sentimentos inesperados
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Apesar de sentir-se um verdadeiro palhaço, resolveu saiu do banheiro. As roupas que Harry havia lhe emprestado eram extremamente largas, para poder caminhar e se mover normalmente sem tropeçar, tivera que dobrar as mangas até a altura dos cotovelos e as barras da calça na altura dos joelhos, a única parte incapaz de ser arrumada era a gola, que por causa de seu tamanho exagerado não parava de cair de seu ombro, tendo de ser arrumada de minuto a minuto, sem trégua. E outro ponto desanimador era a cor, que não ajudava muito. As vestes eram marrons com listras verticais amarelas enfeitando-as. Parecia mais com um pijama, mesmo não sendo um.
- Bela roupa, Potter! – Disse maldoso, puxando a parte da frente, mostrando-a – Quem teve o mau gosto de te dar isso?
- Meus tios! – Respondeu sem se importar com o insulto, levantando os olhos do livro que lia com interesse – Até que você ficou bonito nesta roupa...
- Poupe elogios! – Retorquiu mecanicamente, indagando logo em seguida – Será que o Filch já foi?
Draco consultou o relógio, dando um pequeno toque com o dedo indicador no vidro, já eram mais de quatro da manhã, logo os alunos iriam acordar e conseqüentemente sentir a sua falta. Ele teria que entrar na Sonserina gatuno, para que ninguém o visse naquelas vestes.
- Acho que sim – Disse Harry torcendo a boca – Você já vai?
- Sim, é melhor! – Respondeu dando um nó na gola da blusa – Como vou explicar a minha estada fora e essas roupas facetas? – Interrogou.
- Interessante!
- O que? – Perguntou confuso.
- Não sabia que você falava complexo!
- Deixe de ser tolo – Resmungou, abanando as mãos para cima – Amanhã eu te devolvo e... Hã... Dá para abrir a porta... Ou melhor – Corrigiu-se - O quadro?
Harry consentiu com um leve movimento de cabeça, caminhando até a moldura abrindo-a, Draco logo passou por ele, o perfume de pele recém banhada invadiu suas narinas. Sem querer visualizou o pescoço do menino e um pedaço de seu ombro, aquela pele branca e macia o tentava, não sabia como, mas de alguma forma o tentava. Não tomando conta de seus próprios movimentos, saiu logo atrás de Draco puxando-o pelo braço, colando seus corpos um ao longo do outro, beijando com avidez os lábios rosados do menino sobressaltado.
No principio Draco se debateu, tentando se livrar dos braços de Harry que o apertavam com força pelas costas, mas foi perdendo a luta quando este o prensou contra a parede com mais força, segurando seu rosto entre as mãos, aprofundando ainda mais o beijo, percorrendo toda a extensão de sua boca. A coisa que mais o incomodava era ter que sentir seu corpo queimar, enquanto sentia e adorava todos os movimentos da língua do outro menino, que explorava sua boca, acariciando-a. Foi um momento rápido, mas muito quente.
- Desculpa! – Sussurrou Harry ofegante, completamente pasmo quando soltou o menino trêmulo. Draco estava pálido e tremia. Quando acordou de seu ‘transe’, empurrou Harry para o mais longe que conseguiu – Draco espere... – Tentou dizer.
- É Malfoy para você! – Disse arduamente, fervilhando em ódio e outra coisinha a mais – Como ousou fazer isso? Você é louco? – Gritava.
- Me desculpa, eu não tinha a...
- Você me enoja! – Urrou cuspindo no chão com repulsa – Como teve coragem?
O menino olhou com profundo terror para o rosto aflito de Harry por alguns instantes antes de sair correndo pelo corredor sumindo em poucos instantes no breu que envolvia o castelo. A mulher gorda soltou um silvo no meio do sono, trazendo Harry de volta a realidade, ele havia beijado Draco Malfoy, mas como? E por quê?
- Senhora! SENHORA! – Gritou Harry áspero, ainda um pouco atordoado com os recentes acontecimentos, acordando o quadro – Asa de azuleica.
- Menino mal-educado! – Murmurou inflando o grande peito, rodando a moldura para o lado, permitindo assim a entrada de Harry.
