Quem é vivo sempre aparece
Gina não deu muito as caras naquele dia e eram cinco da tarde quando Hermione assistiu Harry, Rony, Simas e Neville rumarem para o campo de quadribol. Ela esperou algum tempo e depois, ainda com a mochila nas costas rumou para o salgueiro lutador. Com a ajuda de um galho ela imobilizou a árvore e logo estava chegando na casa dos Gritos. A varinha em punho. Ela subiu as escadas e foi até o quarto onde três anos atrás ela, Harry e Rony souberam a verdade sobre Sirius. Deixou a mochila sobre a cama e caminhou até a janela, por uma fresta entre as tábuas podia-se ver uma Hogsmead calma. Ela acabou se distraindo com a visão e quando voltou a si foi o tempo de se virar e apontar a varinha para um rapazola que se aproximava.
- Calma aí!- disse o garoto que não devia ter mais que dezesseis anos.
Hermione prendeu a respiração, quem era ele? Mantinha a varinha apontada para o peito do garoto.
- Nenhum movimento!- disse ela.
- Ok!- respondeu ele.
- Quem é você?- perguntou Hermione.
- Não está me reconhecendo?- perguntou o garoto dando um sorriso. Não! Ela não estava. Nunca tinha visto aquele rapazola em sua vida. Estava certo que ele tinha alguns traços da família Black. Os cabelos muito negros caídos nos olhos, o rosto bonito. Mas será possível que aquele era mais um bastardo?
- Não! Não estou!- disse Hermione apertando a varinha.
- Oras Hermione!- disse ele desviando de repente da varinha.
- EU DISSE PRA FICAR QUIETO!- gritou Hermione que não sabia o que fazer. É, devia ter avisado Harry.
O garoto tirou uma varinha do bolso de traz da calça larga e jogou-a aos pés de Hermione.
- Não quero machucá-la.- disse ele.
- Como sabe o meu nome?- perguntou Hermione.
- E você realmente acha que eu esqueceria o nome da namorada do meu afilhado?- disse o rapazola. Hermione gelou. Não podia acreditar no que estava concluindo. Não, dessa vez estava enganada. Não podia ser.
Ela franziu a sobrancelha, reparou nas roupas largas do garoto.
- Me poupe Hermione!- disse o rapaz se levantando novamente.- Sei que você foi a única que desconfiou que eu estivesse vivo.
Hermione tinha um enorme nó na garganta.
- Isabel está chegando, creio que ela irá lhe explicar tudo!- disse o rapazola.
- Você não pode ser Sirius Black!- disse Hermione com veemência.
- É ele sim, Hermione!- disse uma voz. Hermione se virou. Isabel estava parada à porta.- Sente-se.- disse ela indicando uma poltrona esfarrapada.
Hermione não queria muito, mas acabou se assentando por ali.
****
Draco beijou Gina. A garota correspondeu, estava se sentindo estranha. Era como se não quisesse fazer aquilo e estivesse sendo forçada. A boca de Draco estava diferente, fria e seca.
- Você sequer perguntou como foi o meu natal, Gina!- disse ele assim que se afastou dela.- Você nem quis saber, não é mesmo? Não quis saber das coisas horrendas que aconteceram comigo.
Gina queria falar, justificar, mas não conseguiu.
- Você não sabe o que aconteceu comigo, E POR SUA CULPA!- disse Draco. Ele parecia nervoso.- Veja! Veja você mesma!- ele tirou um braço da jaqueta que vestia e levantou a manga da blusa. E então Gina entendeu porque não conseguia agir como queria. Estava ali, muito nítida uma caveira com uma serpente saindo da boca, era a marca negra.- Agora eu sou um comensal, Gina! E eu não queria! Eu não queria ser um comensal! Eles me obrigaram, e agora se eu não fizer o que eles mandam eu morrerei. Por isso fui obrigado a jogar essa maldita maldição em você!
