*Prólogo*
Hermione Granger parou diante da porta onde se lia Harry Potter, Presidente, e respirou fundo. Tudo que tinha a fazer era bater. O homem do outro lado a mandaria entrar, ela abriria a porta, entraria no escritório e a mentira começaria. Depois disso, só teria de manter seu emprego junto desse homem por um ano e receberia o financiamento necessário para começar seu próprio negócio. O que poderia ser mais fácil?
Hermione tirou os óculos escuros , alisou os cabelos presos num coque austero e ajeitou a saia marrom e o suéter que ameaçavam engoli-la. Muito bem, estava pronta. Ergueu o punho cerrado para bater, mas a porta se abriu antes que a alcançasse.
E foi então que o viu pela primeira vez. Nesse instante percebeu que havia cometido um engano em não acreditar em James Potter, pai de Harry. Ele a prevenira. Todas as se¬cretárias que Harry contratava apaixonavam-se por ele e acabavam confundindo a situação de trabalho. Achava que James ha¬via exagerado, mas agora compreendia que não.
Harry Potter era o homem mais lindo que já vira. Alto, de rosto aristocrático e queixo proeminente, era o retrato da vi¬rilidade. Cabelos negros e desalinhados enfatizavam os olhos de poder hipnótico, e ela teve de retroceder alguns passos para superar o espanto provocado por sua presença imponente.
— Ora, ora... — ele disse, cruzando os braços e encostando-se no batente. — Quem temos aqui?
— Eu... sou Hermione Granger — apresentou-se, horrorizada ao ouvir o tremor na própria voz. Se continuasse assim, não con¬seguiria sustentar sequer cinco minutos dessa mentira!
Devagar, Harry ergueu os ombros e aproximou-se. Ela ficou onde estava, incapaz de falar ou mover-se. Tinha de pensar na Baby Dream, a loja de brinquedos que sonhava abrir com a mãe.
Reunindo forças, ela estendeu a mão.
— Sou Hermione Granger — repetiu com voz fria e controlada. — Seu pai contratou-me para o cargo de secretária.
— É um prazer conhecê-la, Srta. Granger. Ou devo chamá-la de senhora? — ele sorriu, apertando sua mão e estudando o anel de diamante que adornava seu dedo. — Senhorita. Comprometida, mas não de maneira irreversível. Quem é o felizardo?
Hermione fitou os olhos cor de esmeralda e torceu para que os seus olhos escondessem o pânico que ameaçava dominá-la. Devia ter antecipado esse tipo de pergunta.
— Will... William — inventou.
— O felizardo chama-se Will-William. Venha, vamos entrar e conversar mais um pouco. Quer um café, ou um chá? Também temos suco de laranja.
— Não, obrigada — respondeu, seguindo-o e aproveitando para recompor-se.
— Sente-se. Meu pai deve ter explicado que estive fora do país durante o processo de seleção, não? Por isso não pude escolher minha própria secretária. Por que ele a preferiu dentre todas as outras?
Não podia revelar a verdade. James exigira que não contasse que haviam se conhecido através de seu concurso anual para jovens empresários, uma disputa cujo objetivo era ajudar jovens empreendedores a começarem seus próprios negócios. Havia esperado conquistar o primeiro prêmio, uma quantia com a qual teria aberto a Baby Dream. Infelizmente só conseguira o terceiro lugar. Embora não pudesse abrir sua loja com a quantia conquistada no concurso, ao menos caíra nas graças de James Potter, que decidira lhe dar uma oportunidade de realizar seu sonho... de forma indireta.
— Pelo que seu pai disse, deduzi que andou enfrentando alguns problemas para manter suas secretárias. — O que im¬pedira James de aposentar-se, uma situação que ele pretendia corrigir o mais depressa possível. — Ele sentiu que eu não causaria esse tipo de problema.
— É mesmo? E por quê?
— Porque sou séria a respeito de meu trabalho.