Mal entrou, Harry se jogou no sofá mais próximo, foi então que percebeu um cheiro familiar: o perfume de Draco estava em suas vestes e também no tecido do objeto. Ele puxou sua blusa para mais perto do nariz “Por que fiz isso? Será que eu estou... Não, não pode ser, nós somos homens! Isso jamais poderia acontecer!” Ele fechou os olhos apenas aproveitando o aroma, tendo as mais diversas utopias, se esquecendo por um momento onde estava “Mas eu... Eu me senti quente, ardendo de desejo, eu o ansiei mais que qualquer coisa naquela hora, eu queria ele pra mim, só para mim! Apenas meu! Por que comigo nem as coisas mais simples são normais? Meu primeiro beijo com outro menino... Isso é uma loucura!”.
* * *
Draco desceu apressadamente a escadaria, literalmente voando por elas, sem prestar atenção por onde andava, queria chegar o mais rápido possível em sua casa. Sentia-se estranho, sua cabeça e pensamentos estavam estranhos, gostara do beijo, fora suave e gentil, mas o problema era quem o havia beijado: Potter. O seu odiado Potter “Por que permiti isso? Onde já se viu... Dois meninos se beijando! Espero que ninguém descubra... Ele fez isso de propósito, é óbvio... Ele quer me confundir, me magoar por tudo que fiz com ele e os seus amigos nojentos! Draco seu burro, você caiu direitinho no plano sujo dele! Devia ter fugido quando teve chance!” Uma lágrima de angústia, brotou nos olhos cinzas, mas se perdeu rapidamente nas mãos do menino confuso.
* * *
-Harry acorda! – Chamava uma voz longínqua e rouca – Anda, se não vai se atrasar!
Com grande esforço abriu os olhos sem pressa, piscando várias vezes antes de mantê-los completamente abertos, pelo jeito havia caído no sono no sofá mesmo. Rony o chacoalhava com força, mas seus sentidos ainda estavam entorpecidos, dormira muito pouco, no máximo duas horas, se sentia fraco e indisposto.
- Que foi Rony? – Bocejou voltando a fechar os olhos, se encolhendo mais para perto do encosto – Ainda é cedo!
- Cedo é? – Ouviu-se a voz de Hermione vinda de trás – Já são quase nove! Daqui a pouco é a primeira aula, sabia?
- Que aula é? – Perguntou abobado se levantando, enquanto passava a mão pelo rosto tentando afastar o sono que o consumia.
- Duas de adivinhação – Respondeu Rony com certo desprezo – Odeio aquela velha gagá!
- Rony! – Advertiu Hermione com a voz estridente se debruçando sobre o sofá – Não fale assim dos professores!
- Mas Hermione, você também não gosta dela! – Retrucou Harry o mais pueril que pode.
Hermione fez-se de surda ao comentário, apesar de realmente não gostava da Sibila, árvore de natal, como era conhecida entre os três e mais meia dúzia de alunos, todos da Grifinória.
- Anda, Harry!– Apressou-o, empurrando-o para fora do sofá – Vai se vestir, você ainda está com a roupa de ontem!
- Já vou... Já vou Hermione!
Com dificuldade, arrastou-se escada acima, ainda com as imagens daquele beijo frescas em sua mente, lhe açulando as mesmas sensações que sentira na hora. Elas percorriam seu corpo, como ondas, causando arrepios torturantes. Não negava que gostaria de beijá-lo novamente, sentir o sabor doce e inebriante de seus lábios, junto com a maciez de sua pele, seu perfume singular e envolvente... OPA, PÁRA TUDO... Que pensamentos eram aqueles? Tinha que esquecer o que houvera na noite anterior a qualquer custo, mas num movimento instintivo passou os dedos sobre seus lábios, ao relembrar-se mais uma vez daquele momento dos dois.
Quando o trio saía pelo quadro, que por sinal estava de muito mau-humor, Harry viu um embrulho ao lado de uma estátua, bem escondidinho entre o objeto e a parede, dando uma corridinha rápida chegou mais perto para averiguar o que era. Sobre o pacote negro havia um bilhete amarelado, com o seu nome escrito em letras caprichosas em cima. Deu uma desculpa esfarrapada para Rony e Hermione, que mesmo sem acreditar muito, engoliram a desculpa e continuaram a andar, deixando Harry para trás, sem ligar muito. Dentro do pacote estava a sua roupa, cuidadosamente dobrada. Com as mãos tremulas de excitação abriu o pequeno bilhete tomando cuidado para não rasga-lo.
Suas roupas Potter. Devolvo-te como o prometido!
Malfoy
Com certeza esperava algo mais do que uma linha, algo menos formal e mais sentimental, apesar de seu consciente saber que isto não iria acontecer de jeito nenhum. Decepcionado, subiu para o dormitório guardando suas roupas no baú, junto com o bilhete, que mesmo com poucas palavras, conquistou um lugar especial entre suas coisas.
