Fala logo!




Quando entrei no quarto encontrei Corine sentada sobre a cama calçando os sapatos enquanto as outras meninas ainda dormiam.
- Até que fim! – falei emburrada sentando ao lado dela.
- Você acordou muito cedo! Ainda tá todo mundo dormindo. – disse ela terminando de calçar os sapatos e se levantando. – Então, vamos descer?
- Agora? – perguntei aborrecida. Não quero ver a cara do Malfoy nem tão cedo.
- Sim. Acho que já vão começar a servir o café e nós podíamos aproveitar e... – ela parou de falar e ficou me olhando desconfiada. Acho que não consegui disfarçar a minha raiva. – Que cara é essa?
- Tô com raiva...
- O que ouve?
- Pedi desculpas ao Malfoy e ele fez pouco caso. – contei o pequeno incidente na sala comunal a ela.
- Que bom! – falou sorrindo de leve.
- Que bom? Ele quase me fez implorar. Não sei onde estava com a cabeça.
- Não seja exagerada. Foi melhor assim. – ela sentou ao meu lado e pegou o livro que eu estava lendo há pouco. – Que livro é esse? – perguntou. Percebi que só estava enrolando, ela não devia realmente querer perguntar isso.
- Peguei na biblioteca há alguns dias. Vou devolver hoje. – tinha acabado de me decidir. - “Por que ela tá enrolando? Pergunta de uma vez!”- pensei.
- Por quê? Já acabou?
- Não. É muito chato!
- Ah...
- O que você quer saber? - perguntei perdendo a paciência.
- O... o que Malfoy tava fazendo acordado tão cedo? – indagou meio sobressaltada. Não entendi por que ela tava enrolando pra perguntar uma besteira dessas.
-Eu sei lá. – falei dando de ombros.
- Vamos descer logo. Eu ainda quero passar na biblioteca e você pode aproveitar pra devolver esse livro. – disse se levantando e caminhando até a porta antes que eu pudesse falar mais alguma coisa.
-“Ela tá estranha.” – pensei correndo pra alcançá-la. Alguma coisa me diz que não era só isso que ela queira perguntar.
Passamos pela sala comunal e Malfoy não estava mais lá o que me deixou bastante aliviada.
Chegamos ao salão, que estava quase vazio, tomamos nosso café rapidinho e fomos à biblioteca. O castelo começava a acordar à medida que o sol se erguia no horizonte derramando sua luz sobre os terrenos da escola. O burburinho habitual dos alunos se avolumava a cada segundo enquanto andávamos pelos corredores.
A biblioteca estava vazia com exceção da bibliotecária. Fui direto devolver o meu livro, quanto antes me livrar desse peso extra melhor.
- Eu vou precisar de um livro bom de poções pra terminar o meu relatório. – falou Corine quando me juntei a ela que estava sentada em uma mesinha a um canto rodeada por livros empoeirados.
- Se você quiser te empresto o meu relatório. – falei inocentemente. Ela ergueu as sobrancelhas me olhando descrente. – Tá, esquece. Mas você não precisava copiar só... – mas parei de falar ao ver o rosto dela se contorcer em uma careta. Corine é exatamente igual à mãe nesse ponto, não gosta de copiar nada de ninguém mesmo que tenha que se esforçar pra resolver os exercícios no prazo. Diz que é praticamente impossível aprender alguma coisa copiando dos outros.
Quando ela finalmente se agradou de um livro já estava quase na hora da primeira aula do dia, que seria de Herbologia. As aulas dessa matéria costumam ser demasiado desagradáveis. Na maioria das vezes temos que alimentar plantas que mordem, adubar outras que fazem espirrar além de ficarmos todos sujos de terra. O nosso professor, Neville Longbottom, é o que considero o melhor da aula. Ele é totalmente deslumbrado por plantas mágicas, fala de um jeito tão estimulante que não dá pra não prestar atenção e ainda nos faz rir por ser meio desleixado. É um bom amigo dos meus pais.
- Hei!Vocês duas. – alguém chamou quando íamos saindo da biblioteca. Por um momento pensei que se tratava de meu “adorável” primo, Dave. E era realmente meu primo, mas não o mesmo.
