Capítulo IV



Capítulo IV

- Dá pra acreditar?!

Lily ainda estava revoltada com o que acontecera na outra cabine. Andando de um lado para o outro na nova cabine que ocupava com Severus, ela resmungava, como se aquilo pudesse tirar da sua mente a grosseria daqueles dois desconhecidos. Ela não se importava de estar fazendo papel de ridículo na frente do casal que já ocupava a cabine. Só sabia que estava prestes a explodir de indignação com o que havia acabado de acontecer.

- Havia mesmo necessidade de ser grosseiro? – continuou. – Quer dizer, você só fez um comentário! Não teve intenção de ofender ninguém, não é?

Severus preferiu não responder que sim, tivera total intenção de ofender. Ele apenas sorriu, satisfeito por Lily estar reagindo daquela forma por causa dele. O dia estava sendo melhor do que ele esperava.

- Mas, é claro, se a carapuça serviu... – a ruiva ia dizendo, ainda andando de um lado para o outro, gesticulando com os braços. – Eu, sinceramente, espero não ficar na mesma Ca...

- Por Morgana, quer calar a boca?! – a outra garota da cabine explodiu, não agüentando mais ouvir as lamúrias da ruiva.

Lily e Severus estacaram, olhando-a. A garota não parecia nem ter chegado aos dez anos, Lily pensou. E com a raiva que já estava, precisou controlar-se para não brigar com ela. Mas, quem diabos ela pensava que era para lhe mandar calar a boca?!

- Olha aqui... – começou, cruzando os braços. Mas Severus puxou-a, forçando-a a se sentar, e Lily calou-se, bufando. Tentou ignorar a risadinha da outra, o que exigiu ainda mais de sua força de vontade.

- Esquece isso, Lily – Severus lhe disse em voz baixa. – São apenas dois idi...

- De que família vocês são? – a outra garota da cabine falou novamente, interrompendo-os.

- Mas como você é introm...

- Prince – Severus cortou Lily, elevando a voz.

A garota olhou para Severus pelo canto dos olhos. Prince? Ele não era Snape? Abriu a boca para lhe questionar sobre isso, mas ele a calou com um olhar duro e frio, que nunca o vira dar-lhe.

- Prince? – o outro garoto da cabine falou pela primeira vez. – Não é possível. Os Prince não tiveram um filho nos últimos cinqüenta anos.

- E como você pode saber? – Severus estava começando a corar. – Por acaso é um especialista na família Prince?

- Eu saberia! – o garoto retornou. – Os Prince e os Lestrange são amigos há séculos. Eu saberia se os Prince tivessem um filho da minha idade.

Severus não soube o que responder. Lily começou a se perguntar que importância isso tinha. O amigo nunca havia lhe falado qualquer coisa sobre sua família, ou que família era importante para os bruxos. Mas, pelo visto, era. O casal fazia parecer como se aquele fosse um ponto vital de qualquer bruxo: Suas Origens.

- Vai ver ele é o filho da Eileen, Rabastan – a garotinha comentou, em voz baixa, mas alta o suficiente para que Severus e Lily escutassem. – A que casou com um trouxa. Vergonha da família Prince.

O sorriso da garota era malicioso, mas Severus não respondeu à provocação. Ele apenas crispou as mãos, baixando a cabeça, pensando qual azaração combinava melhor com ela. Mas Lily não ia se calar. Já havia agüentado grosseria demais por um único dia.

- Qual é o seu probl...

- Você é uma Weasley? – a garotinha interrompeu, novamente. – Ou uma Prewett? Todos os ruivos que conheço são Weasleys ou Prewetts. Chega a ficar muito previsível... – havia desprezo em sua voz, como se apenas o fato de pensar que Lily fazia parte de uma das duas famílias a tornava um inseto nojento.

- Não – Lily respondeu o mais friamente que pôde. – Sou Evans. E de que isso lhe diz resp...

- Evans? – dessa vez foi Rabastan quem interrompeu. Parecia que os dois tinham o péssimo hábito de não permitir que ninguém além deles falasse. – Não conheço nenhum Evans.

- Bom, acabou de conhecer.

- Ele quis dizer ouviu falar da família Evans. E nem eu. – a garota franziu a testa. – E os Carrow conhecem todas as famílias bruxas da Grã-Bretanha.

- Minha família não é bruxa – disse, displicentemente.

Rabastan e a garotinha trocaram um olhar estranho e Lily reparou que Severus se mexeu desconfortavelmente, como se quisesse desaparecer.

