4o Ano – Família
4o Ano – Família
Fala sério. Eu nunca comecei as férias tão ferrada! Primeiro por que a escola escreveu para minha mãe depois do negócio que o Thomas falou no alto da torre. Ah, pelo amor de Deus! Eu nem disse nada! Eu estava lá, é claro, mas não disse uma sílaba. E ri, mas, tipo assim, TODO mundo riu. Foi mesmo engraçado. Eu até entenderia se escrevessem para os pais do Thomas (eu sei, eu estou parecendo uma amiga horrível, mas é a mais pura lógica!), mas não tem sentido em mandar uma coruja para minha mãe dizendo que eu “ameacei a dignidade de meus superiores com afirmações/acusações sem fundamento”. Ah, por favor, tudo que Thomas disse foi que McGonagall era sexy – tudo bem, é uma mentira enorme e potencialmente constrangedora, mas não precisava de uma atitude tão drástica! Conclusão: estou de castigo pelas próximas cinco semanas.
Mas isso não é bem a pior coisa que me aconteceu. Não, infelizmente, é algo bem pior. Adivinhe: meus pais estão se separando.
Na real, eles JÁ se separaram. Sério. Mamãe já está morando em outra casa e tudo. Levou minhas coisas com ela. E só o que disse foi: “Vai ser legal. Você vai ver, é o melhor para nós todos. A casa é tão linda! E o seu quarto! Ah, você precisa ver seu quarto, é uma be-le-za!”.
Vamos partir do princípio que qualquer lugar que mamãe possa descrever como “uma be-le-za!” não me agrada nem um pouco. Nós temos gostos muito diferentes. Totalmente opostos, para dizer a verdade. E depois, quem se importa com a casa? Eu não quero que eles se separem!
Eu sei que eu sempre reclamo dele, mas ele ainda é meu pai, né! Eu gosto dele apesar de tudo! E tudo o que ela é capaz de me dizer é que será melhor para todos nós. Me desculpe, mas eu duvido muito que vá ser melhor PRA MIM! Alguém aqui, por acaso, perguntou o que EU acho disso? Será que eles se incomodaram em saber o que EU tinha a dizer a respeito? Nããããããão. E agora é isso. Eu e minha mãe estamos nos mudando para um povoado bruxo. Bom, não totalmente bruxo já que, como Mandy não cansa de dizer, Hogsmeade é o único povoado inteiramente bruxo na Grã-Bretanha. Mas com uma maioridade bruxa, com certeza. É por isso que cada vez menos trouxas vão morar lá. Eles acham que seus vizinhos são mesmo muito esquisitos.
Mas eu não quero ir. Tentei dizer isso a minha mãe, mas ela totalmente não QUER me ouvir. Este é o ponto. Ela quer realmente se enganar e fingir que tudo está uma maravilha, em plena e pura felicidade e tudo o mais, a ponto de sempre que eu começo a protestar ela passa a falar (quase gritar) todas as qualidades da nossa nova vida.
E, cara, foi mesmo um choque quando ela me contou. Nós estávamos no carro do meu pai, mas só ela tinha ido me buscar. Ela me falou depois que tinha pedido emprestado a ele, para que, à primeira impressão, eu não estranhasse nada, ou ficasse chocada, ou sei lá. E, naturalmente, ela ia me levar até a nossa casa – ou melhor, à casa DELE – para eu me despedir.
- Querida – começou ela hesitante, depois de me abraçar (por sua vez, depois de gritar comigo por causa da carta que recebera de Hogwarts, uma cena extremamente humilhante, mas que a fez se acalmar depois) e tudo e guardar minhas malas no porta-malas, e acomodar Elyon no banco de trás enquanto eu sentava ao seu lado – Eu tenho umas coisas para falar com você. E-eu acho que eu já devia ter te contado, faz uns dois meses que aconteceu, mas eu não quis tirar sua... hum... concentração da escola, então achei melhor esperar.
- Ah – disse debilmente, sem saber o que me esperava – Ah, tudo bem.
- É que, amor, é que eu e seu pai... você deve ter reparado que nós já estávamos discutindo bastante no ano anterior. Tínhamos, de fato, algumas brigas...
- Claro – respondi olhando para ela desconfiada – Claro que notei.
- Pois bem, as coisas estavam ficando meio difíceis, entende. A convivência estava ficando meio, ahn, conturbada, sabe. E nós decidimos que seria melhor, para nós, para todos nós, que nós... nos separássemos – a voz dela ia diminuindo de volume constantemente. Quando ela terminou, estava quase inaudível. Mas eu a tinha ouvido muito bem.
- SEPARAR? – gritei – Como, tipo, viver em outro lugar, longe um do outro?
Era meio idiota, sabe, por que eu sabia perfeitamente o conceito de “separar”. Desejei que não soubesse.
- Bem, é querida, exatamente.
- Então, você vai embora?
- Não, er... eu, nós vamos, Ninfadora. Nós duas.
- NÃO – berrei furiosa – ME CHAME DE NINFADORA!
- Tudo bem, Tonks. TONKS!
Ela gritou, me tirando daquele ataque de fúria que, no momento, estava me fazendo berrar Em protestos e xingar histericamente a tudo e a todos, ininteligivelmente. Eu parei e lancei a ela, com o olhar mais sujo que consegui dar no momento. Do que ela estava falando? Eu não iria ser mais feliz longe do meu pai. Por mais, bem, porcalhão que ele possa ser, e tudo. Eu gosto muito dele, muito mesmo, tá legal?
- Escuta, docinho – eu odeio quando ela me chama de docinho, quase tanto quanto quando me chama de Ninf... bem, você sabe o que – Eu sei que você deve estar perturbada e que a adaptação não será fácil, mas, se você se esforçar...
- PERTURBADA? – exclamei – PERTURBADA? EU NÃO ESTOU PERTURBADA, EU ESTOU FURIOSA!
- Não fale nesse tom de voz comigo, Ninfadora.
Eu dei um grito agudo, tipo um “AAAAAAAAA!” quando ela, novamente, me chamou pelo primeiro nome. Raios, ela não pode fazer NADA certo?
- Olha, se pudermos conversar civilizadamente... – começou ela.
- Ótimo! – gritei – Quer uma conversa civilizada? Eu vou te dizer! Eu não acredito que você deixou para me contar isso assim! Agora! De surpresa! Você devia ter me avisado! E olha só, EU NÃO QUERO que vocês se separem! Eu sou sua FILHA! Eu merecia um pouco mais de consideração as parte de vocês! Da SUA parte, mãe! É TOTALMENTE INJUSTO! Eu não quero mudar de casa, eu quero ficar com meu PAI!
- Agora já chega! – disse ela, firmemente. Parecia um pouco ameaçadora, quando irritada. Ela tinha muita semelhança com a mãe dela e as irmãs, quando estava assim. Ela era uma Black, querendo ou não – Escute aqui, Ninfadora Black Tonks – o-oh, nome completo, um mal sinal – Tudo que eu e seu pai fazemos é o que pensamos ser melhor para você! Não comece a dar ataques, mocinha! Nós vamos nos mudar, sim, mas você poderá visitar seu pai sempre que quiser! E silêncio! – acrescentou quando abri a boca para reclamar – Já é ruim o bastante sem seus dramas de adolescente incompreendida, ok? E você não está exatamente em condições de exigir nada, depois do aprontou em Hogwarts. Não quer que eu aumente seu castigo, quer?
Eu murmurei um “não”, cabisbaixa. Já estava quase chorando àquela altura. Droga, como eles puderam fazer isso comigo? Que tipo de pessoa eu vou ser? Vou crescer traumatizada! E agora estou aqui trancada no meu novo quarto – ridículo! – que é tipo o quarto dos sonhos para minha mãe, mas totalmente inapropriado para mim. Tem uma cama de casal (tá, confesso que isso é legal), com uma colcha toda cor de rosa – do tipo que a Anna gostaria – umas cortinas rosa-bebê, penteadeira, uma escrivaninha com algumas prateleiras em cima, tipo na parede sabe, para guardar meus livros de escola, um armário e porta para um banheiro só meu. Coloquei meu pelúcio de pelúcia em cima da cama, e alguns pôsteres de bandas bruxas que eu gosto (incluindo uma bem nova que tocou no baile do ano passado), roxo berrante, verde, pretos e vermelhos, na parede. Deu um contraste enorme com o jeito delicadinho do aposento, se quer saber.
Ah, e engole essa, eu tenho uma banheira. Uma banheira enorme e bonita, no banheiro de parede amarelo-bebê, exatamente igual a do quarto, onde cabe mais ou menos duas de mim.
Aliás, a casa toda é grande e bonita. É uma casa pintada de azul claro e branco, no povoado onde todas as casinhas são dessas cores assim. Parece que estamos dentro de uma historinha de contos de fadas ou algo do gênero. Um tédio. E eu nem pude me despedir dos rapazes da rua!
Mas, por pior que seja admitir, o resto do lugar é bem legal. Tem lojas bruxas nas ruas próximas, e uma com equipamentos de quadribol realmente boa! É tudo enfeitiçado, claro, para os trouxas não perceberem. Tem passagens que somente bruxos podem ultrapassar e tudo o mais.
Acho que vou dormir. Ainda não consegui me adaptar muito bem aqui. E não quero falar sobre a despedida com meu pai. Foi meio... triste. Eu chorei. Não gosto de chorar, mas chorei. Foi realmente um tanto deprimente... esquece. Eu vou me deitar. Boa noite. Espero que amanhã o dia seja um pouco melhor.
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Ainda estou me acostumando.
Mas o lado bom: descobri que Mandy mora aqui perto. Sério! Ela tem uma casa a uns dois quarteirões daqui. Falei com ela hoje. Ela disse que não tem problema em eu não estar feliz aqui depois de só três dias, e que no fim vai dar tudo certo. Eu espero mesmo que sim. Também escrevi para Albert, Lena, Thomas e David. Todos os quatro disseram coisas bem parecidas. Talvez eles venham me visitar, passar uma semana aqui pra me fazer companhia e ver se conseguimos nos divertir um pouco. Minha mãe disse que tudo bem. Acho que está com pena de mim. Sei lá. Tanto faz.
Mas com certeza ainda não estou muito animada aqui. Este lugar... bem, não me faz sentir em casa. É tão certinho, sabe. Tão “lugar perfeito” que me enjoa. Mas tem pelo menos uma sorveteria onde eu fui com a Mandy essa tarde que é boa. O dono é um bruxo velho e barbudo, que veio da Itália, e seu neto está ajudando aqui. Ele é muito lindo – Albert que me perdoe – moreno, de cabelos e olhos negros, uns quinze centímetros mais alto que eu, acho, forte e tudo o mais. Tipo um deus grego (palavras da Mandy, ela ainda está se recuperando da humilhação com o professor Doyle, e desesperada por um namorado que a ajude a superar o trauma). Ou um deus italiano, se preferir.
