O Fim



Harry começou a se contorcer.

A princípio Isabel não entendeu o que acontecera. Mas então ela ouviu a respiração afobada de Harry e parou o feitiço. O garoto, por sua vez, quase cego com a dor na cicatriz, ainda maior agora, misturada com a dor do feitiço viu Voldemort olhar rapidamente para trás em alerta.

- Estupefaça!- Ele se limitou a dizer.

Enquanto recuperava o fôlego Harry viu Isabel colidir contra a outra parede, Voldemort se virar e ir caminhando na direção dele. A varinha em punho em uma das mãos e a outra esticada para frente como se procurasse algo no escuro.

Levante-se e enterre a flecha no peito dele, Harry, é só isso o que tem que fazer. Dizia a voz no fundo da cabeça do garoto. Ele então se agachou, pronto para se erguer. A flecha preparada, e quando Voldemort estava há meio metro dele, ele o fez. Ficou de pé num segundo, e no seguinte ele golpeou a flecha contra o peito de Voldemort e a deixou ali. E então ele tirou a capa da invisibilidade e sacou a varinha.

Voldemort estava paralisado. Harry sorriu.

- Acabou para você, Voldemort!- disse ele.

Mas então Voldemort arrancou a flecha do peito - a ponta da flecha se partira, ele arrancou só o cabo- e depois de olha-la virou-se para Harry.

- Grande plano o de vocês!- disse ele. Sua veste negra se enchia de sangue agora.- Flecha de centauro! Mas não ache que vou deixá-lo para trás.

- Se realmente acha isso creio que queira duelar comigo, um duelo de homem contra homem.- disse Harry, não sabia como mas estava novamente cheio de coragem e bravura.- Duele até a morte, Voldemort. Até a sua morte!


****


- Droga!- disse Neville.- O comensal que eu tinha desarmado se recuperou e vem logo à frente.

- Por aqui!- disse Luna indicando a porta do banheiro feminino no segundo andar.

- Não vou entrar num banheiro de garotas!- disse Neville. Ele e Luna tinham passado os braços de Gina em volta de seus pescoços.

- Cala a boca e entra logo!- disse Luna irritada chutando a porta.

Ela e Neville, carregando Gina, se espremeram para dentro do banheiro. Luna deu outro chute na porta, para fechá-la, ao passar.

- Vamos colocá-la aqui.- disse Luna seguindo na direção oposta às cabines com vasos sanitários do banheiro.- O que ele fez com ela?

- Acho que foi uma maldição Cruciatus.- disse Neville.

- Quem está aí?- perguntou uma voz chorosa.

- Droga!- disse Neville.- Luna, nós estamos no banheiro da Murta- Que- Geme!- completou segundos antes do fantasma da menina tristonha surgir por entre as cabines.

- Olá, Murta!- disse Luna com a voz sonhadora.

- Di Lua!- sorriu Murta.- Pensei que nunca mais a veria desde que a escola foi fechada.- ela fechou a cara novamente.- Pelo menos ninguém mais vem aqui atirar coisas em mim!

- Pelo menos isso, Murta!- disse Luna sorrindo.- Mas escute, eu tenho um problema agora.- completou indicando Gina.

- O que aconteceu com ela?- perguntou Murta.- Não quero essa garota dividindo o banheiro comigo!

- Ela não vai dividir o banheiro com você!- disse Luna.- Mas para isso você vai nos ajudar.

- Ajudar...?- fez Neville sem entender aonde aquela conversa de velhas amigas que não se vêem há muito tempo iria chegar.

- Vá até a sala da Profª. McGonagall e a avise que Gina Weasley está inconsciente no seu banheiro, junto comigo.- disse Luna.- E Diga também que há comensais espalhados pelo castelo.

- Se eu fizer isso promete vir me visitar mais vezes?- perguntou Murta considerando o pedido da outra.

- Prometo Murta.- disse Luna.- E o meu amigo também, agora vá!

- Eu não vou vir visitar uma fantasma maluca num banheiro feminino!- disse Neville assim que Murta sumiu pela parede.

- Se isso for o suficiente para a Gina sobreviver...- disse Luna com veemência.- Vai sim!


****


Rony e Zacarias ouviram passos. Surgiam comensais em ambos os lados do corredor.

