Prólogo



Prólogo



- 1998 -


Já era Julho. E, para os ingleses, um verão quente era algo que eles não viam há muito tempo. Pois, há dois anos eles enfrentavam algo que não entendiam. Os ingleses comuns mal sabiam do perigo do qual haviam acabado de ser libertados. Repentinamente, a terrível névoa que havia descido por todo o território parecia ter sumido. Os constantes desastres que acarretaram na renúncia do Primeiro Ministro, haviam enfim cessado, o que havia sido a glória para o novo Ministro, que se achava o ser mais poderoso e digno de controlar o país, como se fosse ele o responsável por ter feito todos os desastres pararem. De uma hora para outra também, os psicólogos pareciam ter perdido boa parte de seus clientes. A onda de melancolia que havia se apoderado do povo britânico, também havia passado. Era como se, por alguns meses, o país houvesse sido coberto com um manto de desgraças e sofrimento, e agora, finalmente, esse manto havia sido tirado, e os raios de sol novamente alegrassem a paisagem.

E o responsável por tudo isso, embora não se considerasse, estava curtindo mais um delicioso verão de sua vida, o décimo sétimo para sermos mais exatos. E, pela primeira vez, não havia nenhum problema que atormentasse Harry Potter. Não havia uma casa para limpar, pois não havia mais Tia Petunia em sua vida. Não havia mais deveres de casa (por enquanto) para que estudasse. E, principalmente, não havia mais Voldemort para assombrar os seus sonhos ou colocar em perigo a vida daqueles que ele amava.

Agora, Harry não tinha mais medo. A sua cicatriz não dava sinal de vida desde maio quando, para a alegria do mundo, Voldemort tombou por terra, vítima de sua própria maldição. Agora, Harry se importava apenas em aproveitar o verão ao lado dos seus melhores amigos - Ron e Hermione -, no lugar onde ele mais gostava – A Toca –, ao lado de sua namorada, Ginny. Não havia nada melhor no mundo.

Naquela manhã do final do mês, Harry acordou logo cedo. Depois de passar tanto tempo morando em Surrey, ele havia tomado como hábito, acordar todas as manhã e respirar o ar puro de Ottery St. Catchpole. Às vezes, Ron o acompanhava. Se bem que, nos últimos dias, ele preferia passar mais tempo ao lado de Hermione do que qualquer outra coisa. Às vezes também, como naquele dia, Ginny o acompanhava. E esses eram os passeios de que Harry mais gostava.

Estavam sentados à sombra de uma grande árvore, e a garota havia deitado a cabeça de cabelos ruivos no colo de Harry que passava os dedos pelos longos fios, espalhando-os como se fossem um véu, ambos em silêncio, suas mãos esquerdas entrelaçadas sobre o peito de Ginny, que mantinha os olhos fechados, como que perdida em seus pensamentos. Harry olhava para o seu rosto ternamente, como sempre gostava de fazer quando ficavam juntos e ele achava que estava vivendo um sonho.

- Ainda é difícil de acreditar.

Ginny riu e abriu os olhos, prendendo as íris castanhas no rosto dele.

- Você parece um disco riscado, sabia? – brincou. – Não tem um dia que você não diga isso!

- Como eu te disse, Ginevra... – ela amarrou a cara ao ouvi-lo chamá-la assim. Sabia que odiava. Harry sorriu e continuou. – Ainda é difícil acreditar. Tenho medo de acordar um dia e achar que é um sonho...

A garota fez uma careta, olhando bem para Harry, que corou de uma forma que só ela conseguia fazer.

- Isso é muito...

- Piegas, eu sei! Eu sei...

Ficaram em silêncio novamente. Harry agora olhava em direção à Toca, que não estava muito longe dali. A casa ainda não havia dado os primeiros sinais de vida. Não passavam das oito da manhã e, Harry supunha, ele e Ginny eram os únicos que haviam acordado até o momento.

- Quando sua mãe volta?

Ginny suspirou. A Sra. Weasley havia viajado na semana anterior, sem dizer para onde ia a ninguém, a não ser ao marido. O Sr. Weasley havia dito que ela voltaria no dia seguinte. Mas a viagem já estava demorando muito mais do que todos eles esperavam, o que começava a preocupar os filhos Weasley: “Não se preocupem com a sua mãe,” ele dizia, quando Ron ou Ginny colocavam-no contra a parede. “Ela está bem. Se não estivesse, já saberíamos!”