Eu notei outra coisa. Está sendo mais difícil me transformar agora. Ainda consigo mudar, mas exige muito mais concentração. Perguntei a Mandy e ela disse que isso pode acontecer quando há um choque emocional muito grande e coisa e tal. Meus cabelos estavam ruivos e bem compridos e eu quis deixá-los curtos, azuis de preferência. Levou uns bons dez minutos até eu conseguir mudar direito e quando terminei estava esgotada.
Só tenho uma coisa a dizer: obrigada mamãe, por estragar minha vida!
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Finalmente uma boa notícia!
Albert está aqui, assim como Thomas, David, Lena e Rogério – lembra do Rogério? Ele foi conosco à Floresta Negra no primeiro ano. Estava passando as férias na casa do Thomas já que seus pais foram viajar para o exterior, e acabou vindo junto. Nós iremos passar duas semanas juntos, e então voltar para Hogwarts – essas férias estavam realmente se arrastando. Não sei o que seria de mim se Mandy não estivesse aqui.
Minha mãe disse que talvez a gente passe três dias na praia antes do ano letivo começar. Eu acho ótimo.
Só teve um probleminha. Minha mãe não sabia que eu estava, bem, namorando. Então quando o Albert chegou e me deu um beijo, quero dizer, foi bem constrangedor. Tive que me trancar no banheiro com minha mãe para explicar tudo a ela enquanto o pessoal fazia as malas. Ela parecia que ia ter um enfarto ou coisa parecida. No fim acho que acabou aceitando, mas disse que, sem chance de negociação, os garotos dormem na sala, as meninas no meu quarto, com a porta trancada, e ela vai supervisionar. Fala sério, o que ela pensa que a gente vai fazer? Nada demais. Beijar é saudável, sabia, principalmente para quem sofreu uma perturbação emocional como eu. O mínimo que ela podia fazer – já que aquilo foi total culpa dela (tipo assim, a perturbação emocional, quero dizer) – era me deixar dar uns beijos, mas sei lá, está além da capacidade dela.
Agora eles estão dormindo (já são duas da manhã, não conseguia pegar no sono), e Mandy também está aqui, para ser mais divertido, ficarmos todos juntos e tal. Amanhã vamos até o bosque que tem na saída do povoado, ver se encontramos um rio para tomar banho (de preferência com cachoeira, mas acho pouco provável), um lugar para fazer piquenique, e que seja bem fechado para podermos voar um pouco – quem tem vassoura, claro. Minha mãe não vai junto, é claro, pois tem que trabalhar (graças a Merlim!).
Bem, boa noite.
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Essa semana foi o máximo. Juro, até esqueci, por um tempo, a coisa do meu pai e tudo. Nós jogamos quadribol – eu, Thomas e David, contra Albert, Lena, Rogério e Mandy (Mandy e David são ruins, Lena mais ou menos, e nós somos realmente bons – sem querer me exibir é claro) – rimos, comemos, e tudo o mais. Eu e as meninas conversamos um pouco sobre garotos, mas você sabe como eu não sou bem o tipo de garota que fica cheia de risinhos histéricos e tal, e então Lena começou a dar conselhos à pobre Mandy, do tipo “seja você mesma”, “pare de ser tão tímida”, “por que não usa roupas mais ousadas? Iria destacar melhor seu corpo, e você é mesmo bonita, Mandy, e se me deixasse arrumar seus cabelos...” e tal. Mas acho que passou um pouco dos limites quando começou a gritar – os garotos estavam no andar de baixo jogando snap-explosivo, mas tenho quase certeza de que conseguiram ouvir tamanho escândalo – no meu quarto: “Ah, e que tal o Rogério? Tenho certeza que ele gosta de você, o jeito que ele te olha... Ah, mas vocês seriam o casal MAIS FOFO do mundo, não acha, Tonks? Eles não seriam o casal mais fofolete? Com certeza seriam! E, sabe, Mandy, ele é bem bonito também, se quer saber. Aproveite, garota!”. Ao que Mandy ficou roxa de vergonha e jogou um travesseiro na cara de Lena, mandando-a freneticamente calar a boca e parar de ser tão, como foi que ela disse? Ah, sim: “insuportavelmente animada”. Mas, quando os garotos subiram, nenhum deles demonstrou ter ouvido coisa alguma. Graças a Deus, por que Mandy teria um acesso, tadinha.
Continuando, nós realmente achamos um lugar ótimo no bosque e foi tão bom que voltamos lá mais algumas vezes durante a semana, para comer alguma coisa e nadar no rio – tinha mesmo um rio! – jogar quadribol e tudo o mais. Foi ótimo.
A primeira vez que fomos, nós saímos de casa lá pelas dez da manhã, e entramos no bosque todos juntos, levando mochilas cheias de tudo o que é coisa, desde sanduíches e suco, até bolas – de borracha, mas davam pro gasto – para jogarmos quadribol. Caminhamos por cerca de meia hora, e já tínhamos há muito saído da trilha, até que Thomas olhou para os lados – os garotos tinham feito questão de nos “guiar” – e admitiu:
- Caraca, acho que estamos perdidos!
- Ah, você acha, é? – disse eu sarcástica – Estamos perdidos desde que saímos daquela trilha para pegarmos o seu “atalho”!
- Calminha aí, Ninfa! – disse ele – Vamos encontrar o lugar rapidinho. Só precisamos... precisamos... – ele passou a olhar em volta, perdido.
- Precisamos é que EU resolva isso! – disse Mandy tomando o pequeno mapa das mãos dele e assumindo o controle da situação – Vamos logo!
E assim, com Mandy na liderança, cerca de cinco minutos depois nós nos encontrávamos em uma clareira linda e verdejante, com um rio correndo logo ao lado, e um tronco caído onde a gente pôde se sentar depois para lanchar. Os garotos, como sempre, ficaram todos animados e se atiraram no rio de roupa e tudo – o que foi um problema depois, na hora de voltar. Já as pessoas civilizadas (eu e as garotas) tiramos a roupa, já que tínhamos vindo de biquíni por baixo e tudo o mais.
Mais tarde eles realmente tiraram as roupas e ficaram só de calção, e nós fizemos a maior bagunça. Depois formamos duplas (eu e Albert, Lena e David, Mandy e Thomas e Rogério de juiz) e fizemos tipo um campeonato de “briga de galo” – sabe, né, um sobe nas costas do outro e tenta derrubar o adversário. A Mandy e o Thomas venceram duas das cinco partidas, então foram os ganhadores. Eu e Albert ganhamos uma, Lena e David outra e uma empatou, quer dizer, todos caíram.
Então ficamos com fome. Saímos do riacho, pegamos as toalhas, nos secamos e vestimos, e pegamos a comida. Os garotos simplesmente pareciam uns selvagens comendo, se atracaram nos sanduíches, que foi uma coisa! Depois ficamos ali, conversando um pouco, até que o Albert me pegou no colo e me atirou na água de novo – de roupa e tudo! Eu quis matar ele, mas achei melhor, e mais atingível, puxá-lo para dentro do rio junto comigo. E lá estávamos todos nós outra vez brincando como criancinhas dentro d’água...
Só quando eram umas cinco da tarde nós resolvemos jogar um pouco de quadribol. Três partidas, e meu time venceu duas! Quem é a melhor? Toooooooonks!!! Hahaha!
Voltamos então mais tarde, para jantar e tal. Nos dois dias seguintes nós voltamos para lá e foi realmente divertido! Então, na quinta feira – eles chegaram domingo à tardinha – nós resolvemos dar uma volta na cidade. Fomos à sorveteria que eu e Mandy já conhecíamos, e havia uma garota negra muito bonita algumas mesas adiante que não parava de olhar na nossa direção. Ela estava sozinha, tomando um sundae, e acho que se sentia meio solitária. Quando já estávamos terminando nossos sorvetes e bananas-split ela veio andando até nós. Era um pouco mais alta que Lena, e tinha o caminhar firme, decidido, mas ao mesmo tempo elegante, seus cabelos negros balançando de um lado para o outro e tal. Chegou até a nossa mesa, parou e disse:
- Oi! Como vão? Vocês não são daqui, não é? Acho que nunca os vi antes! Só você – apontou para Mandy – é claro que eu te conheço, mora aqui há anos! Mas os outros... Ei, seu cabelo não estava azul? – perguntou abruptamente para mim. Meu cabelo estava rosa berrante e curto agora – Cara, ele está legal assim. E quem são vocês? Garota, adorei sua blusa – disse para Lena.
Nós olhávamos para ela perplexos. A garota simplesmente não parava de falar! Então, depois de uns minutos, ela, vendo que nenhum de nós dizia nada (não que ela tivesse dado chance), falou:
- Ah, mil desculpas – seu rosto comprovava que ela estava arrependida – Eu me empolguei. Meu nome é Victória. Victória Parker. Meu primo é garçom aqui – em uma fração de segundo ela esquadrinhou o local procurando o primo e então nos apontou um rapaz também negro, de uns vinte anos, que estava servindo uma mesa do outro lado da sorveteria – e estou passando as férias com ele.
- Ah – disse Lena aliviada – legal! Eu sou Lena. Lena Edwards. E esta é Tonks, Albert, o namorado dela – risinhos – Thomas, Rogério e David, o MEU namorado – mais risinhos.
- Tonks? Tonks é seu nome? – perguntou surpresa – Que maneiro!
- Sobrenome – expliquei.
- Então, vocês são de Hogwarts?
- Claro. Você não?
- Sou. Sou sim. Grifinória – explicou – Mas acho que nunca nos encontramos, não é? Mas conheço vocês dois – apontou para Albert e Rogério – são da minha casa, não? Sim, e você é aquele que gritou sobre a McGonagall da torre. Aquilo foi hilário! E joga no time da casa também, eu sei. Estou pensando em entrar este ano. Não pude fazer o teste no ano passado, estava com o braço quebrado. Foi um acidente meio, hum, embaraçoso.
- Em que ano você está? – perguntou Mandy, temerosa pelo quanto a garota falaria em resposta.
- Quinto ano. E veja – ela tirou um distintivo do bolso da saia jeans – sou monitora.
- Ah não – exclamou Albert.
- Sem essa! – eu e Thomas gritamos – Monitora?
- Exatamente!
- Bem, ninguém é perfeito – resmungou Thomas com um sorrisinho irônico. Ela pareceu ficar meio embaraçada, mas recuperou a pose rapidinho.
- E aí, posso sentar com vocês?
- Claro – disse Lena. Ela parecia já ter se apegado muito a Victória. Conversavam como se fossem velhas amigas, e às vezes deixavam os outros meio de fora.
