Capitulo 4



CAPITULO IV

Harry pousou a xícara lentamente na mesa.
— Entendo. Você é um anjo — disse baixinho.
— Sou.
— Está querendo dizer que é um "anjo do asfalto", uma daquelas pessoas que patrulham as estradas para socorrer pessoas feridas em acidentes?
— Não. Sou um anjo de verdade e desci do céu em missão especial, para ajudar você.
— Era o que eu temia — ele resmungou, tornando a pegar a xícara.
Hermione observou-o com um sorriso complacente. Ele a julgava louca. Mas quem não julgaria?
— Quer que eu lhe prepare uma refeição rápida? — ofereceu. — O que costuma comer pela manhã?
— Torradas — ele respondeu, distraído. — Há pão no freezer. Onde está hospedada, aqui em Los Angeles?
— Em lugar nenhum. Eu tinha acabado de chegar e...
— Do céu?
— De Denver. Infelizmente, minha bagagem foi roubada no aeroporto e fiquei desnorteada — ela contou, tirando um pão de forma do freezer. — Então, enquanto procurava um hotel, sofri um acidente e...
— Um acidente? — ele interrompeu-a abruptamente. — O que aconteceu?
— Uma coisa estúpida. Caí num bueiro aberto e bati a cabeça. Foi aí que fui para o céu e virei anjo.
— Você caiu, bateu a cabeça, foi para o céu e virou anjo — ele repetia lentamente.
— Quase anjo, na verdade. Ainda não ganhei a auréola — explicou Hermione.
— Entendo. Aí, você voltou para o mundo para procurar um advogado. Deseja processar o hospital que a atendeu, ou a prefeitura da cidade?
— Não quero processar ninguém. Não vim procurar um advogado. Bud mandou que eu procurasse você, Harry Potter.
— Quem é Bud?
— O anjo-chefe. Ele disse que você estava precisando de ajuda e me mandou procurá-lo.
— Vagueou pelas ruas de Los Angeles, à noite, sozinha, me procurando?
— Não era noite, ainda. Comecei minha busca às três da tarde. Era para ter começado mais cedo, mas precisei encontrar uma roupa branca, adequada para a viagem de volta.
— De volta para onde?
— Para o céu. — Ela ligou a torradeira com um gesto impaciente. — Que diabo... isto é, que droga! Não ouviu uma palavra do que eu disse?
— Ouvi tudo — ele afirmou. — Continue.
Hermione bufou e colocou uma fatia de pão na torradeira.
— Então, quando consegui o vestido branco, fiquei andando a esmo, até que vi o luminoso do 'Cova'. E como Bud falara alguma coisa a respeito de uma cova, adivinhei que você estava lá dentro. Não foi ótimo?
— Fantástico! — ele concordou com um sorriso forçado. — Como é mesmo o nome do seu médico, Hermione? Você disse, mas esqueci.
— Eu não disse. Você não acredita em mim — ela reclamou, desapontada.
— Acredito que você acredita que é um anjo.
Ela meneou a cabeça, olhando-o com desgosto.
— Deus me livre de advogados! Eu não acredito que sou um anjo. Eu sou! E desci para ajudar você.
— Ajudar-me em quê?
Ela franziu a testa, indecisa.
— Devo confessar que não sei direito. Você tem tantos defeitos que nem sei por onde começar.
A despeito de achar que estava lidando com uma pessoa mentalmente perturbada, Harry sentiu alguma irritação.
— Não tenho defeitos!
— Claro que tem. Você bebe...
— Nunca como bebi ontem à noite. E assim mesmo, tenho certeza de que aquele garçom batizou meus drinques.
— Batizou? — estranhou Hermione.
— Pôs água no uísque — ele esclareceu.
— Voltando aos defeitos, você xinga...
— Não xingo coisa nenhuma! Bem, um pouco, talvez, mas...
— Não deve dizer palavrões ou pragas, nunca. Acho que é o primeiro defeito que preciso ajudá-lo a eliminar.
— Não tem o direito de...
— Tem péssimo gênio — ela continuou, imperturbável. — E como me pegou naquele bar, ontem, e me trouxe para cá, aposto como é um mulherengo descarado.
— Não sou mulherengo! — ele se rebelou. — Faz seis meses que saio com uma mulher só. Cecília é de família tradicional e nossa relação é a mais decente que alguém possa desejar. Vamos ficar noivos dentro de dez dias. E tirei você do bar para evitar que fosse atacada por algum daqueles brutos.
— É mentiroso também. Não esqueci o que aconteceu naquele quarto ali.
Harry corou e desviou os olhos dos dela. Satisfeita por tê-lo impedido de continuar argumentando, Hermione sorriu.
— Comprometeu-se a ficar noivo? — perguntou. Harry respirou fundo.
