Casa dos Gritos



Remo observou o casebre sentindo um certo pesar no peito. Passara grande parte de sua infância entre aquelas paredes, na companhia de seus velhos pais. Puxou uma cadeira para se sentar, enquanto seu olhar se perdia no bosque que dava para se ver da janela. Fora lá que tudo acontecera. Onde sua maldição começara, numa noite escura e cheia de ruídos ameaçadores.

Ele era muito criança quando aconteceu... Não se lembrava exatamente de como chegara ao bosque, mas, se fechasse os olhos, ainda podia sentir o cheiro de sangue, as lágrimas que corriam por sua face e a dor que sentia em seu ombro esquerdo. Como que impelido por essas memórias, desabotoou a camisa lentamente e observou a cicatriz em sua pele pálida.

Tocou de leve o ombro, exatamente como sua mãe fizera quando a ferida ainda estava aberta. Quase podia ver as lágrimas quentes dela se misturarem com o sangue ainda fresco. Fechou os olhos novamente, suspirando, deixando agora sua mente ser invadida pela figura do pai construindo uma pequena cabana na orla do bosque. E, ao despontar da lua cheia, com a cabana pronta, o velho Lupin levá-lo em silêncio até lá, trancando o barracão.

Tanto sofrimento... Ele os fizera sofrer demais. Foram poucas as vezes em que os vira sorrir. A única da qual era capaz de se lembrar com nitidez fora quando o professor Dumbledore em pessoa os visitara para entregar a carta dele de admissão em Hogwarts.

Sim, aquela fora a única vez em que os vira sorrir. Mas, pouco tempo depois, quando já estava em Hogwarts... o pai morreu repentinamente. Sua mãe jamais lhe contara em que circunstâncias tudo acontecera. Quando era mais jovem, imaginava o pai lutando corajosamente contra comensais. Mas agora, na enorme solidão que aquele lugar lhe transmitia, perguntava-se se Gerard Lupin não tirara a própria vida.

Depois da morte do marido, Emma Lupin mudou-se para Hogsmeade, na esperança de se aproximar do filho, que se tornara cada vez mais distante desde sua primeira noite como um lobisomem. Não o conseguiu.

Remo se questionava se algum dia conseguiria se perdoar por ter ignorado a mãe por tantos anos. Ela acatara a decisão do filho de se afastar, e embora ele nunca a tivesse visto em seus passeios à Hogsmeade, sabia que ela o seguia com os olhos.

Os marotos não conheciam essa parte de sua história. Não fora capaz de contar. Simplesmente tentara esquecer. Mas agora as lembranças queriam voltar a todo custo, mesmo que ele não as desejasse.

Porque sua mãe estava morta.

Foi procurado por um juiz bruxo para a abertura do testamento e descobrira que tinha em seu nome a fazendola e a modesta casa nos arredores de Hogsmeade. Ele pensou em recusar aquele legado – jamais fora o filho que os Lupin mereciam – mas suas atuais condições o impediram. Estava sem emprego há meses, devia o aluguel e só conseguia sobreviver graças a pequenos trabalhos que fazia nas semanas em que a licantropia lhe dava trégua.

Vendeu a casa de Hogsmeade para saldar suas dívidas e decidiu se mudar para a fazenda onde nascera. O lugar era isolado o suficiente para que ele pudesse se transformar sem colocar outras pessoas em perigo. E agora, ali estava ele. Sozinho.

Ou talvez não tão sozinho quanto era necessário, ele pensou, observando a arrumação do casebre e as sacolas de compras sobre a mesa. O que Tonks queria afinal? Porque não o deixava em paz?

Levantou-se ligeiramente irritado. Em seguida, ao perceber o que estava fazendo, suspirou. Devia à jovem muito mais do que qualquer um podia imaginar. Se sobrevivera até ali, fora pelos cuidados dela, pois estava cansado demais para cuidar de si mesmo.

Deixou-se cair sentado novamente. Faltavam poucos dias para a lua cheia. Poucos dias para que tivesse que reviver tudo de novo. E de novo. E de novo até que sua existência finalmente findasse.


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12 de setembro de 1974

Eles saíram da aula de feitiços em silêncio, observando as amigas, que caminhavam mais à frente deles. Tiago suspirou.

'- Porque ela não respondeu minhas provocações? – ele perguntou, parecendo levemente desamparado – Lílian jamais aceitaria sem reclamar que eu ficasse jogando aviãozinhos de papel nela durante a aula.

'- Ela está estranha demais. Desde o dia do ataque a Hogsmeade, quando desmaiou. - Sirius comentou, enquanto seguia com os olhos a ruiva que era tópico da conversa.

Remo estreitou os olhos, lembrando-se do que os amigos tinham contado a ele sobre as férias na casa de Sirius em Londres.

'- Tem a ver com os pais dela. - ele opinou - Pelo que vocês contaram, ela agiu durante todas as férias como se nada tivesse acontecido. Talvez só agora com esse ataque ela tenha sentido todo o impacto da perda deles.

Tiago assentiu distraidamente com a cabeça, mas Sirius interrompeu o amigo.

'- Não, Aluado. Ela conversou comigo sobre os pais no início das férias, depois de receber uma carta do Prewett. Ela superou isso.

Tiago pareceu ter acordado nesse instante e virou-se para Sirius, surpreso. Remo segurou um sorriso.

