Parte I Gente estranha no Beco
Após um ruidoso café da manhã no Caldeirão Furado, a Sra Weasley chamou os garotos para o Beco Diagonal. Precisavam comprar os materiais para o novo ano. E lá se foi o barulhento grupo, acrescido de alguns membros da AD logo nos primeiros metros. Apesar de estarem vivendo tempos perigosos, ninguém quis abrir mão da oportunidade de reencontrar alguns amigos antes do fim das férias e, principalmente, queriam conhecer as “Gemialidades Weasley” – a mais nova loja de logros e brincadeiras do Beco.
Antes, porém, Harry quis comprar um sorvete, sendo saudado com alegria pelo dono da sorveteria, que o ajudara com os trabalhos de casa antes de ir para o 3º ano. Enquanto pagava os sorvetes da turma toda – após insistir muito para fazê-lo, os colegas se afastaram, alguns já se adiantando para a loja dos gêmeos, outros atraídos por uma música vibrante que vinha do lado oposto. Harry teve que correr para alcançá-los no que parecia uma pequena praça, em que muitos bruxos se agrupavam para assistir algum tipo de apresentação.
Harry parou, estupefato. De tudo o que já vira no Beco Diagonal, coisas e roupas, bruxos e bichos, aquele grupo era o mais estranho, por não parecer em nada com o que ele esperaria ver no mundo bruxo. Será que eram trouxas? Impossível, pensou. O que estariam fazendo ali? Os únicos trouxas que ele já vira por ali, perdidos e atarantados, foram os pais da Hermione...
O grupo que se apresentava era formado por alguns músicos, vestidos com roupas coloridas, em tons berrantes de vermelho e terra, que tocavam violões enfeitados por fitas e flores. Alguns tocavam o que lhe pareceram castanholas, outros batiam palmas. Entre eles, uma mulher de cabelos negros e longos, uma flor enfeitando os cabelos sobre a orelha que, ao ver Harry sorriu e piscou. Espantado, ele não soube o que dizer, quando Rony indagou:
- Você conhece aquela mulher!
- Claro que não! – exclamou, mas ela já vinha ao encontro deles com um sorriso largo e uma expressão matreira.
- E aí, Harry? Beleza? Oi, Rony. Oi, meninas!
- Quê? – eles a olharam espantadíssimos. Então, caiu a ficha – Tonks!
- Caramba! – ela sorriu – Não tinham me reconhecido?
- Claro que não! – Hermione respondeu – Desde quando você virou cigana? E... – ela apontou pro grupo – Como eles podem estar aqui?
- Ah... eles? – ela se voltou para admirá-los – São lindos, não, meninas? Principalmente o Antonio... aquele ali, que está dançando.
Só então Harry reparou no casal que dançava com energia e leveza ao mesmo tempo. O homem, de cabelos negros, vestindo calças justas e botas, com uma camisa ampla de mangas bufantes, tudo negro, e a mulher, idêntica à Tonks (pelo menos como ela se apresentava agora) de roupas coloridíssimas, a saia estampada de grandes flores vermelhas e roxas sobre um fundo amarelo, cheia de colares e pulseiras, e uma pequena moeda de ouro no meio da testa, dançavam com desenvoltura e leveza, na cadência marcante e envolvente da guitarra cigana.
Mas a dança terminou, enquanto os meninos admiravam o casal, como que hipnotizados pela energia deles. Os músicos agradeceram, alguns bruxos lhes jogaram sicles e nuques, recolhidos rapidamente, mas com graça, e os dançarinos se aproximaram, atendendo a um aceno de Tonks.
Por um instante, o olhar de Harry se encontrou com o de Antônio, e algo inusitado aconteceu: ele se viu relembrando a primeira vez que vira Sirius, em forma de cão, na noite em que fugira da casa dos Dursleys; depois, o instante em que convocara o patrono à beira do lago, o quase duelo entre Sirius e Snape na casa dos Black e, por fim, o momento em que Sirius mergulhava no véu, atingido pelo feitiço de Bellatrix.
- Não! – ele gritou – De novo, não!