Iago se aproximou de nos fazendo duas outras meninas que estavam no corredor suspirarem lhe lançado um olhar sonhador.
Pausa pra descrição:
Ele tem olhos castanhos, cabelo loiro clarinho e arrepiado e a pele clara.
Bem, o que posso dizer? Digamos que ele é muito bonito e atraente. Ai meu Deus! O que estou falando? Ele é meu primo poxa! Tenho que controlar... (huhuhu).
O maior defeito dele é ser o melhor amigo do Dave. Não pensem que odeio o meu primo, só que às vezes....
Eles sempre andam e aprontam juntos. Mas o Iago é mais calmo e tem noção de ridículo. (sem deixar de ser engraçadinho, claro!) Joga no time de quadribol da grifinória como goleiro.
Ah, esqueci de dizer que o Dave é batedor. Nada demais...
- Oi Iago! – respondi sorrindo.
- Estão indo para as estufas? – perguntou também sorrindo. Percebi que as duas meninas do corredor quase babaram quando ele sorriu. Confesso que fiquei orgulhosa por ter um primo que faz as garotas suspirarem.
- Estamos sim. – disse Corine que guardava o livro de poções na mochila. – Quer vir com agente?
- Claro!
Saímos andando pelo corredor, eu no meio dos dois, em direção as estufas.
- Vocês viram o Dave por ai? – perguntou calmamente enquanto descíamos as escadas.
O dia estava tão quente e abafado que me senti bastante aliviada em sair do castelo. Contudo, ao lembrar que as estufas deviam estar bem piores, essa sensação logo se dissipou.
- Não vi e nem quero ver. – respondeu minha prima amargamente.
- Ele andou aprontando com vocês de novo? – indagou tentando conter um sorrisinho de aprovação.
- Andou... – agora ele sorria abertamente. - E não teve graça nenhuma! – disse lhe dando uma tapa no braço.
Uma pequena aglomeração de alunos já se formava a porta da estufa. Eram soncerinos e grifinórios do quinto ano.
Pude distinguir alguns conhecidos: Hansen, Logbottom e Malfoy estavam entre eles assim como meus outros dois primos, Helena que conversava animadamente com Dave.
Descrição em ação:
Helena é irmã gêmea de Iago. Eles são parecidos, mas não idênticos. Ela é mais baixa que o irmão, tem olhos azuis e uma cascata de cabelos loiros com displicentes cachinhos nas pontas. Também é muito bonita e atraente além de ter um corpo invejável. Mas acho que isso se deve ao fato de ambos serem filhos de uma meio veela.
É agitada e alegre. Não se importa muito no que os outros pensam dela e age, na maioria das vezes, por impulso. Um eterno tormento na vida da educada e delicada mãe, que insiste em tentar mudar o jeito da filha (educa-la exatamente como uma dama deve ser). Não sou tão próxima dela como da Corine.
- Vou me juntar ao Dave e a minha irmã. Querem vir comigo? – falou indicando os dois, que estavam encostados na cerca viva que rodeava parte da estufa, com a cabeça.
- Não! – respondeu Corine exasperada. – Não quero chegar perto daquele maluco senão sou capaz de esganá-lo. – concluiu me puxando pro lado oposto. Eu apenas acenei com um tchauzinho tímido pra meu primo que retribuiu com um sorriso indo se juntar aos outros.
Eu devo admitir, também não estava com a mínima vontade de encontrar o Dave, mas o que me esperava do outro lado da aglomeração me fez querer voltar correndo pra junto deles. Era Malfoy com seus amigos exibindo aquele sorrisinho insuportável.
Fiquei extremamente constrangida, pois eles não paravam de nos olhar. Tentei puxar Corine pro outro lado, só que ela resmungou alguma coisa como: “O sinal já vai tocar.”, e não se moveu do lugar.
Eles pararam de nos encarar por um segundo no qual eu, tolamente, resolvi observa-los. Nesse exato momento (de fraqueza e curiosidade) meu olhar cruzou com o do Bo e foi a primeira vez que o vi sorrir espontaneamente. E como era belo tal sorriso! Desvie o olhar corando e sorrindo para meus botões sentindo uma sensação estranha arrepiar minha nuca. Depois ousei levantar a cabeça pra ver se continuava a me olhar, mas não. Ele parecia escutar a conversa dos dois amigos com um olhar perdido. Acho que nem eles nem minha prima viram o que aconteceu. Graças a Deus! Hupf!