'- Prewett? Gideão Prewett? Ele escreveu para ela e você não me disse nada?

Sirius também sorriu.

'- Eles passaram o verão se correspondendo. Você nunca prestou atenção numa coruja branca que aparecia toda a semana com carta pra ela?

'- É, Pontas, a parada é dura. - Pedro riu baixinho - Tem um monte de gente com o coração partido depois de levar uma detenção da monitora-chefe...

Tiago começou a ficar vermelho. Remo mordeu os lábios. Se desse uma gargalhada naquele instante, certamente Tiago tentaria exonerá-lo dos marotos ou qualquer coisa do tipo por não ser solidário a ele em sua paixonite aguda.

'- O Prewett era apaixonado pela Lily. Ou melhor, é. No ano passado, mandou até bilhetes anônimos para ela. Ele se declarou pra ela no trem, antes das férias. - Sirius continuou a provocar o amigo.

'- E o que foi que ela fez? - Tiago perguntou, ansioso.

'- Deu um fora nele e eles agora são amigos. Logicamente, com segundas intenções por parte dele. O irmão da Corvinal, Fábio Prewett, está sempre perto dela, por ordem do irmão, disposto a ajudá-la. Embora eu desconfie que ele está agindo também por si mesmo...

Tiago grunhiu algo em resposta e os marotos riram. Remo passou o braço pelos ombros do amigo. Era bom controlar Tiago antes que alguém pagasse inocentemente por isso. Por sorte, ele sabia a verdade.

'- Não se preocupe, Pontas, o Fábio não gosta da Lílian. Ele está de olho em outra garota. Que, por acaso, é amiga da sua ruivinha.

'- Quem? - Pedro perguntou rápido.

'- Oras, Rabicho, não seja tão curioso! - Sirius riu, dando palmadinhas nas costas do rapaz.

'- Por favor, Aluado... Se você me contar, eu digo o que ouvi de você no dormitório feminino do primeiro ano da Lufa-lufa.

Sirius e Tiago se entreolharam, sorrindo.

'- Ora seu lobo safado... Atacando primeiranistas!

Remo meneou a cabeça, surpreso.

'- Ei, que tipo de tarado vocês acham que eu sou para sair atacando indefesas primeiranistas!

Sirius deu de ombros.

'- Bem... Não é uma idéia muito ruim... As primeiranistas de hoje serão as beldades de amanhã. É um pensamento a longo prazo. Só não entendo como o Aluado teve essa idéia antes de mim...

Remo revirou os olhos.

'- Você não está querendo dizer o que eu estou achando que está dizendo, não é?

'- Convenhamos, Remo, daqui a alguns anos as nossas colegas estarão velhas demais. Porque então não investir nas mais novas?

Tiago e Pedro riram enquanto os outros dois marotos discutiam. Sirius sabia que uma das poucas coisas que irritava Remo era a maneira como ele tratava o “amor”. Então sempre saía com gracinhas desse tipo, que em sua maioria ativavam o lado sarcástico de Remo.

'- Claro... Esquecei que você precisa de uma babá para quando se transformar em um velho decrépito para poder limpar sua baba. Porque, aliás, vai ser a única coisa que você vai conseguir fazer. Babar.

Sirius deu de ombros.

'- Porque eu seria um velho decrépito? Eu vou estar em excelente forma, meu caro. E eu não acho que a idade possa nos impedir de fazer alguma coisa... Veja Dumbledore. Tenho certeza que ele ainda dá um bom caldo...

'- Eu não acredito que você vai começar a falar da vida sexual do professor Dumbledore... – Remo suspirou.

Os outros riram até que finalmente chegaram à sala para mais uma aula. O dia se passou sem maiores considerações e finalmente a noite caiu sobre Hogwarts e, com ela, veio o sinal do fim de mais um dia de estudos.

Após o jantar, Pedro desapareceu para uma de suas “rondas” e Tiago e Sirius foram para o dormitório. Remo ficou sozinho na sala comunal, estudando. As horas se passaram e, aos poucos, o salão foi se esvaziando.

Era quase meia noite quando ele se espreguiçou em sua poltrona e preparou-se para subir ao dormitório. Mas algo lhe chamou a atenção. Remo observou com estranheza as meninas conversando baixo perto da lareira. Lílian tinha subido, o que já se tornara hábito – nos últimos tempos ela sempre ia dormir muito cedo. Mas encontrar Selene, Emelina e Susan tão sérias e Alice sem a companhia do namorado era, definitivamente, algo a ser investigado. Sorrateiro, o maroto aproximou-se delas, o suficiente para ouvir o que elas discutiam.

'- Talvez sejam crises de sonambulismo de novo. - Selene opinou.

'- Não é. Eu olhei o remédio dela. Lílian não deixou de tomá-lo. E ela parecia bem acordada na noite passada.

'- Será que você não estava com sono quando a viu saindo do quarto? - Susan objetivou.

'- Não. Se vocês estivessem com a dor de cabeça que eu estava, também estariam acordadas. Mas vocês pareciam desmaiadas quando eu tentei chamá-las. Eu acho que a Lily fez alguma coisa para fazer vocês dormirem.

'- Ela não seria capaz de nos enfeitiçar, Emelina. - Alice disse, suspirando - Tem que haver uma explicação.