Gina lutava com todas as suas forças para conseguir mexer a boca e pronunciar alguma palavra, mas isso parecia muito além do seu poder.
****
- Acho melhor você começar a contar, Tio.- disse Isabel.- A poção da juventude acaba em sete minutos.
- Tudo aconteceu mais ou menos como você imaginou, Hermione.- disse Sirius.
- Tudo, o que?- perguntou Hermione que ainda não conseguia acreditar.
- Tonks não foi a única a ler sua mente como você achava.- disse Isabel.
- Do que você está falando?- perguntou Hermione.
- Eu também vasculhei os seus pensamentos, durante a audiência, principalmente. Tonks me deu permissão!- disse Isabel.
- Permissão?- perguntou Hermione indignada.- Eu não sabia de nada! Quer dizer, eu desconfiava! Mas não tinha certeza! E por isso ficava buscando informações!
Ela estava de pé.
- Eu estive triste pela morte de Sirius durante um período, principalmente por Harry ficar do jeito que ficou! Mas então eu acabei desconfiando que talvez Sirius não tivesse morrido. Eu achei que fingir a morte dele tornaria tudo mais fácil para a Ordem. Os aurores iriam parar de se preocupar com Sirius e iriam acabar acreditando que Voldemort voltou, pra começar, mas daí até ter a certeza de que ele estava vivo!- Ela se assentou novamente.- Eu não acredito que você é Sirius, ainda, moleque! Sirius não faria Harry sofrer tanto e atoa!- Mas quando Hermione olhou para o garoto novamente seus olhos se arregalaram. Era algo como quando a pessoa toma a poção polissuco e começa a voltar ao normal. Mas o rosto do garoto não estava mudando totalmente. Era como se a cada três segundos ele envelhecesse um ano. Até que finalmente Hermione pode acreditar no que ela temera ser verdade. Sirius estava vivo!
- Acredita agora sobre quem eu sou?- perguntou ele, sua voz estava grossa.
- Como?- perguntou Hermione.
- Você estava certa sobre o quanto seria útil se eu simplesmente morresse!- disse ele.- Eu estava sendo um inútil para a Ordem, você mesma deve ter ouvido sobre isso. E quando Gui e Tonks apresentaram o plano deles para mim eu não quis aceitar a princípio, só que então Snape chegou contando o que na época eu achei ser um monte de bobagens, era o plano de Voldemort para atrair Harry até o ministério, para o garoto apanhar a profecia. E então nós articulamos tudo para chegar lá na hora exata, salvar a pele de vocês e simular a minha morte na presença de comensais. Gui tinha nos explicado o que exatamente era aquele véu e onde, provavelmente, ele daria se uma pessoa viva o atravessasse.
- Na Amazônia.- disse Isabel.
- E então nós planejamos tudo.- disse Sirius.- Desde o ponto em que eu daria uma trégua para o Monstro correr para minha odiada prima Belatriz e contar o que restara em sua memória, pois nós tínhamos apagado boa parte dela, até a chuva de meteoros que seria a desculpa que levaria membros da Ordem à Amazônia.
- Foram vocês?- perguntou Hermione.
- Sim! Aliás, nós não, foi Dédalo Diggle.- disse Sirius.- Só que não pense que o plano deu totalmente certo! Esperávamos que Harry saísse da câmara levando a profecia a salvo e só então eu atravessaria o véu. E quando estivessem todos a salvo Dumbledore lhe contaria que eu estava morto. Mas havia mais comensais do que esperávamos e eles acabaram atrasando a saída de Harry da câmara e provocando a quebra da profecia. Partimos então para o plano B. Tonks poderia se transformar em qualquer um dos bruxos que estavam ali, e fingir assim ser um comensal que me atacaria me jogando através do véu.
- E foi isso que fizeram?- perguntou Hermione.- Tonks se transformou em Belatriz?