- Pra ser sincera, Harry, eu não me importo desde que ela se recupere.

Em Maio, durante a batalha final entre Voldemort e Harry, um dos gêmeos Weasley, Fred, havia falecido, vítima de uma maldição lançada por Bellatrix Lestrange. Molly, embora tentasse não aparentar, ainda estava muito abalada com a perda do filho. Harry sempre a ouvia chorando pelos cantos, e a matrona sempre levava consigo uma foto do gêmeo.

- Estou mais preocupado com George – Harry confessou.

Mais arrasado ainda que Molly Weasley com a perda de Fred estava o irmão gêmeo dele, George. Desde aquele dia de maio, o ruivo não se recuperara. Era como se parte da vida dele houvesse morrido com o irmão, o que ninguém duvidava. Desde aquele dia, George fechara as Gemialidades Weasley e enterrara-se no velho quarto que ocupara com Fred na Toca, durante muitos anos. E ninguém conseguia tirá-lo de lá, por mais esforços que fizessem.

- Eu também – Ginny se sentou, cruzando as pernas em posição de lótus, esticando o pescoço, tentando enxergar a casa. – Eu nunca o vi assim. É de se entender, mas...

- Vai ficar tudo bem – Harry passou o braço pelos ombros de Ginny. – Não tem mais nada que possa dar errado a partir de agora, não é?

Ela sorriu e deu um beijo no rosto dele, se levantando. Harry acompanhou-a logo em seguida e, de mãos dadas começaram a caminhar em direção à Toca. O garoto a olhou pelo canto dos olhos e sorriu, maroto.

- Então, o que me comprou de presente?

- Presente? – fez-se de inocente. – Por que eu te daria um presente?

Harry sabia que ela estava brincando, mas sempre gostava de entrar em suas brincadeiras.

- Poxa, Ginny – ele disse, com um muxoxo. – Achei que se lembrasse do aniversário do seu namorado!

- Ah! Isso! – ela mordeu o canto dos lábios. – Ah, Harry! Me desculpe, eu esqueci!

Ele tinha que admitir. Ginny era uma excelente atriz. Mas ele já havia visto o pacote escondido no quarto dela e sabia que, no dia seguinte, quando assoprasse as 18 velinhas do seu bolo, ela lhe entregaria as novas vestes de Quadribol da Inglaterra, que Harry tanto cobiçara. Só esperava que todos os Weasley estivessem presentes na ocasião. Isso incluía a desaparecida Molly Weasley e o depressivo George.

– x –


Na manhã do seu aniversário, Harry acordou de uma maneira que ele não achava muito agradável: Ron estava gritando. No mesmo instante, Harry saltou da cama. Depois de tantos meses fugindo, qualquer grito já o alarmava. Quando colocou os óculos, no entanto, sentiu ganas de dar um soco no amigo. Ron estava com a cabeça socada na janela, gritando a altos pulmões para o jardim.

- TEM GENTE QUERENDO DORMIR AQUI!!! AIII!!! – e recuou direto para dentro, a cara suja de lama. Depois colocou a cara pra fora de novo. – EU VOU CONTAR PRA MÃE DE VOCÊS!

Antes de Ron bater a janela, ouviu risos e gritinhos infantis vindos do jardim. Enquanto o outro limpava o rosto sujo de lama em uma toalha, Harry olhou pelo vidro e viu duas crianças exatamente iguais, lá embaixo sentados, brincando com lama. Franziu as sobrancelhas. Nunca tinha visto aquelas duas crianças antes. E conhecia quase todas as pessoas que freqüentavam a Toca. Voltando a sentar-se na cama, virou-se para Ron, que ainda parecia de muito mal humor.

- Quem são?

- Ahn? Quem? – Ron parecia meio perdido, saindo do seu mundo de resmungões e voltando para o quarto. – Os afilhados da mamãe... Dois demônios em forma de gente!

Harry espantou-se. Não fazia idéia de que a Sra. Weasley tivesse afilhados. Mas também, que idéia idiota. Por que ela não teria?!

- Quando eles chegaram?

- Não faço idéia! – Ron resmungou, jogando a toalha longe. – Acordei com esses dois jogando pedras na janela. Não devem ter nem dois anos. Não os vejo há tempos! Desde que nasceram pra falar a verdade. Só vejo as fotos que a mamãe tem – concluiu, preparando-se para voltar a dormir. – A propósito... – bocejou. – Feliz aniversário. – e já estava roncando novamente.

