Neve Vermelha
- VAMOS EMBORA!- gritou o Centauro chefe. Lupin largou a vassoura no chão e deu mais alguns passos para frente deixando-se cair de joelhos na neve.
- Acabe com você- sabe- Quem, Harry!- sussurrou Hagrid.- E diga a Dumbledore que Growp está do nosso lado agora.
Hermione e Gina se aproximaram também. Rony tinha Neville apoiado nele e em Luna.
- Oh Hagrid!- disse Hermione, lágrimas escorriam por seu rosto, seu ombro sangrava.
- Cuide do Growp, Hermione.- disse ele.- E faça esse moleque feliz.- ele forçou um sorriso mas a dor que parecia sentir fez ele se contorcer em uma careta.- Diga a Olímpia que eu a amo, Remo.- e após dizer isso seu rosto tombou, os olhos arregalados.
Podia-se ouvir o barulho de cascos já distante agora.
- O que aconteceu com Rúbeo Hagrid?- perguntou Zacarias Smith que vinha correndo com Parvati.
- Ele está morto.- disse Gina com a voz fraca.
Lupin se levantou e guardou a varinha. Harry chorava silenciosamente.
- O que faremos agora, professor?- perguntou Parvati.
- Os comensais não vão voltar!- disse ele.- Já estavam a quilômetros daqui quando os alcançamos e eles aparataram assim que puderam.
- Mas e os outros?- perguntou Neville que parecia ter um pé quebrado.
- Você vem comigo!- disse Lupin passando um dos braços de Neville em seu ombro.- Recolham os outros e voltem ao castelo.
- E Hagrid?- perguntou Hermione limpando as lágrimas.
Lupin sacou a varinha, girou-a e uma maca apareceu suspensa no ar.
- Coloquem-no aí.- disse ele.
Harry, Rony, Zacarias, Hermione e Gina fizeram o serviço e eles observaram Lupin e Neville sumirem na escuridão. Recomeçara a nevar.
- O que faremos agora?- perguntou Zacarias.
- Simas e Justino estão bem?- perguntou Gina.
- Sim!- disse Parvati.- A Profª. Sprout apareceu assim que nós entramos no castelo, ela seguiu com os dois.
- Cho, Antônio e Terêncio estão naquele túnel!- disse Zacarias.
- Vamos nos dividir novamente!- disse Harry.- Eu, Gina e Hermione vamos para as estufas procurar os outros. Vocês quatro vão buscar os três.
- Ok!- fez Rony limpando com a manga das vestes meio rasgadas um filete de sangue que lhe escorria pela costeleta.
Harry, Hermione e Gina seguiam calados. Estavam na metade do caminho, onde antes os primeiros comensais apareceram quando Draco surgiu de trás de uma árvore. Ele vinha com uma espada na mão e parecia bem perto de estar "bêbado".
- Verifiquem se ainda há comensais por aqui!- disse Harry.
- Cuidado, Harry!- disse Gina sacando sua varinha.- Ele também é um comensal!
Hermione e Gina entraram entre as árvores que havia ali indo em direção às estufas, Hermione narrava resumidamente a história de Sirius. As varinhas acesas em punho.
- Olá, Potter!- disse Draco.
- Vejo que não tem medo mesmo de morrer!- disse Harry.
- Digamos que se eu não matá-lo eu morrerei!- disse ele erguendo a espada.
- Acha que vai me vencer com isso?- perguntou Harry.
- ISSO é a espada de Salazar Slytherin!- disse Draco. Harry riu mas então Draco golpeou a espada para frente fazendo-o recuar.- Como pode ver o MEU LORDE me mandou armas poderosas, ao contrario do seu!
Harry então se lembrou nitidamente da espada de Gryffindor na parede da sala de Dumbledore.
- Accio espada!- gritou e em poucos segundos a espada surgiu voando no meio da escuridão.- Você quer uma luta de espadas?- completou sorrindo.
- Garanto que você não tem chances de ganhar de um garoto que pratica esgrima desde os sete anos de idade!
E logo os dois começaram uma luta de espadas. Essas por sua vez soltavam faíscas todas as vezes em que se atritavam.
****
- Não há mais ninguém aqui, Gina!- disse Hermione.- Sirius, Isabel e Tonks devem ter levado os que estavam aqui!