- Não! Belatriz logo viu o que pretendíamos, e apesar dela não ter muita certeza de que eu sobreviveria ou não se atravessasse aquele véu seria, mais lucrativo para Voldemort que eu continuasse vivo e com os aurores no meu encalço.- disse Sirius.- Ela então lançou um feitiço simples em Tonks que fez com que ela torcesse o pé e caísse impedindo-a assim de ficar em pé e simular o duelo comigo. Mas Tonks é uma bruxa magnífica e não deixou que o plano se perdesse. Ela arriscou a própria vida entrando no corpo de Belatriz.
- Tonks possuiu Belatriz?- perguntou Hermione.- Como, como Voldemort possuiu Harry mais tarde?
- Sim.- disse Sirius.
- Mas era preciso uma ligação entre as duas para fazer isso!- disse Hermione.
- Talvez.- disse Sirius.- As duas tem o mesmo sangue, o que é uma grande ligação. E Tonks é uma bruxa metamorfa, Hermione, ela é muito mais poderosa do que você possa imaginar.
Hermione não falou mais nada.
- E então, quando Dumbledore chegou, eu chamei a atenção de todos para nós. Mas por um momento eu quase coloquei tudo a perder. Eu realmente não queria fazer aquilo e por isso eu desviei do feitiço estuporante que Tonks lançou usando o corpo de Belatriz. E então ela lançou um segundo feitiço, o que me atingiu segundos antes de Belatriz conseguir expulsar Tonks soltando um grito que eu ainda pude ouvir antes de atravessar o véu por completo.- continuou Sirius.
O quarto na casa dos gritos mergulhou em profundo silêncio. As coisas agora começavam a se encaixar na cabeça de Hermione como se ela tivesse descoberto uma peça no lugar errado de um quebra cabeça e depois de concertá-la ela encontrasse imensa facilidade em fazer o resto.
****
Gina concentrou todas as forças que possuía e que não possuía. E quando Draco tocou seu rosto ela conseguiu lançar um de suas mãos no pescoço do garoto. Os dois caíram no chão. Gina ainda por cima de Draco apertando sem piedade o seu pescoço e lutando para continuar resistindo à Maldição Imperius que o garoto havia lançado sobre ela no dia anterior.
- Ti- ra es- se fei- ti- ço De mim!- Disse Gina com imensa dificuldade e então ela sentiu sua vista escurecer e caiu para o lado. Quis abrir os olhos e conseguiu. A maldição tinha sido finalizada. Draco encostado na parede da estufa arquejava.
- Como você teve coragem, me diga!?- disse ela sacando a varinha e apontando para ele.
- Me perdoe Gina!- disse ele em tom de choro.- Eu não queria fazer isso, eu realmente não queria, mas foi culpa sua! Foi culpa sua...
- CULPA MINHA?- gritou Gina.
- Sirius Black está vivo, Gina!- disse Draco.- E ele matou dois comensais. O Lorde das Trevas tinha que repor a perda de alguma maneira.
- E então você se ofereceu é?!- perguntou Gina.
- Não! Eu não queria, eu juro!- disse Draco.- Eu sempre fui a favor da purificação da raça, mas eu não queria virar um comensal da morte!
****
- E o que havia atrás do véu?- perguntou Hermione.
- Nada!- disse Sirius.- Uma eterna escuridão e um monte de nada. Era como se eu estivesse flutuando em alta velocidade, quando o efeito estuporante passou eu não me lembrava de muita coisa. E eu viajei na escuridão durante dois meses, acho. Até que meu cérebro voltou a funcionar. E eu lembrei o que eu estava fazendo ali. Eu atravessei céus e terras, Hermione, e então eu vi alguém a quem eu havia desejado rever durante os quinze últimos anos de minha vida.- Hermione viu que os olhos negros de Sirius estavam cheios de lágrimas.- Eu vi Tiago!
- Você estava morto?- perguntou Hermione.- Pois aquele véu é um lugar para os mortos não é?