- Eu fico com a direita e você com a esquerda.- disse Rony rapidamente.

- Ok!- Fez Zacarias enquanto saltava por cima do corpo estendido de Lúcio Malfoy, indo se postar no meio do corredor. Rony fez o mesmo e viu os dois Lestrange vindo sorrindo na direção dele. Do outro lado vinham Rookwood e Dolohov. Não sabia bem o que viria a seguir. Estavam perdidos.

Mas então, quando os seis ergueram as varinhas, ouviu-se um estrondo e um jato de luz prateada tomou o lugar. O chão tremeu violentamente. Rony escorregou e se apoiou na parede mais próxima. Ouvia Zacarias, às suas costas, tossir por causa da poeira.

Ouviu-se o som de alguém caindo no chão. E então a voz de Rodolfo Lestrange soou no meio dos ruídos de destruição.

- Dumbledore!

Em seguida houve um segundo jato de luz prata. E um terceiro. E então Rony sentiu o chão parar de tremer e um vulto se aproximar dele e o levantar.

- Você está bem?- Era Carlinhos.

A poeira ia baixando lentamente. Zacarias ainda tossia. Carlinhos o levantou também.

- O que aconteceu?- perguntou Zacarias.

- Não deixe ninguém entrar nesta sala, Gui.- disse a voz de Dumbledore.

Então Rony finalmente viu o seu vulto ficar nítido em meio a tanta poeira. Ele estava com a mesma aparência imponente de sempre.

- Sim senhor.- Disse uma terceira voz.

Rony sentia-se confuso. Observou Dumbledore saltar o corpo de Lúcio e abrir a porta da sala fechando-a com um baque surdo em seguida.


****


- Eu não direi nada de importante a essa tal de Ordem.- disse Belatriz.- Pode me matar se quiser.

- Não vou sujar as minhas mãos depois de ter lutado quinze anos para provar que era inocente de outro crime!- disse Sirius.

- Estamos em guerra, Sirius.- disse Belatriz.

- A Guerra termina hoje.- disse Sirius.

- Então deixe que eu mesma cuide disso.- disse Belatriz.- Não quero voltar para Azkaban.- completou.

Sirius sorriu.

- Eu sabia que você provavelmente tomaria esta decisão.- disse ele tirando um frasco do bolso das vestes.

- É que não seria nada legal, para mim, reencontrar comensais em Azkaban sendo que eu fui a culpada pelo fim.- disse Belatriz secamente.

Sirius se levantou da cadeira e depois de dar alguns passos em frente ele esticou o frasco com um conteúdo roxo dentro.

- O mesmo que tentou usar contra Hermione.- disse Sirius.

- Despeça-se de mim, primo.- disse Belatriz. Ela estava bem mais calma do que antes agora. Mas ainda havia deboche e crueldade em sua voz. Ela sabia muito bem que sua imagem, sobretudo naquele momento, perseguiria Sirius para o resto da vida dele.- Me beije.

Ele obedeceu, e os dois se beijaram, ali, encostados na parede do poço, como nos velhos tempos, durante alguns minutos. Até que Belatriz empurrou Sirius, tomou o veneno e caminhou na direção da cadeira.

- Adeus.- disse ela antes de se contorcer e desmontar, morta, na cadeira.

Sirius caminhou até ela e fechou seus olhos.

- Adeus prima.- disse ele antes de dar um murro na tampa do malão para abri-la.


****


- Crucio!- gritou Voldemort. Harry desviou.

- Estupefaça!- Gritou Harry.

- Protego!- respondeu Voldemort.- Crucio!

- Estupefaça!- Repetiu Harry. O feitiço dos dois se encontrou na metade do caminho provocando a explosão da mesa no centro da sala.

- Crucio!- gritou Voldemort. Harry desviou.

- É o melhor que pode fazer?- perguntou o garoto.

- Crucio!- repetiu Voldemort e este feitiço o atingiu em cheio. Harry sentiu uma dor subir através de sua barriga e caiu no chão.- Eu lhe disse, Harry!- dizia Voldemort.- Estou destinado a morrer agora, mas você irá junto!

- Não vou não.- disse Harry se levantando quando o efeito da maldição parou.