- O que houve, Harry! – a voz dos amigos chegou de longe, e ele os fitou, levando instintivamente a mão à cicatriz Mas ela não estava doendo ou formigando, não desta vez.
Intrigado, ele olhou para o desconhecido, que lhe sorriu, sem jeito e se desculpou.
- Não tive a intenção... – ele dizia, estendendo a mão para Harry – É que foi instintivo, eu me habituei a “sondar” todos que encontro pela primeira vez...
Ante a muda interrogação de todos, Tonks explicou, depois de fazer o grupo se afastar um pouco para a calçada:
- Eles são exímios legilimentes e oclumentes... Com certeza, foram eles que inventaram esse ramo da magia.
- Como assim? Nunca li nada a respeito. – o lado “sabetudo” da Hermione despertou.
- E não vai ler – respondeu a mulher, com uma expressão estranha. Depois se voltou pra Harry – Perdoe o Antonio. Mi hermancito é um pouco... cauteloso demais.
- Parece até alguém que conhecemos... só que – Tonks deu uma piscadela para Hermione e Gina, que começaram a rir, percebendo na hora a alusão ao velho Moody e a diferença gritante entre os dois homens.
(Nota da autora: esqueci de dizer que o Antonio em questão é o Antonio Banderas)
Harry e Rony sorriram meio sem graça, enquanto todos foram caminhando pela rua, depois dos “ciganos” trocarem algumas palavras em um estranho dialeto com seus companheiros. A Sra Weasley lhes acenava da esquina, visivelmente preocupada, e logo veio caminhando rapidamente ao encontro deles.
Mas a Hermione queria mais esclarecimentos, sua curiosidade fora aguçada, e Harry tinha que concordar que tudo era muito estranho. Por via das dúvidas tentou se lembrar das instruções de Snape para fechar sua mente, caso o cigano tentasse penetrá-la novamente. Ao que parece, ele percebeu seu esforço, por que lhe sorriu, e sua irmã comentou baixinho ao seu ouvido, mas o suficiente para Harry ouvi-la.
- Queda-te! Não estamos aqui para amedrontar o garoto, mas para ajudá-lo a fazer isso com mais segurança.
Ele deu de ombros, e os dois ficaram em silêncio deixando para Tonks o trabalho de apresentá-los à aflita Sra Weasley, com frases tão reticenciosas que pareciam código. Como a palavra “sede” apareceu no meio da fala, Harry entendeu que eles haviam passado pelo Largo Grimmauld em um horário diferente dos Weasley. Mas não queria se lembrar da casa de Sirius, por isso, fez um esforço pra se concentrar em algo mais importante. Haviam chegado à porta da loja dos gêmeos, cuja fachada não era nada modesta. Dentro, uma profusão de artigos, desde os mais simples como as varinhas falsas, até os kits mata-aula e o “Pântano Portátil Weasley”.
Enquanto os amigos se divertiam procurando os artigos mais engraçados ou interessantes, numa loja em que aparentemente bruxos adultos não entravam – os únicos presentes eram os quatro que haviam entrado com Harry, ele se aproximou de Tonks para indagar:
- O que você quis dizer com “foram eles que inventaram”?
Hermione, ao seu lado, imediatamente largou o “Chapéu sem cabeça” que finalmente podia examinar, obviamente mais interessada na resposta de Tonks do que em descobrir os feitiços que os Gêmeos usaram.
- Bem... – Tonks, já com sua aparência “normal” (alterara assim que entraram na loja, indo para trás do balcão e voltando sem que ninguém desse pela coisa), suspirou fundo – eles são de uma tribo muito antiga, talvez até mais antiga que nossa própria raça. A capacidade de penetrar ou de bloquear a mente é uma faculdade natural deles, já nascem com ela. Eles sempre a usaram pra se proteger dos que estavam à sua volta, pois podiam saber as intenções claras de quem se aproximava, se era amigo ou inimigo. Eles mantêm, por razões diferentes das nossas, a tradição do sangue puro a todo custo, tanto as tribos trouxas que têm alguns poderes, como a única essencialmente bruxa, ou seja, a de meus amigos aqui. Por isso, eles são os únicos “mestiços” que conheço até agora. O pai deles é “um dos nossos”.
