A reação de Snape



Laura, para não deixar Snape curioso, não falou nada com Dumbledore logo que chegaram em Hogwarts. Mandou uma coruja ao diretor dizendo que tinha algo importante para lhe falar.


Na segunda-feira, Dumbledore pediu que Laura fosse até sua sala após o horário de aulas para ver do que se tratava.


- Sente-se senhorita. Aceita chá e biscoitos?

- Obrigada.

- Como foi o passeio no sábado?

- Foi ótimo, mas....aconteceu algo que eu não previa. – falou seriamente. – O Prof. Snape não lhe disse o que viu?

- Não. Logo que chegou, foi direto para a masmorra ler os livros. Só tem aparecido na hora das aulas.

- Então vou lhe contar. A livraria onde compramos estava com uma promoção. Estavam passando os dois primeiros filmes do “Harry Potter”. O senhor já sabe a respeito?

- Sim, Severo me contou que foram feitos filmes correspondendo aos livros.

- Nós assistimos lá na loja o primeiro filme na parte da manhã. A tarde iria passar o segundo, mas eu inventei uma desculpa para não assistir. Achei que ele já tinha ficado bem nervoso ao saber algumas coisas que viu no filme. Nesse primeiro não teve nada de tão grave, mas no segundo ele, com certeza, iria querer o pescoço de Hermione.

- Hermione Granger? Porque?

- No primeiro filme ele viu que ela pôs fogo na sua capa, pois achava que ele estava azarando a vassoura de Harry, lembra?

- Sim, _ Dumbledore dá uma risadinha – me lembro muito bem. Severo ficou uma fera!

- Isso não é nada perto do que ele vai descobrir ao ler o segundo livro. Ganhei um pouco de tempo em não deixá-lo assistir ao filme.

- O que ele descobre no segundo livro?

- Descobre que Hermione rouba um ingrediente de seu estoque para fazer a poção polissuco.

- Sim...sim.... Ele nunca teve provas de ter sido mesmo a Srta. Granger.
- Pois agora terá....e temo por ela. Ele vai querer o pescoço dela!

- Vou conversar com ele, pode ficar tranqüila...

- Mas, Diretor.... ainda tem algo pior, muito pior que ele vai descobrir....pior que tudo isso junto.

- O que é?

- Ao ler o quinto livro, ele descobrirá que a autora mencionou a cena em que Potter mexe na penseira dele. Todos os trouxas, que são leitores destes livros, sabem qual é uma das piores lembranças da vida do Prof. Snape....Me dá calafrios só de pensar em como vai ser a reação dele.

- Terei mesmo uma longa conversa com Severo. Obrigada por tudo, senhorita.


Na terça-feira, Dumbledore vai até a masmorra para conversar com Snape:

- Olá Severo! Como está indo a leitura? Está se divertindo?

- Sente-se Alvo. – falou secamente – Estou cada vez mais apavorado com esses livros.
Já estou no final do terceiro livro. É inacreditável!

- Tem algo que gostaria de me contar sobre esses livros?

- Estão sendo muito úteis. Estou descobrindo muitas coisas interessantes.

- Por exemplo?

- Você sabia que a Srta. Granger roubou um ingrediente da minha sala para fazer uma poção polissuco?

Dumbledore tentou disfarçar que não sabia de nada.

- Mas....você não vai fazer nada a respeito, não é Severo?

- Quer que eu fique quieto? Essa menina merecia ser expulsa de Hogwarts!!! As detenções que estou pensando em aplicar, não são nada, comparado ao que ela fez...isso só nos primeiros anos de Hogwarts, imagino quando terminar de ler os livros....

- E imagino que você vai dizer como descobriu tudo isso para ela, não? - Dumbledore disse sarcasticamente.

- Isso é um problema meu, não acha Alvo?

- Não, não acho. Isso não só é um problema da Escola, como do mundo bruxo também. Sabe que não pode mencionar nada sobre esses livros. É melhor fingir que não sabe de nada.

- Impossível. – Snape já estava rosnando.

- Impossível ou não, é assim que vai ter que ser, Severo. E....desconfio que você vai descobrir muito mais coisas nesses livros. Peço que, antes de fazer qualquer coisa, fale comigo. Tem que agir com muita cautela, Severo.

- Como quiser, Alvo. – Snape sentiu vontade de sair batendo a porta, mas se lembrou que estava na sua sala.

Dumbledore sentiu o olhar enfurecido de Severo, conhecia-o muito bem. Levantou-se e saiu para deixar Snape se acalmar sozinho. Não iria adiantar falar mais nada com ele agora.