Logo deu pra notar que ela era muito popular. E que já tinha tido alguns namorados, ou ao menos, algumas ficadas. Ela e Lena começaram um papinho de: “Meu Deus, o que ele disse?... E o que VOCÊ disse?... Deve ter sido péssimo... Merlim, eu NÃO ACREDITO que você fez isso!... E o que ele disse?” e foi nauseante realmente. A Lena é minha amiga e tudo, mas às vezes essa bobeira dela me incomoda. Mandy parecia também estar extremamente entediada, e evitava a qualquer custo olhar para os garotos (a “conversa” com Lena fora na noite anterior). Por fim, nos levantamos e eu disse que era melhor irmos para casa.
- Ei, ei! – chamou Victória – Escutem... Querem ir dança esta noite? Seria ótimo! Há dias não tenho NADA para fazer, e não tem graça ir sozinha!
- Claro! – a empolgação de Lena respondeu antes que pudéssemos pensar – Vai ser O MÁXIMO!
E assim fomos nós todos dançar naquela noite, e se quer saber foi muuuuito bom, mesmo eu não querendo admitir no início. Acho que eu meio que estava com ciúmes por que a Lena tinha nos abandonado na conversa. Mas acabou que ela realmente É uma boa pessoa. E o primo dela é muito legal também, ele nos levou até lá e nos trouxe – mamãe só deixou por que um maior de idade também iria.
No outro dia (sexta feira) nós todos resolvemos dar uma volta na cidade trouxa aqui perto. Sábado voltamos ao “nosso lugar” no bosque, e hoje fomos ao Beco Diagonal comprar os materiais escolares. Victória foi junto, e, cara, ela é mesmo popular. Cumprimentou TODOS os alunos de Hogwarts, pelo que parece. Umas garotas praticamente se atiraram em cima dela, abraçando-a e tal, e presumi que fossem melhores amigas. Uma tinha os cabelos loiros e cacheados e a outra castanho e liso até a cintura, e olhos verdes. As duas muito bonitas. Formam um trio e tanto. Depois um garoto muito parecido com o Albert se aproximou.
- Ei, bebezão! – gritou ele. Eu me virei e vi Albert olhando para o cara, com uma expressão furiosa, o rosto vermelho – Como vai o Albertinho da mamãe? – perguntou debochado.
- Cala a boca, Marcus!
- Quem é, Albert? – perguntei.
- Ah, esta é sua namoradinha, Albertinho?
- Meu irmão – murmurou Albert – E cala a boca! – acrescentou para ele.
- Está gostando de passar uns dias na creche? Esses são os outros bebês?
- Ah, pelo amor de Deus! – era Victória, que se dirigia a ele, as mãos nos quadris – Pare de incomodar seu irmão, Marcus!
- Vi-Victória? – gaguejou ele – E-eu, desculpe, não sabia...
- O quê? Que eu estava com eles? Ah, sim, eles são mesmo muito legais, nos conhecemos esta semana. Eu sabia que você me lembrava alguém, Albert, só não sabia que era o boboca do Marcus. Então, o que você quer? – ela se voltou para ele novamente. As meninas atrás dela assistiam interessadas.
- Nada – disse ele – Nada, só estava...!
- Sendo um boboca – terminou ela – Como sempre. E depois você espera que eu SAIA com você? – perguntou ela incrédula – Ah, por favor! – falou cheia de sarcasmo – Vá procurar sua turma, legal?
E, incrivelmente, ele foi! Saiu de lá rapidinho, morrendo de vergonha, parecendo não saber o que fazer, totalmente perdido. Victória deu mesmo um fora nele. Deu-me um pouco de pena... Em todo caso, ele estava sendo imbecil.
Nós estávamos terminando as compras, na Floreios e Borrões, quando vimos três das pessoas mais desagradáveis de Hogwarts: Anna, Penélope, e Matt – o que nos dedurou para o Snape no primeiro ano. Matt e Anna conversavam animados, e ela estava babando por ele. Mas Penélope parecia extremamente deslocada e infeliz. Então ela nos viu e imediatamente se recompôs e cutucou Anna, apontando com a cabeça para nós. Anna olhou para a gente com desprezo e se aproximou.
- Se meus pais soubessem o tipo de ralé que compra aqui, tenho certeza ABSOLUTA que nos levariam a um lugar melhor, não acha, Matt? – vi Penélope olhar espantada para a amiga. A frase costumeira era “Não acha, Penny?”.
- Com certeza.
- Bom, por que não faz isso? Seria um alívio não ver a sua cara pelas redondezas por um bom tempo! – disse eu, irritada. Fala sério, não tínhamos feito nada para ela!
- É, assim, não precisaríamos agüentar você e toda essa sua maquiagem. Aliás, parabéns, ela consegue esconder quase todas as suas espinhas, Anna!
Todos olhamos surpresos. Por que quem havia dito isso não fora Lena, como eu esperava, tampouco Victória. Fora Mandy, absolutamente sarcástica e maldosa. Realmente, um ótimo lado dela que eu não conhecia. E Anna estava olhando para ela em um misto de irritação e espanto.
- Ora, sua...! – ela apontou a varinha para Mandy, mas antes que a tirasse totalmente do bolso, oito varinhas já estavam apontadas diretamente para ela.
- Mandou bem, Mandy – falei, mas ainda tinha os olhos grudados nos de Anna. Penélope e Matt também levantaram as varinhas, embora Penélope parecesse meio contrariada.
- Garotos, garotos, nada de duelos na minha loja! – ouvimos um senhor gritar. Abaixamos as varinhas, mas continuamos nos encarando.
- Certo – disse Thomas – Certo. Vemos você em Hogwarts, Anna. Vamos, galera.
E lá fomos nós, não antes de todos lançarmos olhares sujos na sua direção, que ela retribuiu com a mesma intensidade, mostrando desprezo e nojo. Terminamos nossas compras, ficamos algumas horas na loja de artigos de quadribol (com Mandy reclamando o tempo todo nos nossos ouvidos) passamos na sorveteria e encontramos com minha mãe no Caldeirão Furado, para irmos para casa.
Então fizemos as malas – mamãe vai nos levar à praia para passar a última semana de férias, mas Victoria não vai poder ir, infelizmente –, e, depois do jantar e mais umas quinhentas partidas de xadrez de bruxo, fomos dormir. Ou melhor, eles foram dormir e aqui estou eu escrevendo. E está me dando uma saudade do meu pai. Como eu vou para a estação amanhã sem poder me despedir dele? E se alguma coisa acontecer e eu nunca mais vê-lo? Eu preciso muito falar com ele agora, dizer que sinto falta dele, da minha antiga vida e que ele, por favor, volte com a mamãe e possamos ser uma família completa e normal – na medida do possível – de novo. Parece tão infantil dizer isso, mas eu quero meu pai!!
Tchau, Lena está acordando e não quero que ela me veja chorando, ainda dar tempo de fingir que estava dormindo.
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Nós chegamos à praia às nove e meia da manhã, depois de tomar um ótimo café da manhã em casa e mamãe fazer uma chave de portal com um vaso da sala de estar, para pararmos bem próximos da cidade litorânea – trouxa – em que mamãe alugara uma casa. Ela aproveitou a ida ao Beco Diagonal para trocar algum dinheiro bruxo – MUITO dinheiro bruxo, na verdade – por dinheiro trouxa, e como havia sido casada com meu pai durante anos não teve problemas em administrá-lo.
Agora eu reparei que embora vivêssemos em um lugar trouxa, com exceção dos garotos da rua e a escola, nunca tivemos muito contato com pessoas não bruxas. As amigas de mamãe eram todas bruxas, e papai nunca nos apresentou ninguém do escritório ou coisa assim. Eu, obviamente nunca estive em outra casa trouxa além da em que morava, pela principal razão de todos os meus amigos serem garotos. É bastante estranho se a gente para pensar.
Continuando, a casa que havíamos alugado era enorme, na beira da praia, tipo, a uns cinco passos do mar (tá legal, estou exagerando, mas era bem perto). Tinha cinco quartos, dois com seus próprios banheiros, e um banheiro no corredor para os quartos normais. A sala era enorme, e blá-blá-blá, mas não tem graça ficar descrevendo a casa. O caso era que era tudo grande e confortável, e o terreno lá fora era ótimo, tinha árvores, uma rede pendurada, e uma mesa para comermos lá, além de postes de luz para a noite, uma churrasqueira, e bastante espaço para que eu e as garotas tomássemos sol, em nossas cadeiras de praia, o que era ótimo. Rogério trouxe binóculos, e ficava o tempo todo deitado na rede, observando as garotas passarem na praia e fazendo comentários, chamando Thomas, Albert e David – que Lena e eu rapidamente chamamos de volta – para olharem também.
Logo no primeiro dia (ontem), depois de arrumarmos as coisas, almoçarmos, todos fomos para a praia, e ficamos séculos dentro d’água, até nossas mãos ficarem murchas. Estava tudo ótimo, tomamos picolés – é um doce gelado, de vários sabores, que os trouxas vendem em carrinhos na beira da praia, que eu já havia comido algumas vezes com meu pai – tomamos sol, e então – infantil, eu sei – fizemos um enorme castelo de areia. Bem, eu e Mandy fizemos, os garotos voltaram para o mar.
- Vê só – disse Mandy, que descobrimos ter uma incrível habilidade para fazer castelos na praia – Esta é a torre de Astronomia, e aqui – apontou outra das torres que construíra, um pouco mais baixa – é nosso salão comunal!
- Então aqui é o campo de quadribol – disse desenhando um retângulo com o dedo – e a Corvinal está dando uma surra na Grifinória, por que somos muito melhores!
- E este é o lago, e o salgueiro lutador – Mandy fincou um galhinho com três folhas verdes na areia – e as estufas.
- Isso não parecem estufas, parecem três pães! – reclamou Lena, que estava só deitada em sua cadeira, observando – Faça alguma coisa decente, Mandy! – riu ela.
- Não estou vendo você pondo a mão na massa – retrucou Mandy.
- Eu estou ocupada me mantendo linda – alfinetou, se espreguiçando – E, francamente, você deveria fazer o mesmo.
- Ei, ei, ei! – chamei, quando Mandy abriu a boca para responder – O que deu em vocês duas?
- Foi ela quem começou – disse Mandy, mal-humorada – Fica aí deitada, a patricinha fresca. Agora sim, está exatamente igual à Anna, por que não aproveita e se muda para a turminha dela?
Eu tranquei a respiração. Ninguém nunca havia chamado Lena de patricinha, fresca, ou muito menos comparado-a com Anna. Vi os olhos dela se encherem de lágrimas, mas ela fez questão de não chorar na nossa frente (na frente de Mandy, na verdade, par que ela não soubesse que a atingira), e apenas fuzilou Mandy com o olhar, parecendo furiosa. Então pegou suas coisas e foi correndo para casa sem dizer uma palavra.