'- Vocês se lembram do que eu disse quando ela desmaiou, no dia do ataque a Hogsmeade? Ela delirou sobre os pais dela. - Susan olhava o fogo, preocupada - E se ela estiver tentando descobrir sobre a morte dos pais? Se ela estiver se metendo em algo perigoso?

'- Ela não vai deixar que a gente ajude. - Emelina levantou-se, sem notar o maroto, junto às cadeiras - Temos que descobrir o que está acontecendo. E vamos descobrir essa noite.

Da mesma maneira que se aproximara, Remo se afastou. Ele subiu as escadas de dois em três degraus. Rápido, ele entrou no dormitório, onde Sirius e Tiago jogavam Snap explosivo.

'- Pontas, Almofadinhas... Tenho coisas muito interessantes para contar para vocês.

Ele rapidamente despejou tudo que ouvira as amigas conversarem. Os outros dois o ouviram aturdidos.

'- O que você acha, Sirius? – Tiago perguntou quando Remo chegou ao final de sua história.

Sirius sorriu, dando de ombros.

'- Talvez ela tenha arranjado um namorado e esteja se encontrando escondido por aí com ele.

'- É, Sirius, ela deve estar esperando por você, não é mesmo? – Remo perguntou, perdendo um pouco da paciência – As meninas estavam realmente preocupadas.

'- Não adianta ficarmos imaginando o que ela está fazendo. – Sirius respondeu – Vamos segui-la. Ou vocês têm alguma idéia melhor?

Remo assentiu, enquanto Tiago parecia remoer algum pensamento.

'- As garotas disseram que iam tentar descobrir essa noite? – Tiago perguntou finalmente após alguns instantes de silêncio.

'- Exatamente.

'- Vamos ter que esperar então. Dependendo do que elas descobrirem, a gente arma alguma coisa para seguir a Lílian. – o moreno espreguiçou-se, tirando os óculos – Alguém viu o Rabicho?

Sirius riu novamente.

'- Está na ronda dele. Ou então se aproveitando da boa vontade dos elfos domésticos...

Remo meneou a cabeça e levantou-se.

'- Acho melhor irmos dormir se quisermos estar inteiros para descobrir o que está acontecendo com Lílian.

Sirius e Tiago também se levantaram, rapidamente arrumando a bagunça que tinham deixado no chão antes de seguirem para suas camas. Frank também não tinha chegado ainda de suas diárias vigílias na biblioteca. Afinal, aquele era o ano dos N.I.E.M.s.

Remo se deitou em sua cama sentindo-se levemente culpado ao lembrar disso. Em vez de se preocupar em estudar, estava se preparando para investigar o que uma de suas melhores amigas andava fazendo à noite.

Virou-se para o lado, fechando as cortinas e sorriu. Bem, ao final das contas, ela era sua amiga e ele também estava preocupado com ela. E, mais importante do que tudo...

Ele ainda era um maroto, não?

Foi com esse pensamento que adormeceu. Quando acordou, o dia já começava a raiar e todas as camas do dormitório estavam devidamente ocupadas. Ele levantou-se nas pontas dos pés, caminhando para o banheiro.

Quando terminou de se arrumar, Frank também já estava em pé, olheiras profundas sob os olhos escuros.

'- Bom dia, Remo. – ele cumprimentou com um bocejo.

Remo assentiu e deixou o dormitório. Tomou o café da manhã na cozinha e só foi encontrar os amigos quando estes entraram nas masmorras onde teriam os dois primeiros tempos do dia de poções.

'- Ótima maneira de começar o dia... – Tiago resmungou, largando seu material ao lado de Remo.

'- O que aconteceu?

'- Ele levou mais um fora para sua interminável lista. – Sirius respondeu, sorridente – Só que dessa vez Lílian simplesmente deixou-o falando sozinho no salão principal. E você sabe que o nosso amiguinho não gosta de ser ignorado. Ele ADORA ser o centro das atenções, nem que tenha que usar purpurina para que as pessoas notem.

'- Sirius, se essa é mais uma de suas brincadeiras sobre o fato de eu ser... – Tiago baixou a voz, ainda carrancudo - ... um cervo... Essa não é a hora mais apropriada.

Remo meneou a cabeça, mas parou no exato momento em que Lílian entrava na sala ao lado de Selene. Ele observou Emelina, Susan e Alice, que já estavam em um canto mais afastado da masmorra.

'- Conseguiram descobrir alguma coisa? – ele perguntou em voz baixa, virando-se para Tiago.

'- Elas não arrancaram nada da ruivinha. – foi Pedro quem respondeu – Eu estive no dormitório delas agora de manhã. Lílian estava dormindo quando elas subiram e quando acordaram, ela já não estava mais lá.

A professora entrou nesse instante eles tiveram que se calar. E assim foi durante toda a semana, com Pedro relatando todos os dias que as meninas tinham fracassado em seu projeto de pedir explicações à amiga.

Chegou a sexta-feira. E os marotos decidiram que já era hora de medidas drásticas. E era exatamente por isso que, madrugada já alta, Tiago estava sentado junto à saída da sala comunal, coberto pela capa de invisibilidade, observando impaciente o topo da escadaria que levava ao dormitório feminino do sétimo ano.

Remo sorriu por cima do ombro de Sirius enquanto observava Tiago pelo espelho que o outro amigo segurava.

'- Tiago? – Sirius sussurrou.

Eles viram Tiago levar o espelho ao rosto, parecendo preocupado.

'- Ela não apareceu ainda?

