Mudando os planos
Na primeira chance que Snape teve ao chegar em Hogwarts trancou-se no escritório de Dumbledore e contou tudo sobre o novo plano de Voldemort. Já era sabido que o Lorde das Trevas seqüestraria quantas crianças fossem possíveis para obter mais aliados. Apesar de saber que Voldmort atacaria Hogsmeade se as crianças fossem até lá, Dumbledore permitiu o sábado na mais espetacular cidade bruxa. Como previsto, os Comensais atacaram encapuzados, como abutres sobre carcaça podre, mas não conseguiram raptar uma criança sequer, pois os aurores e o Ministério haviam como aliados os gigantes. Para tal, a promessa de jamais serem incomodados, juntamente com a doação de extensas propriedades e certas regalias no mundo mágico, foram o preço para trazerem os gigantes para o lado do bem. Todos concordaram que para não perder mais ninguém para Voldemort aquele fora um preço razoável. Assim como atacaram, os Comensais bateram em retirada. Outros ataques a bruxos de famílias trouxas aconteceram longe dali, proposital e simultaneamente, mas o reforço chegou rápido e os Comensais não estavam conseguindo mais fazer vítimas.
Draco Malfoy, costumeiramente interesseiro, tratou de se aproximar ainda mais de Leon Pryme, apesar de já serem grandes amigos. Com isso, Draco tencionava fazer com que sua família tivesse mais prestígio perante o Lorde. O que o menino Malfoy não fazia idéia era que Voldemort não tinha interesses em um filho porque jamais aprendera a amar.
— Voldemort apenas usa as pessoas conforme melhor lhe convêm. Pode até parecer que ele tem algum sentimento por determinada pessoa, o que significa que ele pode simular o amor - Alvo Dumbledore alertava o que os integrantes da Ordem já conheciam.
— Se ele mantém Hanna prisioneira, pode muito bem exigir que ela execute os feitiços - Black falou sem levantar os olhos, o senhor e a senhora Weasley concordaram.
— Sim, poderia exigir, Sirius, mas não obrigar, porque apesar da maldição Imperius ser altamente recomendada para manipular os atos alheios, feitiços poderosos como os que Hanna utiliza só podem ser feitos em sã consciência, porque exigem força interior do executor.
— Então, nem que Voldemort quisesse, poderia obrigá-la.
— Teoricamente, não, porque assim que a maldição é quebrada e a pessoa retoma a noção do que há ao seu redor, quebra inconscientemente a barreira do conhecimento do feitiço. - Dumbledore mexeu nos óculos, limpando-os na veste, e depois de recolocá-los sobre o resto, disse: - Mas Voldemort é inteligente e se utiliza de artes das quais jamais saberemos ao certo, o que pode levar a outra teoria.
— Bem, pelo menos o bastardinho está bem protegido - Black riu, mas nenhum dos integrantes da Ordem achou graça.
Havia se passado exatamente um mês desde o cativeiro de Hanna e a promessa do Lorde de torturá-la caso nada saísse ao esperado por ele. Snape fora terminantemente proibido de ver a esposa, e na última vez em que estiveram juntos, dois dias depois da punição, os dois se alteraram e discutiram. Hanna, resoluta, ordenou que Snape tomasse Leon e fugisse para longe, para sempre. Snape, orgulhoso e alarmado, afirmou que tudo se resolveria com o passar dos dias e que confirmou que não havia melhor lugar para Leon do que ao lado de Dumbledore. As poucas vezes que Snape vira a esposa fora em companhia do próprio Lorde das Trevas, o que aconteceu duas ou três vezes. Em todas, Hanna aparentava cansaço e debilidade, a primeira hipótese de Snape era a de que Voldemort estivesse torturando-a, mas a segunda era bem mais provável, especialmente por ver a cara tão satisfeita de Pryme: Hanna pertencia a ele novamente. A única certeza de Snape era a de que Hanna estava executando feitiços de proteção, porque nem aurores nem Ministério, muito menos os integrantes da Ordem conseguiam chegar ao esconderijo do Lorde das Trevas.
Hanna não levantava os olhos quando em companhia dos outros Comensais ou de Voldemort, não pela fraqueza que sentia, mas pela vergonha e pela descrença, porque sabia que nenhum deles a ajudaria a se livrar daquela situação, nem mesmo seu marido, Snape, que se afastara completamente. Não entendia o porquê do afastamento, era ilógico já que fora ele quem a ajudara a se recuperar da punição de Voldemort pelo escape da notícia de que possuía um filho.
Voldemort entrou no quarto de Hanna, sentando ao lado dela numa das cadeiras.
— Pegamos o seu filho.
Os olhos dela se encheram de lágrimas e a dor em seu peito foi fulminante.
— Estava perambulando em Hogsmeade - sibilou rindo. - Afinal, Dumbledore não é um bom guardião, não é mesmo?
— Ele... ele está bem? - perguntou com os olhos transbordando.
— Está bem. Lúcio está com ele.
Hanna sentou por um momento, como se seu mundo desabasse por completo, segurando a cabeça com as mãos. Voldemort estalou os dedos, olhando fixamente para ela.
— Eu quero vê-lo - exigiu Hanna.
Voldemort riu alto.
— Você não tem esse direito, minha cara. Mas se você se comportar, posso pensar em permitir que em breve o visite - e terminando a frase, Voldemort se pôs de pé.