**


Passaram alguns dias. Snape finalmente terminou de ler o quinto livro. Estava visivelmente irritado, mal-humorado, cruel e, se pudesse, distribuiria maldições por toda a escola, tal era a raiva que estava sentido.

Era muita humilhação para ele suportar. Todos os leitores trouxas daqueles livros sabiam o que havia na sua penseira. E, talvez, alguns alunos sangue-ruins também....Era muito difícil suportar tudo.

E Laura....ele acreditava que, provavelmente, ela se controlava ao máximo para não ficar dando gargalhadas na sua frente. Ela sabia de tudo e ele se sentia cada vez mais humilhado, diminuído e sua raiva aumentando.

Foi, como havia combinado, falar com o Diretor. Entrou rapidamente na sala de Dumbledore, fazendo com que sua capa voasse.

- Alvo, precisamos conversar. É urgente!

- Vejo, pela sua expressão, que está acontecendo algo grave.

- Muito grave! Aquela trouxa maluca e idiota vasculhou toda a minha vida mesmo. Não tinha mais nada o que fazer então resolveu bisbilhotar a minha vida!!! Ela precisa de uma correção urgente! Se eu ainda estivesse ao lado do Lord das Trevas, entregaria essa trouxa idiota para ele se divertir.

- Calma, Severo. Explique-se melhor. – Dumbledore já imaginava qual era o porque de tamanha raiva e ódio que Snape estava sentindo.

- Essa trouxa ousou mencionar no quinto livro algo que diz respeito a minha vida íntima. Quem autorizou? Que direito ela tem de me expor dessa maneira ao mundo trouxa? E os sangue-ruins que estudam aqui, devem rir da minha cara o tempo todo.....

- Seja mais claro, Severo. Ainda não estou entendendo muito bem.

- Leia você mesmo. Já que o mundo inteiro sabe, e você iria ler o livro de qualquer jeito....não faz diferença... – Snape alcançou o quinto livro, enrolado num pano preto, para Dumbledore. Estava marcado na página onde contava o trecho que o deixou furioso.

Dumbledore leu atentamente, respirou fundo e tentou acalmar Snape.

- Severo...não leve tudo a sério. Os trouxas acham que você não existe, é só um personagem.

- Eu não sou um “personagem”, Alvo!

- Eu sei, Severo, mas...você sabe, não podemos fazer nada a respeito.

- Você não imagina como estou me sentindo. Tendo que olhar para aqueles alunos e....Srta. Steen....Ela sabe, tenho certeza. Ela leu os livros! Que humilhação! E porque ela nunca me disse nada?

- E o que você gostaria que ela dissesse? Vejo que ela lhe respeita mesmo, Severo. É muito discreta.

- Se eu pudesse, não daria mais aulas para ela...nem para Potter...nem para nenhum sangue-ruim!

- Beba esse chá, Severo. Você ficará mais calmo.


Snape estava muito mais amargo e irritado do que de costume. Ele se esforçava, mas era difícil evitar tirar pontos da Grifinória, colocar Potter e Granger em detenção. Humilhava-os o quanto podia. Todos os alunos tremiam dos pés a cabeça cada vez que tinham aula de Poções.


Laura simplesmente não existia mais para Snape. Ele a ignorava o mais que podia. Ela levantava o braço nas aulas para tirar alguma dúvida e ele fingia que não via. Não importava se errasse ou acertasse a poção, Snape fingia que não havia nenhuma Laura em sua sala. Snape sentia por ela uma mistura de vergonha e ódio. Mas, não podia negar para si mesmo que, ainda assim, com tudo que ficou sabendo, sentia uma forte atração pela aluna. Por mais que quisesse vê-la o mais longe possível, o desejo de tê-la perto de seu corpo era muito forte, a cada dia mais forte.


Era também muito difícil para Laura suportar ser ignorada por Snape. Ela o amava, e o queria cada vez mais perto...e ele estava se distanciando muito...e ela sabia qual o motivo. Resolveu colocar um “ponto final” nesse assunto. Após a aula de segunda-feira, esperou que todos os outros alunos saíssem da sala. Ficou ali sentada, olhando para Snape.

Ele estava de cabeça baixa, escrevendo. Snape, que tem uma ótima percepção, sente-se observado e levanta os olhos....vê Laura ainda sentada na sala.

- A aula já terminou, senhorita. – disse sem olhar diretamente para Laura.