— É um compromisso, sim. O noivado será anunciado numa festa que o pai dela vai dar em nossa honra.
Ela preparara várias torradas, enquanto conversava. Arrumou-as num prato, que colocou na mesa junto com a jarra da cafeteira.
— Mas não age como um homem que vai ficar noivo —- acusou.
— E como era que eu tinha de agir?
— Devia mostrar-se feliz, entusiasmado — ela declarou. Harry olhou-a com ar cínico.
— Sem essa, Hermione. Meu casamento com Cecília será apenas um acordo de negócios que beneficiará ambas as partes.
— O que está querendo dizer com isso? — ela quis saber, tirando da geladeira o vidro de caviar.
— Sou sócio da firma, bem-sucedido, mas isso não me satisfaz e daqui a uns dois anos pretendo ingressar na carreira política. Cecília, pertencendo a uma família tão importante, será a esposa ideal. Ela saberá estabelecer conexões valiosas.
Hermione sentou-se e começou a passar caviar numa torrada.
— Você não ama essa moça, então?
Ele sorriu de modo irônico.
— Aprendi, muito tempo atrás, que o amor é um sentimento imaginário, um paliativo que usamos para suportar a dureza da realidade. Cecília e eu preferimos um relacionamento mais honesto.
— Você prefere — observou Hermione. — Tem certeza de que a pobre moça também quer isso?
— Claro que ela quer casar com um homem bem de vida e com um grande futuro pela frente — ele garantiu e fez uma breve pausa, antes de acrescentar: — Mas acho que isso não é da sua conta.
Hermione empertigou-se.
— Naturalmente que é! Estou aqui para dar-lhe auxílio e... — Hesitou. Então, seus olhos cintilaram como estrelas, quando ela declarou: — Bud disse que o amor é a resposta! Agora entendo o que preciso fazer. Tenho de ajudá-lo a apaixonar-se por sua noiva!
— O quê?!
— Mas acho bom você ir corrigindo seus defeitos, por via das dúvidas.
— Por via das dúvidas, acho melhor você dar o fora daqui — ele replicou com azedume.
Ela não se abalou. Nem sequer respondeu, continuando a mastigar uma torrada.
Harry levantou-se para ir pegar suco de laranja na geladeira e, quando inclinou-se, sentiu um beliscão no traseiro. Endireitou-se num salto e olhou para ela, furioso e incrédulo,
— Você me beliscou, Hermione?
— Me viu beliscar você?
— Não, mas senti.
Ela fez um ar inocente, cravando os olhos castanhos nos dele.
— Vai ver que foi uma sensação imaginária, como o amor é um sentimento...
— Não me venha com jogo de palavras! — explodiu Harry, interrompendo-a.
Pegou a embalagem de suco e, para seu espanto, sentiu novo beliscão.
— Pare com isso! — berrou para Hermione, embora a visse sentada no mesmo lugar, segurando a xícara com as duas mãos.
— Parar com o quê?
— Senti me beliscarem outra vez. Como estamos apenas nós dois aqui, só pode ter sido você.
— Talvez seja um tipo de censura que você criou na mente para impedir-se de xingar ou praguejar — ela sugeriu.
— Não crio censuras mentais, nem imaginei que levei dois beliscões!
— Você é um osso duro de roer. — comentou Hermione, suspirando. — Belo trabalho foram me dar.
—- Anjos não reclamam — ele observou com sarcasmo. — E como você pensa que é um deles...
— Eu sou! Você diz que não acredita, mas ontem à noite me chamou de "meu anjo".
— Eu estava bêbado — ele resmungou, voltando a sentar-se.
— Ah, mas pensou num anjo, quando me viu.
— Isso não tem nada a ver.
— Claro que tem. Se acreditou uma vez, só preciso fazê-lo acreditar de novo.
Harry riu, zombeteiro.
— Como? Me entupindo de uísque?
— Estou falando sério. Aquela briga no bar. Não se lembra de que protegi você?
— Não.
— Sabe por que o grandalhão começou a espirrar? Porque pensei em espirros.
— Pensou em espirros?
— Isso, assim como pensei que seria tudo mais fácil se você ficasse embriagado. Deu certo. Você ficou mais dócil.
Daniel olhou-a severamente.
— Colocou alguma droga na minha bebida, Hermione?
— Não.
— Então, minha querida, não acredito em você. Seus pensamentos manipuladores foram mera coincidência.
— Precisa acreditar em mim, Harry! — ela exclamou em tom suplicante. — Deve haver alguma coisa que possa convencer um advogado cínico como você. — Fez uma pausa. — Já sei!
Levantou-se, foi até a sala de estar e pegou a bolsa. Retornando para a cozinha, abriu a bolsa e tirou um papel, que entregou a ele.
— Tome.
— O que é isso?
— Uma lista de pessoas que podem dar referências a meu respeito.