— Posso falar com Snape? - arriscou ela.
— Não vai ser possível, ele está numa missão - ele foi seco. - Sugiro que você descanse, quero vê-la magnífica no jantar.
Assim que Voldemort deixou o quarto, Hanna se desesperou. Precisava fazer algo. Precisava descobrir se o que Voldemort falara era verdade. Mas conhecendo-o como o conhecia, não era homem que precisava mentir, sempre conseguira o que queria sem precisar iludir ninguém. Mas era homem metódico e perspicaz, quem sabe tivesse inventado a história para fazê-la executar os feitiços. Se bem que os estava executando de qualquer forma, afirmando que continuaria protegendo o esconderijo se seu filho permanecesse em Hogwarts.
Hanna apareceu na sala de jantar escura, os homens que lá se encontrava levantaram, como se ela fosse um anjo que iluminasse aquele lugar sombrio. Nenhum deles falou nada, apenas a cumprimentaram com um menear de cabeça e voltaram a se sentar logo após ela. O jantar foi silencioso, parecia que os homens tinham sido proibidos ou instruídos a não pronunciarem uma palavra sequer. Ao final do jantar, somente Voldemort, Hanna e Pryme permaneceram à mesa.
— Estive pensando, Hanna, seu filho é uma garantia agora, maior do que pensei.
— O senhor sabe que eu farei o que quiser...
— Hanna - Voldemort pôs a mão sobre a dela -, o que eu quero que faça vai além do que os melhores dos meus seguidores jamais fariam por livre e espontânea vontade.
— Eu gostaria de ver meu filho.
— Já lhe disse - tornou a falar com impaciência - que seu filho está com Lúcio. Agora, vamos ao que interessa... Eu quero que baixe a guarda de Hogwarts.
Voldemort foi direto, e o efeito dessa secura atingiu Hanna como um raio; foi com a garganta seca que ela insistiu:
— Gostaria de ver meu filho.
— Não seja impertinente - avisou Voldemort. - Sabe que minha paciência é pouca... Pryme, leve sua mulher para o quarto. Faça-a aceitar por bem meu pedido, caso contrário, eu usarei minha persuasão.
O Lorde se recostou na cadeira e observou enquanto Hanna e Pryme saíam da sala e subiam as escadas quem levavam aos dormitórios. Ele abriu a porta do quarto e deixou que Hanna entrasse primeiro. Ela se sentou no batente da janela e fitou a escuridão lá fora. Pryme permaneceu de pé, uma das mãos na cintura, a outra acariciando uma foto num porta-retrato.
— Ele já está muito impaciente, porque teima em provocá-lo? - perguntou Pryme quebrando o silêncio. - Você o tem ajudado há tempos, porque simplesmente não termina isso de uma vez...
— Eu quero ver Leon! - interrompeu zangada. - Quero o meu filho comigo!
— Mulher, você não tem medo mesmo - rosnou Pryme lhe dando as costas, nervoso.
— Você poderia trazê-lo para mim, não poderia, Keneth? - murmurou, agora fitando-o.
Os músculos do maxilar de Pryme mexeram frenéticos por instantes e o passado ao lado daquela mulher lhe passou diante dos olhos. Tomado por um antigo impulso, ele se aproximou de Hanna e agachou-se ao lado dela, que continuava a fitá-lo.
— Eu amei você - ela sussurrou quase sem fôlego. - Mas veja no que se tornou...
— Eu ainda a amo - afirmou Pryme, não deixando-a falar.
— Já não somos compatíveis...
— Poderíamos tentar.
— Você me decepcionou muito.
— Posso recomeçar se você esquecer o que passou. O Lorde está mais forte do que nunca, os planos dele não têm como falhar.
— Seu fanatismo me assusta, assim como o do Lorde.
— É um novo futuro para os bruxos...
— Você não vê que ele não tem escrúpulos nem limites? É um assassino...
— Hanna, tudo vai terminar quando ele completar o plano.
— Sim. E depois? O que vai acontecer quando ele terminar o plano? Ele vai pensar em outro e em outro, e em outro...
— Mas nós estaremos bem! Somos seus aliados - então ele desviou o olhar de Hanna e pousou-os nos próprios sapatos. - E seu filho estará bem... Aceite, Hanna.
— Não posso - ele balançava a cabeça - deixar que matem Dumbledore.
— Droga, Hanna! - urrou Pryme se pondo de pé com rapidez. - Você também não é fácil.
— Fácil? O que quer dizer com isso? Sua visão do mundo é que se deturpou! Pelo amor de...
— Eu escolhi meu caminho! - rosnou arregaçando a manga da camisa, mostrando a Marca Negra. - E você também! Deveria agir como um de nós!
Hanna levou as mãos à cabeça, pôs-se de pé e se afastou de Pryme.
— Você vai ter que aceitar, Hanna. Não há escapatória. Melhor seria se fosse por bem.
Ela o encarou com toda a coragem do mundo, porque bem o conhecia e sabia do que Pryme era capaz.
— Traga-me Leon - foi incisiva - e seu mestre terá o que deseja.
No entanto, aquela não foi uma resposta suficientemente boa para Voldemort, ele queria a total cooperação de Hanna, fosse qual fosse o pedido.
Os dias se passaram e nada de Leon ser trazido ao esconderijo; nem mesmo Malfoy ou Snape apareciam, e aquilo começou a levantar suspeita para Hanna.
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