam de mini saias e saltos, e o senhor me obrigou a chegar na frente da festa de capa de chuva amarela e galochas?
Ele riu gostosamente e a fez girar novamente.
— Eu tinha prometido à sua mãe que cuidaria de você.
— Mas não precisava tanto. Por meses eu fui o assunto da escola — repreendeu ela com um sorriso que desmentia as palavras desgostosas.
Ele voltou a aconchegá-la próximo do corpo. Era a mesma sensação desde a primeira vez que a segurou nos braços. Quando recém tinha vindo ao mundo e não pesava mais que alguns quilogramas. Agora ela era uma mulher. Tinha sempre o mesmo cheiro de erva doce, misturado com tutti-fruti.
— Aquela vez, papai, eu percebi que mesmo que o senhor me obrigasse às coisas mais estranhas, e se comportasse como um bobo, eu o amaria para sempre — ela continuou, interrompendo o raciocínio dele.
— Eu também te amo, filha, mesmo que tenha escolhido esse daí.. — ele respondeu franzindo o cenho ao dizer “esse daí”. — Mas, por que isso agora?
— Eu só queria que tivesse certeza, porque eu sei que é um pai ciumento. Você sempre será o mais importante, papai.
Ele sentiu os olhos encherem-se de água e a fitou.
Não disseram mais nada, mas continuaram dançando e dançando...
A música já havia terminado, mas eles continuavam a embalar-se naquele ritmo calmo e aconchegante. Apenas sentindo a paz de estarem juntos.
— Será que eu posso ter minha esposa de volta? — Indagou uma voz rouca e satisfeita ao lado dos dois.
O homem mais velho franziu o cenho e apertou por apenas mais alguns segundos, a filha contra si. Vendo que não teria outra solução, a soltou a contra gosto e beijou-a na testa, antes de dizer ao homem mais jovem:
— Veja lá o que vai fazer com a minha menininha.
O Homem mais jovem deu um sorriso cínico e murmurou:
— Pode deixar que não deixarei o senhor saber.
O homem mais velho escutou sem querer, e já iria interromper o casal quando uma mão terna e macia tocou-lhe o ombro. O perfume cítrico e impressionante de sua esposa inundou-lhe as narinas e ele sentiu a tensão abandoná-lo, enquanto virava-se para observá-la.
— O que traz a mulher mais linda desta festa para junto deste pobre plebeu? — Perguntou ele galante.
— Eu vim dançar com o homem mais bonito da festa — respondeu ela sorrindo.
Ele riu enquanto enlaçava-a com carinho e acompanhava o ritmo da música recém iniciada. Ele sentia uma felicidade pueril sempre que embalava a esposa nos braços. Fora assim desde a primeira vez. Embora eles tenham demorado a ficar juntos...
— Nossa filha está linda, não está? Meu Deus, parece que foi ontem que a amamentei e troquei-lhe as fraldas — comentou a mulher com um sorriso nostálgico.
Ele concordou e olhou para o lado, a fim de visualizar o casal mais jovem que sorria e dançava, encantados demais um com o outro para perceber o mundo à volta.
— Ele a fará feliz, não é mesmo? — Questionou ele preocupado.
A esposa sorriu-lhe compreensiva e acariciou-lhe a bochecha com a mão delgada que continha ainda a aliança que os unira tanto tempo antes.
— Sim, ele a fará feliz — concordou ela.
— Suponho que isso me fará feliz — resmungou ele voltando a encarar a esposa, que lhe sorria.
— Sim, isso nos fará felizes — concordou ela.
Ele encarou a esposa. Seus cabelos há muito já não eram armados, e também há muito tinham reflexos prateados, o que a deixava incrivelmente charmosa. Os olhos continuavam brilhantes, as pequenas rugas ao redor dos olhos castanhos, lhe demonstravam que os anos haviam passado, mas a beleza não. Ela sempre lhe pareceria mais e mais bela.
— Eu lembro quando dancei com meu pai, no dia de meu casamento — falou ela olhando para o casal sorridente. — Eu disse a ele que ele sempre seria o mais importante.
O homem mais velho sorriu.
— Ela me disse o mesmo — afirmou com certa arrogância.
A mulher sorriu. Sua filha era tão parecida com ela, apesar dos cabelos negros e dos olhos esverdeados.
Lily olhou para a mãe naquele momento e sorriu com felicidade. Ela adorava ver os pais juntos. Vê-los abraçados sempre lhe trazia uma tranqüilidade imensa.
— Será que algum dia nossa filha me olhará quando eu a vir dançando com o marido dela? — Indagou para o esposo que estreitou os olhos azuis e resmungou:
— Só por cima do meu cadáver. Minha filha não casará com qualquer um e...
Lily interrompeu Scorpius rindo agradavelmente e o fazendo a encarar encantado. O riso dela sempre tivera aquele efeito sobre ele.
— Acho que as mulheres da minha família estão condenadas a pais super-protetores e ciumentos. E, ao mesmo tempo, abençoadas com mães maravilhosas. Agora tenho certeza que minha filha fará isso.
Scorpius a girou. Ele estava irritado com o rumo dos pensamentos. Segundo sua mãe, seu pai era igualmente ciumento com ela. Mas ele tinha de admitir. Lily seria uma mãe fantástica.
A festa terminou lentamente.
A música romântica que embalara os dois casais havia terminado, ainda que ecoasse nas mentes de todos, com um sonho.
Harry olhava para a porta onde vira sua filha lhe murmurando que o amava e logo desaparecia, arrastada pelo novo homem que ocuparia sua vida. Depois voltou o olhar para a pista, a gravata frouxa e os primeiros botões abertos. Ele revia a dança dos dois, e a forma como os olhos dela brilharam quando dizia que o amava.
Ele ouviu a música vinda de suas lembranças e sorriu antes de dar as costas ao salão bagunçado, desligar as luzes e seguir para a lareira.
Agora ele entendia quando o sogro lhe dissera que ver Hermione casar fora uma doce dor. Ele sentia o mesmo.
E, para sempre, lembraria daquele doce momento mágico. Aquele em que ele e sua filha lentamente dançavam.


N/A: Olá. Eu não sei muito bem o que dizer numa short... Quer dizer... Numa fic longa nós respondemos aos comentários no próximo capítulo. Sempre há algo novo a ser explorado... Mas aqui quando tudo começa e termina, há apenas um olá e um adeus. Assim, espero que gostem desta idéia que tive, enquanto ouvia uma música lamechas e pensava no quão doce podem ser os pequenos momentos de felicidade suprema. Comentários e votos sempre são bem vindos. Mas, principalmente, visitas são bem vindas. Um beijo muito especial para a Janete Potter que sempre me incentiva a escrever. Outro também especial para a Jessy Potter que fez a capa belíssima da fic e me ajudou a titulá-la. Ah, e como esquecer-me das três pessoas maravilhosas que comentaram mesmo antes da postagem. Obrigada à Diany Paula Wild Family, à Jessy_Potter e à Carla Ligia Ferreira. Até a próxima.

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Comentários (1)

  • Coveiro

    Muito legal a fic. Esses pequenos momentos são realmente marcantese essa fic vai ficar marcada em mim... muito doce esse momento, mas principalmente muito gostoso de ler... emocionante e com certeza o que muito pai passa quando a filha casa (espero passar um dia por isso)

    2013-07-03
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