- Mas então vamos também, você tem que tratar deste ombro.- disse Gina indicando o ombro de Hermione, o lugar onde a flecha atingira estava meio esverdeado agora.
- Não!- disse Hermione.- Não podemos deixar o Harry sozinho com o Malfoy lá!
****
Harry golpeou com a espada para frente. Draco desviou. Harry viu pelo canto dos olhos o vulto de Hermione chegar, Gina em forma de gato ao lado dela. No segundo de distração Draco se recuperou e voltou pra cima dele. Ele bloqueou o golpe com a própria espada. A espada de Draco raspou a sua e desceu até sua canela abrindo ali, pouco abaixo do joelho, um profundo corte. Harry cambaleou alguns metros para trás. Ele viu Gina já, na forma humana, vir se aproximando por trás de Draco. Harry chegou a cair na neve que foi salpicada pelo sangue que escorria por sua perna. Mas então superando a dor na perna ele se reergueu e lançou a sua espada que voou até Draco o atingindo pouco abaixo das costelas. Draco que girava a espada no ar afrouxou a mão e esta escapuliu cortando o ar da madrugada com um zunido seco.
Harry não conseguia enxergar muito além. Estava muito escuro e nevava. Ele viu Draco cair de joelhos na neve, que agora se manchava rapidamente de vermelho, e depois tombar para trás. Ele ouviu um miado e depois um grito. E então apalpou os bolsos e se levantou. Quando finalmente conseguiu acender a varinha foi que pôde entender o que acontecera. A espada de Draco atingira Hermione do lado esquerdo da cintura, e a espada, mágica como deveria ser, lançara a garota até a árvore mais próxima.
- MIONE!- gritou Harry e o mais rápido que sua perna ferida permitiu ele correu até ela.
- Acalme-se, Mione!- dizia Gina que parecia muito pálida, o cabelo coberto de neve.- Temos que retirar a espada, Harry!
Hermione arfava e gemia de dor.
- Você ficará bem, meu amor!- disse Harry tirando o floco de neve que acabara de cair no rosto de Hermione.
- Ai!- gemeu Hermione.
- Puxe a espada, Harry!- disse Gina.- E eu segurarei Hermione.
Harry tentou, mas a espada havia atravessado a cintura de Hermione e se enterrado no tronco da árvore.
- Não consigo!- disse Harry.- A minha perna!- justificou.
- Tente com mais força.- disse Gina.
Harry então apoiou a perna ferida na árvore e com toda a força que conseguiu encontrar ele puxou a espada. Ele ouviu um imenso grito de dor de Hermione e em seguida caiu pra trás com a espada. Gina não agüentou o peso de Hermione e as duas caíram no chão. Rapidamente a garota ajoelhou-se na neve e esticou Hermione.
- Não vou agüentar, Gina.- gemeu ela.
- Mione!- disse Harry que se arrastara até elas. A única luz que havia ali era a da varinha dele caída em meio à neve.
- Desculpe, Harry!- disse ela.- Desculpe por não poder sobreviver para nos casarmos.
- Shhiii!- fez Harry levantando um pouco o rosto de Hermione para frente.- Você vai ficar bem, levante-se Gina, vamos levar Hermione para a enfermaria.
- Não!- disse Hermione segurando o braço de Gina.- Não vou agüentar.
Harry olhou para Gina desesperado. Ele viu que a garota chorava.
- Eu sinto muito, Gina!- disse ela.- Sinto por tudo! Por ter deixado você se envolver com aquele traste, por não ter conseguido me transformar em uma animaga junto contigo. Me desculpe por tudo o que eu poderia ter feito por você e não fiz!
- Não me peça desculpas, Mione!- disse Gina acariciando o rosto pálido da amiga.- Você foi a melhor amiga que alguém pode um dia conseguir ter! Não se culpe por nada! Se algumas coisas em nossas vidas deram errado era porque tinham que dar!
Hermione tentou sorrir.
- Obrigado, por ter me ensinado a ser como você era. Por ter me mostrado virtudes, por ter me ajudado a descobrir e a usar a inteligência que nem eu sabia que tinha. Obrigado por ter me transformado em quem sou hoje! Sei que se não fosse por sua amizade e por seu apoio eu teria continuado aquela garota fútil que eu era.
