Muro quebrado



Você não vai gostar de mim. Ninguém nunca gostou de mim porque você iria gostar?

Talvez eu esteja sendo injusto, pois você não conhece minha história. Na verdade, ninguém conhece minha história e talvez por isso eles não gostem de mim.

Bom, então irei contar minha história. Se ficarem com raiva, entenderei. Se gostarem, agradecerei.

Meu nome? Acredito que não é importante, não como fui antigamente. Mas preciso me apresentar, afinal é falta de educação. Eu sou Draco Malfoy, filho de Lucius Malfoy e Narcissa Malfoy.

Eu estou agora com 21 anos. Meu trabalho? Sou Auror. Talvez você estranhe, pois todos diriam que Draco Malfoy iria ser um Comensal de Lord Voldemort. É incrível como a vida dá reviravoltas, não acha?

Aqui estou eu, em frente à lareira de minha casa. Ao lado está um bando de trouxas brincando na neve fria fazendo bonecos de neve ridículos. É...estou rodeado de sangues-ruins. A culpa? Bom, não é de ninguém. Afinal eu aceitei e posso dizer que não é tão mal quanto pensei que fosse.

Você deve se perguntar ‘ Mas o que cargas d’água faz Draco Malfoy rodeado de trouxas?’ As pessoas mudam, às vezes por elas, às vezes por outras. Esse é o meu caso.

Sabe quando você sente que briga com uma pessoa porque na verdade gosta disso? Gosta de vê-la ficar com raiva e discutir com você? E aos pouco você vê que na verdade você não gosta disso, e sim da pessoa? Aconteceu comigo.

Lembro perfeitamente do dia que a vi chorando no corredor perto da bruxa corcunda de um olho só. Estava sozinha e as lágrimas salgadas desciam pelo rosto como se estivessem guardadas há muito tempo. Engoli em seco...mas bom, aquela era uma boa hora de começar o dia, afinal tinha acordado de mau-humor.

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-Que cena interessante! – Debochei da garota. Adorava deixá-la com raiva.

-Vai embora Malfoy. – Disse a menina entre soluços.

-Brigou com o Potty, Granger?

-Não é da sua conta. – É ela havia brigado com o Potter. Dava pra notar, todos sabiam que Hermione Granger era apaixonada pelo Harry Potter.

-Granger, pare de chorar. Está pior que o chafariz lá de casa.

-Não estou falando com você Malfoy. Por que não vai ver quem foi que matou o Mar Morto? – É tive que rir. Acredita quando digo que ela fica engraçada quando fica com raiva? Pois é, ela fica. Diz coisas que em sã consciência nunca diria.

Então percebi que era realmente sério, por que não é todo dia que você vê Hermione Granger chorando naquele estado. Tentei procurar motivos para ver o porquê de a garota estar chorando, mas não encontrei.

-Potter te traiu com o Weasley ou o quê? – Ri pensando numa cena onde se encontrava Potter e o Weasley se beijando na sala precisa.

-É. – Arregalei os olhos. É? Como assim? – Foi com a Gina.

Ah, tinha que ser a Weasley. Não sei o que o povo vê naquela pirralha. Pra mim parece uma beterraba ambulante. Mas o estranho é que naquela hora, não estava mais tirando chacota dela. Acho que não seria justo fazer isso com ela, naquela hora. Não estava com pena, só estava mal por ela.

-Não chore pelo Potter, Granger. Não vale a pena. – Era o que eu achava daquele garoto. O Potter pra mim não vale um galeão.

-Você não sabe de nada Malfoy. Pra você ninguém vale a pena. – Era verdade. Ninguém gosta de mim mesmo, por que então iria valer a pena?

-Não acredito nas pessoas Granger. Exatamente para não acontecer o que aconteceu com você. Você se ilude com o amor. O amor não existe.

Nesse instante vi ela me olhar transtornada, como se estivesse tentando analisar o que disse.

-O amor existe Malfoy. Você que nunca sentiu.

-Granger, o amor é coisa que colocam em nossas cabeças para podermos nos reproduzir.

-Não é verdade. – Disse levantando-se do chão ainda com os olhos vermelhos.

