Stratford-Upon-Avon
Por sorte a manhã tinha chegado rápido, pois Potter mal conseguia se conter de tanta excitação. Ainda de madrugada, havia arrumado o baú e a mala tão rapidamente que impressionava o fato de nada ter esquecido. Harry depositou com cuidado a gaiola de Edwiges sobre a pilha de coisas ordenadas de modo desorganizado, aparentando não perceber o excesso de bagagens. Pela quantidade de coisas que pretendia levar, era possível desconfiar da sua flagrante pretensão em não retornar mais ao convívio dos tios. A coruja branca fitava o dono, animada, e possuía uma felicidade superior àquela de quando saía para caçar. Definitivamente ela entendera que viajaria com Harry a algum lugar desconhecido, mas por certo melhor. Tudo isso a havia alegrado de uma maneira verdadeira e semelhante ao dono, com uma pequena diferença: Edwiges não estava fingindo detestar a idéia de deixar a casa dos Dursley. Na verdade, era possível jurar que a coruja da neve tinha um sorriso no bico e expressava uma alegria contagiante, mesmo para quem estivesse distante daquela gaiola.
Harry desceu as escadas carregando os últimos pertences para a sala meticulosamente arrumada dos tios, tomando o cuidado de tornar evidente um descontentamento profundo com a viagem. Se houvesse um prêmio bruxo de interpretação, Potter decididamente o merecia pela infelicidade que conseguiu demonstrar quando se sentou no sofá, acompanhado insistentemente pelo olhar atento de Valter.
― JÁ ARRUMOU TUDO? – bradou tio Valter, esquecendo-se de que o sobrinho se encontrava a poucos centímetros de distância dele. Harry precisou de alguns segundos para se recuperar da sensação de surdez repentina que o grito lhe causou, contudo respondeu o mais rapidamente que pôde a fim de evitar um outro berro de magnitude equivalente ao já recebido.
― Oh, sim – Harry falou com um ar negligente enquanto Duda sorria da aparente desgraça do primo.
― Bom mesmo que tenha preparado tudo – ameaçou Valter ajeitando o terno. – Não quero que o dinh... digo, que os pais da menina esperem muito. Tem certeza de que eles são dentistas? – perguntou o homem fechando ligeiramente os olhos de forma inquiridora.
― Ah, claro – respondeu Potter desinteressado e um pouco displicente.
― É bom que você não os trate assim, moleque! – urrou Valter, que acabara de receber o prato de petiscos das mãos de Petúnia. Ela havia se vestido adequadamente para o memorável dia de se livrar do sobrinho com um conjunto listrado que a fazia ter a cara pontuda de cavalo substituída pela de uma enorme zebra. A fim de segurar o riso, Potter foi obrigado a apertar a própria mão de maneira dolorosa.
― Há algo engraçado aqui? – questionou tio Valter de modo intimidador, forçando Harry a recobrar o semblante pesaroso.
― Oh, de forma alguma, senhor – negou o garoto cinicamente, desviando os olhos da tia para não gargalhar ainda mais.
― Nem todos estão acostumados com meninos irrecuperáveis como você. É bom que não me atrapalhe hoje... tenho planos para os convidados – advertiu o tio de Potter, esfregando uma mão na outra freneticamente, tomado por uma expressão enlouquecida. Dificilmente os pais de Hermione escapariam da enfadonha conversa sobre brocas naquela manhã.
Não demorou muito e o barulho das portas de carro se fechando anunciou a chegada da família Granger. Hermione havia explicado aos pais sobre a excentricidade dos tios de Harry, assim como os advertido de que as férias deveriam parecer pouco atraentes para o amigo e pelo próprio bem dele. Somente deste modo a viagem sairia do campo das possibilidades e invadiria a estrada das realizações. Antes mesmo que pudessem tocar a campainha, a porta se abriu abruptamente deixando o forte cheiro de petiscos de anchovas invadir o jardim. Os pais de Hermione, bem como ela, foram conduzidos até a sala e se sentaram confortavelmente no sofá, observados com intensa curiosidade por Duda que acabara de recepcioná-los à porta de uma forma pomposa. Provavelmente o menino seria bem remunerado pela falsa cordialidade com que recebera as visitas, principalmente se o pai tivesse êxito na venda das brocas.
― Então... vocês pretendem levar o delinqüen... digo, o meu sobrinho para trabalhar em que lugar? – Valter inquiriu pressuroso em adentrar no assunto de seu maior interesse.