E porque só precisava conservar esse emprego de secretária por um ano, mantendo um relacionamento absolutamente pro¬fissional com Harry Potter, para obter o financiamento ne¬cessário à abertura da loja de brinquedos. Não sacrificaria seu sonho por um pouco de diversão nos braços do italiano. De jeito nenhum!
— Espero que sim — Harry respondeu. — Fale mais sobre si mesma, sim?
Hesitante Hermione resumiu os dados contidos no curriculum que enviara antecipadamente, enquanto ele a observava com atenção, registrando cada detalhe de seu comportamento sério e rígido.
Teria conseguido enxergar através do disfarce? Teria per¬cebido que havia encobertado-se em roupas de vários números maiores para esconder o corpo? Os óculos de leitura também eram um artefato para torná-la menos atraente. E quanto ao anel de noivado? Era um peso pouco familiar e tão desconfortável quanto o restante do conjunto. Para a filha de um ministro, a duplicidade não era nada fácil.
Mas queria realizar seu sonho, e essa encenação temporária seria seu passaporte para a independência financeira.
— E assim — concluiu — trabalhei nessa empresa por um ano, até que fui convidada para este cargo.
Harry não fez qualquer comentário, os olhos verdes atentos como se buscassem algo que ele ainda não conseguira captar. Hermione sustentou o olhar intenso, consciente de que teria de manter a calma durante o próximo ano inteiro, ou não chegaria ao fim desse projeto.
Finalmente ele afirmou com a cabeça.
— Seja bem-vinda, Srta. Granger. Como sempre, papai soube escolher. Deixe-me mostrar sua mesa — ele convidou, se levan¬tando e indicando o caminho para a ante-sala. — Este é seu novo lar. Sente-se.
— Obrigada.
— Aproveite para conhecer o ambiente, explorar a área dos escritórios e tomar um café, ou um chá. Apresente-se em minha sala dentro de uma hora, e então discutiremos os procedimentos administrativos e suas funções. Para ser bem direto, só há uma coisa que espero que faça.
— O quê?
— Tudo que eu mandar.
Podia entender por que as mulheres caíam por ele como pinos de boliche. Além da aparência estonteante, Harry tinha inteligência e um senso de humor refinado, características ir¬resistíveis num homem de sua posição. Talvez esse charme fosse apenas parte de sua personalidade, uma característica tão natural que ele nem percebia o efeito que exercia sobre o sexo oposto. O tempo diria...
Enquanto isso, só havia uma maneira de lidar com ele.
— Tudo que mandar não faz parte de minha descrição de cargo. Terá de ser um pouco mais específico, Sr. Potter.
— Verei o que posso fazer — ele riu. — Ah... e mais uma coisa. Harry contornou a mesa e parou atrás dela. Podia sentir os dedos tocando seu pescoço, um toque suave, quase impercep¬tível. Hermione tentou levantar-se, mas ele a impediu.
— Fique quieta, cara mia. Só um instante.
E então ele afastou-se e voltou para frente da mesa, de onde podia encará-la.
— O que estava fazendo? — Hermione perguntou perturbada.
— Estava apenas lhe prestando um favor. Notei que o último botão de sua blusa se soltara, e achei que devia ajudá-la. Afinal, uma mulher do seu estilo não pode andar com um botão aberto.
Sem dizer mais nada, ele voltou ao seu escritório e fechou a porta.
E esse tipo de atitude, Hermione compreendeu, estabelecia o padrão do relacionamento. Faria o papel da profissional estóica, enquanto ele a provocaria em busca de uma resposta nada profissional.
Soltando o ar num longo suspiro, Hermione olhou para o ca¬lendário sobre a mesa. O futuro lhe reservava um ano composto por dias intermináveis. Trezentos e sessenta e cinco dias, para ser mais exata. Parecia uma eternidade. Sem pensar no que estava fazendo, abriu a gaveta e vasculhou a parafernália amontoada dentro dela em busca de uma caneta vermelha. Com grande deliberação, e satisfação ainda maior, fez um X sobre o primeiro dia de sua sentença de um ano.
E nesse instante Hermione percebeu em que tipo de encrenca havia se metido... e como o próximo ano seria longo e difícil.
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