Tiago meneou a cabeça.

'- Mas se o que Pedro ouviu é verdade, as garotas não poderiam segurá-la. Elas passaram uma semana tentando pegar a Lily com "a boca na botija", mas não conseguiram. Será que justamente quando a gente é que decide investigar, elas conseguiram segurar a ruiva?

Remo e Sirius ouviram o rangido de uma porta se abrir e viram Tiago levantar a cabeça.

'- Ela apareceu, Almofadinhas. Eu tenho que ir.

Sirius assentiu e a imagem de Tiago desapareceu do reflexo. Pedro os observou curioso enquanto Remo se levantava e Sirius se esparramava no chão.

'- E agora, o que fazemos?

'- Temos que esperar. – Remo respondeu, recostando-se à cabeceira de sua cama, fechando os olhos de leve.

Os três marotos acordaram quase ao mesmo tempo, quando Frank bateu de leve a porta do dormitório, saindo para a biblioteca. Remo e Pedro seguiram para o banheiro enquanto Sirius tentava chamar Tiago pelo espelho.

Pedro foi o primeiro a se aprontar e agora assistia às tentativas de Sirius em contatar o amigo. Pouco depois, Remo juntou-se a eles, acabando de se vestir.

'- TIAGO POTTER!

'- Não adianta, Sirius. - Remo tocou o ombro do amigo enquanto acabava de dar o nó na gravata. - Você já berrou e esperneou e não apareceu nada no espelho. Quando o Tiago quiser, ele fala com você.

Sirius suspirou, irritado.

'- Almofadinhas, não lhe passou pela cabeça que ele pode estar aproveitando um tempinho com a Lílian? - Pedro intrometeu-se, sorridente.

'- Rabicho, cala a boca! Eu sei que aconteceu alguma coisa. Ele não deixaria de me atender...

Remo observou Pedro sair silenciosamente do dormitório e virou-se para Sirius.

'- O Pedro talvez tenha razão, Sirius. Eles podem afinal ter se acertado e estão apenas passando um tempo juntos. - Remo seguiu para a porta, abrindo-a - Sabe, Almofadinhas, acho que você deveria ser um pouco mais gentil com o Rabicho. O garoto vai acabar se cansando de vocês sempre descontarem a raiva nele.

Sirius não respondeu e o monitor deixou-o sozinho, olhando preocupadamente o espelho que só mostrava o seu próprio reflexo.

Quando chegou ao salão comunal, Remo já não encontrou Pedro. Dando de ombros, deixou a torre. Não havia nada que pudesse fazer, quem tinha que se desculpar era Sirius, não ele. Arrumando os livros debaixo do braço, ele preparou-se para ir à biblioteca.

Passou o dia lá, com Frank, estudando. Os dois compartilharam a mesma mesa em silêncio até Alice aparecer para seqüestrar o namorado. Remo então ficou sozinho.

Já entardecia quando finalmente levantou os olhos de seus deveres. Ele observou o céu tristemente. Menos de uma semana para a lua cheia. Olhou para os livros a sua frente. Ainda faltava terminar o dever de astronomia.

Flexionou os ombros antes de se levantar e recolher os livros e mapas. Iria para a cozinha e quando acabasse de jantar, faria uma visita à torre da Profª. Sinistra, para observar as estrelas no céu clareado pela lua crescente.

Duas horas depois, Remo tirava os olhos do telescópio, voltando-se para o mapa sobre a mesa, adicionando mais duas luas a Júpiter com ajuda do esquadro. Finalmente acabara. Cansado, ele esfregou os olhos, imaginando se Tiago e Lílian já teriam reaparecido. Lentamente, começou a recolher seu material.

Agora que se livrara de todos os deveres que deixara acumular talvez pudesse se juntar aos amigos que, segundo Alice informara, estavam na sala comunal, fazendo um concurso de piadas. Sorriu ao imaginar a cena.

Nesse instante, a porta da sala se abriu lentamente. Como estava de costas para ela, Remo não percebeu nada até que uma voz doce encheu a escuridão da sala.

'- Lupin?

Ele se voltou para a porta, surpreso ao se deparar com uma silhueta feminina escondida nas sombras. Deu uma breve olhada no relógio. Aquilo não era mais hora de estar andando pela escola.

'- O que está fazendo aqui? - ele perguntou, lembrando-se de suas obrigações como monitor.

'- E o que o senhor está fazendo? – ele a ouviu perguntar num tom divertido.

Ele mordeu os lábios. Seja lá quem fosse, era alguém bem petulante. Mas, embora estivesse cansado, não perderia a cabeça por tão pouco. A dona da voz tinha razão, ele também não deveria estar ali.

'- Eu estava estudando. – ele respondeu após alguns instantes de silêncio e colocou a mochila sobre o ombro - Com licença.

Entretanto, antes que ele pudesse tocar a maçaneta, a garota segurou seu braço gentilmente. Remo observou a face mergulhada nas sombras, enxergando apenas os olhos dela brilhando com o reflexo da lua, ora castanhos, ora azulados. Adivinhou mais do que viu que ela sorria. E, sem perceber, deixou que ela levasse o braço dele até sua cintura, aproximando-os.

'- E eu vim aqui para ver você. - ela disse baixinho, junto à orelha dele.

Remo arrepiou-se. Aquilo era algum tipo de brincadeira?