Parecendo ficar sem reação, o pai de Hermione olhou estarrecido o tio de Harry ainda sem acreditar na palavra quase dita por ele. Seria difícil que qualquer pessoa de bom senso compreendesse como o garoto podia ser tão maltratado pela família. Aliás, bastaria conhecer Potter, mesmo precariamente, para perceber a inadequação absoluta daquele tratamento áspero. Enquanto o senhor Granger continuava a processar o ocorrido, a mãe de Hermione deu a resposta de uma maneira tranqüila e educada:
― Viajaremos para Stratford-Upon-Avon e a ajuda de Harry será bem vinda agora que o pai do meu marido vai receber alta... Aqui estão os telefones do lugar onde ficaremos; tenha certeza de que não trataremos o menino mal – a senhora Granger fitou Potter com um olhar amoroso e o garoto não pôde deixar de sorrir para ela, contudo logo retornou à expressão infeliz e carrancuda que mantinha estampada na face.
― Ah, se for necessário corrigi-lo, não hesitem em fazer uso da força – salientou Valter, realizado, no exato momento em que Petúnia serviu um refresco para acompanhar os petiscos. Ela demonstrou ficar bastante contente com a “brilhante” idéia do marido.
― Poderíamos ir colocando as coisas no carro enquanto vocês conversam – sugeriu Hermione, já ansiosa por sair dali.
― Sim, sim... que seja... Moleque, arraste essas coisas para o carro! Não queremos atrasar as visitas, não é?– ordenou o impaciente Valter para o sobrinho.
Harry seguiu Mione arrastando o malão de forma penosa e parecendo estar realmente incomodado pela idéia de ficar alguns meses longe da Rua dos Alfeneiros. Embora até aquele instante eles ainda não houvessem se encarado, Potter sentia um desejo imenso de tornar a ver Hermione. Duas semanas se passaram desde a última vez em que estiveram juntos em Hogwarts, no entanto ele sabia da necessidade de manter a farsa. Os dois percorreram o jardim, silenciosos, observando o movimento intenso de cortinas nas casas vizinhas. Possivelmente estavam sendo mais vigiados lá fora que dentro da sala.
― É impressão minha ou aqui as janelas parecem ter olhos? – brincou Hermione, enquanto depositava a gaiola de Edwiges no banco traseiro do carro.
― Senti sua falta... – murmurou Harry em resposta do modo mais discreto que conseguiu.
― Pela quantidade de coisas aqui, eu suspeito que você não pretenda voltar... – insinuou a menina, evitando pensar sobre as palavras do namorado. Mione deu um sorriso radiante para ele pouco antes de tocá-lo levemente nas mãos em um falso encontro acidental, todavia se manteve afastada. Diante da estranha distância, Potter observou-a surpreso e retornou à sala mais quieto do que quando havia saído. Tio Valter continuava a exposição sobre a qualidade de suas brocas odontológicas e os pais de Hermione gentilmente haviam aceitado uma caixa de amostras para distribuir entre os amigos de profissão. Calado, Harry fazia o grande esforço de permanecer sem emitir qualquer ruído que denunciasse o próprio nervosismo ou a preocupação que se instalara na sua mente após a aparente frieza de Mione.
― Vamos nos atrasar, papai – lembrou a menina com delicadeza, interrompendo a enfadonha conversa do Dursley.
― Sim, é verdade – sorriu o homem, aliviado por alguém ter intercedido em seu socorro.
― Hermione, poderia me ajudar a trazer a última caixa que deixei lá em cima enquanto seus pais se despedem dos meus tios? – Harry arriscou impetuosamente. Ele ficou impassível quando o tio o fulminou com olhinhos raivosos.
― Pensei que houvesse trazido tudo aqui para baixo – retrucou Valter, rispidamente.
― As crianças sempre esquecem alguma coisa – interveio a mãe de Hermione –, mas isso nos dá tempo de acertamos os últimos detalhes sobre o pagamento das brocas – completou a senhora Granger astutamente. – Ajude-o, filha.
Hermione acompanhou Potter rumo ao quarto do garoto ainda se questionando os motivos da atitude dele. Ela entrou logo atrás e pôde ver a porta se fechando no mesmo instante em que Harry a colhia entre os braços, encostando-a calmamente contra a parede.