O sinal tocou e todos entraram na estufa fazendo grande algazarra.
Como previ lá dentro estava insuportavelmente quente e abafado. Era uma estufa grande com duas mesas de madeira enormes no centro onde os alunos se amontoavam. Perto das paredes de vidro cresciam vários tipos de plantas mágicas dispostas em jarros, prateleiras ou no próprio solo.
Assim que entramos puxei Corine o mais longe possível dos três garotos. Só me dei por satisfeita quando vi que estávamos em extremos opostos.
- Bom dia classe! – cumprimentou o prof. Longbottom sorrindo pra todos. – Hoje nós, ou melhor, vocês iram aprender como se replantar Carníceas e diferenciá-las da plantas conhecidas pelos trouxas como “plantas carnívoras”. – ia dizendo ele enquanto andava entre os alunos carregando um jarro embaixo do braço. – Bem, vamos ver o quanto sabem sobre isso. Quem de vocês sabe a diferença entre as Carníceas e as plantas carnívoras?
Vários alunos levantaram as mãos inclusive Corine ao meu lado.
- Sim, Srta. Weasley? – disse. Por um momento ela ficou calada, mas vendo que se tratava mesmo dela respondeu:
- Ah, as plantas carnívoras se alimentam basicamente de insetos e não crescem muito diferente das Carníceas que se alimentas exclusivamente de carne crua e podem atingir dois metros de altura.
- Isso! – gritou o prof. fazendo alguns alunos próximos a ele se assustarem. – Resposta correta, dez pontos mais pra grifinória... – os alunos de soncerina resmungaram lançando a Corine um olhar reprovador. – Muito bem, vamos colocar a mão na massa. – continuou fazendo um movimento com a varinha. Vários jarros idênticos ao que ele segurava surgiram dispostos encima das duas mesas.
Ele deu uma breve explicação sobre o que devíamos fazer e como evitar ser mordidos pelas plantas. Depois, com mais um gesto de varinha fez outros jarros menores aparecerem. Dentro de cada um havia uma planta estranha, era verde com manhas vermelhas e tinha grades presas pra fora da boca.
- Esses jarros estão muito pequenos pra elas. Vocês terão que troca-las pra esses outros. – disse apontado para o jarro embaixo do braço. – Dividam-se em duplas, por favor.
Eu e Corine, como sempre, ficamos juntas. Alguns alunos se mexeram e esticaram pra formar as duplas, mas antes que terminassem de se organizar uma garota de soncerina levantou a mão.
- Sim srta. Smith? – indagou o prof. com uma careta.
Evie Smith é uma garota de soncerina. Ela é altamente arrogante, impertinente e maldosa. Tem cabelos loiros esverdeados, poucos e muito lisos (tipo escorrido) o que faz com que suas orelhas, que são maiores que o normal, apareçam. Sempre olha as pessoas com um ar de nojo, como se fosse superior a todos.
- Acho injusto que certos alunos...- nessa parte ela parou olhando pra nosso lado com os braços cruzados e olhos estreitos – ...sempre façam par com as mesmas pessoas. – sua voz é irritantemente aguda.
- Bem, e o que sugere? – indagou o prof. pacientemente sorrindo pra ela.
- O senhor mesmo podia nos dividir. – disse dando uma risadinha sarcástica. Um silêncio tenso se instalou na estufa.
- Ok, ok... – respondeu ele caminhando novamente entre os alunos. – Vamos ver... – e começou a selecionar as duplas. – Agora...hun... o Sr. Malfoy com a Srta. Weasley. – suspirei aliviada. – O que estão esperando? – indagou ao perceber que a dupla não se formara.
- Sr. , quer dizer, prof. nós somos duas. – falou Helena que estava próxima a nos apontando pra si própria e para Corine.
- São o que? – disse confuso. Os alunos riram da sua confusão.
- Há duas Weasleys prof. - concluiu Evie Smith entediada.