- Me dê um abraço, Gina.- disse Hermione. Grossas lágrimas escorriam pelo seu rosto também. Gina obedeceu.- Eu estou com frio.- disse Hermione.- Eu estou morrendo, Harry.- completou se virando para o garoto.
- Você não pode fazer isso, Mione.- disse Harry chorando enquanto tirava o casaco.- Tome, se aqueça.- completou cobrindo Hermione com o casaco.
Eles ouviram um grito de Draco. Gina se arrastou pela neve até a espada cravejada de esmeraldas no cabo.
- Me beije, Harry!- disse Hermione.- Me beije.
Harry obedeceu. Mas aquele não foi o beijo quente como costumava ser. A boca de Hermione estava extremamente fria e havia uma mistura de lágrimas e sangue ali. Enquanto os dois estavam grudados pelos lábios Gina se levantou segurando a espada. Ela a girou no ar. Sentia um enorme vazio por dentro. Sentia frio também. E sua mão chegava a arder com o frio ainda maior que tinha o metal da espada. Ela caminhou alguns metros. O dia começava a dar sinais de que ia nascer, deixando a noite mais clara. Logo viu Draco.
- Gina!- gemeu ele.- Gina! Desculpe, por tudo, Gina!
- Você matou Hermione!- disse Gina enquanto tocava, com a ponta da espada o peito de Draco.
- Eu sei, me desculpe, Gina.- disse Draco.- Eu também vou morrer. E isso dói, Gina! Isso dói! E eu não quero morrer, eu não quero.
- Você não merecia morrer, Draco! Você merecia algo pior!
- Eu sei, eu sinto muito, Gina.- gemeu Draco.- Mas acabe logo com isso. Termine de me matar! Eu lhe amo, Gina! E prefiro morrer por suas mãos a ficar aqui sentindo frio até que minhas forças se esgotem!
- Você não está em condições de fazer reivindicações, Draco!- disse Gina.
- Realize o meu último desejo e acabe logo com isso!- disse Draco.
Gina fechou os olhos e apertou as mãos no punho da espada. Respirou fundo e então num impulso enterrou e tirou a espada do peito de Draco rapidamente. Ele soltou um grito e então Gina jogou a espada longe e se deixou cair ao lado dele.
- Eu lhe amei tanto, Draco!- disse ela.- Tanto...
- Eu também!- disse ele segundos antes de sua boca começar a escorrer sangue.- Se eu estou aqui, morrendo, hoje, é- é por você, Gina! Foi por vo- você que me tornei um....
Mas ele não terminou a frase. Ele nunca terminou a frase. Seus olhos, que no mesmo dia estavam cheios de malícia, agora estavam vidrados em uma expressão medonha de dor. Gina acariciou o rosto gelado do garoto. Em seguida se curvou sobre ele dando-lhe um selinho. Então se levantou e voltou para Hermione. Harry acabara-se de se reerguer.
- Prometa-me Harry.- disse Hermione.- Que não vai deixar isso acabar com você, que vai continuar a sua vida sem mim.
- Não há vida em mim, sem você ao meu lado, Hermione!- disse Harry, as lágrimas desciam livres por seu rosto. Ele sentia uma enorme dor dentro de si que somada à dor na perna se tornava quase insuportável, mas ele não estava ligando para dor alguma agora.
- Eu nunca lhe deixarei totalmente, meu amor.- disse Hermione tomando a mão de Harry.- Eu estarei sempre em seu coração.
Harry sentia a neve cair em seus cabelos.
- Gina, diga ao Rony que agora, mais do que nunca ele deve me esquecer!- disse Hermione segurando uma das mãos ensangüentadas de Gina.- Diga a ele, também, para nunca desistir. Diga que eu confio nele, e que quando essa maldita guerra acabar ele será um grande homem! Um grande Bruxo! E diga a ele para dar apoio ao Harry pois ele vai precisar!
Ela apertou os olhos de dor.
- E peça desculpas a Profª. Minerva por mim, por eu não viver o suficiente para ela me indicar para o cargo de monitora chefe.- continuou Hermione.- E diga ao Vítor para dar apoio aos meus pais! Ah! E conte ao Sirius que Isabel é filha dele!