Durante todo o café, lançava olhares discretos à mesa da Sonserina, onde num canto mais afastado ocorria uma discussão entre dois alunos do sétimo ano, chamando a atenção de todos, menos a dele que se concentrava em outra coisa. Draco estava sentado de costas para ele, junto com Crabbe e Goyle, que pareciam de costas, e de frente também, duas enormes pedras.“Certamente ele fez de propósito!” Pensou aborrecido, não evitando o bico, e alto.
- Quem fez o que de propósito? – Perguntou Rony com a boca cheia de torrada, olhando-o de soslaio.
- Hã? Nada não! – Balbuciou constrangido, voltando sua atenção para o prato a sua frente, como se fosse muito interessante – Estava lembrando de uma coisa, só isso!
- Hum! Sabe Harry – Começou discreto, chegando mais perto do garoto – Você tá estranho!
- Eu? – Fingiu surpresa, sabia que estava realmente perdido em pensamentos.
- Lógico que você, desde ontem parece estar com as cabeças nas nuvens...
Não respondeu, o silêncio seria melhor do que se Rony descobrisse o que o amolava.
Como esperado, as duas aulas da Profª Trelaweney ocorreram na costumeira chatice de sempre, novamente Harry iria morrer de forma catastrófica, e a cada nova previsão a coisa piorava. Estavam num estupor infeliz, sempre ficavam assim e para Harry a exaustão de uma noite mal dormida facilitava ainda mais as coisas. A professora andava de um lado para o outro da sala, a cada novo passo seu era-se ouvido o tilintar dos seus badulaques grotescos, que se assemelhavam a vidros coloridos, verificando os orixás dos alunos.
- Minha querida – Disse etéreamente para Parvati – Seus orixás dizem que alguém especial irá surgir em sua vida...
- Jura!- Disse resplandecente de felicidade, batendo as mãos alegremente.
- Sim, e vai te trazer muita dor e humilhação – Trelaweney deu um suspiro, antes de continuar com sua ladainha – Minhas mais sinceras condolências criança! – Parvati desfez rapidamente o sorriso, desabando num choro impiedoso, as lágrimas marcando sua pele.
No canto Harry e Rony dobravam-se de rir, socando a mesa e gargalhando alto, eles não acreditavam que Parvati e Lilá ainda acreditavam piamente nas predições de Sibila, árvore de natal. As meninas lançaram um olhar depressivo e indignado aos dois, fazendo-os rirem mais.
A professora se aproximou como um fantasma até a mesa dos dois garotos, que agora já se debulhavam de lágrimas devido aos risos. Suavemente, a mulher colocou a mão no ombro de Rony que deu um pulo de susto, levantando-se alguns centímetros da cadeira.
- Er... Oi profª Sibila! Tudo bem com a senhora? – Disse falsamente, apoiando o cotovelo no encosto da cadeira, virado para trás a olhando, em sua voz podia-se perceber ainda os frangalhos do riso. Harry segurou o riso.
- Muito bem senhor Weasley, muito bem! – Ela lançou um olhar severo para o menino apesar de carregar um sorriso nos lábios – Vejamos como vai o senhor!
Ela se dobrou sobre a mesa. Enquanto a mulher fuçava nas conchinhas, Harry fazia macaquices no outro extremo da mesa, parecia imitar a professora ou talvez um hipopótamo com dor de barriga.
- Bons momentos para você Sr. Weasley... Agora vejamos o Sr. Potter, certo?
A profª mergulhou-se nas conchas de Harry, seu nariz pontudo estava a centímetros de distância delas, quase as cutucando. O menino esperava que ela visse novamente sua morte, até imaginava qual seria agora, por exemplo, podia ser atacado por um hipogrifo assassino ou talvez então, iria tropeçar no sapo de Neville e sair rolando escada a baixo, até bater numa armadura, que com o impacto de seu corpo, ia derrubar sua lança, decapitando-o em segundos. Gostara mais da última, mas não foi isso que a professora previu.
- Interessante! – Disse com o tom mais etéreo que pode, mantendo sua pose, porém na sua voz havia muito divertimento – Há alguém muito importante na sua vida Sr. Potter, alguém por quem nutre um sentimento intenso e especial – Ela levantou o rosto encarando-o – Mas não é alguém normal, não é Sr. Potter?