Completamente desperto, Harry sentiu que não conseguiria mais ficar ali, se revirando na cama. O Sol parecia ter acabado de sair, a julgar pelos tons alaranjados que banhavam os campos. Saiu da cama e pegou uma muda limpa de roupas em seu malão. Enquanto trocava o pijama, olhava as duas crianças brincando. Daquela distância, ele não saberia dizer se eram meninas ou meninos. Mas pareciam realmente felizes. Ele julgava que era assim que todas as crianças se sentiam.

Enquanto saia do quarto, indo para as escadas, Harry sorriu. Sra. Weasley, madrinha... De chofre, Harry se lembrou do padrinho, que perdera há dois anos, Sirius Black. Como sentia a sua falta. Sirius era mais que um padrinho ou amigo para Harry. Era como o pai que o garoto nunca conheceu. E, com isso, Harry lembrou outra coisa. Do pequeno Teddy Lupin. Ele também nunca conheceria os pais, como Harry. Remus e Nymphadora Lupin também haviam perdido a vida na batalha contra os Comensais da Morte. Mas Harry faria o possível para ser tão bom padrinho para Teddy, como Sirius fora para ele.

Quando chegou ao patamar da sala, sentiu um cheiro muito familiar. Salsichas fritas com bacon. O estômago de Harry deu uma volta ao receber, com prazer o cheiro. Aquela era a especialidade da Sra. Weasley. Então, ela teria voltado ou Ginny estava se mostrando extremamente parecida com a mãe.

Como que para responder a sua pergunta, Harry ouviu a voz materna da Sra. Weasley rindo e depois dizendo, com o mimo que ela dedicava aos filhos.

- Mas eles estão lindos mesmo... Vão arrasar os corações das garotas quando forem mais velhos!

Feliz com a volta da Sra. Weasley, Harry correu para a cozinha e a viu ali, colocando em quatro pratos as salsichas e bacon de que Harry havia sentido o cheiro. No fogão, havia ainda ovos que ela deixara esquentando. A Sra. Weasley, que parecia ter envelhecido muito durante o mês que se passou, parecia bem melhor agora, com as bochechas coradas e um sorriso no rosto. Quando ela o viu, Harry também não pode deixar de sorrir.

- Harry! Caiu da cama?

Deu o primeiro passo dentro da cozinha e foi então que percebeu que a Sra. Weasley não estava sozinha. Sentada à mesa, olhando-o com o espanto de que Harry já havia se acostumado ao longo dos anos a receber quando o conheciam, estava uma mulher completamente desconhecida a Harry. Era muito bonita. Sua pele bronzeada fazia um contraste perfeito com os cabelos castanhos, que tinham a mesma cor dos olhos. E tinha um belo corpo. Harry corou a esse pensamento. Hormônios, riu-se em pensamento. Mas – definitivamente – havia algo de familiar nela.

- Incrível – por um instante Harry perguntou-se quem havia falado, até perceber que fora a mulher. E, para seu espanto, notou que os seus olhos estavam cheios de lágrimas.

Sentindo-se extremamente desconfortável, Harry quase agradeceu a Sra. Weasley em voz alta quando esta deu a volta na mesa e estendeu um lencinho de papel à mulher que rapidamente enxugou os olhos e os desviou de Harry.

- Salsicha com Bacon e Ovos, Harry?

- Sim, Sra. Weasley, obrigado.

Harry sentou-se à mesa, relanceando o olhar para a mulher que ainda estava de cabeça baixa, o rosto escondido no lencinho que a Sra. Weasley lhe dera. Mas ela logo levantou o rosto, enxugando as lágrimas que havia deixado escapar e fungou. Agradeceu à Molly, quando esta lhe deu um prato com o café da manhã e sorriu. E que belo sorriso ela tinha.

- Bom, acho que precisamos de apresentações, não é? – a Sra. Weasley disse, depois que colocou o prato com o café da manhã na frente de Harry. – Querido, quero que conheça Natasha Prewett... Digo, LeBeau – a Sra. Weasley deu um sorriso triste. – Não ficou mais do que algumas horas casada com meu irmão mais novo, Gideon.

A mulher chamada Natasha balançou a cabeça e Harry pôde ver uma sombra passando por seu sorriso. A Sra. Weasley continuou.

- Ela é madrinha dos gêmeos também – e Harry ficou feliz em ver que, desta vez, a voz da Sra. Weasley não tremeu ao mencionar os gêmeos. – Natasha, este é, é claro, Harry Potter.