― Vou repetir: senti a sua falta – sussurrou o determinado menino, fazendo Mione estremecer.
― Então, vou admitir: eu ainda sinto a sua falta, Harry, e, se não confessei isso lá fora, é porque a cena que se seguiria não deveria ser presenciada por seus vizinhos – assumiu Hermione numa voz enlevada.
― Eles não estão aqui – insistiu o moreno com um sorriso exultante na face e segundos antes de beijar a namorada demoradamente. Apesar do pouco tempo que passaram afastados, era visível a saudade e a preocupação dos dois. A sombra de Voldemort ainda estava bastante vívida na mente de ambos e as ações dele dificilmente seriam esquecidas. Aliás, melhor mesmo que não fossem. Potter foi se afastando lentamente de Hermione, observando-a nos olhos de modo detido, como se apenas aquele gesto fosse o suficiente para traduzir os sentimentos e pensamentos ali existentes. Agora era preciso voltar à sala antes que a demora provocasse a sorte e chamasse a atenção indevida dos tios de Harry.
– Ficar nesse quarto não será mais insuportável - confessou o rapaz por fim, dando uma última olhada no cômodo.
― Posso saber por quê? – indagou a menina ainda tonta enquanto se dirigia para a porta.
― Porque qualquer local onde estiver a lembrança de seu beijo é o melhor lugar para eu ficar quando não puder estar pessoalmente ao seu lado – Potter finalizou olhando Mione apaixonadamente. Ele apanhou uma caixa de madeira dentro de uma das gavetas e prosseguiu de volta à sala, tomando o cuidado de fingir-se bem triste. Hermione, no entanto, não conseguiu disfarçar um décimo da felicidade que a invadiu depois daquelas palavras.
Felizmente, a despedida foi breve e tornou explícito o desejo de todos em torná-la ainda mais célere. Os Dursley estavam definitivamente satisfeitos por se livrarem de Harry. Acenaram do jardim com uma aparência emocionada para os Granger, no entanto a comoção se devia mais ao fato de terem se libertado de um estorvo do que da pretensa saudade pela partida de um parente querido – decididamente Potter não se enquadraria nessa definição. Tio Valter possuía o ar de maior contentamento já que havia conseguido uma excelente venda de brocas odontológicas para arrematar aquele grande dia. No carro, já a cem metros de distância da Rua dos Alfeneiros, Potter tinha substituído sua falsa tristeza pelo verdadeiro conjunto de sensações que o tomavam: simplesmente uma alegria sem fim.
― Deu tudo certo! – Harry comemorou com evidente entusiasmo. – Obrigada por me convidarem – completou o garoto sinceramente, fitando Hermione.
― Seus tios são um pouco... – o senhor Granger começou, mas foi Harry quem deu continuidade a frase.
― ...loucos e possuíam um enorme interesse em se livrar de mim – assumiu o menino com tranqüilidade.
― Eu ia dizer: “diferentes” – emendou o homem sem perder a atenção da estrada que tinha acabado de tomar.
― Ah, na verdade isso não me incomoda mais, para ser honesto. Eu sei que os Dursley me expulsariam de casa se pudessem... não é um tipo de família comum, mas é a que tenho – explicou o menino naturalmente.
― Deve ser porque você sabe que possui uma outra família onde já é bastante amado: a nossa – a senhora Granger interrompeu sorrindo, ainda em tempo de ver os olhinhos de Harry brilharem de emoção. O menino não conseguiu falar mais nada por um bom tempo durante o percurso. Ele somente se manteve de mãos dadas a Hermione enquanto observava pouco a pouco a paisagem inglesa se modificar nas janelas do automóvel.
Depois de muitas ruas, eles fizeram uma pequena parada. Na verdade, o grupo somente abasteceu o carro, contudo, mesmo assim, foi possível aproveitar um bom lanche regado a uma conversa ainda melhor. Quando chegaram ao centro de Londres, a inquietação atingiu o seu ápice. Faltavam somente três horas para atingirem o destino desejado e a proximidade deixou Hermione realmente animada. A menina passara a falar sobre os planos que tinha para Harry durante a estadia dele lá. Aparentemente havia muito a ser visto em Stratford Upon Avon e a riqueza de programas anunciada por Mione denunciava que ela estava planejando aquelas férias há um longo período de tempo.
― Nossa! Serão as melhores férias de minha vida! – o garoto constatou com alegria.