Ela enlaçou o pescoço dele com os braços, pondo-se na ponta dos pés. Remo fechou os olhos inconscientemente e, no instante seguinte, sentiu os lábios dela colarem-se aos seus, gentilmente.

O maroto a abraçou mais forte, mesmo sem entender o que estava acontecendo. Separaram-se apenas quando já estavam sem ar. Ele a observou completamente sem reação, enquanto ela abria a porta, sem tirar os olhos dele.

'- Até a próxima, senhor monitor.

E antes que ele pudesse responder, ela desapareceu correndo. Quando finalmente "acordou", Remo desceu as escadas da torre desabalado, encontrando uma primeiranista da lufa-lufa no corredor.

'- Ei! - ele chamou a menina - Você viu uma garota passar por aqui correndo?

Ela meneou a cabeça inocentemente.

'- Não.

Olhando para os lados, Remo voltou a correr. Jamais lhe passaria pela cabeça que aquela garotinha era a mesma que o beijara na torre de astronomia minutos atrás.


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Ela encostou-se na parede, fechando os olhos, tentando ignorar os uivos que soavam do lado de fora da casa. Respirando fundo, deixou-se escorregar até o chão. Tinha que ter coragem. A noite estava quase chegando ao fim, só um pouco mais e ele estaria bem.

Tonks mordeu os lábios, enquanto os sons cada vez mais doloridos chegavam a ela. Aquilo não era justo. Remo não merecia aquilo.

Olhou para o relógio. Mais uma hora antes de a lua desaparecer para dar lugar à aurora. Era bom começar a preparar tudo para quando ele chegasse. Ela se levantou lentamente, abrindo a bolsa e despejando o conteúdo dela sobre a mesa. Além de frascos de poções, gaze e esparadrapo, amontoaram-se papéis, e outras tralhas que sempre existem numa bolsa feminina.

Tonks observou-se no espelho que quase se despedaçara na queda. Os cabelos negros caíam sobre seu rosto, escondendo os olhos azulados. Normalmente ela não usava sua aparência verdadeira, mas sempre que estava com Remo, ela dispensava seus poderes de metamorfomaga para ser exatamente aquilo que era.

Tirou uma mecha do rosto. Gostaria de ser capaz de preparar a “mata-cão” que Bagnold descobrira. Mas a poção era complexa demais, mesmo para curandeiros experientes. Suspirando, ela começou a misturar os ingredientes de uma das fórmulas que sua mãe costumava usar quando ela se machucava.

Quando o dia afinal amanheceu, ela ouviu um baque na soleira da porta, fechada e reforçada com feitiços. Imediatamente correu até lá, tirando todas as trancas com tal rapidez que cortou a mão.

Sem se importar com o sangue que começou a escorrer, ela escancarou a porta, ajoelhando-se ao ver Remo deitado encolhido. Certamente tinha se arrastado até ali quando a transformação terminou.

Ela mordeu os lábios, abraçando o homem, sujando sua roupa no processo. Em seguida, com certo esforço, carregou-o para dentro, fazendo-o se deitar em um dos quartos, que pela decoração, pertencera a uma criança no passado.

Rapidamente fez com que Remo bebesse uma poção de restabelecimento e, enquanto as cores começavam a voltar à face dele, ela cuidava das feridas. Quando finalmente terminou, estava mais suja de sangue do que ele.

Levantou-se, percebendo pela respiração ritmada de Remo que ele dormira. Com um tênue sorriso, ela deixou o quarto. Agora só o que podia fazer era deixá-lo descansar.


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01º de novembro de 1974

'- Está dizendo que todo o salão ficou em silêncio quando vocês se beijaram? – Remo perguntou, olhando o mais novo casal de amigos sentados diante dele.

Sirius riu, encostando-se às pernas de Susan, que estava sentada na mesa.

'- Você precisava ter visto a cena, Aluado... Todo mundo ficou abobalhado quando o nosso Pontas segurou a Lily pela cintura e deu um beijo cimanetográ...

'- Deu um beijo cinematográfico. – Susan o interrompeu rindo.

'- Isso mesmo. – Sirius concordou com a cabeça.

'- Aí a nossa muito delicada monitora resmungou “o que foi, nunca viram?” – Emelina continuou, cruzando os braços.

'- E não é verdade? Porque tanto escândalo por causa de um beijo? – Lílian perguntou, apoiando a cabeça no ombro do namorado.

Tiago sorriu, abraçando-a.

'- Talvez porque você sempre tenha dado a entender que me odiava, que não me suportava, que queria me ver a léguas de distância, que preferia um trasgo... – ele começou a enumerar os muitos foras que tinha recebido dela.

Remo sorriu, voltando-se para Selene.

'- Temos que tirar uma fotografia desse momento histórico. Selene, onde está sua câmera?

Selene imediatamente puxou a bolsa que estava sobre a mesa e, enquanto ela vasculhava suas coisas atrás da câmera, Remo observou o salão principal, que estava quase vazio. Acabara de ser liberado por Madame Pomfrey e estava se dirigindo para a cozinha a fim de almoçar quando se deparou com os amigos, que estavam voltando de lá para visitá-lo na enfermaria.

Acabaram todos seguindo para o salão, onde Remo almoçara enquanto os amigos lhe contavam os acontecimentos da manhã. Sorriu quando pensou que, para variar, estava recebendo notícias boas.