- É um prazer, Sra. – Harry não soube que sobrenome usar, mas estendeu a mão para ela.

Nesse instante, ouviu-se um trambulhão vindo de fora, seguido de um par de choros infantis. Sem nem ao menos dizer alguma coisa, Natasha levantou-se e saiu correndo da cozinha, indo acudir os filhos no jardim. A Sra. Weasley deu um sorriso afetuoso a Harry e voltou para o fogão.

- E então? Já tenho tudo planejado para hoje à noite! – ela começou. – Posso ter passado uma semana no exterior, mas não me esqueci do seu aniversário!

Nos minutos que se seguiram, a Sra. Weasley encheu o garoto de informações sobre a grande festança que havia planejado para aquela noite. Falava sem parar sobre os convites que mandara ainda na semana anterior – Harry não fazia idéia desses convites – e do bolo fabuloso em forma de castelo que ela estava planejando fazer durante a tarde. Sem falar nos quitutes, bebidas e decoração.

Os Weasley ficaram muito felizes em ver Molly de volta ao lar. Harry até se sentiu completamente inconveniente quando teve que testemunhar o Sr. Weasley dar um forte abraço e um longo beijo nos lábios da esposa. Ginny ficou feliz em não ter que fazer o café da manhã, mas logo amarrou a cara para os mimos excessivos que a Sra. Weasley lhe deu para recuperar o tempo.

Harry não deu o seu habitual passeio naquela manhã. Ficou o tempo todo na cozinha, ajudando a Sra. Weasley e recebendo os “Feliz Aniversário” dos habitantes d’A Toca. Estranhamente, ele não viu novamente a mulher misteriosa, Natasha. Ela parecia ter sumido com os filhos, depois que havia saído intempestivamente da cozinha. Mas, enquanto subia para o seu quarto, mais tarde, teve a impressão de ter ouvido a sua voz vinda por detrás da porta do quarto de George. E o garoto reparou, com estranheza, de que sentia algo de familiar na voz daquela completa estranha. Como se já a tivesse ouvido falar a tempos atrás.

- De onde é essa Natasha? – ele perguntou mais tarde a Ron, enquanto os dois juntavam mesas no jardim.

- Dos Estados Unidos – Ginny respondeu pelo irmão, colocando uma pilha de toalhas de mesa nas mãos de Harry.

- Mas... como sua mãe a conheceu? – de repente Harry se sentia muito curioso com relação à mulher.

- Ela estudou em Hogwarts – Ron se apressou, antes que Ginny respondesse por ele. – Namorou um tempão meu tio, Gideon.

Eles ouviram uma janela abrindo na casa e se voltaram para ver. Era a janela do quarto de George, que se abria pela primeira vez em dias. Muito rapidamente, Harry viu a mulher, antes que ela desaparecesse dentro do quarto.

- É, parece que ela conseguiu – Bill, que havia chegado à Toca minutos atrás, chegava ao jardim e também olhava para a janela.

- Conseguiu o quê? – Harry estava se sentindo como nos seus primeiros anos no mundo da magia: completamente ignorante.

- A Tash sempre teve um jeito especial com os gêmeos – o mais velho dos irmãos Weasley respondeu, com uma pilha de pratos nas mãos. – Acho que foi por isso que mamãe foi buscá-la. Trazer George de volta à vida.

Harry olhou novamente para a janela aberta e teve a impressão de que George estava olhando para fora. Achava estranho que os Weasley nunca haviam lhe falado sobre essa Natasha, já que parecia tão querida entre eles.

Quando a noite chegou e a decoração já havia sido feita, Harry não pode deixar de alegrar-se ao ver tantas pessoas que ele gostava juntas. Todos os antigos membros da Ordem da Fênix haviam comparecido. Inclusive o recém-eleito Ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt. Os seus velhos colegas da Armada de Dumbledore também haviam aparecido para aproveitar um pouco da comilança! Mas, sem dúvida, o convidado que Harry mais apreciara em ver era o seu afilhado, Teddy, que começava a ensaiar os seus primeiros passinhos vacilantes, com a ajuda da avó, Andromeda Tonks.

O seu desejo de ver todos os Weasley juntos foi realizado. Percy e Charlie haviam aparecido no último momento. E, para a extrema felicidade da Sra. Weasley, George saíra d’A Toca durante os primeiros minutos da festa, ao lado de Natasha. E havia um novo Weasley entre eles pois, roubando todo o brilho do aniversário de Harry, Fleur anunciara categoricamente que ela e Bill teriam o seu primeiro bebê. Enquanto a Sra. Weasley se debulhava em lágrimas de felicidade pelo seu primeiro neto, Ginny fingia que vomitava, como que para não perder o hábito.