― Pretendo mesmo que sejam – Hermione piscou o olho marotamente e Harry não conteve a formação de um belo sorriso entre os lábios. O menino só estranhou quando o pai da namorada estacionou o carro na estação Euston, apanhando a bolsa da filha. Tudo indicava que a viagem havia se encerrado ali, entretanto Potter conhecia o lugar e estava ciente de que não ficava em Stratford. Em verdade, o local se achava bem perto da estação King's Cross/Saint Pancras e Harry ainda não conseguia entender os motivos que levaram os pais de Mione a conduzi-los até lá.
― Bem, vocês seguem de trem enquanto vamos buscar seu avô – explicou o senhor Granger ao notar a interrogação na face de Harry. – Levaremos as demais bagagens e sua coruja, rapaz. Por enquanto, convém que você carregue apenas a mala menor.
― Devemos encontrá-los em três dias – complementou a mãe de Hermione numa voz afetuosa. – Não se preocupe, Harry, está tudo arrumado para que vocês não passem fome.
― Oh, não estou preocupado – sorriu o garoto, nervoso. – É que preciso pegar algo no malão – acrescentou ele rapidamente.
Enquanto Hermione e a mãe se encarregavam de comprar as passagens, o senhor Granger abriu o porta-malas, dando espaço para Harry encontrar o que procurava. Com visível esforço, Potter retirou de um dos cantos do malão uma pequena caixinha de couro cheia de detalhes dourados. Ansioso, ele a olhou de modo sonhador por alguns segundos, mas logo se apressou em escondê-la no bolso. Tão logo chegaram ao pé da plataforma de embarque, Harry e senhor Granger avistaram facilmente uma alegre garota de cabelos castanhos acompanhada da mãe.
― Aproveitem a casa e a cidade! Em três dias estaremos juntos – despediu-se a senhora Granger, agora abraçada ao marido.
No interior do trem, Harry e Hermione rapidamente encontraram as acomodações. Sentaram-se lado a lado e não demorou muito para Mione se encostar aos ombros do namorado de maneira carinhosa. Aquelas férias seriam verdadeiramente especiais, tanto pela beleza do lugar onde estariam como pela certeza de que a rica paisagem seria compartilhada de maneira terna e apaixonada. De tanto falar, logo Hermione se viu derrotada pelo desejo de adormecer; ela tinha as pálpebras pesadas e melhor seria descansar durante a viagem para aproveitar Stratford assim que chegassem. Potter não se surpreendeu quando a menina se ajeitou tranqüilamente em seu colo com uma expressão que anunciava certo cansaço, mas também muita satisfação. Ele apenas enroscou meigamente os dedos entre os cabelos de Hermione enquanto a observava dormir embalada pelo balanço do trem.
Somente duas horas depois, uma frenagem suave e quase ritmada daquela máquina corpulenta interrompeu o sono de Hermione, anunciando a chegada ao destino. Potter olhou a namorada se espreguiçar gostosamente como quem tenta espantar o cansaço para um lugar bem distante e não pôde deixar de sorrir com aquela visão. Decididamente seria conveniente que Mione dormisse àquela tarde e apenas no dia seguinte levasse Harry para conhecer os primeiros detalhes de sua introdução ao universo particular de Stratford Upon Avon, entretanto difícil seria convencê-la do acerto dessa decisão.
― Sonhei que estaríamos aqui – assumiu a menina com o semblante já desperto após deixarem o trem.
― Agora a pouco? – perguntou Harry interessado.
― Não – a garota parou um segundo a fim de olhar a rua por onde caminhavam e continuou –, tive esse sonho na minha casa, na noite anterior ao dia em que fiz aquele café da manhã para você – Hermione sorriu, aparentando se lembrar de alguns daqueles instantes memoráveis. Ela tinha quase certeza de que todos os momentos com Harry possuíam grandes chances de serem exatamente assim: inesquecíveis.
― Você me falou sobre o sonho, mas não me contou como ocorria – adiantou-se o menino visivelmente intrigado e bastante curioso também.
― Ainda bem! – sorriu Hermione, realizada. – Já estamos aqui, então vamos deixar que o resto simplesmente aconteça.
