O aparecimento, inesperado, de
A noite estava mais fresca do que pensara quando saiu de casa dos Dursleys. O ar parecia querer lhe congelar os pulmões de cada vez que respirava e não sentia nem a cara nem as mãos. Era estranho estar um frio de congelar quando ainda se encontrava no final de Agosto e Harry voltou a esfregar as mãos enquanto observava a rua quase deserta. Não era de estranhar que assim estivesse, afinal já passa das 22 horas. Podia sentir medo de andar sozinho a uma hora daquelas com a escuridão da noite a servir de camuflagem para algum ataque, mas por algum motivo isso não lhe importava. Estava cansado, cansado de se esconder de algo que acabava sempre por acontecer, por mais que ele tentasse fugir. Era irónico, pensar que grande parte da sua vida foi reservada apenas para fugir. Teve de fugir do Dudley e dos amigos dele quando estes lembravam-se da sua existência e de como era divertido utiliza-lo para descarregar a raiva... sim Dudley não perdia uma oportunidade para demonstrar o quanto era bom em boxe e demonstrava-o em Harry. Teve de fugir do tio Vernon e da tia Petúnia tentando parecer o mais invísivel possível e quando finalmente a vida parecia-lhe sorrir e pela primeira vez se sentiu feliz, teve de continuar a fugir. E fugiu, fugiu com todas as forças que pode mas a cruel realidade abateu-se sobre ele... nunca fugiu de verdade, não podia fugir e ter pensado que o poderia fazer foi apenas uma ilusão.
Sentia-se vazio.
As luzes amareladas dos candeeiros iluminavam o parque. Um parque devia ser agradável mas aquele não. Estava coberto pela neblina da noite e parecia fantasmagórico, era intimidante mas não para Harry que costumava, muitas vezes, sentar-se num dos baloiços e pensar no que aconteceu o ano passado. Uma profecia... a vida inteira dele resumia-se a uma profecia! Iria morrer, era o mais provável, mas não era disso que ele mais tinha medo, o que ele temia acima de tudo era do que significava ele morrer. Quase toda a gente depositava nele uma esperança, a única esperança de os poder livrar das Trevas, mais precisamente de Voldemort, mas a questão era “E se ele falha-se? O que seria de todos? O que seria dos seus amigos?”. Tinha muito medo, mesmo muito medo do que poderia acontecer caso ele morresse.
Abanou a cabeça para afastar os pensamentos. Desde que recebera a notícia só conseguia pensar nisso e tinha consciência de que não devia se infernizar a pensar nisso tantas e tantas vezes, remoendo o assunto por todos os poros do seu corpo, já chegava ter de se preocupar com isso na hora em que acontecesse.
...Enfim, a vida de Harry Potter nunca foi normal e ele sabia que nunca o iria ser.
Um estrondo perto de uns arbustros o fez saltar do baloiço, de repente todos os seus sentidos ficaram em alerta, como costumavam ficar quando algo estranho lhe acontecia. Com a mão direita tirou a varinha do bolso e a apertou em direcção à figura que apareceu na sua frente.
--Ma...Malfoy? – um sussuro foi a única coisa que conseguiu pronunciar tanto era o choque e a surpresa que, misturada com a confusão, deixou-o sem voz. Aquilo não estava a acontecer, simplesmente não podia estar. Malfoy ali era o mesmo que de repente os seus tios entrassem pelos portões do Salão Principal.
--Nem uma palavra, Potter. – A figura loira platinada com uns olhos azuis acizentados e frios, falou com a habitual voz arrastada.
Draco nunca se sentira tão humilhado na sua vida. Estar num local completamente muggle e na presenca de Potter era mau demais para uma pessoa só. Apenas tinha de fazer o que lhe competia e ir embora de uma vez por todas.
--Ma...mas como é que estás aqui? – Harry ficou mais surpreso de Malfoy estar ali do que ficaria se em seu lugar estivesse Voldemort.
--Fizeste a pergunta errada. O mais correto seria “porque estás aqui?”.
-- Então, porque estás aqui Malfoy? – O que quer que fosse o motivo
deveria ser importante, para ter levado o Malfoy a um bairro Muggle.
--Importastas-te de desviar a varinha? Não é que eu tenha medo de ti mas acho que é demasiado covarde atacares alguém que esteja desarmado.