Durante toda a festa, Harry não pôde deixar de reparar na mulher que conhecera àquela manhã. E, enquanto a observava, começou a sentir algo de familiar na maneira que ela trava os filhos gêmeos. Ela havia se juntando à Andromeda e ambas faziam brincadeiras mil com as crianças da festa.

- Ela é bonita, não é? – Ginny disse, se aproximando de Harry com cara de poucos amigos.

- Quem? – tentou fazer a cara mais inocente possível, sorrindo. Mas, ao olhar a ruiva endurecer as feições, ele soube que ela não estava pra brincadeiras. – Natasha? É sim, bonitinha...

Mas todos bem sabiam que não havia nada de bonitinho em Natasha LeBeau. Era realmente muito bonita e era dificílimo não repará-la. Charlie e alguns dos membros mais jovens da Ordem haviam se aproximado dela e não se afastado. Mas a mulher parecia não dar a menor atenção para os galanteios que lhe dirigiam.

- Quando foi que deixou de ser minha festa de aniversário?! – ele reclamou para a namorada, como que para desviar o assunto. – Primeiro o bebê do seu irmão, agora a moça ali rouba todas as atenções! Ah, isso não é justo!

Ginny arqueou uma das sobrancelhas e deu meia volta, se afastando de Harry para se juntar à Hermione e Luna Lovegood, que pareciam bastante animadas em uma conversa.

Harry não saberia dizer qual foi o momento que ele mais gostou na festa. Se foi quando Ron soltou uma caixa dos fogos de artifícios das Gemialidades Weasley, ou se foi quando George começara deliberadamente uma guerra com o precioso bolo que a Sra. Weasley levara horas fazendo. Tudo parecia perfeito.

Ele estava longe da bagunça de bolo naquele momento, apenas ria. Chegou a gargalhar quando viu a Minerva McGonagall – a nova diretora de Hogwarts – receber um enorme pedaço de bolo no meio da cara, para depois transformar o seu atacante – Mundungus Fletcher, em um porco muito gorducho. Foi aí que sentiu um toque em seu ombro.

- Poderíamos falar por um instante?

Harry virou-se e se deparou com Natasha, uma criança adormecida em cada um dos seus braços, sorrindo tão maternalmente, que Harry sentiu-se ruborizar. Ele aquiesceu com a cabeça e Natasha fez um movimento com a cabeça, pedindo que ele a seguisse. Lançando um último olhar ao centro da festa, ele foi logo atrás da mulher para dentro d’A Toca, subindo as escadas, até o quarto que parecia ter sido especialmente arrumado para que ela o ocupasse com os filhos.

Natasha colocou cada um dos meninos em duas caminhas, com cercado e deu um beijo no topo da cabeça de cada um. Por um minuto, Harry pensou se a sua mãe também o tratava daquela maneira quando ele era apenas um bebê. Tinha a certeza que sim.

Ela permaneceu por alguns instantes olhando o sono dos filhos, antes de se virar para Harry, que havia permanecido parado à porta do quarto escuro. Com um aceno da varinha, Natasha fez acender um lampião sobre a mesa de cabeceira e sentou-se na beirada da cama, convidando Harry a entrar, com a mão.

Reparou que ainda tinha um copo de vinho dos elfos nas mãos, e tomou um gole enquanto se aproximava e sentava-se onde ela indicava. Natasha deu um suspiro e sorriu para Harry, olhando para seu rosto de maneira mais carinhosa do que era de se esperar de quem acabara de conhecer.

- Peço desculpas pelo meu comportamento hoje de manhã. Sabe... – ela deu uma risada fraca, – Foi um choque para mim, vê-lo. Eu já havia visto fotos suas, claro. Mas, vê-lo em carne e osso... Era como... Era como se eu revisse James.

- Então... Conheceu meu pai?

Ela sorriu, saudosa, os olhos pela primeira vez baixos.

- Seu pai, sua mãe, seu padrinho, Remus... – ela riu, levantando os olhos novamente. – Costumava ser melhor amiga de sua mãe. E Remus era padrinho dos meus filhos. – Harry viu uma sombra passar por trás das íris castanhas dela. A morte de Remus ainda era muito recente.

