Ajuda inesperada
Snape estava sentado na poltrona de seu quarto, observando o fogo da lareira queimar e segurando um copo de firewhiskey nas mãos. Seu humor estava péssimo. Se ainda estivesse em Hogwarts, descontaria sua ira no primeiro grifinório que lhe cruzasse o caminho. Mas não estava na escola, e sim preso em um mundo no qual ele entrou num momento de pura insanidade. Tinha a sensação de que jamais conseguiria se libertar totalmente. Mesmo não estando do lado das trevas, mesmo trabalhando há muito tempo para Dumbledore, sempre carregaria o título de Comensal da Morte e dificilmente alguém acreditaria em sua inocência.
Se não fosse a última promessa que fez ao diretor, ele já teria ido embora daquele lugar. Queria muito se livrar da companhia daquelas pessoas desprezíveis, mas não via como tirar Júlia dali sem expô-la a risco algum. Precisava de um plano perfeito, no qual nada pudesse dar errado, pois jamais se perdoaria se algo acontecesse a ela.
Pensar nela o deixava ainda pior... Como pôde ter agido de maneira tão infantil? Fugir daquele beijo enquanto o desejava mais que tudo foi algo totalmente estúpido. O que ela estaria pensando agora? Onde estaria? Deveria estar com ódio dele, pois não apareceu nem ao menos para suas “aulas”. Seu desejo era procurá-la, ouvir sua voz, sentir seu cheiro de flores, o gosto de seus lábios num profundo beijo novamente...
Ele balançou a cabeça, na esperança de afastar esses pensamentos de sua mente, e voltou a se fixar no fogo. Até que a porta de seu quarto abriu abruptamente, assustando-o.Snape ficou de pé imediatamente e se surpreendeu quando viu Júlia parada diante dele, totalmente pálida e com os olhos cheios de lágrimas. Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ela correu até ele e se atirou em seus braços.
- Severo... - ela sussurrou. - Ele quer... querem te matar... eu não posso...
- Calma... Está tudo bem, acalme-se.
Ele a abraçou mais forte e afagou seus cabelos carinhosamente. Não sabia mais o que dizer. Aquela proximidade mexia muito com ele, não era mais como ele pensava no início. Era algo muito além do desejo.
Ficaram um bom tempo unidos num forte abraço. Para Snape, aquele momento poderia durar uma eternidade, ele não se importaria.
Júlia foi se acalmando aos poucos. Quando percebeu que sua respiração estava menos ofegante, ele a encaminhou até a poltrona em que estava sentado antes da súbita aparição da garota.
- Sente-se aqui, Júlia - falou com um tom de preocupação na voz. – O que houve com você para ficar nesse estado?
Ela respirou fundo, olhando-o com desespero. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente e ele se aproximou mais para secá-las, deslizando suavemente os dedos pelo belo rosto.
- Você precisa ir embora – falou Júlia tentando se manter calma. – Precisa ir agora, ele está planejando... ele disse que vai matá-lo essa noite! Você precisa sair daqui o quanto antes, Severo.
- Quem disse isso? Seu pai? O Lorde das Trevas disse que me mataria? – ele falou com um sorriso irônico nos lábios. – Não seria a primeira vez que ele me ameaça, portanto, não há motivos para se desesperar.
- Não há motivos?! - disse ela incrédula. – Eu o ouvi dizer isso, Severo. Ele não estava brincando. Ele não precisa mais dos seus serviços, será que você não entende? Tem que sair daqui agora, antes que ele apareça e...
Ela estava de pé, novamente encarando Snape, e não entendia por que ele mantinha aquele sorriso debochado no rosto enquanto era ameaçado de morte.
Ele a olhava, contemplando seu desespero. Um prazer enorme tomou conta dele quando percebeu que tudo aquilo não era apenas uma simples e educada preocupação. Ela se importava com ele, com a vida dele. Mas havia algo novo naqueles olhos negros brilhantes, algo que oclumência nenhuma seria capaz de esconder. Ela estava apaixonada por ele.
Até aquele momento, Snape vinha travando uma batalha para não se deixar seduzir por aquela mulher, mas percebeu que se tratava de uma briga inútil. A razão perdeu a batalha para o coração, e a única alternativa que lhe restou foi se entregar. Aceitou que também estava apaixonado e a beijou profundamente, sem pensar nas conseqüências que viriam daquele ato.