Harry reparou que ainda mantinha a varinha apontada a Malfoy e, rapidamente, a baixou.
--Não te preocupes Malfoy, eu não sou como tu.
--Claro que não és como eu, nunca conseguirias chegar aos meus pés.
--Ainda bem, pois eu também não quero chegar. Odeiaria ser como tu que considera os outros seres inferiores apenas porque não nasceram em berço de ouro como tu. Odearia ser tão egoista como tu.
--Potter fiquei emocionado, emprestas-me um lenço? – a voz estava carregada de sarcasmo.
--Importaste de dizer, de uma vez por todas, o que te fez vir a um sitiu que consideras nojento?
--O Ministro mandou-me vir buscar-te para, juntamente comigo, ires até ao Ministério.
O que Malfoy dizia não fazia o minimo sentido. Porque haviam de mandar o Malfoy, logo o Malfoy o vir buscar? Alguma coisa estava errada e Harry não estava a gostar nada.
--Porque haviam de fazer isso? E mais, porque te escolheriam a ti? Não Malfoy eu não vou cair nessa.
Draco sabia que ele não iria aceitar tão fácilmente. Ele próprio tinha achado uma piada, e de muito mau gosto.
Estava na Mansão quando recebeu um membro do Ministério. Pensou que fosse algo relacionado ao seu pai que continuava preso em Azkaban, graças a Potter. Tudo o que lhe acontecia de mal, tinha sempre o Potter por trás.
Esse tal homem dissera-lhe que o ministro queria falar com ele urgentemente e quando Draco lhe foi perguntar qual o motivo, ele apenas revelou que era confidencial.
Quando entrou na sala do ministro, este olhava para ele com uma certa ansiendade, que Draco não gostou nem um bocado. E gostou ainda menos quando ele começou a falar. Apenas disse que o assunto era muito sério e que dizia respeito a ele e a Potter. Ia começar a questionar o ministro, afinal que assunto em comum poderia ter ele e Potter? Mas em vez de lhe responder mandou-lhe vir buscar o Potter. Draco quase perdeu a frieza caracteristica dos Malfoys, mas recuperou a expressão a tempo e como não era estúpido o suficiente para não obedecer ao ministro, aceitou. Era o que o seu pai lhe teria dito para fazer...
--Ai ai – suspirou ao mesmo tempo que procurava a varinha nas vestes. – Bem, Revelium!
Harry viu um fumo lilaz erguer-se da varinha de Malfoy. O fumo formou um circulo oco onde começaram a aparecer imagens. Primeiro uma sala grande coberta de moveis de madeira escura e brilhante e, no meio da sala em frente a uma janela comprida estava Fudge atrás de uma secretária.
--Potter meu rapaz, precisas de te apresentar no ministério ainda hoje. Arruma as tuas coisas e vem com Mr. Malfoy. – Mandou Fudge de dentro do círculo.
--E porquê? – Estava com uma sensação esquesita no estômago.
--Quando entrares pela porta do ministério, eu terei todo o prazer de revelar. Boa noite e até já.
Como apareceu, o fumo se extinguiu e Malfoy voltou a guardar a varinha.
--Acreditas agora Potter? Eu estou a odiar tanto isto como tu por isso quero acabar com isto o mais depressa possível. Não gosto de estar muito tempo na tua companhia, podes contagiar o meu sangue-puro com a tua respiração.
Harry estava com demasiadas perguntas na cabeça para responder a Malfoy por isso limitou-se a andar em direcção a casa dos Dursleys.
--Do que estás à espera Malfoy?
--Tu realmente não pensas que eu, Draco Malfoy, entre num bairro cheio de muggles pois não, já não basta estar aqui?
--Bem – pegou no queixo e fingiu meditar sobre o que lhe disse – era exactamente isso que eu estava a pensar por isso segue-me.
--Potter eu não obedeço a ninguém muito menos a ti.
--Sabes que mais? Tu é que sabes, eu vou fazer as malas e já venho.
Afastou-se do parque e entrou em Privet Drive. As poucas pessoas que antes ainda se encontravam na rua deveriam, finalmente, ter se recolhido para o calor das suas casas. A respiração de Harry condensava em frente ao seu nariz à medida que se aproximava da casa número quatro.