-Sabe por que as mulheres procuram homens fortes, bonitos, altos e sarados? Porque querem a mesma característica para seus filhos. Granger, o amor não é como dizem. Você não sente suas mãos suarem, nem seu coração bater. Um ‘Eu te amo’ são só palavras, não diz nada de verdade.

-O amor não é pra ser dito Malfoy. O amor é pra ser feito.

-Bonito Granger, mas não é o que acontece né? – Vi outra lagrima descer dos olhos cor de mel da garota. – Não devia ser tão sentimentalista Granger.

-Eu sou uma garota Malfoy. Não posso evitar.

-Sei, e agora vai fazer o quê?

-Vou embora! – Aquilo me assustou devo admitir. Ir embora? A melhor aluna de Hogwarts? O que diabos estava acontecendo?

-Bom, então vou fazer uma festinha...acordei de mau humor hoje. Mas com uma noticia dessa qualquer um se anima, não acha?

-É...talvez.

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‘É... talvez. ’ Ainda escuto essa frase muitas vezes na minha cabeça. Olho o retrato dela acenando pra mim em cima da lareira sorrindo. Bebo mais um gole de vinho tinto e sinto minha garganta seca.

Sinto uma coisa peluda pular em meu colo pedindo carinho. Bichento! O gato laranja da garota...no começo ele não gostava de mim, mas a gente se acostuma com as pessoas a nossa volta. Com o dedo indicador acaricio o pelo do bichano atrás da orelha pontuda.

Respiro fundo. Tenho muito que contar ainda.
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-Talvez?

-É...acho que ninguém aqui gosta de mim mesmo. – Não é que temos outra isolada do mundo em Hogwarts? E eu nunca pensei que Hermione fosse uma delas. – Vou embora hoje à noite.

-Já está de noite Granger. – Disse estranhando o fato de que Hermione parecia abobada naquela hora. – Por que vai sair?

-Não dá pra ficar no mesmo lugar que Harry e vê ele beijando Gina.

-Granger, você não é uma condenada. Não tem porque ir embora. E se for, será uma perdedora, porque deixou que aquela beterraba ambulante ganhasse de você. Você é feita de que Granger? Não tem dignidade? Vai dar bandeira branca? Pensei que fosse mais orgulhosa.

Aquilo não era um apoio. Pelo menos não a meu ver. Mas vendo o rosto da garota, ela parecia estar pensando no que eu dissera. Mas às vezes sentia como ela...e sei que é doloroso.

-Granger, ponha na cabeça... Não é porque o Potter não goste de você que o mundo irá acabar. Desamarra dele. Não quero desmoralizá-la, mas nós homens procuramos mulheres mais fortes. Compreende? Weasley é uma pirralha probretona, mas ao contrario de você, ela não se ilude com essas coisas. É disso que gostamos.

-Você nunca se apaixonou né Malfoy?

-Nem vou Granger. Nunca vou me apaixonar.

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Nunca diga nunca! Isso é um conselho para você. Porque o que eu sempre quis era não me apaixonar, mas a palavra nunca parece mais uma maldição...e quando dizemos nunca parece que no mesmo instante aquilo acontece.

Não que aconteceu na hora, mas deu certa enguiçada para acontecer. Afinal ao consolar alguém você se auto consola.

É...eu me apaixonei por Hermione Granger como nunca me apaixonei antes. Mas isso não faz as pessoas gostarem de mim!

Bichento já está adormecido no meu colo. E olhando o gato eu lembro dela. Engulo em seco de novo.
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-Devia Malfoy.

-Não quero sofrer por um sentimento estúpido que pode ser correspondido ou não. – Disse revoltado...essas coisas de amor me deixa enojado.

-Você tem que amar pelo simples fato de amar Malfoy. Não para ser amado em troca. – Não sabia que Hermione agora era conselheira amorosa.

-Sabe Granger, é engraçado ver você dizer essas coisas lindas e chorando pelos cantos.

-Melhor eu ir embora.

-Bom, adeus perdedora...agora que você vai embora posso usar o quarto de monitor só para mim.

Vi a garota subir as escadas até a torre onde era seu salão comunal. Não queria que ela fosse embora, alem de eu não ter nada para me divertir, ela deixaria a Weasley ganhar... E perder pra alguém como aquela garota era o cúmulo.