- Sim, o véu é um lugar para os mortos, como um cemitério, mas ele não tem o poder de matar pessoas vivas, ele apenas conserva a alma de pessoas mortas.- disse Sirius.- Foi um momento mágico! Eu pude abraçar o meu velho e querido amigo Tiago. E então ele apareceu.
- Ele?- perguntou Hermione.
- Régulo.- disse Sirius.- Meu irmão. E ele disse que eu havia sido muito corajoso ao fazer aquilo. E foi ele que me contou sobre como eu iria sair dali. Mas eu não queria ir embora. Não depois de ver Lílian tão bem, tão bela. Eu devo ter permanecido lá por um mês, acho, até que Tiago me disse aquilo que eu temia ouvir.- Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Sirius.
- O que ele disse?- perguntou Hermione.
- "Sirius, você não devia estar aqui. Você tem que voltar, meu filho precisa de você, volte para Harry e cuide dela até que o momento de você realmente partir chegue." E então eu voltei. Fiz o caminho de volta. Eu vi as estrelas, as nuvens e o nada e quando a luz alcançou meus olhos novamente eu vi Isabel, eu estava caído no meio da floresta.- disse Sirius.- Isabel imediatamente me levou à Escola, eu estava fraco. Ela escreveu à Dumbledore e disse que eu havia aparecido. Creio que quinze dias depois Gui apareceu por lá acompanhado por Dédalo Diggle, que cuidou de arrumar uma distração para os outros. Quando Tonks chegou lá junto a Mundungo, eles começaram os preparativos para o meu retorno. A melhor idéia foi me fazer alguns anos mais jovem. Em novembro Tonks partiu com Isabel. E perto do Natal nós outros seguimos nosso rumo também.
Eles ouviram um estalido.
- Vou ver o que está acontecendo.- disse Isabel.
- Creio que você queira saber sobre Isabel também.- disse Sirius.
- É!- disse Hermione.
- Minha prima Belatriz achou que seria divertido se aproveitar de Régulo enquanto Rodolfo estava à serviço de Voldemort.- disse Sirius.- Só que a brincadeira acabou lhe enchendo a barriga. Ela logo contou à Régulo que a criança nasceria um mês antes de Rodolfo estar de volta e que se tudo corresse bem ninguém, além de Narcisa e Igor Karkaroff, os comensais que restavam como guarita na mansão, saberiam do ocorrido. Régulo era um idiota, mas sempre sonhara em ter um filho. E então decidiu que fugiria com a filha assim que nascesse. Só que Voldemort retornou antes disso acontecer. Régulo foi inocente a ponto de pedir demissão a ele para cuidar da filha. Voldemort mandou que matassem a criança assim que esta viesse ao mundo, do meu irmão creio que ele próprio cuidou. Narcisa, porém, enrolou ao máximo para dar fim na criança, acho que porque ela própria estava grávida. E ela já tinha seus cinco meses quando foi entregue a mim. Depois disso Igor fugiu. Narcisa sabia que nada de mau lhe aconteceria pois era esposa do Comensal mais poderoso que Voldemort possuía. Eu, porém, não sabia o que fazer com a garota, principalmente depois que ela apresentou os sinais de ser metamorfa. Contei então a Dumbledore. Ele mandou que seu irmão mais jovem fosse para longe com a garota. E depois disso eu nunca mais tive notícias dela ou de Abeforth. Até o natal passado. Minha prima Andrômeda tinha visitado a garota. E foi ela mesma, a Mãe de Tonks, quem nos contou que ela era uma grande bruxa. Mas que não queria voltar, pois odiava a mãe que a abandonara e tudo o mais. Mas Dumbledore sabia que mais cedo ou mais tarde Voldemort descobriria que a garota estava viva. E quando ele teve que fugir do Ministério ele foi visitá-la. Mas ela estava irredutível. Só quando eu apareci por lá foi que ela mudou de idéia.- ele sorriu.
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