'- Aqui está... – Selene tirou a máquina da bolsa, dando um pulo de contentamento – mas alguém vai ter que tirar...

'- Eu tiro. – Remo se prontificou, levantando-se.

Ele levou a câmera aos olhos. Lílian piscou, sorrindo, enquanto Tiago a abraçava, acenando. Selene, Emelina e Alice juntaram-se mais atrás, cada uma com uma careta de surpresa, apontando para os dois. Susan debruçou-se na mesa, encostando a face no ombro de Sirius, que estava sentado aos pés dela. E, por fim, Pedro, observando o salão, na cabeceira da mesa dos grifinórios.

'- Digam hipogrifo!

'- HIPOGRIFO!

Aquele foi, sem dúvida, um dia memorável. Mas, diante da alegria de Tiago, Remo acabou se lembrando da garota que aparecera na Torre de Astronomia. E, mesmo sem querer, ele passou a visitar a sala todos os dias na esperança de reencontrá-la.

A semana se passou sem que nenhum dos marotos realmente a sentisse. Afinal, cada um deles estava devidamente perdido em seu mundo, em especial Tiago e Remo.

Finalmente, mais uma semana chegou ao fim. Mas, dessa vez, nenhum deles descansava. Afogados em meio aos livros que enchiam a mesa da sala comunal, os marotos estudavam para os N.I.E.M.s. Ou melhor, estudavam entre aspas, já que Pedro dormia na cadeira enquanto Sirius e Tiago faziam planos para o Natal, dali há um mês.

Remo apenas observava as palavras "soltas" nos livros, pois estava alheio a tudo. A única coisa que ocupava sua mente era uma certa garota, numa noite clara, no alto da Torre de Astronomia...

'- Ei, Aluado, ACORDA! - Sirius gritou na orelha do amigo.

Remo deu um pulo na cadeira.

'- Endoidou, Almofadinhas!

'- O que tá acontecendo com você, Aluado? - Tiago perguntou sério - Você anda muito fora de órbita nos últimos tempos.

O rapaz ficou calado, olhando o teto. Como falaria aos amigos sobre a "aparição" da Torre de Astronomia?

'- Pela cara dele, sou capaz de apostar que é uma garota. - Sirius observou.

'- Como você sabe? - Remo perguntou, levemente surpreso.

'- Eu conheço essa cara de cachorro abandonado. É a mesma que eu vejo no espelho sempre que me olho. - Sirius respondeu divertido.

Respirando fundo, o monitor começou a contar o que acontecera. Quando finalmente acabou, os dois amigos o olhavam entre divertidos e surpresos.

'- Você foi agarrado por uma garota que nunca viu e que simplesmente desapareceu no ar depois? - Sirius riu - Porque isso nunca aconteceu comigo?

'- É, Aluado, você tem toda a razão em estar assim. Se a Lily tivesse me agarrado e sumido depois, eu não sei o que faria... Ou melhor, sei, já que ela fez mais ou menos isso...

'- A LILY TE AGARROU! - Sirius estava quase em cima da mesa agora - E VOCÊ NÃO ME CONTOU ESSE DETALHE?

'- Almofadinhas, será que você pode parar de anunciar isso? Se ela souber que eu contei, me mata! A Lily nunca vai admitir que, no final das contas, quem acabou agarrando quem foi ela. Mas o que posso fazer se sou irresistível?

'- E modesto. - Remo adicionou, rindo.

Os três se entreolharam em silêncio, enquanto Pedro roncava. Remo viu o olhar de Tiago pousar sobre a porta do dormitório feminino e sorriu ao ver que Sirius seguira o olhar do amigo.

'- Escutem, eu ainda tenho um pouco da poção que usamos no dia em que os pais da Lily... – Sirius meneou a cabeça e voltou a sorrir - Que tal fazermos uma visita ao Paraíso? Da última vez que estivemos lá nem pudemos aproveitar...

Tiago imediatamente se levantou e Remo apenas assentiu, alegremente. Sentia-se bem mais leve depois de ter confessado aos amigos o que acontecera. Sirius foi ao dormitório e pouco depois eles já tinham tomado a poção. Tiago foi o primeiro a começar a subir. Quando iam segui-lo, Remo segurou Sirius.

'- E o Rabicho?

Como se soubesse que estavam falando dele, Rabicho de um ronco mais forte, assustando os poucos alunos que permaneciam na sala.

'- Hum... Não, melhor não. Vai assustar as senhoritas...

'- Vocês vêm ou não? - a voz de Tiago veio ansiosa do alto da torre.

'- Já vai, Pontas.

Remo e Sirius subiram a escadaria de dois em dois degraus e juntaram-se a Tiago, que, parado à porta, ouvia algo com atenção. Sirius Também parou, espantado.

'- Isso é música! Mas como é que elas conseguem? Não funciona rádio aqui na escola.

'- Quieto, Almofadinhas!

Remo apurou os ouvidos e pode ouvir as vozes alegres de Lílian e Emelina.

'- You’re a shining star, no matter who you are
Shining bright to see what you could truly be

Tiago fez um sinal de silêncio com a mão e abriu a porta. Surpresas com a inesperada invasão, as garotas quedaram-se imóveis.

Susan estava sentada numa das camas, tendo um violão no colo. Selene, embora já nada soprasse, mantinha os lábios sobre uma flauta dourada. No meio do quarto, de braços dados, Emelina e Lílian, que provavelmente até a pouco estavam dançando, olhavam para a porta assustadas.