Harry não acreditava no que acabara de ouvir, como ela sabia? Ou melhor, será que ela realmente sabia? Tá que ela era a professora de adivinhação, mas sempre fora uma charlatona, será que fingia? Teve certeza que a professora o olhara do modo dizendo “Viu, eu sei o seu segredo!” Se sentia confuso e nauseado, odiava ainda mais a árvore de natal ambulante, e o pior é que a expressão que se formou em seu rosto delatava a ela que era verdade.
- Pelo jeito se enjoou de prever sua morte, tentou outra cartada mais profunda... – Balbuciou Rony balançando a cabeça lentamente.
- Com certeza – Respondeu seguindo-a com o olhar enquanto se afastava – Pode ter certeza disto...
Ao término das aulas, eles logo se apresaram em sair daquela sala minúscula, quente e sufocante. O cheiro excessivamente doce dos incensos acendidos por todo o local, soltando fumaças espessas, entorpecia os sentidos, deixando todos os alunos sonolentos, moles e às vezes até exageradamente alegres, quase embriagados.
Encontraram-se com Hermione no quinto andar, teriam uma aula de poções agora e uma de transfiguração depois do almoço. Entraram na sala de aula conversando animadamente, como sempre o local estava frio, de doer dentro dos ossos, um contraste perturbador para quem acabara de sair de um lugar totalmente oposto. Os sonserinos não haviam chego ainda. O trio, por serem um dos primeiros a chegarem na sala, tiveram o privilégio de escolherem seus lugares, eles procuraram se sentar nas mesmas carteiras de sempre no final da sala, onde ficavam bem distantes de Snape. O ar cheirava a repolho cozido, e havia goteiras no teto, que pingavam vez ou outra sobre suas cabeças, devido à chuva da noite anterior. A Sonserina chegou em companhia de Snape, numa fila dupla. Harry sentiu o coração disparar, junto com um grande calafrio na espinha quando divisou entre tantas cabeças, Draco, entrando protegido por seus dois capangas Crabbe e Goyle, que ao seu redor formavam uma verdadeira barreira. Corou ao encontrar os olhos cinzas, ainda mais frios do que o costume, apesar da mensagem dolorosa que eles lhe transmitiam.
A aula ocorreu bem, o que era um tanto fora de comum. Snape conseguira tirar apenas vinte pontos da Grifinória, número baixo se comparado aos costumeiros cinqüenta pra cima. Draco tentou evitar os olhares de Harry a aula inteira, achando as mais fantásticas curiosidades possíveis em simples objetos, como por exemplo, em sua pena de águia, porém algo o impulsava a olhar para ele, aqueles olhos verdes o tentavam, não conseguia prestar atenção na aula, sua mente estava longe muito longe, no passado, naquele beijo.
- Podem sair! – Soou friamente a voz do professor, enquanto arrumava seus livros com o habitual mal-humor excessivo – Sr.Malfoy, eu tenho que falar com o senhor! O restante pode ir... Agora, de preferência! – Ordenou severamente, irritado com a demora dos alunos na arrumação de seus materiais.
Sem titubear, todos, sem exceções, saíram em silêncio da sala, quase correndo, não estavam dispostos a perderem mais pontos. Mesmo com o péssimo temperamento de Snape, Rony e Hermione aproveitaram sua saída da sala para fazerem brincadeiras desagradáveis ao passar por Draco. Aproveitando os seus poucos segundos.
- Você viu Hermione? – Começou Rony já ensaiado, sua voz era muito baixa, mas o suficientemente alta para que Draco o ouvisse – Aquele soco que eu dei foi certeiro, não foi?
- E como, bem no meio do rosto, e o meu então? – Disse ela rindo gostosamente, lançando-lhe um rápido olhar – Ele até se ajoelhou diante de mim, só faltou beijar meus pés, não é Harry?
- É...É! – Disse sem graça coçando a cabeça, por que colocaram-no no meio? – Me encontre hoje às oito, depois do jantar, na sala do espelho! – Sua voz saiu um pouco mais que um sussurro, que só Draco pode ouvir, o casal ainda ria de suas brincadeiras.
- E se eu não for? – Disse no mesmo tom de voz, um pouco mais carregada de ódio.
Não ouve resposta, e se o garoto respondeu, ele não havia ouvido. O trio abandonou rapidamente a sala, eram os últimos a saírem, Draco sentiu o coração apertar quando Snape se aproximou.