- Eu sei, mas temos que conversar....- Laura tentou falar, mas Snape a interrompeu.

- Não há nada a ser dito, senhorita. Queira, por favor, me deixar a sós. Tenho muito trabalho a fazer – Snape bufava.

- O assunto é importante e eu não saio daqui até que o senhor ouça tudo o que tenho a dizer. Laura se levantou e cruzou os braços.

Snape parou o que estava fazendo, revirou os olhos, cruzou os braços e falou:

- Pois bem, mas seja breve. Eu não tenho tempo para bobagens.

- Eu sei exatamente porque o senhor está assim comigo ...e com os outros alunos.

- É mesmo? – falou totalmente irônico.

- Na verdade eu já previa essa sua reação quando lesse o quinto livro. Suspeitei também que sentiria um ódio mortal por mim....

- Vejo que está ficando esperta, senhorita. – disse sarcasticamente.

- Sem ironias, professor. Esse é um assunto sério. – Laura olhou no fundo dos olhos de Snape.. – Vou direto ao ponto. Quero que saiba que lhe respeito e lhe admiro muito, professor. Não ri nenhuma vez daquela situação que li no livro. O senhor pode não acreditar, mas é verdade. Entendo que não é nem um pouco agradável descobrir que mais da metade do mundo sabe daquilo que lhe aconteceu, mas o senhor não foi o único. Todos passamos por problemas e desentendimentos na escola. Tanto trouxas como bruxos.

- Não me diga! – rosnou emburrado.

- Eu estudei numa escola trouxa antes de vir para cá. Tinha problemas muito parecidos com os que o senhor teve. Eu era a feia da escola, a chata, não tinha amigos, era humilhada. Sempre fui muito inteligente e esperta, e meus colegas não gostavam disso. Os professores gostavam de mim, pois eu só tirava boas notas e tinha um comportamento exemplar. Mas...o que eu queria era ter amigos, namorados, uma turma...qualquer coisa!!!

- Se esta é a maneira que encontrou de contornar a situação, desista!

- Não costumo comentar isso com ninguém. É um assunto íntimo....e difícil de falar....também é muito difícil de lembrar! Vou lhe contar só para o senhor se dar conta que não é o único a passar por isso.

Snape endireitou a cara mal-humorada e começou a dar mais atenção ao que Laura estava contando.

- Num determinado ano, eu ganhei uma bola de aniversário. Era uma bola de vôlei, uma espécie de jogo de trouxas, muito praticado nas escolas. Resolvi levar para a escola e mais uma vez tentar me enturmar com minhas colegas. Mas...também desta vez não fui feliz. Um aluno mais velho roubou a minha bola e, junto com outros garotos, começaram a chutar a bola de um lado a outro da escola....até que ela estourou. Eu não podia fazer nada. Era hora do recreio, os professores estavam tomando seu café. E, também eu era muito pequena, não tinha como enfrentá-los.....E....diferente do senhor, nunca tive ninguém na escola para me apoiar ou me defender. Voltei aquela tarde para casa sem o meu presente.

Snape estava quieto, só escutando a história de Laura.

- Eu sempre fui humilhada, desde os meus primeiros dias de escola. Era inteligente, filha de professora...nenhum de meus colegas gostava de mim. Nunca namorei ninguém enquanto estudava...me sentia muito só.

Snape continuava calado...e Laura continuou:

- Espero que o senhor pense bem em tudo que eu lhe disse. Pare de se fazer de vítima! Seja superior! – Se virou e caminhou em direção a porta. – Era isso o que tinha a dizer. Agora não lhe incomodo mais. Boa noite. – E saiu sem olhar para o rosto de Snape.


Snape chegou a se levantar e pensou em dizer algo, mas ela já havia saído. De qualquer forma, não tinha a mínima idéia do que dizer.... Ficou “mergulhado” nos seus pensamentos, refletindo cada palavra que Laura disse. Não tinha coragem de procurá-la para conversar. Ainda não sabia o que dizer.


Se esforçava em cada aula para agir normalmente com ela, mas era difícil. Sentia como se ela soubesse de toda sua vida....


Durante as aulas dos alunos do sétimo ano, Snape conseguiu controlar seus impulsos de tirar pontos sem motivos da Grifinória. Fazia muita força para equilibrar sua raiva. Às vezes, ficava imaginando que alguns de seus alunos mestiços tivessem lido o livro e se divertido muito com suas histórias. Nessas horas, ele não se controlava e castigava muito esses alunos, colocando-os em detenções e humilhando-os.

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