- Seus pais não são bruxos... – a garota disse, pausadamente, olhando de Lily de cima a baixo, com mais desprezo ainda na voz e no olhar.

- Vamos, Alecto – Rabastan se levantou. – Não vou ficar na mesma cabine que uma Sangue-Ruim.

Alecto se levantou e seguiu o outro para fora da cabine, mas não sem antes lançar outro olhar superior para o casal que ficava na cabine. Lily se sentia extremamente confusa. O que havia acontecido ali? E o que diabos era Sangue-Ruim?

Foi só quando a porta da cabine se fechou que ela se virou para Severus, pronta para bombardeá-lo de perguntas. Mas o garoto claramente evitava o seu olhar. Ela se levantou e se pôs de frente à ele, apontando para a porta.

- O que foi aquilo, Severus? O que ele quis dizer?

- Esquece, Lily. Não é nada...

- Claro que é alguma coisa! – o seu tom de voz aumentava enquanto ela se exasperava. – Por que não disse que era um Snape e não um Prince? E o que é Sangue...

- Esquece, Lily! – ele exclamou, usando um tom agressivo que chegou a assustar Lily. Ela raramente o via irritado. Ainda mais com ela. – Não é nada! Só... Esqueça.

Nem um pouco convencida, a garota abriu a boca para falar novamente, mas desistiu. Se conhecia bem Severus, não era agora que ia conseguir tirar alguma coisa dele. Ela sentou-se e olhou pela janela, com a latente sensação de que Severus estava lhe escondendo alguma coisa. E alguma coisa realmente séria...

– x –


Remus tinha que admitir que as coisas ficavam bem menos assustadoras quando não estava gaguejando. De fato, estavam até bastante divertidas agora que ele deixara de tropeçar nas palavras. Desde que Gwen piscara o seu enorme olho azul e dissera: “É um prazer, Remus Lupin. E eu estou tão nervosa quanto você”, o garoto percebeu que não precisava mais do sorriso do pai para tranqüilizá-lo.

- Alguém já disse que você é muito avoado?

Ele sorriu muito sem jeito com o comentário dela. Lembrete, pensou, Não me perder em pensamentos acompanhado. Devia realmente parecer estranho para quem vê. Mas Remus não podia evitar. Durante toda a vida nunca tivera ninguém além dos pais para conversar.

- Você é a primeira...

- Quer alguma coisa do carrinho? – Gwen perguntou, e só então ele percebeu que a porta da cabine estava aberta e que havia uma velha matrona parada ali, com um carrinho repleto de guloseimas.

O garoto não tardou em tirar um Sicle do bolso e ir até a mulher, pegando o pastelão mais gordo que encontrou e uma garrafa de suco. Não havia percebido como estava faminto! Não comera muito de manhã, tamanho era o seu nervosismo.

Quando Gwen fechou a porta e voltou a se sentar, trazendo consigo uma garrafinha de suco, Remus já tinha devorado quase metade do seu pastelão.

- Que fome, hein?

Corando, Remus engoliu um grande pedaço do pastelão, empurrando-o com um pouco de suco. Mesmo achando que estava um pouco cozido demais, ele nunca conseguia se controlar com comida. Esganado, sempre fora muito apressado para comer. Mas, agora, tentou comportar-se, comendo como gente normal.

- Não está com fome? – perguntou, vendo que ela não havia pegado nada para comer.

Ela balançou a cabeça, em negativa, girando a garrafinha fechada nas mãos.

- Na verdade não. Me habituei a não almoçar, no Orfanato. Só sinto fome de manhã e a noite.

- Orfanato? – Remus perguntou, de boca ligeiramente cheia. Engoliu rapidamente, e perguntou-se se fora indiscreto. Mas Gwen sorriu, saudosa.

- Fui criada até os seis anos num orfanato.

Remus não sabia o que dizer a isso. E, quando isso acontecia, é que ele sentia o seu embaraço voltando, e sempre temia que voltasse a gaguejar a qualquer momento. Mas parecia que Gwen percebia quando isso acontecia, porque sempre arranjava uma maneira de lhe sorrir e dizer algo que o tirava da posição de fazer algum comentário.

- Não é tão ruim quanto dizem – deu de ombros, abrindo a garrafa de suco de abóbora. – Mas eu nunca fui bem aceita entre as crianças de lá.

- Por quê? – quis saber. Não parecia possível alguém não aceitar Gwen Pentice. Ou talvez fosse só impressão de Remus.