- Mandy, o quê deu em você? – ela deu de ombros – Sério, primeiro a Anna, agora a Lena, o que está acontecendo?
Então eu notei que agora, era MANDY quem parecia à beira de lágrimas. Estava sentada na areia, abraçando os joelhos, olhando para qualquer lugar menos para mim. Sentei ao lado dela. Merlim, que confusão.
- O que houve?
- Eu estou cansada.
- Ah, ótimo – disse sem entender o problema – Por que não vai para casa dormir um pouco? – ela me olhou como se eu fosse retardada, ou pior, estivesse me fazendo de retardada de propósito.
- Não esse tipo de cansaço, Ninfadora! Cansada de estar rodeada de pessoas melhores do que eu, mais bonitas, mais...!
- Mandy, Mandy, o que você está dizendo? – preferi ignorar o fato de ela ter me chamado pelo primeiro nome – Ninguém aqui é melhor que você!
- Ah, não? Então por que eu sou a única aqui que nunca teve um namorado? Você tem Albert, Lena tem David, Anna tem Matt, só eu vou continuar encalhada para o resto da vida! – disse ela, chorando – Vou entrar num convento – disse depois, em um murmúrio – Vou virar freira!
- Ah, Mandy, não diz besteira, você é o máximo, a mais inteligente da turma e...
- E para que está me servindo ser a mais inteligente da turma? Não tem filas de pessoas que querem ser minha amigas só porque eu tiro boas notas. Lena tem uma fila de garotos prontos para saírem com ela assim que ela resolver chutar o David, sabia, e milhares de garotas do segundo e terceiro ano estão loucas para serem amigas dela!
- E para que você quer um bando de gente querendo ser sua amiga, você não está satisfeita conosco?
- Eu... eu estou, é claro... eu só queria saber como é, sabe... ser popular.
Eu a abracei. Não tinha mais muita coisa que eu pudesse fazer a não ser mostrar a ela que, não importando o que os outros pensavam, nós a amávamos muito. Bem, talvez Lena não amasse tanto assim naquela hora, mas isso ia passar rapidinho.
E eu nem podia negar o que ela dissera. Anna e Lena eram realmente as mais populares da turma, junto com mais umas garotas da Grifinória. Mas e daí? Eu também não sou popular, e estou muito feliz. Eu tenho orgulho de ser assim, até porque, ser palhaça é muito divertido. Tirando a parte em que a escola escreve para meus pais, é claro.
Mas eu ia dar um jeito de encontrar um namorado para Mandy. Tinha que dar. Não queria que ela ficasse se sentindo inferior.
Então voltamos para casa, tomamos banho e dormimos um pouco, antes do jantar, que foi ao ar livre. Nos outros dias a rotina era sempre a mesma. Na quinta feira, Albert achou uma caverna de pedra, e a gente entrou para explorar, mas era bem pequena. Mas ela foi ótima para a gente namorar um pouco, mais tarde, enquanto todos os outros estavam dentro d’água.
Ontem à noite minha mãe foi até em casa, pegar nosso material escolar, já que decidimos ir daqui direto para a estação, e arrumar umas coisas, então nós demos uma festa. Convidamos um pessoal que conhecemos na praia, e a festa foi ao ar livre, estava ótima! É claro que o galã Thomas ficou com umas duas garotas diferentes, e ficou se achando o máximo, e Rogério tentou, mas ele tem umas cantadas horríveis e não conseguiu garota nenhuma, mas o resto foi tudo bem. Até o final da festa, quando Lena pegou David CONVERSANDO com outra garota e deu um ataque histérico, mandando todo mundo embora. O que até foi bom, por que senão teríamos que arranjar uma desculpa antes que minha mãe chegasse. Ela gritou tanto com a pobre garota que ela saiu de lá em estado de choque, e depois olhou para David e disse teatralmente:
- Eu nunca esperei isso de você, David! Está tudo acabado entre nós!
E saiu correndo para o quarto.
E hoje fomos à praia – menos Lena que se recusa a sair do quarto – e arrumamos as malas. Tudo pronto para o embarque amanhã. Estas férias até que foram ótimas! Quero dizer, para alguns pontos de vista não, mas nos divertimos muito juntos.
Bem, boa noite.
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Nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, senhora Ágata Cawfield. Ela parece ter uns, o quê?, trinta anos, por aí. É bem simpática, mas parece um pouco como à professora McGonagall, sabe, severa e exigente. Tem os cabelos loiros ondulados até a cintura, e usa óculos muito legais, sem armação, só com a ponte cor de vinho. Bastante elegante. E parece saber bastante de defesas, eu achei. Nesse ano vamos lidar com artes das trevas mais perigosas, ela nos disse, animais perigosos como lobisomens, maldições e azarações e contra azarações mais avançadas. Vai ser legal.
Ah, Snape está tão insuportável como sempre, e fez questão de debochar dos meus cabelos (chanel, verde limão). E depois, quando, totalmente sem querer, eu virei a mesa, derramando não só a minha poção, como a de meus amigos, ele me deixou em detenção por uma semana – ótimo jeito de começar o ano letivo. Ele ainda não nos perdoou pelo que gritamos da torre no ano passado. Isso sem falar que, não sei por que, os garotos com quem eu dividia a mesa ficaram furiosos.
- Bem, vejo que este ano não será diferente, não é, srta. Tonks? – disse ele, zombeteiro, com um sorrisinho de desdém, por trás de sua escrivaninha.
- Ah, será sim, não se preocupe. Eu prometo derreter só um caldeirão por aula, juro! – disse sorrindo enquanto a classe abafava risadinhas.
- É incrível como você pode rir de si mesma... – sibilou ele – Tentando fazer gracinhas, não? Tentando chamar a atenção. Pois vou lhe avisando, senhorita, que é bom você se manter na linha, ao menos durante as minha aulas. E venha vestida decentemente da próxima vez. Isso é uma aula de poções, não um show de rock.
- Talvez o nariz lhe atrapalhe a visão, professor. Mas eu estou de uniforme. – disse levantando-me, indo a frente de sua mesa e dando uma volta no mesmo lugar, rapidamente – Ah... entendi – ele estava falando do meu cabelo... – Bem qual é o problema? Gosto dele assim.
- Mas eu não, senhorita – ele contornou a escrivaninha e me encarou lá do alto – e creio que ainda tenho um pouco mais de autoridade aqui do que você. Deixe-me lembra-la que está na minha aula.
- Pode crer, se eu tivesse escolha, não estaria. Isso não me agrada nem um pouco. Quero dizer... para que diabos serve tudo isso? – disse fazendo um movimento largo com o braço, abrangendo a sala, cheia de caldeirões fumegantes – Eu podia estar aproveitando esse tempo, jogando quadribol, o que acha? Seria uma idéia excelente. E ninguém se importaria se me cabelo fosse verde, azul ou violeta...
Ele segurou meu braço com força.
- Agora – sussurrou com aquela voz lenta e cortante.
- Oh, está bem – e meu cabelo estava repentinamente castanho, ondulado, e os olhos bem verdes, simplesmente adorável, para ninguém colocar defeito. Eu ouvi a turma fazendo “Ooooohhhhh”. Eu nunca tinha me transformado na frente de ninguém. Eles deviam pensar que era algo um pouco mais complicado – Melhorou?
Ele soltou meu braço. Me encarava cheio de desprezo.
- Ótimo. Volte para o seu lugar.
- Caraca, ok, não precisa se estressar, professor. O senhor devia mesmo achar uma namorada, cara! Sabe, tentar se distrair um pouco – disse enquanto voltava para minha mesa. Mas já era tarde demais. Ganhei mais uma semana de detenções. Grande surpresa...
O resto das aulas está igual à sempre, talvez com um pouco mais de dificuldade, mas acho que isso é normal, quando os anos vão passando.
Bem, nada de novidades, acho eu, então fico por aqui. Estou morrendo de sono. Graças a Deus amanhã é sábado!
Ah, e olha só? Eu de repente virei muito popular! Esse negócio de metamorfose realmente se espalhou, depois da aula do morcego velho... Às vezes estou andando pelos corredores e alguém grita “Azul!” e eu tenho que deixar os cabelos azuis, e por aí vai... Os aluninhos do 1º ano ficam vibrando. É tão legal! Acho que é tipo a novidade da vez. Anna está morrendo de inveja!
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Ok, agora eu levei um choque!
Sério, eu tinha esquecido totalmente que isso poderia – quer dizer IA – acontecer a qualquer minuto.
Menstruação. Sério. E para quem pensava que íamos nos tornar mulheres, e tudo seria muito mais legal, e que era lindo, ou qualquer uma dessas coisas, pode esquecer. É um grande incômodo, isso sim. Para não falar da cólica, é claro. E no fim, sou a mesma de antes, a não ser pelo fato de que agora eu preciso ir a toda hora à ala hospitalar para tomar um remédio para dor.
E quer saber? Eu fui a primeira. Pelo menos entre Mandy, Lena e eu. E disse para Albert que não iria a Hogsmeade com ele hoje – estava com muita cólica, mas não quis dizer isso para ele, disse apenas que não podia – e ele ficou zangado comigo. Ótimo. Bem, se isso é ser mulher, com licença, mas eu quero minha infância de volta! Mas, infelizmente, acho que nenhum de nós vem com direito à devolução...
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A festa de dia das Bruxas foi incrível!
Havia morcegos vivos voando para todo lado, e abóboras do tamanho de bebês elefantes, todas recortadas, formando as maiores lanternas que eu já vi. Muito legal. A comida ótima, e tudo o mais.
Nós rimos muito, nos perguntando por que eles simplesmente não penduravam o Snape no teto, já que gostavam tanto de morcegos e coisas assim. Lena andava feliz da vida com um cara chamado Dylan, um sextanista da Lufa-Lufa, alto, loiro de olhos castanho-claros, muito bonito, que descobrimos ser seu novo namorado. David está arrasado. No fim, nós conseguimos faze-lo se distrair e aproveitar a festa. A propósito, Albert está legal de novo, acho que Mandy contou a ele o que estava acontecendo no dia em que eu não pude sair com ele.
Mas houve algo estranho esta manhã. Eu recebi uma carta da minha mãe. Ela quer que eu vá passar o Natal em casa. Acho que está se sentindo sozinha... Eu vou, é claro, mas é uma pena, por que o Natal em Hogwarts é maravilhoso. E não fui eu quem a mandou se separar do meu pai, afinal. Ela devia arcar com as conseqüências sozinha. Mas é minha mãe, e eu meio que me sinto na obrigação de fazer companhia a ela, ainda mais em uma data como o Natal.
