Espelho rápido



No Largo Grimmauldi, número 12, um moreno, de corpo esbelto e de olhos acinzentados, estava deitado, estendido em sua cama. Encarava as quatro paredes, enfeitadas de fotos estáticas com mulheres de biquíni e pôsteres de motocicletas. Sirius parecia chateado com a monotonia impregnada no ar de sua casa, a mansão Black.

Aquelas férias estavam sendo as piores de sua vida, afinal sua família permanecia tirana suficiente para castigá-lo, torturá-lo, e despreza-lo, como em todos os outros verões. E pior era a distância de seus amigos, que agora viajavam e se divertiam com os pais, principalmente Tiago. Seu melhor amigo não lhe escrevera, provavelmente por estar ocupado demais, sentindo saudades de sua ruiva.

- Grande amigo. – reclamou, magoado, olhando o teto. Virou-se de lado encarando o criado mudo. Nele, um porta-retrato continha uma fotografia com quatro estudantes, em preto e branco, se movimentando alegres. Sorriam e se abraçavam pelos ombros, demonstrando companheirismo.

“Companheirismo”, pensou Sirius, desgostoso, “Sei. Se tivessem mesmo juntos, em qualquer ocasião, eu não estaria aqui, tão entediado.”, ainda encarando o criado mudo, o maroto visualizou um pergaminho de aparência amassada por ser bastante manuseado. Era a carta de Laila. Suspirou lembrando-se do perfume, beleza e bom-humor dela. Não tinha mais como negar; sentia algo diferente pela Durand, estava claro. “Ainda bem que a verei este sábado. Esta festa será decisiva pra nossa situação; ou ficamos juntos ou continuaremos apenas amigos, embora isto já não me satisfaça.” Um sorriso maroto percorreu seus lábios, enquanto fechava os olhos, pensando em tirar um cochilo.

- Sirius! – ouviu chamarem seu nome, o que o fez abrir os olhos e encarar o vazio, a solidão do quarto. – Almofadinhas! – escutou novamente. Ele se levantou, indo ao guarda-roupa, abriu-o e retirou um espelho de uma gaveta (a primeira, que era a das cuecas). Lá, ao invés de sua imagem aparecer, tinha uma pessoa diferente, conhecida, dos cabelos negros e espetados, usava óculos e tinha os olhos esverdeados e o mesmo sorriso maroto que antes Sirius tinha em seu rosto.

- Tiago! – respondeu surpreso, olhando fixamente o amigo – Faz séculos que não nos falamos! Que aconteceu? Esqueceu do seu amável amigo? – Sirius sentiu a angustia transparecer em sua voz, junta da insatisfação. Tiago sorriu em resposta, erguendo as sobrancelhas.

- Saudades cachorrinho? Que meigo! – caçoou, olhando para o lado esquerdo e dando uma risada. Sirius revirou os olhos. Tiago voltou a encará-lo – Belas cuecas, meu caro. – riu mais uma vez, olhando para o lado esquerdo.

- Engraçadinho! Seu veado, podia ter entrado em contato antes! Aposto que suas férias estão ótimas, até me deixou em segundo plano! – voltava para a cama, se deitando de barriga para cima, ignorando o ‘elogio’ sobre suas roupas íntimas.

- Ora, deixe de cena, canino! – fala Tiago, fazendo pouco caso e abanando as mãos, impaciente – Escute, você vai ao aniversário da Lalita? Já tem um plano de como ir? Posso te ajudar, cara. Eu queria muito falar contigo... estou com saudades. – Tiago tentou não transparecer a franqueza e Sirius fingiu levar na brincadeira. Era incrível como ambos se entendiam.

- Também senti, Pompom! – brincou, dando um sorriso sincero e uma piscadela. Tiago abrira a boca para responder, com um semblante falsamente apaixonado, quando outra voz ressoou.

- Por Merlin! Chega de tanto amor, estão me envergonhando. – esta voz era cansada, risonha e grossa, de alguém com seus dezesseis anos. Tiago ria, enquanto Black o encarava indagador, com a sobrancelha erguida. O primeiro passou o espelho para a outra pessoa, e o semblante divertido (mesmo com olheiras descomunais) de Remo se tornou visível.

- Olha quem temos aqui! – anunciou Sirius, como se fizesse uma propaganda de um produto - Remo Aluado Lupin, outro que me apagou da memória. – fingiu indignação, mas seria impossível senti-la com os amigos ‘presentes’.

- Quer dizer que sentiu minha falta? – sorriu o maroto, encarando o outro, agora sentado na cama.

- Claro! Mas... o que faz na minha casa? – brincou. Tiago tomou o espelho da mão de Lupin.