Os dois sorriram de modo estranho, tinham se aproximado silenciosamente, enquanto a maioria parecia nem perceber a presença deles na movimentada loja.
- Mas, como vocês se conheceram? – Hermione indagou – Mesmo entre os... trouxas, não se vê muito ciganos na Inglaterra, hoje em dia.
- Ah, nos conhecemos em Hogwarts! – Tonks sorriu – Ficamos amigos logo de cara e éramos inseparáveis!
- Não foram anos fáceis, aqueles...mas foram divertidos. O pessoal da Sonserina não perdia uma chance de tentar nos azarar... Mas eu sempre sabia o que eles pretendiam, então... – Antonio deu um sorriso maroto, que fez Harry mais uma vez se lembrar do padrinho e sentir uma fisgadinha no peito.
- Parece que sempre tem um grupinho assim em Hogwarts... – Hermione comentou reflexiva.
- É claro! – Tonks respondeu – Os “marotos” fizeram escola! Mas vamos ver o que “esses” marotos andam inventando de novo... – ela apontou para os gêmeos, que tentavam convencer a mãe de que um Kit Febrocolate era inofensivo.
A conversa ficou por aí, deixando Rony mais abobalhado do que quando descobriu que a Fleur era descendente de veelas, Hermione com aquele olhar tipo “preciso urgente ir à biblioteca pesquisar isso” e o Harry mais do que intrigado. Por que Sarah havia “lembrado” ao irmão que estavam ali para ajudá-lo? Gina, entretanto, ainda a acompanhou mais um pouco, fazendo perguntas ora a Tonks, ora a Sarah, e ouvindo enlevada o que as duas lhe contavam rindo. Sem dúvidas, histórias engraçadas do tempo da escola, ou, provavelmente “fofocas” sobre garotos e namoricos tolos, Harry concluiu sem lhes dar mais atenção.
Mas o dia era curto para tanta coisa a fazer, e a Sra Weasley logo os estava conduzindo para a Floreios e Borrões, indo buscar novas vestes para um feliz Rony (finalmente roupas novas!) ou checando a procedência de caldeirões vendidos numa banca no meio da calçada (será que eram coisa do Mundungo?).
Assim, eles daí a pouco se separaram dos três adultos, que tomaram outro caminho no Beco, não sem antes Hermione comentar que vira a cigana comprando alguns livros novos sobre poções e artes das trevas...Por que seria? Não eram livros comuns, eram raridades, inclusive que haviam custado, ela confirmou o mais sutilmente possível, alguns galeões a mais do que o normal.
Após o jantar, no quarto em que dividiria com Rony no Caldeirão Furado até o dia seguinte, quando partiriam para Hogwarts, Harry ainda se perguntava sobre a facilidade com que Antonio penetrara sua mente, sem causar o mal estar que sentira nas aulas com Snape. E ele fizera isso sem uma varinha! Imediatamente, sua mente começou a borbulhar. Precisava aprender a fazer isso!
Rony, Hermione e Gina também comentavam sobre os estranhos amigos de Tonks, e se perguntavam como ninguém nunca ouvira referências sobre ciganos em Hogwarts.
- Ora, eles tinham que usar vestes e uniformes como todo mundo, então não devia ficar tão na cara... – Gina comentou – Ei, me lembrei duma coisa que o cara disse, ele comentou sobre a tia não lhes dar moleza. Será que alguma parenta deles é professora em Hogwarts?
- Será? – Rony olhou a irmã com aquele seu ar de quem está borbulhando uma teoria maluca.
- É possível. Afinal, se o pai é bruxo, e eles falam inglês praticamente sem sotaque – comentou Hermione
- Eu também a ouvi perguntando se o Snape continuava o mesmo...- lembrou Gina – tinha uma cara estranha...
– Esse pessoal é realmente intrigante... O que será que vieram fazer?
- Me ensinar oclumência – respondeu Harry inesperadamente.
Ante o olhar surpreso dos amigos, ele comentou o que ouvira a mulher comentar com o irmão.