Ah, os treinos de quadribol já recomeçaram, e estamos treinando muito! Ganhamos no ano passado e queremos continuar vencendo! Vai ser difícil por que o time da Sonserina está ótimo esse ano e Grifinória também não está nada mal. Mas nós estamos bons também, e estamos nos esforçando pra valer, então temos chances. Bom, é isso aí.
E outra coisa! Lembra que eu disse que estava repentinamente popular? Pois bem, percebi que sou também muito, hum, desejada pelos garotos. Não que algum deles – com exceção do Albert, espero – goste mesmo de mim. Mas descobriram que posso me transformar em seu “modelo perfeito” e vivem insistindo nisso. “Ei, Tonks, você!” – dizem eles – “Escuta você não quer ir comigo à Hogsmeade neste fim de semana? Eu terminei com minha namorada e se você pudesse aparecer alta, magra e com cabelos loiros, olhos azuis talvez, o que acha? Então, isso seria realmente legal...”.
É tão ridículo! Eu percebi isso na semana passada, quando, pode acreditar, Paul – Paul!!! – veio me chamar para acompanhá-lo à festa de dia das Bruxas. Mas eu simplesmente não gosto mais de Paul e o dispensei. Foi mais ou menos assim:
- Ei, e aí, Ninfa?
Eu estava voltando do treino, e ele me chamou na entrada do castelo. Estava com os cabelos... cor de laranja! É, um laranja cítrico, muito legal, liso e comprido até a cintura. Eu parei e dei meia volta, para encará-lo.
- Oi, Paul – disse calmamente – Beleza?
- Beleza – ofegou. Ele tinha corrido para me alcançar – Eu estava pensando...
- No quê?
- Bom, será que você não tava a fim de ir comigo na festa de dia das bruxas? Ia ser maneiro, não acha? Podíamos dar uma volta nos jardins depois, e...!
- Paul – cortei – Paul, você me deu o maior fora ano passado, o quê...?
- Eu sei, eu sei, eu fui um idiota. Mas eu estou a fim de sair com você agora, que tal?
- Sabe o que é? Você não foi idiota antes. Está sendo idiota agora – retruquei – Está indo na onda de todo mundo, por que posso me transformar exatamente no tipo de garota que você quer. E sabe, isso não é muito justo.
- Falou, Tonks, desculpe. Foi mal, mesmo – disse ele – Não quis te ofender. Mas, aí, agora eu realmente quero...!
- É claro que quer – disse sarcástica – Mas agora, eu não quero. Eu tenho um namorado, sabe? Um namorado que gostava de mim muito antes de saber que eu podia mudar de aparência à vontade. E além do mais, eu escolho como quero aparecer, sacou? Ninguém vai me dizer que cabelo usar, ou a com que cor eu devia deixar meus olhos. E – acrescentei meio irritada – eu não sou, como você disse? Boa o suficiente para você, lembra? Não tenho um nível de popularidade bom o bastante para o famoso Paul – eu tornei a dar as costas para ele, mas, olhei por cima do ombro – Ah, mas espere. Acabo de lembrar, Paul! Eu sou MUITO mais popular que você, agora. Até mais – disse dando adeusinho.
Nossa, que poderosa! Fala sério, isso foi mesmo muito agradável! E muito bem merecido também, aquele mané, quem ele pensa que é? Como seu eu fosse passar a vida toda esperando por ele! Ah, por favor. Bem, tenho que ir.
Boa noite!
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Minha mãe me pegou na estação como sempre e fomos para casa, em uma aparatação acompanhada. É uma sensação esquisita.
Ela está parecendo meio abatida, triste, embora tente disfarçar. E de repente milhares de lembranças que eu nem sabia que tinha voltaram a minha cabeça.
Como, quando eu tinha uns três anos de idade, ela andava pela casa chorando, e ninguém conseguia consola-la. O mundo estava em guerra e eu estava proibida de sair na rua sozinha, parei de ir à escola por um período, quando estavam havendo ataques em cidades próximas. E mamãe chorava de medo, de raiva, de qualquer coisa. E então a irmã dela, Bellatrix, se alistou aos Comensais da Morte. Aquela foi a pior fase de todas. Ela gritava com todos e explodia em lágrimas por qualquer motivo. Ela sempre havia sido uma mulher forte, mas aquilo fora demais para ela.
E então, quando eu tinha sete anos, o bebê de um ano, Harry Potter, fez com que Voldemort fosse destruído. E meses depois, tia Bellatrix foi para Askaban por tentar procurar o Lorde das Trevas e trazê-lo de volta. Naquela época achei que mamãe ia morrer. Na verdade, talvez fosse aquilo que ela estivesse pretendendo, mesmo. Passou dias na cama, sem comer, sem falar com ninguém, levantando vez ou outra para ir – como um zumbi – até o banheiro.
Ainda pensando nisso eu fui até o sótão e procurei em várias caixas algo que sabia que estava ali. Tinha que estar, em algum lugar. Achei!
Era um álbum de fotografias, a capa de veludo verde, e letras prateadas com que está escrito: Minha Família – Andrômeda Black. Ela já tinha me falado daquele álbum e até me mostrara a capa. Quando era pequena, ela me contou, costumava colocar suas fotos preferidas ali, e escrever sobre o que sentia. E agora, eu queria saber o que ela sentia. Queria entender minha mãe, por que afinal ela estava tão... estranha.
Levei o álbum até meu quarto e abri-o. Na primeira página estava escrito:
“A Família Black, minha família, sempre quis que todos pensássemos igual. Vivemos fingindo ser quem não somos, por que sermos nós mesmos significa uma enorme desonra para a linhagem de sangue-puro que é a família Black.
Enquanto a maioria de nós, filhos e filhas, perde a individualidade logo aos poucos anos de idade, eu continuo aqui, mesmo que eles não vejam. E não concordo com muito do que fazem. Eu os amo apesar de tudo. Gostaria que me amassem também, mas para eles todos somos apenas um motivo de orgulho ou desgraça, um símbolo que representa a nossa família fora das paredes desta casa. Talvez a vida seja diferente em outro lugar. Ou talvez não seja. Talvez tenhamos apenas que nos conformar. Mas conformar-me com as coisas, afinal, foi algo que nunca aprendi a fazer.
Andrômeda Black”
Foi quase... emocionante ler isso. Porque deixa transparecer o quão oprimente devia ser a vida na mansão Black. Virei a página. A primeira foto era de uma garota de uns onze ou doze anos, de cabelos negros até a metade das costas, os olhos grandes e cinzentos. Era minha mãe mais nova e fiquei surpresa em quanto eu era parecida com ela. Tinha a pele mais clara, e, é claro, mudava a cor do cabelo o tempo todo, mas tinha os traços do seu rosto. Ao lado estava escrito:
“Esta sou eu. Os traços marcantes da família em meu rosto, mas idéias totalmente diferentes na cabeça. Infelizmente as pessoas ao meu redor têm o dom de enxergar apenas o que querem ver. Então é comum as pessoas me discriminarem por causa disso. “Oh, não, não chegue perto dessa. Não está vendo? É uma Black. Só fazem amizades com puros-sangues, esses aí”. Vivo escutando os alunos de Hogwarts dizendo coisas do tipo. Ainda mais com Bella tendo chegado lá antes de mim, para acentuar ainda mais a fama da família.
Mas fiz alguns amigos este ano. Fui para a Corvinal e provei que não sou como eles. Mamãe e papai não estão nada satisfeitos comigo. Disseram que estou desonrando a família e que devia estar louca quando fiz amizade com “gente daquela laia”. Está falando de Jorunn, minha amiga que é de família trouxa. Acontece que todos em minha família foram para Sonserina. Como se eu me importasse.”
Não pude deixar de sorrir. Era bem o jeito como eu me comportava se parasse para pensar. Do tipo “eu sou diferente, eu quero algo mais... todo mundo faz assim? Ah, então eu quero de outro jeito... eles acham isso? Não estou nem aí...”. agora sei de quem puxei esse lado meio rebelde. Mas como não ser rebelde com uma família como aquela? Virei a página.
A próxima foto era dela com suas irmãs. Bellatrix, a mais velha, a pele mais morena que a de mamãe, a do meio, com uma expressão de superioridade no rosto. Narcisa, de pele bem clara, a caçula, com um olhar tímido e um sorriso fraco, que não se parece em nada com a expressão de constante aborrecimento que ela carrega hoje em dia.
“E estas, tchãn-tchãn-tchãn-tchãn, são minhas queridas irmãs. Bella é a mais velha, está com quatorze anos. Ela é totalmente a favor de tudo que os Black dizem. Que devemos purificar a raça bruxa, e tudo o mais. Por isso não nos damos muito bem. Ela vive falando que eu sou uma traidora de sangue, e que não sou boa o bastante para ser dessa família.
Aquela é Narcisa, a mais nova. Ela tem nove anos agora. Ela não fala muito, apenas faz o que é mandada fazer. Tem idéias e opiniões a respeito de tudo, mas medo de expressa-las. Tenho pena dela, ela é boa demais para estar aqui, mas tem medo de lutar pelo que quer.
E ali estou eu, com meus doze anos, confusa e sem saber o que fazer. Mas acho que ninguém sabe exatamente o que quer da vida quando tem só doze anos de idade...”
A foto seguinte era a melhor. Mamãe estava realmente feliz naquela. Ela estava abraçada a um garoto de cabelos negros, muito parecido com ela, um pouco mais novo, porém, e os dois acenavam para a câmera. Atrás deles, o chão estava coberto de neve. Mamãe usava um casaco marrom comprido, calças jeans e botas. Os cabelos negros voavam atrás dela. Ela estava linda. Ela estava abaixada, para ficar da mesma altura do garoto, que eu não reconheci.
“Sirius. Ele é meu primo favorito! Só tem oito anos, mas pensa exatamente como eu. A mãe dele vive brigando com ele o tempo todo, e ele é muito maltratado nessa casa, mas não abre mão do que pensa. Ele não gosta nada mesmo daqui... e, pensando bem, eu também não.
Aqui somos nós dois na praça em frente à mansão, em dezembro, um dia depois do natal. Eu dei a ele um livro sobre quadribol que ele adorou, e um baralho de snap-explosivo, para ele se divertir um pouco nessa casa horrorosa. Ele me deu uma caixa de sapos de chocolate, e achei ótimo, por que os meus outros presentes não foram muito satisfatórios. Junto veio um cartão onde ele escreveu – em tinta que muda de cor – “Você é a única pessoa que me faz sorrir!”. Foi tão fofo! Ele é um garoto muito especial, o Sirius. Eu devia ter dito isso a ele.”
Eu fiquei tanto tempo olhando para aquela foto e lendo e relendo aquilo, que depois de um tempo ouvi minha mãe me chamando para o jantar. Desci e fiquei com ela até tarde, conversando, jogando xadrez e comendo tortinhas de abóbora que ela fez. Foi muito divertido. Mas estava louca para voltar e terminar de ver as fotos.