Harry e Hermione caminharam por mais meia hora antes de chegarem ao casarão do avô dela. Eles foram recepcionados pela alegre e acolhedora família responsável pelos cuidados com o lugar. Todos demonstraram estar ainda mais contentes com a presença de Potter. O moreno não conseguiu conter a admiração quando se viu diante do mesmo local que visitara com Mione em um dos passeios à sala precisa. O ambiente tinha um romantismo secular incrustado nas paredes; o assoalho praticamente suplicava para que as pessoas se sentassem nele, permitindo-se apenas ficar e, no entanto, era a grande lareira que conferia ao local um calor convidativo e verdadeiramente aconchegante. O garoto observou cada detalhe com a precisão que um olhar ávido é capaz de reter. De certo modo, Harry já se sentia em casa e essa sensação não poderia ser atribuída somente ao magnetismo do casarão. Havia algo mais, embora ele ainda não tivesse compreendido exatamente o quê.
― Vamos, Harry! – apressou Hermione, entusiasmada, depois de poucos minutos da chegada deles. A garota possuía uma pequena cesta na mão esquerda e, apesar do dia ensolarado, havia se agasalhado adequadamente para sair. De fato ela estava determinada a mostrar alguma coisa ao namorado e, pelo jeito, não aguardaria até o dia seguinte. Potter havia deixado as malas nos quartos de maneira afoita e agora se via arrastado pelas ruas arborizadas e floridas da pequena cidade até o que lhe pareceu um ponto de ônibus.
― Mi, eu posso saber, ao menos, para aonde vamos? – ele indagou bastante incerto de se obteria uma resposta.
― Você vai ver! – Hermione falou, ressaltando um tom misterioso.
Logo, o lugar em que desceram calou a inquietação existente nos pensamentos do garoto, obrigando-o a permanecer silencioso pelo menos naquelas horas felizes. Tudo era simplesmente magnífico e não existiria uma palavra melhor para tentar definir a paisagem e o encanto presente até no murmúrio discreto do vento que batia de modo delicado e quase carinhoso na face dos passantes. Harry e Hermione haviam chegado ao castelo de Warwick, uma construção imponente que lembrava Hogwarts, contudo possuía mais requinte e romantismo. Os salões imensos, pontes levadiças e uma belíssima capela construída no apagar do século XVI ofertavam um clima medieval e, ao mesmo tempo, britânico. Na parte externa das grandes muralhas, o rio Avon avançava de modo sutil qual adorno em uma pintura. Potter observava tudo aquilo paralisado como se tivesse medo de ver, com um piscar de olhos, aquela beleza rica e poderosa desaparecer diante de si, deixando apenas o gosto de um sonho muito bom. Devagar, Mione entrelaçou uma de suas mãos com a de Harry, fazendo-o andar calmamente pela relva verde. Ao som de uma roda d’água que girava sem parar, eles se sentaram sobre a grama fresca e observaram o entardecer apenas aproveitando a companhia um do outro.
― Está tudo tão maravilhoso! Parece um sonho realmente. – Mione quebrou a quietude falante do barulho das árvores tremulando ao sabor do vento e entregou ao namorado um dos sanduíches que havia na cesta.
― Sim – concordou Harry, contraindo o cenho num misto de alegre certeza e também apreensão. – É como um sonho que se tornou real. Mi, tenho a impressão de que precisávamos estar aqui agora. É como se nossa vinda fosse pré-determinada por alguma razão desconhecida.
― Eu sei... também sinto isso – admitiu a garota, mordendo levemente o lábio inferior. – Na verdade, desde que conseguimos sobreviver aos planos de Voldemort, tenho pensado desse modo.
― Há outras coisas que também me preocupam, Mi. Uma delas é o fato de você e o Jorge terem tomado a Poção da Felicidade.
― Voldemort ainda não sabe disso. Temos tempo para nos prepararmos e o Jorge entendeu o significado de tudo depois que o senhor Weasley explicou. A sua decisão foi a melhor e a única capaz de nos dar uma chance, Harry. Eu só posso admirá-lo por ela e vou estar ao seu lado quando for o momento de enfrentar o mal.
― Não queria colocar você ou Jorge em risco – penalizou-se o menino. – E imaginar que o Malfoy vai sair ileso só me irrita mais.
― Você salvou as nossas vidas, Harry, e sem isso não estaríamos aqui hoje para até escolher entre fugir ou lutar. Nunca se culpe por isso – ponderou Hermione com sobriedade. – Quanto ao Draco, tenho minhas dúvidas se Voldemort vai deixá-lo sem arranhão algum. O plano fracassou; alguém vai ser punido por conta disso e não seremos nós. Mesmo assim, procurei me informar a respeito e fiquei sabendo que fazer crescer novos dentes demora muito e dói bastante. Com os socos que você deu em Draco, ele vai sofrer por um bom tempo até ter a dentição de volta – argumentou a menina sombriamente, fazendo Harry sorrir.