- Então Draco, o que você queria comigo? – Perguntou educadamente Snape apoiando-se em sua mesa, olhando-o apreensivo.
- Eu... Gostaria de pedir ao senhor... – Tomou fôlego em meio a suas palavras, era claro o seu nervosismo, apertava as mãos com sofreguidão – Uma autorização para eu retirar um livro da ala reservada! – Os olhos de Snape pareciam invadir sua mente – Tudo bem para o senhor?
- Que livro seria este? – Perguntou duvidoso coçando o queixo.
- É esse aqui! – Disse entregando um pequeno pedaço de pergaminho ao homem que o apanhou rápido.
- Poções muy potentes... Para o que quer isso Draco? – Disse fixando os olhos no papel.
- Segredo! – Aventurou-se – Desculpa, mas não posso dizer!
O professor olhou torto para o pedaço de papel e depois para o menino, ainda duvidoso. Sem dizer mais nada dirigiu-se até sua mesa, da onde retirou uma longa pena negra de dentro da gaveta mais próxima, sem tirar os olhos de Draco durante todo o processo. Em silêncio assinou e entregou para o garoto que agora estava a sua frente.
- Não vá fazer nenhuma besteira, garoto! – Alertou puxando o papel para si assim que Draco também o segurou.
- Obrigado professor! – Disse tomando o papel.
Desceu apressadamente as escadarias até o salão principal, com um sorriso enfeitando-lhe o rosto, apesar de seu estômago doer de fome. Entrou no salão quase pulando de alegria, mas disfarçou todas as suas emoções, evitando assim, perguntas de seus dois amigos. Sentou-se pesadamente no banco de madeira, comendo com voracidade e gula, com o pensamento ainda no que acabara de ganhar.
Da mesa Grifinória era observado por olhos atentos, Rony olhava-o com profundo desprezo, Hermione com cólera e decepção, o único olhar que se diferenciava em questão de sentimentos era o de Harry, que o devorava com desejo, será que ele ia se encontrar com ele no final das aulas? Esperava que sim, tinha que tirar aquela história limpo.
- Droga! – Disse Rony se espreguiçando, esticando os braços para cima, estralando os cotovelos – Queria que ele tivesse levado uma baita bronca...
- E uma árdua detenção! – Completou Hermione no mesmo ritmo, mordendo o sanduíche que havia em suas mãos – Mas isso é querer demais do Snape!
- Por que será que ele não nos denunciou? Afinal de contas, nós batemos nele e do jeito que aquela doninha é traiçoeira, é de se estranhar!
- Porque iria ter que explicar a Dumbledore o que fazia fora da cama também! – Respondeu Harry com uma pontada de remorso.
- Tem razão! – Assentiu Rony dando de ombros.
As quatro últimas aulas passaram rapidamente, até mesmo a de herbologia, onde os alunos passaram uma hora inteira congelando na estufa, enquanto alimentavam as Etoile, um monte de plantas de porte médio, de coloração negra, armadas com grandes mandíbulas cheias de dentes pontiagudos, que soltavam um líquido roxo inflamável, na palavra da prof° Sprout, veneno.
Muitos alunos foram mordidos, mas eram protegidos por suas luvas de couro, porém em um caso em especial, as presas da planta, que era a maior de lá, conseguiram atravessar a luva de couro marrom, perfurando a pele logo a baixo dela, o menino foi encaminhado urgentemente à ala hospitalar e a planta sacrificada com um jorro de fogo emanado cruelmente pela professora.
Harry estava sem fome, sua ansiedade era demasiada, tão grande era, que não conseguia ficar parado num único lugar. Hora brincando com sua comida que esfriava rapidamente no prato, hora se contentando em falar com o casal, que se sentia incômodo com a agitação do menino. Draco não estava à mesa da Sonserina o que aumentava o seu desespero. “Será que ele já está me aguardando? Ou talvez pode estar escondido para não me ver... mas ele seria capaz de fazer isso?” Harry pensou um pouco, enfiando um bolinho inteiro na boca, analisando as hipóteses que apareciam em sua mente “Com certeza!” Concluiu desanimado “Isso é do costume dele... Aparecer quando não é desejado, e desaparecer quando é útil!” Mas ainda faltavam quinze minutos até o horário marcado, decidiu que iria ate lá do mesmo jeito, se o outro não aparecesse depois de meia hora, ia embora.