Quando o relógio marcou onze e meia, disse para minha mãe que estava com sono e voltei para o meu quarto. Já de pijama, eu peguei o álbum outra vez e deitei na cama para ver o resto.
Eu continuei vendo as fotos. Havia algumas muito boas, dela com Sirius, com os pais, com as irmãs, uma de toda a família reunida, e assim por diante... as fotos continuavam, enquanto ela crescia. Parei em uma dela no quarto ano.
Ela estava com o uniforme de Hogwarts, junto com uma garota de cabelos castanhos e lisos, e olhos verdes. As duas se empurravam o tempo todo, dando risada, para aparecerem bem no meio da foto, fazendo pose. Já adivinhando quem seria a garota, li o que estava escrito.
“Esta é Jorunn, minha melhor amiga. Ela é muito popular e muito bonita também, mas não é nada metida. Ela é capitã do time de quadribol, e os garotos babam por ela. Mas ela deve ser a garota mais difícil da escola inteira, e até hoje só teve um único namorado.
Batemos essa foto no dia em que a Corvinal ganhou a Taça das Casas, e a de Quadribol! A comemoração durou horas! Nós nos divertimos muito. Eu e Jorunn seremos amigas para sempre, estaremos sempre juntas. Acho que a gente se completa, uma tem as qualidades que faltam na outra. E eu sempre estarei aí para ela, quando ela precisar de mim.”
Depois havia fotos da turma dela, dela com outras garotas, dela com os amigos de Sirius, todos mais novos que ela, todos da Grifinória. E havia uma dela com um garoto. Eles estavam sentados à beira do lago de Hogwarts, embaixo de uma árvore enorme. Estava fazendo um dia lindo, e a água brilhava. Ele tinha olhos azuis impressionantes, e cabelos castanhos. Estava com o braço ao redor da cintura dela, e ela beijando seu rosto.
“Acho que dezesseis anos já é idade suficiente para encontrar sua alma gêmea. Por que eu e Ernesto só podemos ser feitos um para o outro. Eu o amo mais do que qualquer coisa.
Todos os dias parecem mais bonitos e alegres, tudo parece estar em ordem, e as coisas ruins simplesmente passam por mim sem surtir efeito. Acho que é isso que acontece quando se está apaixonada. O mundo parece ser um lugar maravilhoso para se viver.”
O primeiro amor da minha mãe... Nossa, que coisa esquisita ler o diário de sua mãe adolescente. É como se ela fosse uma amiga da minha idade, que não tivesse crescido e se tornado uma adulta tão diferente.
Mais tarde vi fotos dela com outros garotos, alguns só amigos, outros namorados, fotos de viagens, e uma foto dela com toda a turma do sétimo ano no dia da formatura. Vi que não ia encontrar problemas ali. Jorunn deixou de aparecer nas fotos para ser substituída por uma garota negra de cabelos cacheados chamada Valéria, e Ernesto simplesmente sumiu. Mas seus problemas não estavam escritos ali, tampouco o que acontecera com eles. Era um diário para momentos felizes.
Houve fotos dela no primeiro dia de emprego no banco Gringotes, e fotos dela com a família novamente. Bellatrix não estava mais lá. E depois de um tempo, Narcisa também não. Havia se casado. Mamãe sempre havia dito que Narcisa se casara muito nova, com dezoito anos, logo que deixou a escola. Era verdade.
E então as fotos haviam mudado de cenário. Um parque com um homem de pele clara e cabelos castanhos – meu pai. Um jantar, a festa de noivado – onde não pude ver ninguém da família Black –, o dia do casamento, mamãe grávida. E mamãe com um nenê recém nascido no colo. Uma garotinha de cabelos castanhos presos em marias-chiquinhas dando seus primeiros passos. Brincando com um ursinho de pelúcia. Voando em uma vassoura de brinquedo, apensa alguns centímetros do chão da sala de estar. Volta e meia Sirius aparecia nas fotos, sempre com uma garota diferente, e então também desapareceu. Fora preso.
“Acho que descobrir Sirius no lado das trevas foi minha maior decepção. Não consegui acreditar por muito tempo. Sirius sempre fora tão querido, tão diferente daquele bando de monstros que eram os Black. Éramos eu e ele, sempre juntos, prometendo que passaríamos por qualquer coisa, unidos, fortes, que sempre estaríamos ali um para o outro.
Tenho vontade de ir lá e bater nele até que ele se lembre o quanto éramos felizes e rebeldes, o quanto desafiávamos nossa família, o quanto juramos que seríamos nós a fazer a diferença. Tenho vontade de chorar, de morrer, qualquer coisa para não encarar o fato de ele me traiu, e traiu a si mesmo. Mas eu tenho uma filha para cuidar agora. Ninfadora está crescendo tão linda! Ted está muito ocupado no trabalho e eu tenho cuidado dela, mas ela é muito apegada a ele também. Meus pais não vieram conhecê-la. Não falam comigo desde que casei com Ted. Problema deles, eu penso, vão perder de ver a garotinha maravilhosa que têm como neta.”
Eu não queria ler mais. Estava me deprimindo ler aquilo. Fechei o álbum e fiquei quieta por alguns momentos. Então fui até o quarto da minha mãe e deitei-me com ela, abracei-a forte e disse que a amava. Adormeci lá. Agora são cinco da manhã, e acabei de acordar. Percebi o quanto eu estava sendo injusta com minha mãe. Ela sempre fez por mim tudo o que pôde. E eu devia ser grata a ela por isso.
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Dá para acreditar? Minha mãe convidou a irmã dela para passar o Natal conosco. Narcisa, é claro, a outra está presa. E com ela vieram também o filho e o marido, Lúcio Malfoy. O garotinho se chama Draco. Tem sete anos e já é um grande de um metido, mimado. Tem os mesmos cabelos lisos e loiros e o rosto pontudo do pai.
Eles chegaram pouco antes das oito horas, e eu, burramente, fui atender à campainha. Estava usando meus jeans mais rasgados, uma blusa vermelha, devido à ocasião, os cabelos castanhos ondulados até o meio das costas e grandes argolas douradas nas orelhas, com algumas pulseiras do mesmo estilo. Ah, e um par de botas de salto bem baixo – afinal eu ia ficar em casa mesmo – vermelhas, muito agradáveis pelo frio que estava fazendo.
Acontece que quando eu abri à porta a primeira coisa que eles fizeram foi me analisar de cima a baixo, com expressão de desprezo. Então vi que as roupas deles eram, sem dúvida, mais chiques, mas nem por isso mais bonitas, em minha opinião. “Tia” Narcisa estava usando um grande e fofo casaco de pele do que algum dia devem ter sido coelhos ou carneiros. Lúcio estava com vestes pretas muito alinhadas e novíssimas pelo que pude ver. Eu sorri educadamente.
- Entrem. Feliz Natal – e eles entraram sem dizer uma palavra, a não ser quando Narcisa murmurou audivelmente “Ah, se minha mãe soubesse...”.
- Ei, papai – chamou o pirralho – Esta é a traidora de sangue, não? A ralé que você falou.
- Ora, ora, Draco – disse ele – Não fale assim de nossos anfitriões.
E sorriu para mim, cínico. Eu lhe dei um sorriso visivelmente forçado e desagradável, mas o cara nem estava mais me olhando! Estava analisando nossa casa, inclusive os objetos estranhos e diferentes que mamãe sempre trouxe de suas viagens, fazendo “tsc, tsc” ocasionais. Que vontade de dar um chute nele!
- E então – disse Draco vindo até mim – você é quem?
- Tonks.
- Isso é um nome?
- Sobrenome.
- Ah. Sabe, meu pai disse que o nome Malfoy é conhecido em todo o mundo da magia. Somos uma família importante e muito conhecida sabia?
- Fascinante – disse com sarcasmo.
Mas não continuei ouvindo o chatinho por que minha mãe chegou. Ela estava no andar de cima acabando de se arrumar e agora aparentemente estava pronta. E estava linda. Muito mais que Narcisa ou qualquer um deles. Estava com uma saia linda que comprara na Índia, uma blusa marrom e vários colares por cima. Os cabelos pretos que vinham até o ombro caíam em cachos elegantes, e ela estava usando um sapato de salto altíssimo. Era uma roupa com certeza diferente, mas que caía muitíssimo bem nela.
- Ah, que bom que chegaram! – disse descendo as escadas como uma estrela de cinema (meu pai me levava às vezes para assistir filmes com ele, e vi outros tantos na TV) – Querida, será que você não quer ir brincar com Draco no seu quarto?
Nem pensar!, eu quis responder, mas não pude. Então fui com o garotinho até meu quarto.
Depois de olhar e criticar tudo em que conseguiu por as mãos – jogando tudo no chão assim que cansava de ficar se gabando – ele sentou na minha cama e ficou olhando para mim, com ar de superior.
- Mamãe disse que você tem um nome horrível – disse ele sem o menor constrangimento – Qual é?
- Meu nome é Tonks – respondi secamente.
- Perguntei qual o seu primeiro nome.
- Por que quer saber?
- Por que sim. Vai! Estou mandando!
- Ah, por favor, já vai começar com seu espetáculo? Eu não vou dizer, tá legal, não adianta espernear.
- Quero saber AGORA! Sua sangue-ruim nojenta!
- Quer saber o que eu acho de você? Acho que é um mimado, chorão e mal-criado. E vai ser um perdedor tão grande quanto seu pai!
- Meu pai não é perdedor! – chorou ele, sapateando na minha cama.
- É sim, seu pirralho! Meu pai é muito melhor que o seu! – eu sei, parecia uma criancinha, mas o que eu podia fazer?
- Mas o meu pai não se separou da minha mãe, não é? – disse sorrindo maliciosamente – Ele ainda gosta de mim e se importa comigo. O seu não está nem aí.
- Cale a boca! – gritei – Não ouse...!
Mas nessa hora minha mãe entrou nos chamando para o jantar. Assim aquele idiota de sete anos não ouviu o que merecia. Mas ficou me enchendo e reclamando de tudo pelo resto da noite. E devo dizer que os Malfoy não são exatamente os melhores convidados que se pode ter. Olhavam para tudo com desdém e ficavam comparando as coisas dizendo como as deles eram melhores e tudo o mais.
E a noite terminou espetacularmente com Draco tentando me chutar por que eu disse que ele parecia um ursinho gordo com seu novo suéter – mamãe deu os presentes que comprou para ele ainda hoje, assim como para a irmã e Lúcio – e então abrindo um berreiro quando eu me neguei assumir a minha aparência mais natural ( tudo bem, eu só fiz para irritar, mas o garoto é um mala!). Então só para provocar eu me transformei em um milhão de rostos e cabelos diferentes em questão de segundos para irritá-lo, e ele se atirou no chão esperneando, por isso mandei-o calar a boca. Na verdade o que eu disse foi:
- Fique quieto, seu babaca, eu estava brincando.