Mas sabe quando você sente que sem querer acabou ajudando alguém que se encontrava desesperada? Pois é foi o que senti ao vê-la subindo as escadas. Talvez eu não seja bom em conselhos, mas sou bom em fazer pessoas mudarem de idéia...e fazer Hermione Granger mudar de idéia naquela hora, foi a melhor idéia que já tive.

É, eu sabia que ela não iria embora. Era orgulhosa demais para me deixar ser monitor chefe sozinho...era orgulhosa demais para deixar-se perder sem lutar.

Hermione Granger era orgulhosa demais para perder para aquela Weasley.

Não disse? Lá estava ela.

Estou na biblioteca agora lendo o livro sobre a Pedra Filosofal criado por Nicolas Flamel. Como sempre, estou sozinho na última mesa da biblioteca de Hogwarts.

Vejo-a entrar e vir até mim, como se estivesse envergonhada do que as pessoas iriam dizer se virem Hermione com Draco Malfoy.

-Malfoy... Obrigada.

-Pelo o quê?

-Ah. Ontem você me ajudou. – Disse envergonhada. Não evitei sorrir. – Você tinha razão, não havia motivos para ir embora. Obrigada.

-Não fiz isso por você Granger. Sabe sem você Hogwarts é sem graça, afinal quem vou chamar de sangue-ruim? – Incrivelmente ela riu. Esperei levar um tapa como no terceiro ano. Mas não, ela sorriu.

-É... E não vai ter ninguém para competir comigo em notas também. – Tive uma leve impressão que ela gostava de competir comigo. – Bom... Não tenho mais nada pra falar com você.

E ela saiu o mais rápido que pode. Acho que já estamos crescendo, afinal era a segunda conversa que tínhamos sem nos zangar um com o outro. Estávamos civilizados ou talvez interligados por sermos completamente diferentes.

Mas embora eu tenha ‘ajudado’ a garota, não parecia. A garota agora estava mais sozinha que Pirraça. Tentava inutilmente evitar Potter.

Potter! O ser mais desprezível que você pode conhecer. Mas, isso é minha opinião. Todos gostam de Potter! Ninguém gosta de mim.

Não. Eu não tenho baixa auto-estima. Essa palavra é engraçada, não acha? Baixa auto-estima! Bom, aquilo era verdade, ninguém nunca gostou de mim.

Agora, estou fazendo minha ronda de monitor-chefe. É, sou monitor-chefe. A monitora-chefe? Precisa dizer? Todos, até os do primeiro ano já sabiam que ia ser Hermione Granger.

E de novo lá estou vendo a garota de cabelos castanhos e olhos cor de mel, encostada na parede, chorando quieta como se fosse proibido chorar a noite.

Eu até poderia ir embora e deixa-la sozinha. Poderia deixá-la com raiva como sempre. Mas apenas fiquei ali, mirando-a.

Fui até ela. Queria fazer ela entender que o amor não existe.

-Não está chorando pelo Potter, está Granger?

-Não consigo Malfoy. Dói ver a Gina com ele, dói ouvir ele dizer ‘Eu te amo, Gina’ toda hora.

-Granger, não sofra por amor. Não vale a pena.

-Eu prefiro passar o resto da minha vida assim do que viver como você Malfoy.

-Então por que não dá uma poção do amor pra ele? É mais fácil, não acha? – Ela me olhou como eu tivesse matado o Longbottom.

-Malfoy, isso é ilegal. E Harry não gosta de mim, a poção não muda nada. Vai me fazer sentir pior do que já estou.

-Então esquece o Potter, Granger! – Disse revoltado. Mas o que diabos Potter tinha que fazia essa garota ficar desse jeito?

-Não é tão fácil, Malfoy. Sabe, um dia se apaixone e você irá entender o que estou dizendo.

-Não obrigado. Não quero ficar como você.

-Ai, já é problema seu.

Vi que ela estava segurando algo. Parecia um pergaminho. - Posso ler? – É a curiosidade! Sabe, nunca quis ler algo escrito por aquela garota como naquela hora. Ela me olhou confusa, ainda com os olhos vermelhos.