- Crucio!- gritou Voldemort novamente fazendo com que os esforços de Harry se levantar fossem em vão. Ele caiu novamente no chão, ao lado do relógio. O ponteiro de Rony estava seguro agora. O de Gina também. Mas o seu caminhava lentamente para a morte. Ele se via chegando próximo à Hermione. Ele iria revê-la.

Voldemort gargalhava.

- Nunca quis ir rever seus pais, Harry?- perguntou ele.- Sua namoradinha?!

Harry arfava observando a mancha de sangue cada vez maior no peito de Voldemort.

- Crucio!

E a dor recomeçou. Os óculos de Harry escorregaram por seu nariz e caíram. Ele já não enxergava mais. Via apenas escuridão. Mas ouvia vozes.

"Corra! Eu o atraso!"

E a voz de seu pai se transformou na de Hermione.

"Não deixe que nada mate você!"

Harry ouviu um latido de cão.

Eu não vou morrer. Pensou. Não agora. E então ele abriu os olhos e de repente a dor parou. Ele caiu no chão. Ergueu o rosto o máximo que pode e viu. Viu Dumbledore.

- Acabou Tom!- disse o homem.

- Dumbledore!- sibilou Voldemort depois de uma careta, parecia que a ferida em seu peito começara a doer.

- Parece que você caiu na minha emboscada.- sorriu Dumbledore calmamente.

- E parece que arrastei o garoto para a morte comigo.- disse Voldemort sorrindo ao olhar para Sirius que acabara de virar Harry desacordado de barriga para cima.

- Ele sobreviverá.- disse Dumbledore.- Agora, eu ficaria fascinado se você aproveitasse o seu restante de vida para me narrar sua fascinante saga.

Voldemort ergue a varinha.

- Você não tem chances, Tom.- disse Dumbledore.- Tenho alguns dos meus melhores homens lá fora.

Voldemort pensou por um momento e então largou a varinha no chão. Ele sabia que ia morrer no momento em que arrancara a flecha de seu peito. E já que morreria, que contasse todos os seus feitos ao mundo antes. E que ficasse conhecido pela eternidade como o maior Bruxo das Trevas de Todos os Tempos.

- Chame Gui, Carlinhos e Moody.- disse Dumbledore sorrindo e se virando para Sirius.- E acorde Tonks.- ele reabriu a tampa do malão que levava ao poço.- Vamos descer, Tom.

Voldemort obedeceu.

- O que aconteceu com Bela?- perguntou o homem ao ver o corpo da comensal.

- Preferiu matar-se ao ver o fim.- disse Dumbledore.


****


- Harry!- chamou uma voz. Harry via uma luz. Será que estava morto?- Harry!- alguém bateu em seu rosto. Ele abriu os olhos lentamente. Era Rony. Ele se assentou. Ainda estava na sala precisa.

- O que aconteceu?- perguntou ele enquanto recolocava os óculos.

- Você conseguiu, Harry!- disse Rony abraçando-o.- Ele está lá em baixo. Se rendeu.

- Voldemort?- perguntou Harry.

- Sim!- disse Rony soltando-o.

Harry olhou à sua volta. A porta estava aberta deixando a luz do meio da manhã entrar. Zacarias analisava uma varinha. Isabel estava assentada mais à frente, em uma cadeira.

- Quando errei o feitiço achei que estava tudo perdido.- disse ela sorrindo para Harry.- Porque não agiu quando eu o atrai para mim?

- Não ataco ninguém pelas costas.- disse Harry.- Foi sorte ele se voltar pra mim ou eu teria amarelado.

- Eu só gostaria de saber quem matou Snape.- disse Isabel.

- Ele suicidou-se.- disse Rony.- Na minha frente.- completou fazendo cara de nojo.- E então o fantasma do Malfoy apareceu e se propôs a dar um fim no corpo.

- Ele e o tal de Pirraça jogaram o corpo do alto do saguão de entrada. Ele se esborrachou no chão.- disse Isabel.- Onde está Gina?

- Não sei bem.- disse Rony.- Ela encontrou Lúcio Malfoy e quando Neville o estuporou ela estava desacordada. Mas quando Moody chegou ele disse que ela já estava bem.