- Oras, porque eu era uma bruxa, não é? – ela deu uma risadinha. – Era um orfanato trouxa e eles me achavam realmente estranha. Caçoavam de mim. Quando eu machuquei um garoto por ele ter me irritado, aí não quiseram nem chegar perto.

Ele achava difícil acreditar que alguém pudesse falar sobre algo desse tipo com tanta calma, como se sempre tivesse aceitado ser excluída pelas pessoas com quem vivia. Remus não sabia como era se sentir diferente. Nunca estivera em uma comunidade. Não sabia nada da vida, nem dos sentimentos pelo qual a garota havia passado. A única coisa sobre o que ele sabia era sobre o isolamento e o medo.

- Eu também nunca fui muito sociável – deixou escapar. – Por isso fiquei tão... gaguejante – riu, constrangido.

Gwen tomou outro gole do seu suco e descansou-o sobre o colo. Mas Remus preferiu não olhá-la diretamente. Se deixasse escapar mais verdades sobre a sua vida, acabaria contando cada detalhe e cada pesadelo que foram os últimos seis anos de sua vida.

– x –


- Vocês duas realmente não têm com o que se preocupar – Alice dizia. – Não há nada de ruim neste mundo!

A viagem parecia bem melhor agora, ela achava. Assim que o carrinho de comida chegara, Peter enfim parara de tremer, para enfiar comida garganta a baixo. E Alice encontrou duas garotas, completamente perdidas com quem começara a conversar, muita animada. Mary e Jean Macdonald eram nascidas trouxas e, desde que Alice conhecera os trouxas, ela sempre se interessara muito por eles.

- Mas então – Jean, que parecia a mais descrente, começou. – porque ele tava tremendo quando chegamos?

- Ah, nunca levem o Peter em consideração! Ele é um grande covarde!

Ela dizia isso sempre se preocupar se estava ofendendo ou não o amigo. Até o próprio Peter admitia que era um covarde, que nunca conseguia enfrentar nada sozinho. Mas, o que Alice não sabia, era que Peter se importava sim, mas apenas com as coisas que ela dizia.

- Como foi que vocês descobriram?! – Alice não podia conter a sua curiosidade.

- Nosso irmão já era bruxo quando descobrimos – Mary sorriu, fazendo um chamego em seu gato. – Assim que ele comprou o material de Hogwarts dele, surrupiamos a varinha e... Aconteceu!

- Legal! – ela não podia se conter. – Porque não me contam tudo, hein? Não sabem como eu adoro os trouxas!

Mary e Jean se entreolharam. A cada minuto que passavam no mundo bruxo, mas o achavam completamente esquisito. Jean estava quase se arrependendo de ter entrado no trem. O garoto em prantos, a menina perguntadeira. Onde já se viu? Ela achava que ali fosse finalmente encontrar pessoas como ela, que ela ia gostar de conviver. Mas, pelo visto, estava errada.

Já Mary, embora ainda achasse tudo uma esquisitice, estava adorando cada minuto. Já vira bastante mágica enquanto passava pelos corredores. E aqueles dois na cabine com elas eram os seres mais estranhos e fascinantes que Mary já havia conhecido. A garota, Alice, parecia realmente interessada em como eram os trouxas. Jamais pudera imaginar como alguém com poderes, podia se interessar por algo tão comum e ordinário como a vida dos trouxas...

– x –


A única coisa que havia mudado em toda aquela situação é que Sirius e Natasha haviam parado de gritar um com o outro. Mas Sirius não dera o braço a torcer, tirando os pés de Natasha de suas pernas, nem Natasha saíra do banco. E James achava isso tudo muito engraçado. Ria muito quando um fazia um comentário grosseiro sobre o outro. O garoto queria ter algum tipo de máquina para poder gravar tudo aquilo e assistir, quando estivesse de mal humor.

- Você. Está. Sujando. A minha. CALÇA! – Natasha rosnava, dando um pontapé na coxa de Sirius a cada palavra.

- Os incomodados que se mudem! – falou, falando com a boca cheia de farelo de biscoitos, derramando-os ainda mais na calça da garota.

Natasha crispou as mãos, mas controlou-se, dando um longo e profundo suspiro. Tomando um gole de seu suco de abóbora, perguntou-se porque simplesmente não saía dali e deixava de se atormentar com esse babaca esnobe e cabeça dura. “Porque ninguém te dá ordens”, uma vozinha na sua cabeça lhe respondeu.

E era a mais pura verdade.