- Como assim na sua casa? – Remo pega o espelho de volta.

- Uma rápida visita, não sinta ciúmes. E você sabe que a minha sogra Walburga Black me ama.

- Claro! Ela está morrendo de saudades suas! – Sirius imitou uma voz feminina, tirando os cabelos dos olhos de modo bem feminil, o que arrancou uma risada de Remo, os dois ignorando interferência de Tiago.

- Tudo bem, saindo daqui, dou uma passado no teu quarto. – piscou em resposta. Tiago toma o espelho pra si, novamente.

- Chega! – ordenou, com cara amarrada – Estou com ciúmes! – fez beicinho, os outros dois riram. Remo abraça Tiago enquanto Sirius os assiste, sem conseguir conter o riso.

- Não fique! Almofadinhas e eu temos uma pequena aventura comparada ao nosso amor!- Sirius se sente estremecer e gargalha, com lágrimas nos olhos.

- Sobrei. – conclui, olhando o teto, já tão analisado durante as férias que conhecia cada rachadura. Por diversas vezes desejou que ele caísse em cima dos parentes.

Sirius ouviu passos, alguém subindo as escadas para o quarto. Bateram à porta logo em seguida.

- Pettigrew está aqui. – anunciou Régulo, se afastando. Sirius se levantou, destrancou a porta e deixou-a aberta. Não demorou muito e Pedro apareceu, fechou a porta ao passar, lacrando-a magicamente, como antes estava. Os amigos se abraçaram fraternalmente, devido o tempo de separação, e sentaram-se à cama, pegando o espelho que fora deixado ali. Pedro sorriu para Pontas e Aluado.

- E aí?! – cumprimentou, o rosto colado ao de Sirius, para que ambos pudessem ver e participar.

- Rabicho! – responderam, se unindo como os amigos.

- Aluado, o que faz na casa do Pontas? Pensei que fosse lua cheia. – Pedro se aconchegava na cama e Sirius se deitava com os olhos fechados. Ele soltou um muxoxo.

- Estão se divertindo, Rabicho, sem nós dois por perto. – Tiago revirou os olhos, dando um suspiro e se afastando.

- Desculpe Almofadinhas, se o Aluado e eu nos reunimos para discutir uma maneira de Sua Burricidade ir para o aniversário da nossa morena. – Sirius abriu os olhos e encarou Tiago, lutando contra o riso.

- Nossa morena? – sua sobrancelha direita se ergueu – Acho que você quis dizer minha morena.

Pedro, Remo e Tiago se entreolharam com ares de riso. O segundo se adiantou dizendo:

- Possessivo nem um pouco, não? Que está acontecendo? Porque você jamais manifestou tanta obsessão. – Remo permitiu-se rir, enquanto Sirius escolhia as palavras apropriadas.

- Bem, todos saberão no aniversário dela, e somente lá. Por isso, meus caros, não adianta fazer um interrogatório agora. Aguardem. – completou dando uma piscadela, o que fez os marotos erguerem os olhos para o alto. Tiago, analisando a situação voltou a encarar seu amigo canino, com as sobrancelhas arqueadas.

- Almofada, você não acha complicado aparecer em um lugar que nunca esteve antes e sem um plano de fuga? – Sirius refletiu por alguns segundos, dos quais Remo e Pedro discutiam como Walburga era preconceituosa, afinal, apenas Pedro, com a família “impecável” poderia ser bem-vindo na mansão. Por fim, Sirius falou lentamente, ainda pensando na questão.

- Bem... eu posso escapar daqui e ir para sua casa, daí podemos chegar na festa juntos. Mas o problema é... como escapar... – coçou o queixo, ainda absorto. Tiago mexia na ponta do nariz, também pensativo. Remo agora analisava a situação, com o cenho franzido. Pedro umedeceu os lábios, seu semblante demonstrava esclarecimento.

- Olha, Almofadinhas, você pode dizer que vai dormir na minha casa. Quer dizer, sua mãe gosta da minha por sermos uma família respeitável, assim ao invés de ir para casa do Pontas, pode ir comigo, tornando tudo mais simples. – deu de ombros enquanto os três se entreolhavam. Era uma ótima idéia. Vinda de Pedro.

“Meu Merlin! Pedro dando uma brilhante contribuição! O que a amizade não faz?” admirou-se Sirius, em seus pensamentos, encarando o garoto gordinho e estranho, sempre protegido pelos amigos, sem poderes espetaculares. Aquele amigo que todos diziam ser esquisito demais, até chegava a levantar suspeitas infundadas. Porém, uma sombra de orgulho surgiu. Não era bem orgulho, por ser algo particularmente pequeno, mas por ser extremamente protetor (e ciumento), assim como Tiago, Sirius sentia alegria por qualquer coisa que envolvesse seus melhores amigos.