'- O que estão fazendo aqui? - a loira foi a primeira a se recuperar, soltando Lílian.

'- Viemos fazer uma visita. - Sirius disse, fechando a porta após a entrada de Remo - Porque nunca disseram que sabiam tocar?

'- Vocês nunca perguntaram. - Susan respondeu, dando de ombros.

'- Vocês sabiam que é PROIBIDO subir aqui? - Lílian saiu de seu mutismo quando Tiago parou diante dela.

'- Ah, Lily, não seja má. - Selene depositou a flauta sobre a cama, sentando-se em seguida.

'- Não vai ficar com raiva de mim, não, é, Pimentinha? - Tiago perguntou manhoso.

Lílian suspirou.

'- Não dessa vez. Mas da próxima em que me chamar de "Pimentinha", eu torço seu pescoço.

'- Cuidado, Pontas, a ruivinha é brava... - Sirius disse enquanto se sentava na beirada da cama de Susan.

Lílian riu, piscando o olho, e abraçou o namorado. Remo sentou-se na mesma cama que Emelina.

'- Então, desde quando vocês tocam? - Sirius perguntou.

'- A Susan já tocava quando entrou em Hogwarts. - Lílian respondeu, sentando-se abraçada com Tiago - Os pais dela são músicos trouxas na Itália. No terceiro ano a Su nos convidou para passar as férias na casa dela. Então eu comecei a aprender violão também, mas já tocava piano desde pequena.

'- Eu também toco guitarra. - Susan continuou - E a Emelina se interessou por tudo. Hoje é quem mais toca aqui, de sax a apito nasal.

'- E eu toco bateria. Sei tocar flauta também, mas os instrumentos de sopro geralmente ficam a cargo da Alice. - Selene completou.

'- Vocês podiam formar uma banda. - Remo observou com um sorriso.

Elas menearam a cabeça.

'- Na casa da Su tem um palco. Quando fomos lá, os pais dela organizaram um "show" para a família. - Lílian começou a recordar, resignada - Vocês não têm idéia de como uma família italiana é grande...

'- Em todo caso, eu só faltei morrer quando subi ao palco, e olha que já estava acostumada com isso. - Susan continuou - Eu comecei a tremer tanto que não era capaz de segurar o violão.

'- Eu estava começando a aprender bateria. - foi a vez de Selene recordar - Fiz as baquetas perseguirem o pai da Susan por toda a casa, de tão nervosa que estava. Por sorte todo mundo na família dela sabe da magia e adora tudo que é relacionado ao assunto.

'- Só a Emelina conseguiu ficar calma durante toda a apresentação, enquanto tocava piano. Tão calma que ela tocou do momento em que se sentou junto ao piano até a gente conseguir agarrá-la e tirá-la de cima do palco. - Lílian voltou a falar - Era eu quem estava cantando. Eu começava uma música e a Emelina estava tocando outra, a gente nunca conseguia se encontrar.

'- Resumindo, foi ridículo, um verdadeiro fiasco... - Emelina finalizou.

'- Eu não acredito que perdi isso! - Sirius disse entre gargalhadas - Vocês vão ter que fazer uma apresentação exclusiva para a gente. Eu vou pensar num nome para a banda de vocês.

'- O que aconteceu com a Alice? - Tiago perguntou, enquanto enrolava o cabelo da ruiva entre seus dedos, fazendo cachinhos.

'- Ela quase morreu asfixiada com a flauta, além de tentar estourar nossos tímpanos. - respondeu Selene.

'- Falando de mim? - Alice perguntou, entrando no quarto.

'- Recordando, minha cara, apenas recordando... - respondeu Emelina, sonhadoramente - Bons tempos aqueles. Nada de N.I.E.M.s, nada de monitora-chefe chata no nosso quarto...

'- Brigas dos marotos com sonserinos, e, principalmente, os espetaculares escândalos da Lily com o Tiago... - lembrou Susan.

'- Poxa, Susan, você realmente tinha que lembrar essa última parte? - Tiago perguntou, fingindo-se chateado.

'- Não sinta saudades, Su, esse maroto ainda precisa de uns bons puxões de orelha.

'- Tiago, por favor, suma com a responsabilidade dessa maluca. - Emelina pediu - É muito chato ter uma monitora certinha como amiga.

'- Você não acha isso quando eu acoberto seus encontros com Fábio Prewett, Emelina. - Lily respondeu, piscando o olho.

'- Fábio Prewett? Da Corvinal? - Sirius perguntou, interessado - Interessante saber isso...

'- Lílian, isso foi golpe baixo! - a loira exclamou, botando meio palmo da língua para a amiga, embora ainda sorrisse - Porque não ataca as encalhadas ao invés de mim?

'- E quem disse que tem alguma encalhada nesse dormitório? - a ruiva perguntou, levantando-se.

'- Foi você quem pediu isso, senhorita Evans. - Selene disse, enquanto jogava um travesseiro na ruiva.

Logo os travesseiros estavam voando por todos os lados e os meninos também participavam da "guerra". Os três marotos nunca tinham pensado que seria tão divertido ficar em companhia das amigas. Tão preocupados em manter seu clube do bolinha que nem tinham percebido o que estavam perdendo.

Depois da guerra de travesseiros, quando todos já estavam muito cansados, os três se despediram. Rabicho ainda roncava na vazia sala comunal.

