Revelações



Uma música vinda de longe entrava nos ouvidos de Júlia, que dormia profundamente. Ela abriu os olhos, olhou para os lados e percebeu de onde vinha o som.

- Preciso trocar a campainha desse celular. Essa música me irrita - lamentou ela enquanto desligava o aparelho. - Não acredito que já é essa hora! Parece que acabei de acordar, se não correr vou perder o avião!

Ela levantou, foi para o banheiro e tomou um banho relaxante, tentando não pensar nas coisas que perturbavam sua mente nos últimos tempos.Uma delas era o casamento do seu irmão, que aconteceu na noite anterior. Ela era apaixonada por ele desde os 12 anos, e ele por ela. Mas isso sempre causou a ambos uma angústia muito grande, porque mesmo não sendo irmãos de verdade (já que Júlia era adotada), seus pais jamais aceitariam esse romance.Aos olhos deles e de todos os dois eram irmãos de verdade e qualquer sentimento entre eles que não fosse fraternal devia ser recriminado, extinto.

Digamos que este sentimento foi apenas reprimido, embora eles tivessem mantido um caso por um tempo, mais ou menos um ano antes da morte do pai. É claro que ninguém, exceto Lívia, a irmã mais nova deles, soube disso. Depois que o pai se foi, resolveram por um fim neste sentimento que só traria dor e sofrimento. Então cada um seguiu a própria vida, conhecendo novas pessoas, novos amores.

A separação deu certo, pelo menos aparentemente. Murilo conheceu uma moça, começou a namorar e agora se casou com ela, embora ainda amasse a irmã. Júlia ia para Londres conhecer a verdadeira família. Mas não que ela tivesse curiosidade ou vontade. O que ela realmente queria era um pretexto para se afastar do irmão, pois mesmo que não admitisse, ela estava sofrendo muito com toda a história.

- Desse jeito tem gente que vai perder o avião- disse Lívia, entrando de repente no banheiro e assustando Júlia, que estava completamente absorta em pensamentos.

- Que susto, menina! Pega meu roupão, por favor, que eu estou atrasada.

- Estava pensando em quê, hein? Parecia estar tão longe.

- Não estava pensando em nada, só cochilei. Acabei de acordar, ainda estou com sono e...

- Você pensa que me engana, Jú. Eu sei em que você estava pensando. Mas como te conheço bem, sei que não deve estar com vontade de falar sobre isso agora, então não vou tocar nesse assunto, pelo menos por enquanto.

- Que bom.

- Só quero saber se você tem certeza do que está fazendo. Tudo bem que eles são as pessoas que te colocaram no mundo. Aliás, grande coisa, se quer saber minha opinião, isso até animal faz e...

Lívia parou de falar ao ver o olhar da irmã, que trocava de roupa. Depois continuou, sem jeito:

- Desculpe, não quis te magoar, é que...

- Não precisa se desculpar.Você sabe o que penso sobre eles. Para mim, vocês são e sempre serão minha única família.

- Então, Jú, você não acha maluquice ir para outro país, morar com pessoas que você nunca viu na vida? Não acha perigoso?

- Pode até ser, Li.Mas quem disse que vou morar com eles? Só vou até lá para conhecê-los, porque eles me procuraram. Além disso, o que mais me interessa em Londres é rever Dumbledore, estou sentido saudades dele.

- Faz tempo que ele não aparece por aqui, será que aconteceu alguma coisa?

- Não sei, só sei que a primeira coisa que vou fazer quando chegar à Londres é procurá-lo. Escrevi para ele duas vezes e nada de respostas. E olha que isso nunca aconteceu antes, não é típico de Dumbledore. Estou com uma sensação estranha, preciso vê-lo logo.

- Tudo bem.Então, onde você pretende ficar?

- Se Dumbledore me convidar para ficar na escola vou adorar.Se não, procuro um hotel.

- Promete que manda notícia todos os dias? Mas manda e-mail, telefona, qualquer coisa que não sejam corujas, você sabe que não me dou muito bem com pássaros!

- Tudo bem, querida, eu prometo.