Os seus tios deveriam estar a dormir por isso Harry rodeou a casa e saltou o muro traseiro. Costumavam deixar a chave da porta traseira num vaso que estava debaixo da janela. Harry pegou nela e, muito devagar, abriu a porta. O calor rodeou-o e fez-lhe ter noção do frio que se fazia sentir lá fora. Subiu as escadas nas pontas dos pés e entrou no quarto. Estava como quando saiu dele. Cartas espalhadas pela cama que costumava ler repetidamente para se lembrar que não estava sozinho e a gaiola vazia em cima da secretária. Edwiges tinha ido caçar e ainda não tinha voltado. Abriu a mala e começou a enche-la, como fazia todos os anos. Quando ia buscar o manto da invisibilidade a carta que o deixou muito feliz caiu no chão, pegou-a e voltou a le-la pela centécima vez.
Querido Harry
Eu e o Ron estamos a morrer de saudades tuas! Mal posso esperar para nos voltarmos a encontrar. Nunca mais é dia 1 de Setembro, o tempo passa tão devagar que parece que não nos vemos à anos (está bem eu sei que estou a exagerar!). Tu não respondeste à minha pergunta na carta anterior menino Potter. Eu sei que se passa alguma coisa contigo desde que saimos do Departamento dos Mistérios e vou descobrir o que é ou eu não me chamo Hermione Granger! Ah e não te rias poque isto não tem graça. O Ron diz que este ano vai se “entregar” mais aos estudos apesar de eu ter a certeza que não é isso que vai acontecer. E sabes porque disse ele isto? Hum...Como é que vou te dizer, ou melhor escrever? Okay okay eu não te quero matar de curiosidade por isso aqui vai: Eu e o Ron estamos a namorar! Pronto já escrevi, sabes quanto tempo demorei para escrever esta linha? Não claro que não sabes, mas posso dizer-te que foi imenso tempo. Foi muito estranho sabes? Estavamos numa das nossas famosas discussões e de repente ele diz que gosta de mim. Eu deixei de sentir as pernas, parecia que toda a minha energia estava concentrada num único ponto: O Ron declarou-se! Bem depois conto-te os pormenores.
Harry agora a sério eu e o Ron estamos preocupados contigo e queremos que saibas que podes contar connosco, não precisas de guardar tudo para ti isso não é saudável. Mas tenho de respeitar que não queiras contar, afinal há coisas que são demasiado íntimas para poder-se partilhar. De qualquer maneira já sabes, tanto o Ron como eu estamos aqui se quiseres revelar o motivo pelo qual estavas assim.
Hermione Granger
Não podia dizer que o era uma grande surpresa o facto de Ron e Hermione estarem a namorar. Harry já desconfiava que ambos gostavam um do outro, era só seguir os sinais. No quarto ano teve a certeza disso, quando Ron e Hermione se chatearam devido ao baile e tudo porque ela foi com o Victor Krum. O Ron ficou cheio de ciúmes apesar de não ademitir. Quanto à segunda parte da carta, Harry não sabia o que fazer. Não queria preocupar os amigos e estragar a felicidade deles, eles mereciam estar felizes e ele não tinha o direito de estragar isso como sempre fazia.
Voltou a fechar a carta e, juntamente com as outras, guardou-as numa caixa onde estava guardadas outras cartas que foi recebendo ao longo dos cinco anos.
Sem fazer barulho voltou a sair de casa para a gélida noite.
Draco andava de um lado para o outro no parque. Estava a ficar irritado com a demora de Potter. Onde já se viu ter de ficar ali à espera, geralmente eram os outros que ficavam à sua espera e não o contrário. As suas vestes negras ondulavam com o vento mas o frio não chegava até si, a roupa era suficientemente quente para o proteger.
Parou de andar quando viu alguém a se apróximar. Mas não era Potter, aliás era muito diferente de Potter. Quando estava muito perto de si, Draco percebeu que era uma rapariga. Uma rapariga muggle.
--Boa noite – cumprimentou-o ela com um sorriso – És estrangeiro não és?
Draco olhou para ela com superioridade e com uma voz fria respondeu:
--Eu lhe dei permissão para se dirigir a mim?
A rapariga olhou para ele estupefacta e topeçou nas palavras.
--Na...não só que eu, eu pensei...que poderiamo-nos conhecer...mas...