- Quando vamos embora?- perguntou Harry. Sua cicatriz ainda latejava e ele sentia uma costela quebrada.

- Assim que terminarem o interrogatório de Voldemort.- informou Isabel.- Não é certo ainda.


****


- Por onde querem que eu comece?- perguntou Voldemort sorrindo maliciosamente após tomar a poção da Verdade.

- Por onde você considerar ser o começo, Tom.- disse Dumbledore.

Haviam sido conjuradas cadeiras ali. Carlinhos, Gui, Sirius, Tonks, Minerva, Moody, Quim e Lupin assentados em volta de Voldemort que aparentava estar levemente pirado.

- Pela morte dos Riddle!- sugeriu Minerva.

- Pois bem.- disse Voldemort.- Eu tinha saído de Hogwarts fazia quinze dias. Já tinha todo o meu plano de ascensão armado. Vingaria minha mãe e depois passaria algum período estudando. E eu o fiz. Aparatei em Little Hangleton pela manhã e espionei a casa e a rotina dos empregado, e então, quando a noite caiu, eu invadi a casa e matei a todos.- ele sorriu.- A polícia Trouxa tentou culpar o jardineiro. Trouxas tolos!

- Continue, Tom.- disse Dumbledore.

- Depois do episódio eu viajei o mundo estudando magia negra. E quando voltei, comecei a recrutar jovens para formar o meu exército.- continuou Voldemort.- Conhecia o velho Malfoy, ele tinha sido meu amigo em Hogwarts. E ele me disse que o filho dele tinha um grupo de magia negra na escola. Lúcio foi o primeiro dos ainda vivos a se tornar um comensal. Foi ele quem me sugeriu marcar a todos...


****


- É por aqui, Tia.- disse uma voz que os garotos conheciam e no momento seguinte Tobias surgiu pela porta.- Ah! Olá. Não sabia que ainda estavam aqui.

Logo atrás deles vinha Amélia Bones.

- Eles estão no malão, Sra. Bones.- informou Isabel ao reconhecer a mulher.

- Porque vocês ainda estão aqui?- perguntou ela.- Ainda há muitos comensais à solta. Levem-nos para a casa de Sirius Black, Tobby.- completou ela antes de descer para o poço.

- Vamos! O que estão esperando?- perguntou Tobias.- Vamos todos para a Sala de Minerva.

- O que faço com isso?- perguntou Zacarias Smith mostrando a varinha esquecida ali.

- O que é isso?- perguntou Tobias.

- A varinha de Você- Sabe- Quem.- disse o garoto.

- Deixe isso aí!- disse Tobias.- Vamos! Andem.

O grupo seguiu calado pelo castelo até a sala da Profª. Minerva. Harry sentia a cabeça doer. E ficou satisfeito quando finalmente chegou à cozinha da casa dos Black e foi logo acolhido pela Sra. Weasley.

- E então, garotos?- perguntou Mundungo que estava por ali.- Contem-me tudo.

- Você saberá de tudo depois, Mundungo.- disse a Sra. Weasley.- Agora quero que todos tomem seus chocolates.

- Sra. Weasley.- disse Harry.- Acho que talvez eu precise de um médico. Minhas costelas parecem fora do lugar.

- Oh! Harry querido!- disse a Sra. Weasley.- Nem lhe perguntei se estava se sentindo bem.

- Mamãe, e a Gina, onde ela está?- perguntou Rony se lembrando da irmã.

- Ficou lá, oras!- disse a Sra. Weasley.

- Er...- fez Rony.- Não, ela não ficou.

Harry imediatamente tateou o bolso a procura do relógio. O ponteiro de Gina estava em uma outra casa que ele não sabia o que significava.

- Talvez tenham levado-a para St. Mungus.- sugeriu Isabel.- Quando Sirius me acordou disse qualquer coisa sobre isso.

- Papai deve tê-la levado.- disse Rony.- Pois ele não desceu para o poço.

- O que aconteceu com a Gina?- perguntou a Sra. Weasley aflita.

- Só vamos saber se formos até o St. Mungus.- disse Isabel.- E creio que seja bom que todos nós façamos uma consulta.- completou.

Harry concordou com a cabeça, e ainda com a costela doendo, se levantou e vestiu novamente a capa.

