Presente Troiano



Helga não ficara satisfeita com as poucas notícias enviadas por Hephzibah durante o torneio em Londinium, mas controlou sua língua ao ver que todos voltaram perturbados. Godric assim como chegou de cara fechada permaneceu por várias semanas. Apenas de soslaio teve explicações do encontro com Salazar, muito embora tivesse sido seu amigo tanto quanto dos demais. Mas não insistiu. Rowena estava calada e Hephzibah extremamente misteriosa. Trouxera souvenires e contara das roupas e justas, mas não entrara em detalhes sobre os conhecidos que fez e seus sentimentos pessoais sobre a experiência. Talismãs não preenchem o vazio de não saber o que está acontecendo pensava Helga começando a achar que era bem hora de fazer uma demorada visita a Nessie. Mas não foi desabafar com seu monstro de estimação que vivia em Loch Ness, pois dali a alguns dias coisas extraordinárias começaram a acontecer.

Era uma manhã cinzenta de outono, com o frio do inverno já se anunciando, quando chegou o aviso de que uma encomenda chegara ao castelo. Ninguém fizera nenhum pedido e nada era esperado, mas ali estava. um grande caixote contendo um objeto pesado. Godric havia saido para caçar nas redondezas de Godric’s Hollow e por isso Rowena recebera o artefato.

Foi com grande espanto que, aberta a caixa, encontraram um enorme espelho, com ares de muito antigo, com algumas manchas oxidadas e uma frase escrita em língua antiga. Apesar do estado da lâmina de vidro, estava em perfeitas condições. Zibby se deixou arrebatar pela relíquia, que era quase duas vezes sua altura e feito de madeira entalhada, com belos ramos desenhados de alto a abaixo na moldura. Rowena acabou cedendo ao apelos da jovem e permitiu que ela o levasse para o quarto. Há tempos queria um grande espelho, especialmente após o retorno de Londinium.

Assim, o espelho foi transferido para o quarto de Zibby, embora a mãe e a tia se perguntassem, levemente apreensivas, qual teria sido seu remetente. Godric não ficou satisfeito ao deparar-se com essa novidade e reclamou da precipitação das mulheres em consentir na vontade da filha e transferir o objeto para dentro do castelo. Desde sua conversa com Slytherin, Godric mostrava-se receoso diante de surpresas. Conhecia Salazar bem demais para não temer uma investida vingativa de sua parte, especialmente depois de assegurar-se de que o jovem LeFort não concordaria em acompanhar Slytherin em nenhuma de suas aventuras enigmáticas. Simpatizara com o rapaz e soubera depois, dele mesmo, que Salazar tentara ainda em outra ocasião convencê-lo a se aliar a ele na crizada pelo domínio da Bretanha. LeFort, no entanto, era leal a Guilherme e não se deixou seduzir pelas promessas de poder feitas pelo desgarrado fundador de Hogwarts.

Naquela noite, pouco após o jantar, Zibby estava em seu quarto quando decidiu observar mais de perto os entalhes na moldura do misterioso espelho. A frase que se sobrepunha ao alto, em idioma desconhecido, gravado profundamente na madeira escura, pareceu-lhe subitamente compreensível. Não reconhecia as palavras mas, fosse o que fosse, achou que entendia o sentido. Arriscou pronunciar uma das palavras encravadas quando, num átimo, embaralharam-se as letras e novas palavras se formaram, desenhadas a fogo que lentamente se extinguiu, deixando em seu lugar uma frase perfeitamente legível.

Hepzibah hesitou diante da manifestação mágica e deu alguns passos para trás. Nesse momento, viu-se refletida no espelho. Tinha ao seu lado um jovem de cabelos claros vestindo brilhante armadura prateada e sorria. Na mão, trazia uma fita vermelha. Hephzibah assustou-se, se virou rapidamente para ver quem estava ao seu lado mas não havia ninguém. Ao olhar na superfície do espelho, contudo, lá se encontrava o mesmo jovem de olhos claros que havia atraido sua atenção durante os combates. Debateu-se com a dúvida se devia chamar seus pais para assistirem tão estranho fenômeno mas não desejava revelar a ninguém seus pensamentos mais secretos. Ele está tão bonito, pensou, e esplêndido em sua armadura, e tem olhos tão expressivos... Hephzibah deixou-se ficar sentada no chão diante do espelho, a contemplar aquele sorriso de dentes perfeitos, que torciam covinhas nos cantos da boca até que o dia começou a raiar.

Zibby nada disse a ninguém sobre a revelação do espelho. Decidiu que nada tinha de maligno e preferia guardar para si a imagem que lhe aquecia o coração. Mas não teve chance de levar a cabo sua opção pelo segredo.

Pouco após o almoço, um alvoroço se intalou na ala onde ficava seu quarto e todos acorreram para inteirar-se do fato. Helga entrara no quarto de Zibby para deixar-lhe umas flores quando se postara diante do espelho, admirando-lhe a forma, e vira algo que não contava a ninguém. Limitava-se a gritar e bufar, em altos brados logo silenciados pela mão levada à boca, olhos arregalados, e em seguida esfregar as mãos na cabeça e recomeçar as expressões de assombro. Inquirida sobre o que havia e via, Helga balançava a cabeça violentamente, negando-se a revelar. Logo uma multidão se encontrava à porta do quarto de Zibby, todos querendo olhar no espelho assombroso. O tumulto cresceu e perdurou por horas a fio, com um entra e sai de jovens e elfos, que se espalhavam pelos corredores em comoção. Rowena, que tinha sido uma das primeiras a correr ao quarto da filha quando dos gritos de Helga, saira do cômodo silenciosa e pensativa e se recolhera à biblioteca, sem tecer comentários com ninguém.

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