- Harry! – Chamou Rony com um pequeno toque em seu ombro – Eu e a Hermione vamos para a torre. Sabe né? Namorar um pouquinho... – Ele sussurrou na última parte, obviamente para a garota não ouvir, no seu rosto uma expressão matreira se formou, igual à de uma criança preste a aprontar – Você poderia demorar pra voltar hoje? – Sugestionou.
- Que coisa! – Fingiu indignação passando a mão preguiçosamente pelas mechas de seu cabelo, que insistiam em tombar sobre seus olhos, acabando por arrepiar ainda mais os fios negros – Tudo bem, né? Fazer o quê?
- Valeu Harry! – Agradeceu dando um tapa nas costas do amigo, que caiu para frente com a força exagerada. Com um sorriso de orelha a orelha Rony pegou Hermione pelo braço saindo do salão principal às pressas.
Harry teve muito trabalho para esconder a excitação que sentia, escondendo toda a sua felicidade no fundo da garganta. Essa era a oportunidade que ele esperava, com o rumo que a história tomava, não ia ter que inventar desculpa alguma e ninguém desconfiaria do seu sumiço repentino, tudo o que ele fizesse agora teria um motivo, mesmo que falso. Entornou o copo de suco num único gole encerrando seu jantar, saindo calmamente pelos corredores, como se nada quisesse. Seguiu como se estivesse indo, como o de costume, para a Grifinória e manteve-se nesta farsa até que os corredores ficassem completamente vazios e desprovidos de vida. Neste momento pode soltar toda sua afobação, entre tropeços subiu até o sexto andar, e como já previa, deparou-se com o vazio, o que era comum por lá, principalmente depois do jantar.
Andou rapidamente pelo corredor, quase correndo, sem prestar muita atenção ao seu redor. Sua mente estava ocupada demais relembrando tudo o que passara ali, há poucos dias, com seus amigos e Draco, principalmente dentro do armário das vassouras, riu involuntariamente, Madame Nor-r-ra vivera sua vida normalmente até o dia daquela portada, se quebrara inteira com a força da batida provocada pelo loiro, além de ficar psicologicamente abalada, conforme Madame Pomfrey dissera: jamais voltaria a “miar” outra vez. A porta da sala do espelho continuava sendo a única destrancada de todo o andar, talvez não houvesse chave ou qualquer coisa do tipo.
Entrou na sala olhando avidamente ao redor, a única coisa que pode constatar era que o espelho já não se encontrava mais lá, devia ter sido levado para outro quarto qualquer. Uma pena que Hermione não tivera a chance de vê-lo, mas a culpa havia sido dela mesma, se ocupara demais em soquear Draco, pessoa que por sinal ainda não havia chego ao encontro. Harry consultou o relógio batendo em seu vidro, já se passara cinco minutos da hora marcada “Vou esperar mais vinte minutos, se não aparecer eu vou embora e esqueço esse sentimento maluco de vez!” Pensou decidido.
Passou-se um minuto, e depois mais três, oito, dez, treze, quinze minutos e nada de Draco, nem ao menos uma mensagem, nada. Harry começara a perder as esperanças de encontrá-lo, cansado de esperar em pé, sentou-se encostado na parede, batendo o pé direito no chão, nervoso. Mantinha a cabeça apoiada em suas mão tristemente, escondendo parte de seu rosto. Consultou mais uma vez o relógio que tiquetaqueava inquietantemente: um minuto para dar o horário. Sentiu seu coração afundar, que mancada, colocou a cabeça entre os joelhos, prensando-a entre eles “O que te fez pensar que ele viria?” Admoestou-se se sentindo péssimo, a pior das escórias “Até parece que não conhece a peça rara! Seu burro, cabeça dura!” Com a visão embaçada pelas lágrimas ralas que se formavam, tentou se ocupar com perguntas sem sentido, por exemplo, para onde teriam levado o espelho? Mas isso não deu certo. Olhou para o chão desapontado.
* * *
Draco andava rapidamente, se atrasara mais do que devia, quase meia hora e ainda para ajudar não havia jantado. Estava nervoso, podia sentir sua mão tremendo de leve, nada aparente para quem observava de fora, mas por dentro ele sentia-as tremer. O medo se instalava no seu ser, pouco a pouco, tomando conta de seus pensamentos, piorando a situação. Consultava o relógio desejando internamente que ele ainda estivesse lá, enquanto com a outra mão, brincava com um frasco dentro de seu bolso, rodopiando, alisando e apertando o vidro liso e escorregadio. O frasco era gelado, talvez por causa de seu conteúdo, o frio era tão grande que atravessava o vidro gelando sua mão a ponto de doer os ossos, como se segurasse gelo. Por mais que se fizesse, não havia nada que esquentasse o frasco. A poção tinha pouco tempo de validade, por isso ia se congelando sozinha, mas sua temperatura era tão baixa que acabava congelando junto o recipiente, mais lentamente, aos poucos, por dentro.