- Só não entendo uma coisa: você é uma bruxa. Pode sumir de um lugar e aparecer em outros em questão de segundos. Então por que vai para Londres de avião?

Julia sorriu, abraçou a irmã e disse:

- Te amo muito Lívia, vou sentir sua falta.

ENQUANTO ISSO, EM LONDRES...

- Mande Bela vir até aqui. Agora, Rabicho!

- Sim, Milorde - respondeu o outro, saindo rapidamente.

Minutos depois, Bela entra no escritório de Voldemort.

-Chamou-me, Milorde?

- Sim, entre e sente-se. Temos um assunto importante para resolver. Quero que escute em silêncio - Voldemort se levantou e começou a andar pelo escritório, enquanto Bela o acompanhava com os olhos. - Você se lembra daquela garota que nasceu há 20 anos? Minha filha - ele parou por um instante, parecendo envolvido em pensamentos, para então continuar - Deve se lembra também do porquê de eu querer mantê-la afastada. Agora que meu maior obstáculo está fora do caminho, quero que ela esteja aqui comigo. Vou ensina-la tudo o que sei, quero que ela siga meus passos, lute pelos meus ideais!

Bela fez menção de falar, mas foi interrompida por Voldemort, que -prosseguiu:

- Só tenho um problema. Não sei como, mas Dumbledore a encontrou. Este insolente deve ter enchido a cabeça dela com bobagens. Então, devemos ser cautelosos. Não sei o que ele contou a ela, mas acredito que aquele velho idiota não disse quem somos, nem o que fazemos, com medo de magoá-la. Sendo assim, teremos que trazê-la ao nosso mundo devagar, devemos persuadi-la aos poucos para que ela não se assuste.

- Ah, Milorde! - disse Bela, incapaz de se conter - Você encontrou nossa filha, não...

- JÁ DISSE PRA NÃO ME INTERROMPER! - gritou Voldemort. - E eu sempre soube onde ela estava.Segui cada passo de minha filha e daqueles trouxas imbecis, que pensaram que a tirariam de mim! Tem outra coisa Bela: ela é MINHA filha, só minha. Você está proibida de dizer, a quem quer que seja, que é mãe dela. Fui claro?

- Sim, Milorde – concordou a mulher, incapaz de contestá-lo.

- Mandei uma carta a ela, dizendo que gostaria muito de conhecê-la e mais um monte de besteiras sobre um pai arrependido. Ela virá, tenho certeza. E quando isso acontecer, quero que você e meus outros Comensais façam somente o que eu mandar.Teremos que fingir ser bonzinhos - ele soltou uma gargalhada assustadora e terrível, que ecoou por toda casa. - Conquistaremos sua confiança aos poucos, até que ela fique completamente do nosso lado. Hoje à noite marcarei uma reunião para explicar meus planos.Tudo tem que sair perfeito! E, quanto a você, quero que fique bem claro uma coisa: essa menina é MINHA FILHA, somente minha.

- Sim, Milorde, já compreendi e farei tudo o que você mandar – apesar da aceitação plácida, a voz não parecia de todo convencida.

- Melhor assim - disse ele, com uma voz tão fria que assustou Bela, como se ele tivesse percebido a hesitação no tom da resposta proferida por ela. - Agora, pode ir.

Bela saiu e foi em direção a seu quarto. Enquanto caminhava , sentia um vazio, uma dor em seu peito. Ela nunca foi uma mulher sentimental, sempre agiu com a razão, jamais com o coração. Mas agora era diferente. Aquela menina era sua filha também, e ela nem ao menos sabia seu nome.

Bela entrou em seu quarto, abriu a porta do guarda-roupa e apanhou no fundo uma caixinha antiga de madeira.Sentou na cama e retirou da caixa um par de sapatinhos de bebê. Aquela era a única lembrança que tinha da filha. Mais de 20 anos haviam se passado.Nem mesmo aqueles terríveis anos passados em Azkaban foram suficientes para fazê-la esquecer do rostinho, do sorriso e do olhar daquela menina, que segurou apenas uma vez em seus braços.

MAIS TARDE NO ESCRITÓRIO DE VOLDEMORT...

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