- Grande idéia Rabicho! Simples, verdadeira, em certo ponto, porque ele vai dormir lá, e a mãe do Almofada não vai poder desconfiar. – disse Remo, sorrindo para um Pettigrew corado.

- Realmente. – concordou Tiago, pegando a carta de Lílian – Já que nos decidimos, podemos falar de outras coisas mais... interessantes. – deu um sorriso absurdamente ladino. Remo revirou os olhos, com falso tédio ao perceber que ele desdobrava o pergaminho.

- Essa carta de novo, Pontas? Vocês não imaginam quantas vezes ele a leu pra mim, meu Merlin. – Tiago ruborizou um pouco, mas continuou a desdobrar a correspondência, estufando o peito de felicidade.

- Vejam bem, é um milagre! A Lily quem mandou por pura vontade! Sem pestanejar! Merlin realmente me ama! – seus olhos brilhavam loucamente e Sirius gargalhou, apanhando a carta de Laila no criado mudo, abrindo-a também.

- No meu caso, mandei doze pra receber uma. Mas tudo bem, eu sobrevivo. – suspira, passando a mão ao longo do pescoço e a barriga. Se alguma garota de Hogwarts estivesse por perto, ela morreria de ‘cobiça’ pelo desejável corpo do maroto.

- Acontece. – fala Remo, sonhador. Todos receberam cartas das meninas, mas...

- Calma, a Lua não costuma escrever para ninguém. A Alice me disse que uma vez pensou que ela tinha morrido. A Luanna sempre espera que escrevam primeiro. Acho que é a timidez. – Sirius coça o queixo ao falar, percebendo a tristeza de Remo, que apenas sorriu docemente. Adorava a timidez da loura, coisa que ele também possuía.

- Compreendo perfeitamente. – suspirou, observando os amigos, Pedro em especial, pois este ficara muito encabulado. Arqueou as sobrancelhas, achando o fato interessante – O que houve, Rabicho? – quis saber. Pedro umideceu os lábios, inspirando coragem.

- Eu e minha admiradora nos falamos durante todas estas férias de verão, sabe. Viajamos para o mesmo lugar, a Espanha, e quase tivemos a chance de nos ver pessoalmente, mas ela preferiu esperar um pouco mais. E sabe, ela mencionou a festa da Laila... – completou, sonhador, enquanto os amigos o olharam, surpresos.

- Sabe o que significa, Rabicho? – pergunta Sirius, dando um leve tapa no ombro dele, sorrindo – Quer dizer que ela é do nosso grupo de amigos! Fica mais fácil de descobrir quem é! Meu Merlin, este ano promete, sério. – admirou-se, boquiaberto.

- Realmente, Almofada. – concorda Tiago, sorrindo radiante. Remo encontrava-se absorto em suas lembranças, o modo como suas transformações não o afetavam como antes. As mudanças estavam se tornando visíveis e recompensadoras.

- Sexto ano, mais responsabilidades... – olhou para os amigos, que o encaravam descrentes – e marotagens, é claro. Acho que será nosso melhor ano.

- Assim esperamos. – concordou Pedro, agora encarando Sirius – O que faremos hoje? – este coçou o queixo.

- Que tal infernizarmos Bella e Ciça? Elas estão logo no andar de cima, conversando com o Régulo. Seria divertido atazaná-las. – sorriu extremamente malicioso, o que o outro o imitou.

- Bem, então, acho que já vamos, certo, Aluado? – Tiago se vira para o amigo que afirma positivamente com a cabeça. Volta-se para os outros – Vamos para uma partida de quadribol, aqui na vizinhança. Serão os Pantaneiros contra os Abelhudos. Um clássico do vilarejo Goodays. Me chamaram para jogar como apanhador, já que o dos Pantaneiros está hospitalado por causa de uma briga familiar. – completa, transparecendo o ego inflado o que fez Sirius revirar os olhos – Mas minha mãe não deixou. Daí, vamos só assistir.

- O que agradeço à tia Rebeka. – completou Remo, segurando o riso ao olhar pouco satisfeito de Tiago – Seria tedioso ouvir os lances depois da partida, narradas pelo narcisista aqui. – indicou o amigo com a cabeça. Este apenas fez pouco caso, dando e ombros.

Despediram-se, cada qual se dirigindo aos afazeres. Todos muito ansiosos pelo novo ano letivo, daqui duas semanas.

N/A: Céus, eu simplesmente evaporei! Desculpa, sério! É a escola sabe... Mas não se preocupem pois vou recompensá-los com mais um capítulo. Desculpa mesmo gente.

Padfoot e Lily

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