- Ah... desculpem! Bem então... – colocou a mão no queixo pensativo olhando de uma pra outra. – Srta. Corine Weasley com o Sr. Malfoy e a Srta. Helena com o Sr. Hansen. Corine se afastou de mim indo se juntar a seu par. Acho que devo estar ficando louca, pois pensei ter visto um sorriso vitorioso transpassar o rosto de minha prima. Não, não! Devo estar delirando por causa desse calor insuportável.
- Srta. Potter com o Sr. Longbottom. – quase morri de susto ao ouvir meu nome ser pronunciado e mais ainda ao ouvir o do meu companheiro de dupla. Ai meu Deus! O que vou faze? Juro que posso sucumbir de vergonha se me aproximar dele. Retiro o que disse há pouco, não estou nem um pouco aliviada.
O professor continuou a selecionar os alunos restantes enquanto os outros começavam a trabalhar.
Fiquei estática esperando que o Bo viesse se juntar a mim. Logo ele já estava a meu lado. Voltei a ficar altamente constrangida e evitei olhar-lo diretamente. Lembra quando falei que sou tímida com as pessoas que não conheço bem, pois é....
- Oi! – cumprimentou sorrindo discretamente.
- Um momento de atenção, por favor? – pediu o professor e todos ficaram em silêncio observando-o. – Seria melhor, e mais fácil, se um aluno de cada dupla segurasse a planta enquanto o outro a desenterra. Assim podemos evitar acidentes indesejáveis. - Ao ouvir isso os alunos se viraram para suas plantas discutindo o que cada um faria.
- Acho melhor você segura-la e eu desenterrar. – falou Bo me lançando um olhar terno. Eu me assustei mais uma vez. – Se você concordar, é claro. – concluiu ainda calmo.
- Ah, por mim tudo bem. – respondi inquieta me aproximando da mesa enquanto ele se virava procurando alguma coisa em um caixote de madeira que estava no chão.
Eu já ia levando uma das mãos à planta, o mais distante possível dos seus dentes afiados, quando ele se levantou rápido.
- Não, espera! – disse puxando minha mão bem a tempo de evitar que a planta a mordesse. Senti como se um choque leve passasse por meu corpo. – Tente pegar mais pra cima. Tá vendo esses pelinhos aqui... – falou apontando a parte em que tentei pegar. –... bem, eles funcionam como censores. Se pegar ai, ela vai sentir e tentar te morder. Perto da boca é mais seguro. – disse ainda segurando minha mão com uma expressão mais séria. Não vou falar o que senti, pois nem mesmo eu sei bem o que foi. Ele soltou minha mão e estendeu a outra me entregando duas luvas de couro de dragão. Eu aceitei murmurando “Obrigada!”.
- Como você sabe dessas coisas? – pergunta besta, me perdoem, estava nervosa demais para pensar em coisa melhor. Ele sorriu se abaixando novamente e apanhando uma pequena pá no caixote.
- Não dá pra não saber, com meu pai sendo professor da matéria... – disse gentilmente indicando o pai com a cabeça.
- Ah, é mesmo... – quando ele se levantou baixei a cabeça fingindo observar a planta.
- Então, vamos começar?
- Claro! – respondi colocando as luvas que ele me entregara e me aproximando da mesa.
Começamos o trabalho um pouco atrasados, mas não tivemos muita dificuldade. Na verdade ele praticamente fez tudo sozinho. Fomos uns dos primeiros a terminar e ficamos em silêncio esperando o fim da aula. Eu nem sequer ousei olha-lo e muito menos falar com ele.
- Ótimo trabalho Amelie e Bo. – sussurrou o prof. Neville passando ao nosso lado. – Dez pontos a mais pra grifinória. – continuou nos dando uma piscadela.
- Obrigado pai!
- Vocês mereceram. O melhor trabalho! Mas não vão espalhar por ai... – disse sorrindo pra gente. – Acho que vocês dois são bons juntos. E agora que sei, vou tentar fazer mais trabalhos de duplas ... – falou baixinho me fazendo corar. - E como vão seus pais? Não tenho tido muitas notícias deles ultimamente.
- Eles estão bem! – respondi animada por ele ter mudado de assunto.