--Eu nunca haveria de querer conhece-la sua muggle nojenta.
--Sua quê? Hei, não precisas de ser estúpido okay? Eu não te fiz mal nenhum... – Ela parecia com medo e isso agradou a Draco que continuou.
--Como é que uma muggle como tu se atreve a chamar estúpido a Draco Malfoy?
--E o que é que tem? – a voz dela tremia e olhava para todos os lados à procura de alguém.
--Ainda tens a coragem de perguntar? Tu um ser inferior devia no minimo ajoelhar se perante mim, e não dirigir-me a palavra.
--Hei Malfoy deixa-a em paz!
Harry apareceu silenciosamente por tras de Draco com uma mala velha e grande.
Quando chegou ao parque qual não foi o seu espanto ao reparar que Malfoy estava a falar com uma muggle, uma pessoa que ele simplesmente desprezava como se fosse um elfo doméstico (ou pior já que com os elfos ele pelo menos “suportava” conviver). Ficou um bocado nas sombras a se divertir com o que acontecia à sua frente mas vendo o olhar de medo da rapariga decidiu interferir, ninguém merecia ter de aturar aquele loiro patético.
--O Santo Potter defensor de muggles. Eu deixo-a em paz se quiser.
--Por favor Malfoy não começes, ela não te fez nada e temos de ir embora.
Harry aproximou-se da rapariga e mandou-lhe um daqueles sorrisos que faziam Draco ficar ainda mais irritado. – Não te preocupes ele é um daqueles rapazes que pensa que o mundo gira em torno deles.
--Obrigada. – a rapariga ficou mais calma com a presença de Harry e retribuiu o sorriso.
--Poupa-me Potter, nunca pensei que descesses tão baixo. Arranjar uma namorada muggle? – Fez uma pausa e continuou - Pensando bem isso até é uma coisa perfeitamente normal vindo de um, como se diz? Coraçao de Ouro é isso! – Draco permitiu um sorriso torcista apesar de continuar com uma pose fria e livre de qualquer emoção.
--Cala-te Malfoy.
--Bem já é muito tarde os meus pais devem estar preocupados comigo, eu vou embora. Obrigada mais uma vez – agradeceu-lhe uma vez mais a rapariga.
--Não precisas de agradecer eu não fiz nada.
--Eu não queria interromper nada mas se não for pedir muito importavas-te de ir embora? Ou isso é pedir muita ao Menino de Ouro? – interrompeu Draco já farto de ter de observar aquela cena.
--Ele não regula muito bem dos neurónios e começa a divagar. – Elucidou Harry muito baixo para só a rapariga ouvir. Não lhe apetecia começar outra briga com Malfoy.
--Pois nota-se. – Concordou ela enquanto observava Malfoy, provavelmente a questionar-se sobre as roupas deste. – Bem eu vou embora. Adeus e vemos-nos por aí.
--Adeus, até qualquer dia.
Quando a rapariga já estava longe o suficiente, Harry , finalmente, poderia perguntar uma coisa que o intrigou desde que Malfoy aparceu à sua frente.
--Tu já podes Materializar-te?
--Claro Potter, ao contrário de ti eu posso.
Draco tinha tido aulas o ano passado pois já tinha idade para poder Materializar-se. Era uma sensação maravilhosa saber que utrapassara Potter em alguma coisa.
--Hum... e o feitiço foi Fudge que te disse para o fazeres?
--Não, o feitiço foi minha ideia, com o consentimento do Ministro obviamente.
--Então vamos?
--Claro, não quero ficar mais tempo contigo do que o essencial.
Draco retirou das vestes um medalhão prateado e esticou a mão.
--Isto é um botão de transporte que nos vai levar até ao Ministério. – Afirmou Draco enquanto olhava Harry. Este olhava do medalhão para ele.
-– Do que estás à espera?
--Eu? De nada – Apressou-se a responder e andou até Draco. Posou a mão sobre o medalhão e sentiu a mão fria de Malfoy por baixo da sua. Era estranho tocar em Malfoy, apercebeu-se que ele era humano, que tal como toda a gente poderia ser tocado. Nunca tinha sentido uma sensação assim e isso assustou-o mas não teve tempo de retirar a mão pois nesse momento sentiu-se a ser puxado e o ar fugiu-lhe dos pulmões.
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