Um beijo mais intenso que o anterior, ardente e cheio de urgência. Snape a agarrou com tanto entusiasmo que a levantou do chão. Chegaram até o quarto dele sem saber como, enquanto continuavam se beijando apaixonadamente, espalhando as roupas ao redor da cama. Podiam sentir o amor um do outro enquanto seus corpos se fundiam, como se corpo e alma voltassem a ser um só, e aquela era a melhor sensação que havia no mundo.
- Só saio daqui com você – sussurrou no ouvido dela enquanto acariciava seus cabelos.
Ela sorriu para ele, o sorriso mais lindo que podia existir. Voltou a encostar a cabeça em seu peito e adormeceu. Snape permaneceu acordado, tinha medo de dormir e descobrir que o tinha acabado de acontecer não passava de um sonho bom.
Um ruído estranho chamou a atenção de Snape. Ele se levantou da cama com cuidado para não acordar Júlia, vestiu um roupão e foi verificar o que era. Saindo do quarto, deparou-se com Belatriz parada próxima à lareira.
- Posso saber a que devo a honra da visita? – perguntou irônico.
- Vim tratar de algo do seu interesse – respondeu a mulher.
Snape estranhou o tom de voz dela. Bela era sempre tão autoritária, segura de si, mas agora parecia insegura, com medo. Ele não disse nada, apenas apontou uma cadeira para que ela se sentasse e tomou uma logo a frente dela.
- Estou aqui por causa da menina, Severo – ela prosseguiu. – A filha do nosso Mestre. Eu sei que você a está protegendo, escondendo coisas do Lorde por ela. Arriscaria-me até a dizer que você se apaixonou pela garota, por isso...
- Onde quer chegar com essa conversa, Belatriz? – ele a interrompeu friamente. – Está insinuando que estou traindo o meu Lorde? Será que você não se cansa de levantar falsas afirmações a meu respeito? Já dei ao nosso mestre várias provas de que sou fiel a ele, e francamente está um pouco tarde para ficar ouvindo suas teorias conspiratórias – ele se levantou, caminhou até a porta e fez sinal para a mulher sair.
Ela, porém, não se moveu e voltou a falar como se não tivesse ouvido as palavras de Snape.
- Você nunca me enganou, mas não é por isso que estou aqui. Como disse antes, vim tratar de um assunto do seu interesse – ela esperou, tentando decifrar sem sucesso a expressão de Snape, e continuou. – Sei que você pretende tirar Júlia dessa casa, sei que deseja afastá-la do Lorde. Seus motivos sinceramente não me interessam. Mas pelo visto não tem obtido grande sucesso, então vim lhe oferecer ajuda.
- Por que eu acreditaria que logo você trairia o Lorde? Tsk, tsk, tsk, você já foi mais esperta Bela. Se quiser me prejudicar, terá que elaborar um plano bem melhor que esse. Além disso...
- Chega de encenar, Severo – dessa vez foi ela que o interrompeu. – O teatro acabou! Todos sabem, o Lorde já sabe. Você sempre foi um “homem de Dumbledore” só está aqui porque aquele velho estúpido lhe confiou mais uma super missão: proteger a indefesa e bela garotinha.
Snape a olhou atônito, indagando a si mesmo se aquilo poderia ser verdade. Lembrou-se de Júlia desesperada em seu quarto a pouco.Teria sido isso que ela ouviu, esse era o motivo da ameaça de Voldemort? Seu disfarce de espião duplo havia acabado? Mas e se Belatriz estivesse blefando? Não, ele não poderia arriscar.
- Você está louca – disse ele com desdém.
- Você não tem escolha, Snape – dessa vez era ela quem havia ficado de pé, sua voz recuperava aos poucos o tom de costume. – Mas se quer um motivo eu te dou: desde que essa garota chegou aqui o Lorde me afastou de tudo, não me conta mais seus planos, me faz ficar dia e noite vigiando essa casa como uma serviçal qualquer.
- Isso se deve a sua total incompetência e fracassos anteriores, e não à presença dela aqui – disse Snape, interrompendo Bela outra vez.
O rosto da mulher ficou rubro, mas mesmo assim ela voltou a falar.
- Só eu tenho como tirá-la daqui em segurança. Vocês não tem muito tempo e você não tem nenhum plano, não é mesmo? – ela sabia a resposta dele, por isso continuou – Vai ou não aceitar minha ajuda?
Antes que ele dissesse qualquer coisa, Júlia saiu do quarto enrolada na capa de Snape.A discussão dos dois havia despertado a moça. Bela olhava espantada para ambos e para seus trajes e percebeu de imediato o que estava acontecendo ali. Dessa vez foi o rosto dele que corou.
- Nós aceitaremos sua ajuda – respondeu Júlia, ignorando os olhares de Belatriz.
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