Foram de Flu. Desde que Voldemort aparecera em público, no início do verão anterior, a lareira de Sirius não estava mais sendo tão vigiada. Talvez, fosse, na realidade, porque Umbridge não estava mais no ministério.

O St. Mungus estava no movimento de sempre. Os bruxos e bruxas na recepção falavam alto. Harry seguia ao lado de Rony e não pode deixar de perceber que algumas pessoas apontavam para ele. A Sra. Weasley ordenou que esperassem assentados em algumas cadeiras e seguiu até a fila para a escrivaninha de requerimentos. Dez minutos depois ela voltou acompanhado por um MediBruxo.

- Então estes são os nossos heróis?!- disse ele.- Já há quatro amigos de vocês em uma enfermaria reservada logo que o dia nasceu por Alvo Dumbledore. Venham comigo.

Harry, Rony, Isabel, Zacarias e a Sra. Weasley seguiram o MediBruxo por corredores ladeados por fotografias de bruxos importantes até o quarto andar, na ala de Danos Por Magia.

- É aqui.- disse o MediBruxo e então Harry pode ler seu nome no crachá: Augustus Pye - Medi Bruxo. Harry se lembrava do bruxo, na época em que o Sr. Weasley esteve por ali ele era estagiário.

Harry tirou os olhos do crachá e entrou a enfermaria. Luna, Dino e Neville estavam por ali. A avó de Neville também, e obrigava os três a comerem o que parecia ser biscoitinhos de chocolate.

- Andem! Vocês tiveram um período de provações!- dizia ela.- Precisam se alimentar.

Mas então Harry percorreu os vários leitos vazios da enfermaria e no último deles estava Gina.

- Gina!- disse a Sra. Weasley aflita correndo até lá. A garota parecia adormecida.

- Acalme-se senhora.- disse o MediBruxo.- Ela ficará bem, já foi medicada.

- O que aconteceu com a minha Gina que vocês não quiseram me dizer?- perguntou ela se virando para os garotos.

- Ela foi torturada por uma maldição Cruciatus.- disse o MediBruxo.- Mas ficará bem, não se preocupe. Seu marido chegou faz duas horas trazendo ela e aquele outro garoto inconscientes.- completou indicando Dino.

- Encontrei Rookwood quando descia para o sétimo andar depois de sentir a moeda quente.- explicou Dino.

- Mas agora vamos cuidar de vocês.- disse o MediBruxo.- Já tomaram chocolate?

- Sim.- respondeu Zacarias.

- O que é isto no seu pescoço?- perguntou o MediBruxo para Isabel. Harry olhou para ela, as marcas dos dedos de Voldemort estavam ali, como queimaduras.

- Tentaram me enforcar.- informou ela calmamente.

Enquanto o MediBruxo a atendia Harry se juntou a Neville, Luna e Dino. Preferia ser o último.

- E então?- perguntou Neville.- Tudo finalmente acabou?

- É...- disse Harry.

- Mas ainda é perigoso. Meus pais...Sabe, aconteceu aquilo com eles depois que Voldemort caiu.- disse Neville depois de olhar por cima do ombro, sua avó conversava com a Sra. Weasley.

- É, eu sei.- disse Harry. Até a pouco ele estava se sentindo realizado. Mas agora, sentia-se mal. Apesar da euforia por Voldemort finalmente ter caído - talvez já estivesse morto a essa hora.- ele sentia que faltava alguma coisa. Havia um enorme vazio dentro de seu peito. Faltava Hermione.

- O Senhor Weasley nos contou que os comensais que estavam no castelo iam acabar com Rony e Zacarias mas então Dumbledore chegou e em um feitiço só derrubou todos eles.

- É!- disse Harry sem emoção.- Acho que foi isso.

Logo Harry foi atendido. Em um minuto estava com a costela quebrada no lugar. O MediBruxo disse que eles deveriam dormir. Todos, protestando, deitaram em seus leitos. Logo Neville roncava. A princípio Harry não dormiu. Ficou escutando o movimento no hospital. A Sra. Weasley e a Sra. Longbotton ainda conversavam em tom baixo na enfermaria quando o Sr. Weasley entrou.