Ela olhou para o pergaminho e para mim parecendo pensar se deixaria ou não. E estranhamente ela estendeu a mão tremula. Peguei o pergaminho e comecei a ler.

"Alivia a minha alma, faz com que eu sinta que tua mão está dada à minha. Fazes com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade. Fazes com que eu sinta que amar é não morrer e que a entrega de si mesmo não significa a morte. Fazes com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também sou incompreensível. Fazes com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que me amou, fazes com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, Amém."
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Lembro perfeitamente desse poema. Isso não é um desabafo, é um poema. E pude ver que aquela garota realmente amava o Potter. E a vê naquele estado me fez odiar aquele garoto como nunca.

Se pudesse descrever todos os sentimentos que tive ao ler aquele pergaminho, serei um gênio. Nunca pensei que palavras pudessem ter aquela força.

Um sentimento de tristeza, solidão, impotência, indignação e alguns outros que não fui capaz de distinguir me dominou, e nunca senti aquilo por pessoa alguma. Talvez foi a partir dali que fui capaz de compreender os sentimentos da garota e até os meus mesmos.

Talvez foi a partir dali que comecei a notar Hermione Granger.
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-Bonito. – Disse indiferente olhando nos olhos da castanha.

-Bonito seria se eu fosse a Gina, Malfoy. – Fiz uma careta.

-Ainda bem que não é.

-Por quê?

-Porque ai você teria que ir todo dia a ala hospitalar para tirar aquelas sarnas que mais parecem sarampo. – Ouvi um riso abafado. Não posso negar que gosto de vê-la sorrir.

-Não fale assim dela. Gina é... é uma pessoa.. legal. – Eu não ouvi aquilo. Não ouvi. A garota roubou o garoto da menina e ela diz que ela é uma pessoa legal? – Mas acho que ela não gosta de mim.

-Por quê?

-Porque ela meio que parece não confiar em mim. E quando você gosta da pessoa você confia nela.

-Ela sabe que você gosta do Potter, então ela não gosta de você por isso.

-Mas eu nunca disse a ninguém que gosto do Harry. – Ta, naquela hora eu ri.

-Granger, até a gata do Filch sabe que você gosta do Potter. Não é preciso ser gênio para notar.

-Acho que fui burra em pensar que ele me amaria.

-É você foi. – A vi me olhar zangada e ri de novo. Hermione me divertia como ninguém.

A garota levantou-se e foi andando. Fui atrás dela.

-Malfoy, você disse que nunca se apaixonou por ninguém. – Concordei com a cabeça. – Mas você ta namorando a Parkinson.

-Não. Já disse que a ela que não gosto dela, mas ela insiste dizer para todos. Granger, ninguém gosta de mim. Tenho um muro de Berlim dentro de mim. – E isso era verdade.

-E por que não quebra?

-Se quebrar o que vai mudar?

-Talvez as pessoas gostem de você. Se você mostrar quem você realmente é as pessoas poderiam gostar de você. A Parkinson gosta!

-Já ouviu uma palavra chamada interesse?

-Mas a Parkinson tem dinheiro. Ela tem tanto dinheiro quanto você por que ela seria interesseira?

-As coisas que você possui acabam te possuindo. Se você tem um galeão, quer ter dois, depois três. Parkinson tem dinheiro, mas não impede de querer mais. Nós humanos temos o dom de escolher o que é pior para nós.

Vi a garota parar. Olhava o chão pensativa. – É incrível né? Como somos facilmente corrompidos por materiais que destroem nossas vidas?

-É. Somos facilmente corrompidos.

-Mas você nunca vai quebrar esse muro?Sabe você é legal! – Ouvi a garota parar instantaneamente como se pedisse desculpas pelo que disse.

-Sou? – Perguntei vendo a garota apreensiva.

-Bom...não que possa dizer ‘Minha nossa como o Malfoy é maravilhoso’, mas você é... – Disse um pouco envergonhada. Sorri. – Você é...hmm..sincero, é sensato. Você não diz mentiras sabe, isso é legal.

-Você também não é tão mal quanto pensei Granger. – A vi sorrir gentilmente.

Não. Ela não era.

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