- Mas como eles vão fazer isso? As férias já acabaram, e sabe-se lá quando vamos poder ir a Hogsmeade... – Rony ponderou.
Formulando um sem número de questões e teorias mirabolantes sobre os ciganos, os quatro só se prepararam para dormir quando a Sra Weasley veio chamar as garotas para seu próprio quarto. Mas Harry ainda passou um bom tempo deitado em silêncio, ouvindo o ressonar tranqüilo de Rony, e pensando...
A manhã chegou, e com ela mais um movimentado café no Caldeirão Furado. Os funcionários já deviam estar ansiosos pelo dia seguinte, sem estudantes de Hogwarts correndo pra tudo quanto é lado, sem animais de estimação os mais variados perseguindo-se mutuamente pelos corredores, sem barulho de crianças e adolescentes em suas pacatas manhãs de final de verão, pensou consigo Harry, enquanto descia as escadas para se encontrar com Hermione e os Weasleys.
Dali a pouco, mais uma agitada viagem de carro (desta vez não precisaram da ajuda de Mundungo) até a estação de Kings Cross, uma despedida emocionada da Sra Weasley com os habituais conselhos de última hora, uma furtiva entrega de embrulhos por Fred e Jorge na mão do intrigado Harry – só agora ele percebia que eles realmente não voltariam mais à escola – e a costumeira procura por cabines vazias. Gina encontrou Luna, Neville e Simas em uma cabine, e ela e Harry se acomodaram com as corujas, enquanto Rony e Hermione iam se juntar aos outros monitores.
Harry percebeu que todos agora estavam mais à vontade com Luna, mesmo com seu visual todo particular (seus brincos tinham a forma de enormes besouros e o garoto não pôde deixar de pensar se um deles não seria a Rita Steeker).
Mas a viagem transcorreu como sempre, só que desta vez foram poupados da visita de Malfoy e seus asseclas, Harry percebeu quando Rony e Hermione se juntaram a eles. Rony comentou rapidamente que havia outro monitor pra Sonserina, mas pareceu esquecer o que estava falando ao perceber Simas ao lado da Gina e, como se tivesse de repente se dado conta de que era agora o único “homem da família” em Hogwarts, pareceu achar que sua tarefa mais importante era vigiar a irmã.
Mas Hermione tinha outras coisas pra contar. Alguns colegas haviam comentado sobre terem ouvido falar de uma consultoria em Hogwarts.
- O que é isso? – indagou Rony, sem tirar os olhos do casal à sua frente, a expressão ameaçadora.
- É muito comum em empresas trouxas – explicou Hermione – você contrata uma pessoa para auxiliar em uma determinada área, dar um apoio maior, ver o que precisa ser mudado ou melhorado.
- Depois da Umbridge, não sei não... – Neville comentou, sério – Isso pode ser mais uma ação do Ministério para atrapalhar a escola.
- Não é não – retrucou Hermione – Parece que foi o próprio Dumbledore que pediu. Resta saber por que, e para que.
- A Suzana Bones comentou que viu o nome S. M. McGonagall Na lista do corpo docente enviada para seus pais.
- Não vimos esta carta lá em casa... – Rony retrucou.
- Claro, a mamãe está super cuidadosa com essas coisas ultimamente. – Gina respondeu – Mas o que tem isso? Tá falando da McGonagall, não?
- Nunca vi outro nome antes de Minerva. – comentou Hermione.
- E o nome da Minerva também estava na lista, portanto, teremos dois McGonagalls na escola este ano – explicou Simas, conclusivo – vai ver é o novo professor de Defesa.
- Por Merlim! – Gina exclamou de repente – Será... – mas se calou em seguida, recusando-se a dar explicações, resmungando pra si mesma um “não pode ser... ou pode?”
Pensativos, todos permaneceram em silêncio até a chegada do carrinho dos lanches, e logo os sapos de chocolate e outras guloseimas estavam ocupando toda a sua atenção. Ninguém queria se preocupar com questões escolares ou mesmo batalhas e bruxos das trevas por enquanto. Só queriam aproveitar os últimos momentos de férias, antes do trabalho duro começar.
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