- Arthur!- disse a Sra. Weasley ao vê-lo.- que bom que você está bem!

Harry viu por uma greta em seu cortinado o rosto do Sr. Weasley. Parecia triste, cansado e preocupado.

- Pediram que eu mesmo contasse a você, Molly.- disse o Sr. Weasley.

A primeira coisa que Harry pensou foi que Voldemort havia escapado da morte mas então ele ouviu a verdadeira notícia.

- Percy foi morto durante a invasão ao ministério.- disse o Sr. Weasley.

De onde estava Harry não podia ver a Sra. Weasley. Mas viu o Sr. Weasley segurá-la, ao que parecia havia desmaiado.

Quantos mais mortos haveria? Sabia que direta ou indiretamente aquilo tudo era por culpa dele, as mortes desde que Voldemort voltara. Cedrico, Hermione, Hagrid, até mesmo Draco, Cho, Snape e agora também Percy.

Sentia-se cansado. A Cicatriz ainda doía um pouco. Talvez fosse melhor dormir. E enquanto ele lutava para realizar tal feito, em Hogwarts, no poço do malão de Moody o interrogatório chegava a um fim.

- Então o senhor admite aqui, perante todos esses bruxos que formam a atual Ordem da Fênix que matou e enganou todas aquelas pessoas?- perguntou Amélia Bones que desde que chegara assumira o papel de interrogadora. Tobias vinha anotando tudo desde que voltara da casa de Sirius.

- Sim.- disse Voldemort em seu tom de voz frio, e agora cansado, a frente das vestes tão sujas de sangue que parecia não haver mais do mesmo em seu corpo.- E faria tudo novamente se me fosse possível.

- Então acho que já podemos deixar esse homem morrer em paz.- disse Amélia Bones.

- Morrer em paz?- perguntou Moody que parecia indignado com a calma com que o interrogatório vinha seguindo.- Pensem no tanto de vidas que esse maldito homem tirou e desgraçou!- disse ele.

- Tem mais uma coisa que eu gostaria de saber.- disse Tonks.

- Diga Ninfadora.- disse Amélia.

- Porque você se rendeu, agora, já no final de tudo?- perguntou ela para Voldemort.

Ele se virou para ela. Os olhos brilhando com a mesma malícia e crueldade de sempre.

- Um grande bruxo conhece os seus limites, jovem mestiça de sangue ruim!- disse ele. Sirius murmurou qualquer coisa sobre insultar Tonks.- Até mesmo um grande bruxo das trevas, como eu.- completou sorrindo.- Se eu reagisse...- continuou.- Se tentasse lutar contra Alvo Dumbledore...Isso tudo só mancharia a minha reputação, a minha morte, mancharia tudo com vergonha!

Dumbledore sorriu.

- Como já disse aqui, perante todos vocês, Alvo Dumbledore foi o único bruxo que eu temi durante toda a minha vida, e eu sei que fui um louco por desafiá-lo nessa guerra. Eu era como um aprendiz lutando contra o mestre dos mestres em Magia!- continuou ele. Estava sério.- Se eu reagisse e não morresse pelas mãos de Dumbledore, os bruxos dele que estavam do lado de fora desta sala, aí em cima, cairiam sobre mim, e sei que eles não teriam piedade em me matar...Como eu nunca tive piedade em matar ninguém!

Todos estavam em silêncio.

- Seria muito desgostoso para mim, morrer ali, naquela hora, pelo acaso!- continuou ele.- E, se mesmo assim eu passasse por todos aqueles bruxos ali presentes e conseguisse voltar à casa de Lúcio, nada me faria sobreviver por muito mais tempo.- Ele suspirou.- Conheço o poder letal das armas dos centauros. E por mais que criaturas como os Dementadores e os Gigantes estivessem do meu lado, os centauros não estavam. Eles não são seres da guerra. Por isso não costumam se envolver nela.

- Vejo que você, Tom, apesar de tudo, é um grande bruxo com palavras.- disse Dumbledore sorrindo.

- Apesar de tudo eu tenho honra, Dumbledore.- disse Voldemort.- E um bruxo de honra sabe admitir quando perdeu. Como você fez, após o meu estrago na escola, admito que achei ter ganhado a guerra depois que você fechou a escola.