Esmurrou a porta quando entrou na sala, fazendo-a bater do outro lado da parede com a força aplicada nela, junto com um estrondo.
- POTTER! – Disse eufórico quase sendo acertado novamente pela a porta que fechava sozinha com grande velocidade.
- E...Eu! – Gaguejou pela surpresa – Pensei que não vinha mais! – Seu coração parecia ter crescido alguns centímetros, sendo assim, espremido pelas costelas.
- Que bom que eu te peguei aqui!
Draco apoiou as mãos nos próprios joelhos, curvando-se para frente, ofegava, doía quando o ar passava asperamente pela traquéia. Harry abriu um grande sorriso ao vê-lo, sem titubear levantou-se indo de encontro ao garoto, puxando em silêncio toda a coragem que tinha, a afinco de dizer os seus sentimentos e pesares, que doíam na alma, um fardo insuportável.
- Para aí, Potter! – Protegeu-se Draco dando um passo atrás, estirando a mão na frente de Harry, parando-o – Fica aí onde está! Tudo que quiser me dizer, diga daí, a um metro de distância... Não pretendo receber outro beijo seu!
- Desculpa! – Disse abaixando a cabeça, sentindo um nó na garganta, afinal de contas, o que ele estava esperando que Draco fizesse? Corre-se para os seus braços? – Eu acho que você deve saber que depois daquele dia eu não tenho sido mais o mesmo!
Draco ficou arreliado, ocorrera o mesmo com ele, de um modo de diferente, mas acontecera.
- Não sabia o porque que eu havia te beijado ou ajudado naquela hora... – Cada palavra era um esforço tremendo, que abusava de sua coragem tímida, alfinetando sua carne por debaixo da pele – Admito que foi muito estranho para mim, um tanto... Repugnante se você me permite a palavra... Mas depois de muitas horas e mais horas de tortura compreendi o que houve.
Draco tinha medo da resposta que viria a seguir, se era o que pensava estava perdido, a poção poderia não ser útil se fosse algo verdadeiro e profundo.
- Diga logo Potter! – Apressou tentando conter a preocupação e o nervosismo “Talvez se tratá-lo mal, ele desista! Tenho medo de que a poção não funcione! Se isso acontecer estarei, ou melhor, estaremos perdidos!” Fingindo firmeza, continuou mantendo a pose – Daqui a pouco vão dar o toque de recolher e eu quero estar na Sonserina!
- Ta! – Disse determinado. Recolheu o fim de sua coragem e disse rapidamente, atropelando todo o seu orgulho – Eu estou apaixonado por você, Draco! Completamente apaixonado para ser sincero! – Olhou para o chão constrangido, não queria olhar para o garoto, esta era uma cena muito estranha.
Mudo e estático Draco não acreditava no que ouvira, num segundo tudo rodou em sua mente, as imagens da noite anterior, as palavras, o olhar de Harry sobre si, e agora, a confissão que ecoava em cada um de seus nervos, latejando nos tímpanos. Harry acabara de pronunciar a coisa da qual ele mais tinha medo, a única coisa a qual ele temera durante sua vida. Recuou, andando cegamente de costas, sentia-se zonzo, enjoado, triste, todas as sensações rodavam. Seus olhos estavam arregalados num espanto mudo, fixados em Harry, que agora o olhava, não devia ter ido até lá, pensara que ia ter coragem de dizer que não gostava dele, que o odiava, mas depois daquilo não sabia se conseguiria, e o que mais o apavorava, sabia que realmente não ia conseguir.
- Você deve estar enganado... – Gaguejava, tentando enganar a si mesmo – Você é homem e eu também! Você sabe disso, não sabe?
- E daí? – Harry avançava lentamente, temeroso de assustá-lo ainda mais – Você nunca ouviu dizer que o amor é cego?
- Cego até demais na minha opinião! – Balbuciou num meio grito afogado – O que os outros vão pensar? – Ele recuava.
- Não importa os outros! – Dizia alto tentando impor seu pensamento – O que me importa é saber o que você sente por mim? Naquela hora eu senti todos os meus sentidos evaporarem, meu pensamento era voltado só para você, eu te queria mais que qualquer coisa, você naquele instante era mais do que uma utopia! E eu sei que você sentiu algo também, se não, não teria se entregado a mim!