'- Às vezes me pergunto porque ele não se transforma num porquinho. - Sirius observou com um sorriso maroto.

Remo meneou a cabeça.

'- Vamos acordá-lo logo e ir dormir. Amanhã vai ser um longo dia...


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Remo acariciou as penas de Hórus antes de deixá-lo voar livremente. Estava em Hogsmeade há dois dias para tratar de alguns assuntos sobre a venda da antiga casa de sua mãe.

Ele abriu o pergaminho que a coruja lhe deixara e observou a letra corrida de Tonks. Suspirou ao terminar de ler a breve mensagem. Ela queria encontrá-lo para almoçar no Três Vassouras.

Ele amassou o pergaminho, guardando em um dos bolsos de seu sobretudo. Era hora de terminar com aquilo, de fazer a garota acordar e perceber que não havia futuro algum para ela ao lado dele. Por mais que isso lhe doesse, não podia permitir que ela continuasse alimentando uma ilusão.

Jamais poderia ser feliz ao lado dela. Tonks precisava entender isso.


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30 de maio de 1975

Remo esperou pacientemente na pequena clareira. Podia ouvir dali as músicas tocadas no salão do castelo. Ele sorriu, limpando o orvalho que começava a aparecer em sua casaca.

Nesse instante um farfalhar de folhas fê-lo perceber que alguém acabara de chegar. E, quando se virou, pode vê-la sorrir para ele.

Os cabelos negros estavam soltos, caindo lisos sobre os ombros. Os olhos castanho azulados brilhavam com a fraca claridade. O vestido azul contrastava com a pele branca dela.

Ele se aproximou, percebendo que a jovem estava levemente sem fôlego.

'- Você está bem?

Ela sorriu.

'- Estou, não se preocupe. – rapidamente ela se aprumou – E você? Feliz?

'- Porque eu estaria feliz? – ele perguntou em um tom sombrio.

A jovem pareceu incerta com essa resposta.

'- Você está se formando... Logo vai estar livre de provas, professores e...

'- Eu gostaria de ficar em Hogwarts. – Remo confessou, observando o castelo que se erguia imponente diante dos olhos dele.

Os olhos dela traíram inquietação e Remo decidiu que era hora de parar com as confissões. Tinham se prometido não fazer perguntas. Ele sorriu de leve e ofereceu a mão a ela.

'- Gostaria de dançar?

Dessa vez ela sorriu.

'- Com toda a certeza, meu caro monitor.


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Tonks acenou alegremente assim que ele entrou no pub.
'- Remo, aqui!

Ele abriu os primeiros botões do sobretudo e aproximou-se da mesa onde ela já começara o almoço já fora servido.

'- Vou mandar Rosmerta trazer pratos para você também. – a jovem disse, levantando-se.

Antes, entretanto, que ela pudesse chamar alguém, Remo a puxou delicadamente pelo braço e a fez sentar novamente.

'- Eu já almocei.

'- Ah... – Tonks se deixou cair pesadamente sobre o banco que ocupava e observou-o cuidadosa – Mas eu não tinha chamado você para almoçar comigo?

'- Eu não queria vir.

Ela se surpreendeu com o tom seco dele. Nunca vira Remo tão sério... Exceto na noite de formatura dele.

'- Bem... Então, porque veio?

Ele encarou os olhos dela por alguns instantes, sentindo a ansiedade que ela experimentava naquele instante. Era melhor ser rápido ou acabaria fraquejando. Respirou fundo.

'- Você sabe o que eu sou. Sabe o risco que corre ao meu lado.

'- E eu não me importo com isso. – ela o interrompeu.

Ele respirou fundo novamente. Não queria fazer aquilo. Ao contrário, queria poder dar uma chance ao que sentia por ela. Mas tinha que continuar. Não poderia fazer a jovem feliz, como não fora capaz com a própria mãe.

'- Eu não posso corresponder àquilo que você sente. - Remo disse finalmente.

'- Mas eu já disse que isso não me importa!

Remo teve a impressão de ouvir Tiago naquela voz, diante de Lílian amaldiçoada pela Thanatus.

'- Não pode me obrigar a ficar com você, Ninfadora. - ele respondeu, levantando-se - Não estou disposto a correr esse risco.

Uma lágrima teimosa escorreu pelo rosto jovem de Tonks enquanto ele deixava o Três Vassouras. Remo observou o céu nublado, enfiando as mãos nos bolsos para aquecê-las enquanto caminhava. Seus passos o levaram até o fim do pequeno vilarejo, parando diante do casarão abandonado que as pessoas tinham batizado de "Casa dos Gritos".

Contemplar o casarão era como contemplar seu passado. As divertidas noites que partilhara com os amigos fazendo planos para deixar Hogwarts de pernas para o ar.

E era também contemplar o futuro, que se abria sombrio e incerto diante dele.


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Esse foi um capítulo particularmente grande, não? E triste. Minha beta disse que chorou na primeira vez que leu... De todo modo, espero que tenham gostado.

E até o próximo capítulo, na companhia de Severo Snape...

Silverghost.

P.S.: antes que eu me esqueça... o trechinho da música cantada aqui é "Shining Star", do Earth, Wind & Fire. Agradecimentos especiais a Isabelle Potter que me mandou uma lista com as tops da década de 70 e facilitou minha vida nas pesquisas de canções para as Black Sabath...

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