- Mas o mundo dá voltas, Tom.- disse Dumbledore.

- Sim, ele dá!- disse o outro.- Agora creio que já chegam de perguntas. Odeio me sentir como uma atração de zoológico, todas essas pessoas me olhando.- completou fazendo cara de desgosto.

- Tens razão.- disse Dumbledore se erguendo.- Acho que podemos partir para os comensais agora. Deixem-no morrer em paz, e Amélia, prepare o tribunal dez.

- E depois de julgados, o que faremos com os comensais, Dumbledore.- Perguntou Quim.

- Vamos para Azkaban assim que este homem der seus últimos suspiros.- disse Dumbledore.- Aquela prisão ficará mais segura do que esta escola.


****


Enquanto dormia Harry tinha sonhos confusos. Via pessoas mortas. Snape, ainda com o punhal no peito; Cho se contorcendo de dor, Hagrid com flechas fincadas por todo o corpo; Cedrico com os olhos parados; Draco com a espada na barriga; e até Percy, com um X no peito e o mesmo olhar parado de Cedrico; Belatriz com as veias extremamente roxas; e então por último viu Hermione, do mesmo jeito que a vira após morrer. Porém estava de pé, e andava como um espectro, ainda com a flecha no ombro e a espada na cintura. Só então foi que Harry viu que todos marchavam na direção dele. Ele quis gritar, mas sua voz não saiu. A Cicatriz doía. E então num último momento do pesadelo ele viu Voldemort com a flecha cravada no peito rindo dele. Então o último arrancou a flecha do próprio peito e também começou a marchar na direção de Harry.

- NÃO!!!!- gritou ele.- VOLDEMORT NÃO!!!!!!

E então tudo sumiu e ficou escuro. Harry abriu os olhos e se assentou na cama. Estava ensopado de suor. Não estava mais a enfermaria. Estava, agora, em algum lugar onde era tudo claro, desde o chão até a madeira da cama e a roupa do garoto. A cicatriz não doía mais.

- Alguém aí?- chamou ele observando o lugar. Não havia parede nem teto ou céu, apenas uma imensidão branca.

E então Hermione apareceu do nada. Harry se assustou ao vê-la. Não estava mais como no pesadelo que acabara de ter. Parecia feliz e estava muito bela. Também trajava vestes brancas.

- Olá Harry!- disse ela sorrindo.

- Hermione?!- perguntou o garoto sem crer no que estava acontecendo.- É você?

- Sim.- disse ela com a voz doce.

- Onde eu estou?- perguntou.

A garota indicou o lado esquerdo do peito de Harry.

- Eu morri?- perguntou Harry.

- Ainda não chegou a sua hora, Harry.- disse ela.

- Mas...- fez o garoto, por um momento feliz ele acreditou que tinha morrido durante o sonho na enfermaria de St. Mungus e que agora estava reencontrando a namorada.- Eu já fiz tudo o que você pediu. Já consegui destruir Voldemort, não foi?

- Sim.- disse Hermione.- Ele já se foi, depois de horas de depoimentos.- ela sorriu novamente.- Mas a sua tarefa ainda não terminou. Você tem de voltar.

- Eu não quero, Mione!- disse Harry tentando tocá-la. Ela recuou.

- Volte agora, Harry.- disse Hermione.

- Não!- repetiu Harry.

- Você não tem escolha.- disse Hermione calmamente.- Deite-se e feche os olhos.

Harry pensou por um momento. Deveria estar sonhando. Acabou obedecendo e quando reabriu os olhos estava de volta em St. Mungus. Já era noite. Ele se assentou na cama. As costelas não doíam mais. A dor na cicatriz também cessara.

- Ah! Você acordou!- disse Neville.

Harry então ouviu um som de vozes misturadas tão alto quanto na recepção do hospital.

- O que está acontecendo?- Perguntou Harry indicando a porta fechada.

- A revista do pai de Luna publicou a notícia sobre o fim de Voldemort.- disse Neville.- O próprio Dumbledore escreveu a matéria. Todos querem nos ver. Principalmente a você.

Harry olhou para o leito ao lado do seu.

- Onde está Rony?- perguntou Harry.