Ela se virou novamente para Harry.
- Me perdoe por eu ser quem sou, Mione, por eu ter te colocado nessa luta.- disse Harry.
- Você não deve se preocupar em pedir perdão por nada.- disse Hermione com a voz fraca.- Você é perfeito, Harry! Quando eu chegar ao outro lado e encontrar...- ela se curvou para os braços de Harry com dificuldade.- E encontrar seus pais, sua mãe! Eu direi a ela que ela ficaria orgulhosa de você se ainda estivesse aqui. Pois você é o maior bruxo que eu pude um dia imaginar que existiu.
- Eu não vou conseguir viver sem você!- choramingou Harry.
- Vai sim!- disse Hermione.- Você é forte! E as pessoas precisam de você, Harry. Faça que a minha morte tenha valido a pena. Viva! Viva para que as pessoas ainda tenham esperanças. Viva para que Voldemort nunca obtenha uma vitória definitiva! Não deixe que ele mate você, Harry. Não deixe que nada mate você! Pois você é único, você é o único que não pode nunca morrer! Você é o Harry! Você é o meu Harry! Você é Harry Potter e você foi e sempre será o menino que sobreviveu! Ai!
Ela tossiu.
- Está acabando.- disse ela.- Feche meus olhos quando eu me for. E desculpe mais uma vez por eu não ter sobrevivido para fazer nascer o Sirius e a Laura Potter!
- Você não pode ir Mione!- choramingou Harry.- Eu não vou agüentar a dor de perdê-la!
- Você sobreviverá, Harry!- disse Hermione antes de tossir novamente.- Está frio aqui.
Gina fechou os olhos por alguns segundos como se quisesse aliviar uma imensa dor.
- Está escuro também.- disse Hermione fechando os olhos também.- E há pessoas em volta de nós que nos observam sorrindo! Elas não estão com frio!
- Não!- repetia Harry acariciando o rosto de Hermione, esta que agora estava em seus braços sujando suas vestes ainda mais de sangue.- Não!
- Me beije novamente, Harry.- disse ela reabrindo os olhos.- Me beije uma última vez.
Harry obedeceu. Hermione sentiu os lábios quentes dele tocarem os seus novamente. Ela sentia agora aquele mesmo gosto que sentira na garganta ao acordar do sonho na última noite. Em um último flash de vida ela viu o rosto de Tonks dizer: "Queria que tivesse uma espécie de lei que proibisse a morte de pessoas tão promissoras quanto ela. É um desperdício matar gente assim." e então veio o seu próprio rosto dizendo: "Eu não temo a morte, Harry." E ela não temia. Uma das coisas pelas quais ela mais se orgulhava era por compreender a vida. E ela sabia, sabia que todo mundo tinha uma hora para morrer. E a dela era aquela. Era difícil aceitar que ela partiria e deixaria Harry...Gina...Rony para trás. Mas não tinha escolha. Não agora. Mas tivera uma morte digna. Morrera lutando. Lutando por algo que realmente valia a pena lutar. Ela ainda sentia os lábios de Harry nos seus quando sentiu a dor que sentia se esvair de seu corpo levando todo o resto junto.
Harry sentiu Hermione ficar mais pesada. Ele ficou paralisado por um momento e então se afastou e a deitou na neve.
- NÃÃÃÃOOO!!!!- ele gritou no meio de lágrimas.- NÃÃÃOOO!!!
Ele então mirou o rosto petrificado de Hermione. Os olhos castanhos arregalados. A pele muito pálida agora. Os cabelos volumosos cheios de neve. Ele a observou daquele jeito durante um minuto, minuto este que ficou suspenso no ar. Ele nunca imaginou que seria possível sentir mais dor no coração do que quando vira Sirius atravessar o véu, mas era possível. E aquela dor era horrenda! Ela ultrapassava tudo que ele sentia de forte naquele momento. A dor na perna, o frio. Preferiria ter ido no lugar dela. Mas agora era tarde. Era tarde demais. Ela não estava mais entre nós. Ela que foi a melhor aluna de Hogwarts dos últimos anos. Ela a quem ele tanto amava, que o fizera perceber que por mais cruel que fosse a vida, ela valia sempre a pena. Ela, que era única, que era Hermione Granger, e estava agora morta.
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