- Eu estava com medo! – Gritava tentando se afastar o mais possível do outro garoto – Tinha medo do que você faria comigo, estava em desvantagem na hora... E além do mais, você me pegou desprevenido!
- Pára de mentir, Draco! – Gritou, estava entrando em pânico – Por que foge de mim? Eu sei que você gosta de mim igual, ou mais do que eu gosto de você, eu sei!
- Como pode saber? Você não é eu! – Dizia com um sorriso nervoso entortando-lhe o lábio, balançava a cabeça negativamente – Uma coisa que eu não admito é que digam as coisas por mim, ainda mais sem saber o que realmente acontece! Não tente adivinhar o que se passa dentro de mim, Potter! Não tente! – Determinou, apesar de sua voz estar fraca, sentia-se encurralado, e se seus pais soubessem, o que seria dele? Com certeza um deserdado – O que te faz pensar que eu te quero? Eu tenho muitas garotas aos meus pés, sabia? – Disse com orgulho – Eu não gosto de você Harry Potter, as lembranças daquela noite apenas me causam náuseas! E EU TE ABOMINO POR ISSO! – Gritou nervoso balançando os braços com fúria e rapidez – Deixe-me em paz! Você não vê o que está fazendo com a minha vida? – Ele respirava pesadamente, completamente perdido – Ah... O que é que eu estou fazendo aqui?
Fingindo não ouvir, Harry foi se aproximando cautelosamente, apesar das palavras tão duras dirigidas a ele, não deixaria o outro escapar de seus braços novamente, queria tê-lo para sempre. Draco retrocedia, tinha que sair de lá, mas a porta estava às costas de Harry. Gelou ao sentir o frio da parede em suas costas, agora sim estava encurralado, não havia para onde ir, e o menino estava a polegadas dele agora, com aquela cara determinada que apenas era vista em um jogo de quadribol, mas nesta expressão havia algo de novo, talvez fosse o ar maroto que o envolvia, e que podia ser constatado no sorriso que surgia em seu rosto.
Num impulso repentino apertou seu corpo contra o de Draco comprimindo-o contra a parede, apoiando os braços na parede, um de cada lado do rosto de Draco, prensando-o. Draco gemeu amedrontado.
Harry podia sentir com satisfação o calor que emanava do corpo jovem do garoto e também seu medo crescente. Mantinha seus rostos muito próximos, tanto que dava para sentir a respiração falha do outro. Não contendo mais seu desejo, Harry apertou ainda mais seu corpo contra o de Draco, que soltou um fraco gemido, e o beijou na boca com volúpia, chegando ao fundo daquela boca tão desejada. Era a melhor sensação do mundo, Draco não resistiu muito, queria aquilo mais que qualquer coisa, estava carente de carinho, nos lábios de Harry suas aflições sumiram, dando lugar a outras sensações bem melhores. Não havia mais com fingir, sentia-se quente, tremia de desejo. Ainda preso pelo corpo de Harry, passou os braços por seu pescoço, entrelaçando seus dedos nos cabelos negros sedosos, forçando a boca do menino contra a sua, aprofundando ainda mais o beijo, quase se sufocando. Era um beijo longo e apaixonado, Harry o agarrou pela cintura, por de baixo das vestes de Hogwarts, colando ainda mais seus corpos, passeava as mãos pelas costas de Draco, sentindo a pele se arrepiar ao seu toque, aquilo estava delicioso.
Soltaram-se arfantes depois de muito tempo. Durante um tempo apenas trocaram olhares espantados, completamente pasmos com tudo que havia ocorrido, por mais intenso que fosse os sentimentos que os ligavam, não dava para negar que havia sido estranho, bem estranho. Querendo quebrar o silêncio Harry aproximou do ouvido de Draco, que ainda tinha as mãos em sua nuca, e sussurrou.
- Eu te amo demais! – Sua voz saiu tão baixa que se não estivessem tão perto, Draco jamais teria ouvido.
- Eu também Harry, eu também! – Disse resfolegante vendo todas as suas barreiras ruírem em mil pedaços, tanto esforço... – Beije-me de novo! – Ordenou.
- Mas já deu o toque de recolher! – Disse brincalhão mordendo o lábio inferior.
- Ele que se dane! Eu só quero você! – Ofegou, devorando novamente os lábios de um Harry feliz e apaixonado.
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