E depois de despedidas secas e rápidas, eles foram embora. Eu me vesti para ir dormir e quando estava indo para o quarto passei pela porta do de minha mãe. Surpreendi-me ao ouvi-la chorando.
Eu corri até a loja de doces aqui da vila e comprei uma caixa de sapos de chocolate. Então corri até em casa e recortei com cuidado um pedaço de pergaminho em formato de coração, onde escrevi “Você é a única pessoa que me faz sorrir” e coloquei embaixo da árvore de Natal, que agora estava lotada de presentes, a maioria endereçada a mim, mas também vários para minha mãe. E eu queria que esse fosse o mais especial.
Levei também o álbum dela até a sala e deixei-o na estante. Queria que ela me contasse a história de cada foto, ela mesma, e que se lembrasse de como era linda, independente, forte, inteligente, e que ainda merecia ser tão feliz quanto fora na época. Sei que era um plano fraquinho, mas era o único que eu tinha. Eu queria mesmo vê-la sorrir. Só agora percebera o quanto ela estava triste.
Depois que ela acordou – comigo trazendo o café dela na cama, como presente extra – nós descemos muito animadas para abrir os presentes, parecendo duas crianças muito animadas e crescidas. Já tínhamos aberto quase todos quando ela viu o pequeno pacote de sapos de chocolate, pegou-o, e leu o cartão. Então olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas.
- Oh, Ninfa... Como você...? Você leu, não posso acreditar... Onde o encontrou?
- Está ali em cima – disse, imaginando se fizera algo errado.
Mas ela não foi pegá-lo, ela veio até mim, me abraçou forte, e chorou. Chorou durante muito tempo, e eu fiquei lá consolando. Epa, isso não era certo. Ela era a mãe eu a filha e não o contrário! Mas, surpreendentemente, eu aprendi que temos que ser pais dos nossos pais às vezes. Eles fizeram tanto por nós!
Depois que ela se acalmou ela me abraçou novamente e disse “Desculpe, Ninfa. Você sabe que eu ainda estou... ainda preciso me acostumar com essa nova vida. Desculpe sua mãe sentimental, certo? Vai passar. E vamos ter um Natal maravilhoso.”. eu aceitei e disse para ela não se preocupar. Então apanhei o álbum e deixei no colo dela, que estava sentada no sofá.
- Quero que me conte as histórias.
- Por quê? Está tudo escrito e você com certeza já leu tudo, não?
- Quero a versão atual dos fatos – disse sorrindo – E quero que veja como era sua vida antes e que ela pode voltar a ser assim, se quiser.
- Oh, certo, espertinha. Vamos ver o que temos aqui...
Nós nos divertimos muito nessa manhã. Era como se fossemos amigas ao invés de mãe e filha. Rimos, conversamos e vimos várias vezes nossas fotos preferidas, e mamãe me contou a história de cada uma delas. Por fim eu disse:
- Acho que agora sei a quem puxei, não é? Eu sou igual a você, quando tinha a minha idade. – ela sorriu – E espero ser exatamente como você quando crescer – como vi lágrimas se formando em seus olhos, acrescentei rindo – Bom, talvez um pouco mais magra – ela riu, me atirando uma almofada.
- Ninfadora!
Fomos almoçar em um restaurante próximo, muito bom. E, enquanto voltávamos, a pé, ela falou, pensativa:
- Foi maravilhoso o que você fez hoje, Ninfadora – eu nem a repreendi por não me chamar de Tonks – Devíamos fazer isso mais vezes. Nos divertir juntas.
- Temos a tarde toda e mais duas semanas para nos divertirmos juntas.
- Eu sei... e vai ser ótimo, não? A propósito, eu estava pensando, se você gostou do álbum?
- É claro que sim, adorei!
- Não, não das fotos, mas... da idéia de ter um, entende. Podíamos fazer um. Só nosso, de mãe e filha. O que acha?
- Eu acho... Acho que é uma idéia brilhante!
Por essa razão nossa tarde foi ocupada escolhendo as melhores fotos entre milhares e milhares que haviam em uma caixa, para colocar em nosso álbum de “mãe e filha”. No final, escolhemos muitas, todas ótimas.
A primeira é uma em que eu estou com mais ou menos dez anos, abraçada a ela, em um parque de diversões. Nós duas escrevemos embaixo. Então resolvemos fazer o resto em ordem cronológica.
A primeira é dela grávida, a segunda de mim como recém nascida, a terceira com uns dez meses aprendendo a engatinhar, com ela me esperando no outro lado. Depois eu com um ano e meio, andando de mãos dadas com ela, toda desajeitada. Uma dela me dando comida na boca. Uma onde eu tenho dois anos e ela me coloca em um triciclo (que eu ganhei do meu pai, mas isso não foi comentado), e com três, em uma vassoura de brinquedo (parecida com a que há no álbum dela). Com cinco anos nós duas estávamos passeando na cidade, coberta de neve e enfeitada para o Natal, cheia de luzes, e então ela me dando um enorme sorvete de morando, e eu toda lambuzada. Com seis anos eu entrei para a escola trouxa da minha outra cidade, e estou dando um beijo nela. Com sete, eu comprei com meu próprio dinheiro um enorme pacote de doces, que estou segurando e mostrando toda orgulhosa para a câmera, e então nós duas na Itália, a primeira das suas viagens em que eu fui junto. Com oito, vieram meus primeiros jeans rasgados, e com nove eu e ela estamos na Índia. Com dez eu estou montando um camelo no Egito, e ela puxando. Com onze há as fotos do dia em que comprei meu material no Beco Diagonal, e de quando recebi a carta. Com doze, eu a estou abraçando e segurando minha Comet 260 na outra mão. E então as fotos das férias, onde ela aparece junto com a galera, na praia e as fotos que batemos hoje mesmo, juntas, vão a seguir.
É claro que todas se mexem, afinal são fotos bruxas, e tenho que admitir que ficou o máximo! A capa é verde-limão e laranja vivo, bem chamativa, e está escrito em preto “Andrômeda e Ninfadora – Mãe e Filha”. Eu guardei no meu quarto, junto com meus livros.
Tenho que admitir que estas férias estão saindo bem melhores que o esperado.
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Não acredito que ele fez isso comigo! Vou morrer, aposto que vou. Mas não, antes eu quero matá-lo, matar os dois se possível! Minha vida acabou.
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Já estou mais calma. Morrendo de tristeza e raiva, é claro, mas calma.
Quer saber o que aconteceu? Ótimo! Acontece que minhas férias felizes foram rapidamente evaporadas da minha mente quando cheguei a Hogwarts e foi procurar por Albert. E aí o que encontro? Ele vindo até mim, todo apressado, com Penélope em seus calcanhares e dizendo rapidamente que “Me dei conta de que não gosto mais de você Tonks. Estou com a Penny agora, beleza? A gente se fala depois. Até mais.”.
E foi isso. Terminou. Assim. Assim! Isso lá é jeito de se terminar um namoro? Nem me deu tempo de assimilar a primeira frase e ele já tá indo embora, correndo com aquela loira chata e sem graça, para fazer nem sei o que.
Levou alguns minutos antes de eu cair na real. E daí quando o Thomas veio correndo todo alegre me dar oi eu quase matei ele de susto, caindo no choro de repente e abraçando ele, totalmente histérica. Mas também, eu fora pega de surpresa. Estava em estado de choque!
Ele foi muito legal e me consolou até que eu cansasse de chorar (acho que acabei com meu estoque de lágrimas), então me pediu para explicar o que tinha acontecido e eu disse. Ele fez uma cara estranha. E quando perguntei o que era ele disse que desde o dia de Natal, ela e Albert estavam ficando. Que todos pensaram em me escrever, mas não quiseram estragar minhas férias.
Eu não pude acreditar! Ele ficou com ela antes de terminar comigo! Nunca imaginei que ele fosse fazer isso comigo. Quero dizer, ele era meu AMIGO ainda antes de ser namorado. E me trocou por outra. Pela PENÉLOPE! É tão... inexplicável.
Mas eu obviamente não armei nenhuma cena na frente do Albert. Ele não vai ficar se achando irresistível, ah, não, vou mostrar-lhe que posso me dar muito bem sem ele! Mas pensando bem, o que eu posso fazer? Ele obviamente já está em outra. Acho que o melhor que tenho a fazer agora é me recuperar, na boa, e talvez me distrair um pouco, sair com um desses garotos que me convidaram para ir a Hogsmeade ou algo assim.
Ah, perdi mais alguns pontos hoje, na aula do Binns, quando interrompi o professor, só para fazer umas piadinhas com o que ele estava falando. Pessoal mais sem senso de humor...
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Perdemos a partida de Quadribol contra a Sonserina... Droga, eles estão mesmo bons este ano. Eles já derrotaram a Grifinória, estão em primeiro lugar. Acho que vai ser realmente difícil derrota-los desta vez. Além do mais, Thayla não pôde jogar, estava na Ala Hospitalar, porque foi atacada por um Sonserino e ganhou penas...
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É nojento. Estou dizendo, eu vou vomitar! Estou vendo Albert e Penélope juntos. Nunca vi coisa mais nauseante. Eles não param de olhar apaixonadamente um para o outro, e dizer coisas como “Você pode pegar o livro de Aritmancia para mim, fofinho?” ou “Aqui está, minha linda.”. Argh, que meloso! E a cada minuto eles se beijam outra e outra vez. Eles não iam fazer o dever de casa juntos? Por que, que eu saiba, para fazer o dever de casa, cada um fica com a língua na própria boca. Mas talvez eu esteja por fora.
E vou te contar, eu cansei de ser famosa. Você sabe, Tonks, a engraçada. Tonks a metamorfomaga. Tonks, “aquela garota que fica desrespeitando o regulamento junto com os outros garotos, não é o máximo?”. Quero dizer, eu nem posso ficar triste. Logo que eu terminei com o Albert, eu só queria ficar na minha por um tempo e tal, mas aí eu andava pelos corredores e as pessoas passavam gritando cores, e eu não podia deixar de me transformar... Além disso, todos esperam que eu conte piadas, faça os outros rirem, interrompa as aulas para bancar a engraçadinha. E eu não posso me dar ao luxo de perder mais pontos. Mas todos acham que eu não ligo a mínima para os pontos...
Bem, estou cheia. Só quero ser eu mesma.
Mas, peraí! Eu achei que essa era eu mesma. Quero dizer, eu gosto de contar piadas e de me transformar, e fazer os outros rirem.