Desde que Natasha LeBeau havia nascido, quem dava as ordens era ela. Aos empregados da fazenda de seu pai, ao seu próprio pai, a pessoas que ela nem conhecia. Ela havia sido acostumada a ter todos os desejos atendidos. Sabia que era mimada, mas nunca haviam dito isso para ela, assim, na cara dura. E era isso que mais a incomodava naquele garoto idiota. Quem ele pensava que era para lhe chamar de mimada?!

E foi só para não lhe dar esse gostinho de vitória que a garota não havia saído na mesma hora da cabine. Mas o outro parecia bem diferente. E Natasha estava gostando muito de falar com James Potter. A despeito de ele rir de cada cara feia que ela fazia para Sirius Black, ele era bem divertido e era, de longe, o menino mais legal que já conhecera.

- Seu sotaque não é britânico – James comentou.

- Não, não poderia ser – ela respondeu, comendo um sapo de chocolate e jogando a embalagem vazia em cima de Sirius. – Fui criada quase a vida toda nos Estados Unidos.

- Pois devia ter ficado lá – Sirius rosnou, num sussurro alto o suficiente para os outros ouvirem, amassando a embalagem do chocolate.

Com tantas cabines no trem, porque a garota mais mimada tinha que parar na dele?! Sirius achava que finalmente ia se livrar das mesquinharias das primas, mas aparecia essa garota e lhe provava que estava enganado. E que ingênuo fora achando que Narcissa Black fosse a bruxa mais mimada do mundo! Natasha LeBeau tivera que vir do outro lado do Oceano Atlântico para provar-lhe que estava enganado.

Sirius pegou pensando porque esses malditos estrangeiros não ficavam em seus países? Roubando os lugares de outras pessoas, mais próximas e que batalham por isso há mais tempo, pessoas mais dignas de entrarem numa escola do calibre do Hogwarts. Mas então ele se deu um beliscão. Ele estava fazendo o que mais desprezava: pensando como um Black.

- Nunca estive nos Estados Unidos – James pegou-se, pensando em voz alta.

- A minha fazenda está de porteiras abertas para você – ela riu, ignorando qualquer reação que Sirius pudesse fazer.

E James também esperou que Sirius fosse reagir. Natasha havia dito bem explicitamente que era apenas para James. Ele esperava pelo menos um “Como se eu quisesse ir” do garoto. Mas ele ficou em silêncio. Parecia absorto nos próprios pensamentos. James não pôde deixar de tentar imaginar o que seria. Desde que os dois quase foram assassinados por um malão, poucas horas antes, James podia dizer com certeza de que já eram amigos. E isso era importante para ele. Pois durante os seus onze anos o seu único amigo fora o seu avô, Harrison.

Natasha era outra. E James não conseguiu não comparar ela a Sirius. Desde que os dois começaram a trocar faíscas, notou que eram parecidos. Apenas que a garota era realmente bem mimada. Mas James tinha o cérebro no lugar e não ia dizer isso em voz alta para a sua nova amiga.

– x –


Através de colinas, por túneis e largos campos verdes e desertos, o Hogwarts Express seguiu correndo em seus trilhos, como se tivesse vida e correr fosse o que o deixava mais feliz. Em seu interior, cada aluno, cada cabine, havia a excitação que dava à lataria escarlate do trem a magia que ele precisava para não vacilar. Era assim que o maquinista via o seu veículo. Um ser-vivo que se alimentava na excitação que cada pessoa ali dentro emanava.

A tarde foi avançando e o trem se aproximava cada vez mais de seu destino.

Mas lá longe, no ponto de chegada do trem, a Estação de Hogsmeade já fervilhava de pessoas. Homens e mulheres estavam espalhados pelo lugar, tentando parecer – muito em vão – camuflados. Eles eram Aurores, espécie de policias do Ministério da Magia. E estavam ali para a segurança dos alunos de Hogwarts. Em especial os do Primeiro Ano.

Embora aquela medida tenha sido muito criticada pela população bruxa, que queria os Aurores perto deles, era algo que deveria ser feito. Havia algo extremamente perigoso e que não mediria esforços para conseguir o que quer. Até mesmo usaria crianças inocentes se fosse preciso. E, por isso, ali estavam os Aurores.

O mundo entrava em um período escuro da nossa história...

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N.A.:Mais um! /o/
Agradeço os comentários e, Lari.
Que pena que não gostou da Amizade Severus/Lily! i.i"
Mas tô apenas seguindo o que a tia Jo escreveu! xD

Nos vemos, beijos...

→ Tαsh LeBeαu

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