Mas ele não pôde deixar de alegrar-se com a informação. Achava que havia perdido praticamente tudo o que ligava à vida dos pais. Agora via que estava errado. Natasha fora a melhor amiga de sua mãe. Devia conhecer cada detalhe da vida dela.

- Achei que nunca ia encontrar outro amigo dos meus pais – confessou, tristemente. – Eles têm a péssima mania de serem mortos.

- Mas isso acabou – ela disse, e acrescentou. – Graças a você. Quando a guerra estourou, eu fugi do país, para proteger os meus filhos. E, agora estou de volta. Me arrependo de não ter ficado. As coisas poderiam ser diferentes.

- Por que nunca apareceu antes? – ele não conseguiu evitar a pergunta. Todos os amigos dos pais haviam aparecido durante os últimos anos. Por que não ela?

Ela hesitou.

- Eu estava... ocupada.

- Com o quê? – mas arrependeu-se de fazer a pergunta. Não queria parecer que estava se intrometendo na vida dela. Mesmo sendo velha amiga dos pais, ele havia acabado de conhecê-la.

- Você vai saber.

Harry não entendeu. Mas ela sorriu e pegou um livro grosso de capa escura que estava sobre a mesa de cabeceira. Ela o abraçou por um instante e o estendeu a Harry.

- Feliz Aniversário.

Intrigado, ele pousou o cálice de vinho no chão e pegou o livro entre as mãos. A capa era de um veludo azul-marinho e delicado. O garoto folheou-o e reparou não só nas folhas gastas, mas também que ele era todo manuscrito com letras finas e bonitas. Não havia título. Depois desse exame, ele levantou os olhos para Natasha que ainda sorria, mas havia uma lágrima surgindo em seus olhos.

- O que é isso?

- Deu muito trabalho para ser escrito – disse, não respondendo a pergunta de Harry. – Muitos anos de pesquisas, violações de túmulos entre tantas outras coisas. Terminei esta tarde.

- Você o escreveu?

Natasha aquiesceu com a cabeça e Harry abriu na primeira página escrita que encontrou. Londres havia ama... – mas uma mão desceu a capa, fechando o livro, sem que Harry pudesse continuar a ler. Ela havia fechado o livro. Natasha segurou as mãos de Harry entre as suas e, para surpresa de Harry, as mãos dela não eram delicadas como ele esperava. Eram calejadas.

- Não leia agora.

- Sobre o que é?

Natasha apertou as mãos dele e suspirou.

- Tenho certeza de que vai adorar – ela novamente não respondia às suas perguntas. – Acho que agora devia voltar à sua festa. Vão estranhar se o aniversariante não estiver presente!

- Acho que não. Deixou de ser minha festa quando Fleuma disse que estava grávida!

- Então solte um rojão nas costas da McGonagall e vai recuperar os holofotes no ato! – e piscou, marota.

Harry sorriu e se levantou ao mesmo tempo em que Natasha. Por um instante os dois ficaram em silêncio, olhando-se. Mas ela não ficou quieta por muito tempo. Ainda meio hesitante, ela deu um passo à frente.

- Harry... será que posso... lhe dar um abraço?

Ele achou a pergunta muito estranha. Nunca haviam lhe pedido um abraço. Não que ele se lembrasse.

- Err... É claro! – respondeu, extremamente sem jeito.

Sem esperar mais, Natasha envolveu o garoto em seus braços, abraçando-o quase tão forte quando a Sra. Weasley costumava abraçá-lo. Harry teve de retribuir. Parecia que aquele momento era algo pelo qual os dois vinham esperando havia muito tempo. Quando se separaram, ele viu que o rosto dela estava manchado de lágrimas. Natasha passou a mão pelo rosto do garoto e lhe desejou boa noite. E Harry saiu, fechando a porta atrás de si.

Quando acordou na manhã seguinte, foi por ela que Harry perguntou assim que encontrou a Sra. Weasley na cozinha.

- Ela partiu assim que o sol nasceu, querido.

Decepcionado, ele saiu para a sua caminhada matinal, levando o livro consigo. Sentou-se sob a mesma árvore onde estivera sentado com Ginny dois dias antes. Queria ter falado mais com Natasha. Perguntando sobre os pais, Sirius, Remus, sobre ela. Uma das coisas que mais lamentara em perder Sirius e Remus é que eles nunca tiveram muito tempo de lhe falar sobre James e Lily Potter. E agora o único elo vivo entre ele o passado dos pais havia ido embora.

Harry Potter abriu o livro e começou a ler...


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