- Se os encontrar antes de mim mande meus cumprimentos a ambos. – o sinal tocou – Estão todos dispensados! Quem não conseguiu terminar a tempo terá que refazer na próxima aluna. – alguns alunos murmuraram cansados andando em direção a porta.
Eu me despedi dos dois e fui procurar Corine no meio da aglomeração. Vi que alguns alunos estavam cobertos de terra e outros exibiam arranhões e marcas de mordidas nas mãos e nos braços. Pensei por um momento que eu poderia fazer parte deles se o Bo não me tivesse “salvado” e engoli em seco.
Com toda essa situação durante a aula até me esqueci de olhar o que minha prima tava aprontando com o Malfoy.
- Hei! Eu tô aqui. – chamou parada ao lado da porta. Juntei-me a ela e tentamos achar uma brecha entre os alunos para sair daquele forninho.

Subimos as escadas direto para sala comunal, pois já estava quase na hora do almoço e precisávamos de um banho.
- Amelie... – chamou Corine meio receosa quando entramos no dormitório.
- Oi? – respondi me largando na cama assim como acabara de fazer com minha mochila.
- Ah, é que eu tava querendo... – começou falando rápido e perdendo a força no meio da frase.
- Hun? Fala! – levantei um pouco pra olhá-la melhor. Ela estava parada próxima à porta do banheiro olhando pro chão. Realmente estranho que esteja agindo assim...
- Ah, é que... eu queria falar.... conversar uma coisa com voc...- antes que ela terminasse a frase Helena, que parecia revoltada, entrou no dormitório batendo forte a porta atrás de si.
- AI QUE ÓDIO!
- O que ouve Lena? – perguntei me levantado completamente da cama com um pulo.
- O que foi? – disse bufando de raiva. – O que acham?
- Ah.... – fez Corine parecendo entender.
- É claro que foram aqueles dois imbecis. – ela devia estar falando do Dave e do irmão. Ela anda com os dois, mas quase sempre se irrita com eles. – Acham que podem mandar em mim...
- O que eles fizeram agora? – perguntou Corine sentando na cama mais próxima.
- Eles viram que eu estava conversando, amigavelmente, com o Eirik depois da aula e resolveram me perturbar. – e sentou na cama irritada.
- Você tá falando do Eirik Hansen, amigo do Malfoy. – perguntei sentado junto delas.
- Estou! Ele é bem legal, sabe? Daí, quando terminou a aula, eu tava conversando com ele e os dois mongolóides chegaram pra atrapalhar. Foram logo ameaçando o coitado e me mandando entrar no castelo, como se eu não soubesse me cuidar sozinha. – disse chateada.
- Eles não têm jeito mesmo... – falei cansada.
- Ah, mas eles me pagam. – e se levantou caminhando até o banheiro. – E caro! – disse entrando dentro dele e fechando a porta violentamente.
Corine não voltou a falar sobre o tal assunto e eu preferi não insistir, apesar de estar me roendo de curiosidade. Se estava tendo toda essa dificuldade pra falar pra mim, que sou sua prima e melhor amiga, é por que devia ser coisa séria. Ela não é, exatamente, o tipo de pessoa que suporta pressão.
Eu também não contei nada do que senti na aula de Herbologia. Tem coisas que gosto de guardar só pra mim e essa com certeza é uma delas. Talvez conte um dia...

Helena ficou conosco durante o resto do dia, que foi calmo considerando os fatos ocorridos. Nas aulas, em vez de sentar com o Iago e o Dave, ela sentava ao nosso lado lançando-lhes um olhar mortífero que era precisamente retribuído por eles.
No final do dia, quando voltávamos à torre de Grifinória Helena se separou de mim e Corine dizendo que ia falar com uma amiga de Corvinal e saiu correndo. No exato momento que ela sumiu de vista Corine segurou forte minha mão e me puxou para uma sala de aula vazia.
- Que bom que ela se foi! Eu não agüentava mais... – suspirou nervosa encostando-se em uma das várias mesas da sala.
- Do que está falando? – falei surpresa. Por que ela iria querer se livrar da Lena? Tá certo que ela é meio doida, mas é nossa prima e eu gosto dela.