- Está em um outro quarto junto com a Sra. Weasley.- disse Neville.- Percy Weasley foi morto no ministério.

- E os adultos?- perguntou.

- Alguns passaram por aqui, mas já se foram. Muitos nem apareceram.- disse Neville.- Parece que está acontecendo o interrogatório dos cinco comensais que foram capturados em Hogwarts.

- Gina não acordou?- perguntou Harry olhando a garota.

- Não.- respondeu Neville.

Ouviu-se a porta se abrir. Remo estava parado defronte dela impedindo as pessoas espremidas ali tentando entrar. E então Sirius se espremeu ao lado de Remo e escapuliu pra dentro.

- Como vai o nosso herói?- perguntou ele.

- Estou melhor agora.- disse Harry.- Foi você, não foi?- perguntou lembrando-se do latido que ouvira antes de desmaiar.

- O que?- perguntou Sirius sorrindo paternalmente para o garoto. Parecia feliz.

- Que apareceu antes deu desmaiar.- disse Harry.

- Ah! Foi sim!- disse Sirius.

- Eu achei que talvez pudesse ter ouvido um latido irreal.- disse Harry.- Mas então era você.

- É!- fez Sirius. Neville conversava com Dino que havia entrado logo após Sirius.- Também quero lhe fazer uma pergunta.

- Diga.- disse Harry.

- Na realidade são duas.- informou Sirius.- Agora que tudo isso acabou, quero dizer, a guerra e a perseguição a vocês, queria saber se quer vir morar comigo.

Se aquela pergunta fosse feita alguns meses antes Harry toparia na hora. Mas aquela casa era muito mais do que simplesmente a casa de Sirius. Era um lugar cheio de lembranças. Principalmente de Hermione.

- Não sei.- disse Harry e sentiu-se ainda mais vazio ao ver a cara decepcionada do padrinho.- Sabe, não sei se quero viver em um lugar em que a todo o momento eu vá me lembrar de Hermione.

- Eu entendo.- disse Sirius.- Talvez possamos nos mudar.- completou.- Mas creio que queira voltar para Hogwarts e terminar os estudos antes.

- É!- concordou Harry.- E a outra pergunta?

- Queria saber porque você nunca me contou sobre Isabel?- perguntou Sirius.

- Sobre Isabel?- perguntou Harry sem entender.

- É.- disse Sirius levemente tristonho.- Você deve se lembrar da conversa que tivemos antes de você sair do luto. Sobre o meu amor do passado. Pois então, eu estive conversando com Belatriz, antes dela tomar o veneno para se matar, conversando sobre o nosso passado mal resolvido...

- Ela te contou sobre Isabel ser sua filha?- perguntou Harry, Sirius fez que sim com a cabeça.- Achei que ela era quem devia lhe contar.- completou.

- Entendo.- disse Sirius.

- Até quando vou ter que ficar aqui?- perguntou Harry.

- Creio que até esse pessoal desistir de vê-los.- disse Sirius.

E foi assim. Duas horas mais tarde Rony voltou para a enfermaria. Disse que a Sra. Weasley estava inconsolável e que até seu pai se entristecera. Pouco tempo depois os dois foram dormir. Harry teve um sonho mais tranqüilo dessa vez. Acordou muito cedo no dia seguinte. A porta estava aberta e já sem a multidão de gente se espremendo para tentar entrar. Rony ainda dormia assim como os restantes, exceto Neville que entrou afobado, meia hora depois, já vestido normalmente.

- Harry!- disse ele sorrindo de orelha a orelha.- Meu pai! Ele falou!

- Sério?- disse Harry.- Que bom!

- É!- disse Neville.- Fui visitá-los logo que acordei. Contei sobre os últimos acontecimentos. Contei que Voldemort caíra e que eu havia salvado a vida de Gina Weasley estuporando Lúcio Malfoy e então ele disse: Estou orgulhoso de você!

Harry sorriu para o garoto. Nunca vira Neville tão feliz.

- Harry, você poderia vir ver meu pai?- perguntou Neville.- Acho que ele ficaria feliz em vê-lo.

- Posso sim.- disse o garoto forçando um sorriso simpático. Na verdade não estava muito com vontade, mas não queria desapontar Neville.- Espere só até eu me trocar.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.