Ele leu a lista e olhou para ela com um sorrisinho de zombaria.
— Não vejo o nome de Bud, aqui.
— Não são referências dadas por anjos, mas por gente para quem já trabalhei. Sei que advogados dão muita importância a essas coisas. Talvez essas pessoas possam dizer-lhe que mereço confiança.
Harry apertou os lábios, agastado.
— Sabe de uma coisa, Hermione? Preciso levá-la a um médico o mais rápido possível. Tenho um amigo que é psiquiatra.
— Não. Não tenho tempo. Quero acabar meu trabalho com você bem depressa e voltar para o céu.
Harry observou a expressão obstinada no rosto encantador. Estava lidando com a situação de maneira errada. De nada adiantava discutir. Hermione devia ser louca.
— Eu quero acreditar que você é um anjo — afirmou, entrando no jogo. — Mas precisa me convencer. Por que não faz outro milagre?
Hermione olhou-o, confusa.
— Outro milagre?
— É. Você me fez ficar bêbado e obrigou o homem a espirrar. Faça outro truque, quero dizer, outro milagre daqueles. Por exemplo, faça chover — sugeriu Harry, olhando para a janela, através da qual via-se o céu limpo, sem uma única nuvem.
— Chover? Mas a Califórnia está atravessando um período de seca! — ela protestou. — É o único jeito de fazê-lo acreditar em mim?
— É. Se não fizer chover, vou levá-la para o hospital e já.
Hermione fitou-o em silêncio por alguns segundos.
— Se eu conseguir, acreditará em mim e me deixará ficar para ajudá-lo?
— Prometo que sim.
— Quem me garante que cumprirá a promessa?
— Por que não fazemos um documento? — ele propôs, tentando não perder a calma.
— Advogado da cabeça aos pés — comentou Hermione. Harry ignorou-a e foi buscar caneta e papel no pequeno escritório com ligação com o quarto. Voltou pouco depois e sentou-se à mesa, preparando-se para escrever.
— Vamos fazer algo simples — decidiu, começando a escrever, lendo o texto em voz alta: — No dia dezesseis de junho, às dez horas da manhã, combinamos que, se não chover até às onze, Hermione Granger concordará em consultar um psiquiatra. O que acha?
— E se chover, Harry Potter concordará em deixar que Hermione Granger o ajude e faça um bom trabalho, de modo a poder voltar para o céu —- ela ditou.
Ele escreveu.
— Satisfeita?
— Não sei... Como se define chuva?
— Não se define. Chuva é chuva—ele respondeu, impaciente.
— Sei como vocês advogados são espertos. Se não explicar o que é chuva, nesse papel, pode cair um temporal que você negará que choveu.
Harry bufou.
— Chuva é água em quantidade visível, caindo do céu - recitou. — Isso é bastante claro para você?
— Acho que é.
Ele escreveu a emenda e empurrou o papel para ela.
— Assine então. - Os dois assinaram. Harry dobrou o papel e colocou-o numa gaveta do armário da cozinha. — Acabe de comer enquanto me visto, Hermione.
Foi para o quarto, deixando-a às voltas com outra torrada com caviar. Despiu-se e entrou no chuveiro, sorrindo ao pensar no "documento" que ambos tinham assinado. Chuva em junho! Essa era muito boa.
Dez minutos depois, voltou para a sala, pronto para sair. Não ficou surpreso ao ver Hermione ainda à mesa, diante do prato onde ela pusera as torradas, completamente vazio.
— Estou com pressa — anunciou. — Tenho um encontro com Cecília. Tem até às onze para fazer chover. Depois, me espere. Não vou demorar.
— Vou pensar positivamente e a chuva cairá — ela afirmou.
— Boa sorte — ele murmurou, mas de repente mostrou-se indeciso. — Tem certeza de que vai ficar bem, sozinha, Hermione?
— Claro.
— Tudo bem, então, fique à vontade, tome banho, coma o quiser — ele recomendou, olhando com ar sugestivo para o prato vazio.
— Obrigada — ela respondeu sorrindo.
Harry despediu-se com um gesto e saiu, fechando a porta. Não levaria muito tempo para falar com Cecília, explicando-lhe a situação, e voltar para junto de Hermione, pensou, enquanto descia pelo elevador. Então, telefonaria ao amigo que era psiquiatra e pediria sua opinião.
O elevador chegou ao térreo e ele saiu, atravessando o vestíbulo. Abriu a porta e, de repente, foi assaltado por uma estranha sensação de perigo. Olhou instintivamente para o alto.
Nesse instante, água despencou lá de cima, caindo-lhe em cheio no rosto.




Obs:Oiiii pessoal!!!!Capitulo postado!!!!Espero que tenham curtido!!!!!No feriado de Páscoa vou viajar, por isso quarta tem mais atualização!!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!!

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