- Eu venho querendo te contar uma coisa já faz certo tempo, mas não tive coragem. – começou baixando e levantado à cabeça várias vezes enquanto torcia os dedos. Então era isso! – Ai, eu nem sei por onde começar...
- Respira fundo e fala... – incentivei.
-Ah... eu... eu... – enrolou.
- Fala logo! – quase gritei perdendo a paciência com ela pela segunda vez no dia.
- Acho que estou gostando do Vincent! – falou rápido sem me encarar.
- O QUÊ?! – gritei exaltada.
- Eu tô apaixonada pelo Malfoy! – fechei os olhos me sentado em uma cadeira. Ou estou tendo um pesadelo ou isso é uma brincadeira de mau gosto dela. De péssimo gosto!
- Não, não... – murmurei balançando a cabeça furiosamente como se fazendo isso pudesse apagar o que acabei de ouvir. - ... primeiro você... você disse que achava.
- E faz diferença? – indagou desanimada.
-“Se faz! Você nem imagina o quanto!” – pensei ainda com de olhos fechados. Se ela apenas estivesse confusa eu ia fazer de tudo pra convencê-la que estava ficando doida (bota doida nisso!). Mas ela disse: “Estou apaixonada!” com todas as letras, nada de dúvida.
- Ai, Amelie. Fala alguma coisa! – falou se aproximando de onde eu estava e se abaixando colocando as mãos sobre meus joelhos. Fiquei em silêncio durante alguns segundos ainda em choque.
- Você está doida. Te lançaram um feitiço pra confundir, só pode. – falei incrédula. Mas quando abri os olhos e vi a cara dela completei. – Você tem certeza de que não é... hun... tipo um sentimento passageiro? – perguntei tentando ser o mais compreensiva possível. Só fiz isso porque ela parecia preste a chorar.
- Acho que não. Foi por isso que demorei pra te falar. Queria ter certeza.
- Eu não sei o que dizer...
- Diz que não vai ficar com raiva de mim, por favor? Não é minha culpa! Eu até tentei evitar, mas... – tentava justiçar ficando cada vez mais nervosa.
- É claro que não vou ficar com raiva! Sei que não foi sua culpa. – falei segurando as mãos dela e tentando acalma-la.
- Que bom!
- Eu seria extremamente injusta se fizesse uma coisa dessas com você.
- Então você vai me ajudar? – disse sorrindo de leve. Eu aqui tentando consola-la e ela cheia de segundas intenções. Mas essa minha prima é uma espertinha mesmo!
- Como assim?! – perguntei meio irritada.
- Me ajudar com ele... – falou baixando a cabeça envergonhada. Nós ficamos em silêncio mais alguns segundos.
- Deixa só o seu pai saber disso. – falei sorrindo. O tio Ronaldo não gosta nem um pouco dos Malfoy. Imagina se descobrir que a filha casula tá apaixonada por um deles. Ele surta!
- Ai meu Deus! Você não vai falar nada, né? – minhas palavras não causaram o efeito que eu queria que era descontraí-la.
- Claro que não! Mas um dia ela vai ter que saber, não é? Quero dizer, se vocês ficarem juntos, claro! – disse em tom de brincadeira. Ainda tô em choque, mas minha prima deve estar se sentido pior que eu. Quem não estaria se estivesse apaixonada por o filho de alguém que o pai não quer ver nem pintado de ouro?
- Eu acho que sim... – ela parecia triste novamente. – Você vai me ajudar?
- Me deixa digerir essa informação primeiro, ok? – falei calmamente.
- Tá bom! – respondeu conformada. – É melhor irmos, senão vai ficar tarde e você sabe que nossos pais têm espiões nessa escola. – ela se referia a Dave e Iago.
Quando chegamos à torre de grifinória já era meio tarde. O Dave tentou nos interrogar, mas Corine não deu chance e me puxou para o dormitório. Estávamos tão cansadas que nem conversamos mais sobre o assunto. Nem dava por causa das nossas companheiras de quarto. Apenas nos trocamos e fomos dormir.
Não consegui dormir logo. Foram tantas coisas pra assimilar em tão pouco tempo. Tomara que amanhã seja um dia mais normalzinho que hoje.

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