Acho que o problema é que só quero fazer isso quando estou a fim. Não por obrigação. Ou talvez eu simplesmente já esteja cansada de tudo. Sabe, meus pais se separaram, meu namorado terminou comigo, e estou por um fio de ser expulsa da escola, do jeito que venho transgredindo limites desde que cheguei. Fala sério, há um limite de quanto uma garota de quatorze anos pode suportar. Qualquer uma dessas coisas seria bastante ruim individualmente, mas TODAS JUNTAS? Por Merlim, será que não podem dar um tempo? Eu estou me esforçando ao máximo para passar por isso tudo numa boa, mas não agüento mais. Sério.
E pior, Mandy começou a sair com um garoto da Lufa-Lufa e está por aí, toda linda, feliz e animada. Eu sei que devia me sentir feliz por ela e tal, mas agora eu sou a única que está “atolada” aqui, sozinha. Não que elas não tenham tentado ajudar. Claro que tentaram. Mas a gente só sabe como é se sentir chutada quando está acontecendo com a gente. Depois que passa a gente não lembra mais de como era horrível, deprimente, ou humilhante. A gente lembra que ficava chateada e meio desanimada, mas não do pior. Essa é a dura realidade... então elas não tem muito potencial para me consolar, ou coisa assim.
Mas Thomas tem sido legal. Bem, ele recusou um convite de ir a Hogsmeade com uma aluna do quinto ano da Grifinória para me fazer companhia... isso foi muito legal da parte dele. E David tentou dar uma força, mas ainda está tentando se recuperar do fora traumático que levou da Lena, no verão. Tipo, fala sério, ela já está totalmente em outra. Ele realmente ainda tem alguma esperança? Já faz meses que eles terminaram, se fosse para voltarem, isso já tinha que ter acontecido.
Mas quem falando! A especialista em relacionamentos duradouros, essa sou eu. Hahaha, até parece.
Eeeca, Albert devia levá-la para um quarto antes de fazer... isso que ele está fazendo agora. Deus, acho que vou colocar todo o meu jantar para fora. Juro, tudo está subindo de volta pela minha garganta! É tão nojento!
As pessoas estão começando a olhar! Que mico!
Ha, bem feito, ele que fique com fama de vulgar ou coisa assim. Eu não ligo à mínima. Aliás, eu nunca o deixaria me beijar desse jeito. Quem ele pensa que é? Como se todas as garotas da escola estivessem aos seus pés!
Lena está lendo tudo por cima do meu ombro e dizendo que eu tenho, REALMENTE – está frisando ela – que me distrair um pouco, ao invés de ficar vigiando o Albert. Mas é claro que eu não estou vigiando. Não estou nem aí. Mas ele não está bem se preocupando em esconder, está? Quer dizer, está bem no meio do Salão Comunal!
Agora ela disse que isso é típico de alguém que foi chutada recentemente. Ah, obrigada Lena, por me lembrar que eu sou um fracasso total! É isso, já chega, eu vou dormir, antes que realmente vomite ou algo pior...
Boa noite.
P.S. Boa noite? Até parece que tem alguma coisa boa na minha vida, no momento...
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Cara, eu fiquei com um garoto.
Juro, mesmo! Não estou delirando nem nada.
E não era nenhum dos meus “fãs”. Ah, não, eu não me rebaixaria a tanto. É o Eric, o outro batedor da Corvinal. Cara, eu estou ficando craque em batedores!
Bom, na verdade foi bem legal! Foi em Hogsmeade, nós fomos juntos. Na verdade é a segunda vez que vamos juntos, já estávamos saindo antes, como amigos. Bem, com algumas segundas intenções, talvez, mas isso é absolutamente aceitável.
E ele beija bem. Tipo, bem meeesmo! E é super bonito também. Meio moreno, sei lá. Legal. Divertido, me fez rir, e tudo o mais.
Posso dizer que é um cara ótimo.
Sorte minha.
Mas também... foi só um beijo, nada sério. Não estamos namorando nem nada. É claro que eu fiz a notícia chegar aos ouvidos de Albert – não que eu me importe com o que ele pensa, é claro – mas acho que ele não deu muita bola. Ou, como prefiro crer, ele apenas não está deixando transparecer sua tristeza e decepção.
Haha, quem me dera.
Mas fazer o que? Sonhar não é proibido!
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Exames!!!! Cara, eu estou ferrada!
Não que eu não tenha aprendido nada este ano. Aprendi... só que parece que tudo se evaporou de repente! O primeiro exame é de transfiguração. E do jeito que eu conheço a professora McGonagall não vai ser mole. Ainda mais esse ano, faltando só mais um para os N.O.Ms.
Cara, eu estou MUITO ferrada!
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Houve uma festa hoje no salão Comunal. Foi bem legal.
Estavam comemorando alguma coisa que uns alunos do sétimo ano fizeram, mas enfim, todos estavam muito empolgados, barulhentos e tagarelas. Havia comida, é claro, que eles pegaram na cozinha – os elfos realmente se superaram. E foi bom se distrair um pouco da tensão dos exames.
Bem, agora, me matem. Eu fiquei com outro cara. Um cara do sétimo ano. Certo, me lancem um Avada Kedavra. Eu sou uma garota horrível! Não faz nem, o quê?, um mês que eu fiquei com o Eric, e ele realmente acha que temos alguma coisa – até parece, mas quem sou eu para destruir suas ilusões – e lá estava eu com a língua enfiada na boca de outro garoto. Eu sou realmente uma vagabunda!
Tá legal, acha que já foi o suficiente? Tipo, eu já me auto-recriminei o bastante? Ótimo. Agora posso admitir: foi estupendo! Sério, os caras mais velhos realmente sabem beijar!
O nome dele é James.
Eu estava sentada na poltrona mais fofa da sala, conversando com Lena, um garoto que está saindo com ela – é, outro! – Mandy, David – que evitava olhar para as demonstrações de boca-a-boca fornecidas por Lena, gratuitamente – e alguns outros caras que estavam por ali, do terceiro e do quinto ano. Eu estava bem feliz, até, rindo e tudo o mais. Meu cabelo estava negro e liso, e eu tinha colocado mechas de um azul muito forte, muito brilhante. Estava bem legal.
Ele já estava me encarando há um tempo, mas eu estava ignorando completamente – ou pelo menos tentando. Acho que joguei o cabelo para o lado mais vezes do que o que seria absolutamente natural durante a conversa, mas bem, eu sou apenas humana. Até que ele criou coragem de falar comigo.
- Com licença – disse se aproximando de nós com um sorriso quase imperceptível no rosto – Eu estava pensando se você não era a garota de que todos estão falando, a metamorfomaga.
Ah, não, pensei. Ele é outro idiota que só liga para a aparência. Mas eu estava totalmente errada! Ha, nunca fiquei tão feliz em estar errada.
- É sim – disse tentando parecer indiferente – Sou eu. Por que, tem algum pedido?
- Na verdade – riu ele – Tenho sim. Pode se transformar em uma garota divertida, animada, legal, autoconfiante, mas não metida, que seja inteligente, mas não sabe-tudo, e boa em quadribol? Ah – acrescentou – e que esteja solteira? – ele sorriu maliciosamente. Eu sorri também.
- Que coisa! – exclamei parecendo surpresa – Você é bem pouco exigente, não? Tem certeza de que existe alguém assim?
- Acho que está bem na minha frente – disse ele. E, é lógico, era eu que estava de frente para ele. Mas eu não orei, nem nada, como fariam Anna ou Penélope. Eu sorri, vitoriosa e falei:
- Puxa, é mesmo! Você tem razão – falei olhando para mim mesma brevemente e fingindo adoração – E aí, o que você faria com essa garota? – perguntei, uma sobrancelha erguida, em desafio.
- Acho que a chamaria para ir comigo a Hogsmeade no fim de semana, mas os passeios ao povoado acabaram, por este ano. Então me contentaria com um beijo.
- Oh – disse em uma surpresa fingida – Mas acontece que a garota em questão está conversando com os amigos. Ela não vai querer ser beijada na frente deles. Não seria muito romântico, não acha?
Ele deu uma rápida olhada em volta, e voltou a me encarar, com seus olhos maravilhosamente verdes, os cabelos castanhos, bagunçados, e aquele sorriso malicioso.
- Está certa. – disse simplesmente – Acho que terei que ir para a sala ao lado e ficar lá, sozinho.
- Ah, não por isso. Eu vou com você.
Legal, eu estava autoconfiante. Isso era ótimo. Acho que era porque ele meio que parecia um pouco comigo, sabe? O jeito como falou comigo e tal. Foi legal.
E assim fomos nós, saímos pelo buraco do retrato, e entramos na sala ao lado. Estava, previsivelmente, vazia. Ele acendeu as luzes e sentou-se despreocupado em cima da mesa do professor.
- Acabo de perceber – disse ele – que ainda não sei seu nome.
- Acho que não precisa saber.
Ele pareceu surpreso.
- Por que não?
- Por que – expliquei – nós não teremos que conversar muito, não é mesmo?
Eu já estava bem perto. Ele passou os braços pela minha cintura e me puxou até ele, faltando apenas alguns milímetros para nossos lábios se encontrarem. E então sorriu. Sorriu maliciosamente, um sorriso que parecia idêntico ao que estava em meu rosto. E sussurrou:
- Certa outra vez.
Bom, não preciso continuar, não é? Foi incrível! Mais do que incrível! Totalmente super incrível! Basicamente foi isso, e agora eu estou aqui muito feliz comigo mesma, porque, apesar de ter sido, bem, dispensada, ainda há milhões de caras que me acham bonita, legal e tudo o mais. Isso faz um bem danado para a auto-estima de uma garota, se você quer saber.
Tenho que ir dormir. Anna está gritando comigo por estar com a varinha acesa e ela não conseguir dormir o suficiente para estar linda amanha, no último dia de aula.
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Estou no trem, e a cabine está lotada. Não vou fazer despedidas longas, afinal, foi só mais um ano. E o pessoal está me chamando para jogar um pouco de xadrez de bruxo. O perdedor paga lanche para todos.
Só para avisar que passei nos exames – por um fio em poções e História da Magia, mas e daí? Estou oficialmente no quinto ano, agora! Todos os meus amigos (Albert e Penélope também, infelizmente) também passaram e tal, e blábláblá. Agora estamos saindo da estação de Hogsmeade, devemos chegar antes do anoitecer.
Minha mãe vai me pegar em Londres e vamos para nossa casa. Ela prometeu que eu poderia passar um tempo com meu pai, se “agüentasse”, seja lá o que ela queira dizer com isso.
Bem, tenho que ir. Victória acabou de gritar dizendo que se eu não começar a jogar em dez segundos serei a perdedora, por ter faltado o jogo. E eu nem tenho dinheiro o suficiente para pagar o lanche de ninguém!
Beijos,
Ninfadora Tonks.
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