― Tudo bem, não vamos falar sobre isso agora – Potter mudou de assunto rapidamente antes que Mione reclamasse sobre a atitude dele. - Você tem certeza de que não vai me contar aquele seu sonho? – o moreno questionou no mesmo instante em que afagava o rosto da namorada já prestes a beijá-la. A menina ficou visivelmente afobada e um rubor intenso fez com que as bochechas dela atingissem o aspecto de duas maçãs vigorosas e convidativas. – Tudo bem – continuou Potter, numa voz calma –, você me fala quando achar ser a hora. Mas já que você ficou vermelha antes mesmo que eu a beijasse, acho melhor fazer jus a toda essa vermelhidão – Harry disse isso minutos antes do aproximar de lábios que se seguiu a uma batalha intensa e significativa de olhares. O restante da tarde foi dividido entre os passeios pelos inúmeros lugarejos do castelo Warwick e os incontáveis beijos que trocavam enquanto o sol se punha.
Embora a tarde houvesse sido absolutamente perfeita, Harry não conseguiu parar de pensar naquilo que Hermione deixou de dizer. Depois que ele e a namorada retornaram ao casarão, uma leve sensação de incômodo o perseguiu obstinadamente. Era como se a viagem dos dois já estivesse planejada há meses e, desde ali, existisse uma determinação secreta do destino, ordenando que ambos chegassem ao futuro em segurança, apesar dos planos escuros de Voldemort. Aparentemente não seria razoável imaginar um elo entre o sonho de Hermione e a visita ao salão do tempo, contudo, por uma fração de segundos, Potter foi capaz de se perguntar silenciosamente o real significado presente naquelas emoções vividas por ele e Mione. Algo lhe dizia que a história retida nas águas calmas e doces do grande salão ainda não chegara ao seu desfecho e só isso fora o bastante para que sua vontade de dormir diminuísse consideravelmente. Não fosse pela presença quente e reconfortante da namorada, envolvida em seus braços, Harry sequer descansaria aquela noite.
Quando a manhã chegou com os respingos de uma chuva branda e repentina batendo suavemente na janela do quarto, Harry e Hermione perceberam que ficariam em casa, ao menos naquele começo de dia. Os dois desceram para o café da manhã, ainda sonolentos, e tomando o cuidado de aparentarem ter dormido em locais distintos:
― Espero que tenha se sentido confortável em seu quarto – comentou Mione com o namorado a fim de que todos no andar de baixo escutassem. Potter a fitou incrédulo e inseguro se deveria realmente responder àquilo. Já estavam no meio da escada quando um olhar de Hermione foi suficiente para obrigá-lo a falar.
― Ah, sim... bastante... – Harry balançou a cabeça repetidamente como se as pessoas não somente pudessem ouvi-lo, mas vê-lo também. – Na verdade, fiquei o tempo inteiro abraçado a algo lindo... um belo “travesseiro”. Não foi difícil me sentir seguro e em paz. – Mione corou de maneira violenta depois daquelas palavras e entrou muda na cozinha. Ela estava certa de que não fora uma boa idéia requisitar os dotes teatrais de Harry com ele longe dos tios. Pelo jeito, somente esses estimulavam o garoto a uma atuação impecável. Apenas quando entraram na cozinha, os dois se deram conta de que estavam sós. Qualquer representação era desnecessária, uma vez que os funcionários haviam deixado tudo pronto e seguiram para as suas atividades de rotina. Potter não pôde conter o riso pela situação hilária em que se encontravam, estavam fingindo para uma platéia vazia. – Ainda bem que falei a verdade – ponderou o garoto divertidamente. – Não convém enganar o nada. – O menino não ofertou sequer um segundo para a namorada expressar a pequena nuvem de reclamação que se formava. Ele somente a beijou apaixonadamente, fazendo-a se esquecer por completo do resto do mundo.
― Isso não é justo – Hermione lamentou, esboçando um sorriso mágico no rosto.
― Eu parar de beijar você para ver sua risada linda? – aventurou-se o moreno, galante.
― Não. Não é justo você interromper minha quase irritação com um beijo desses – Harry pareceu se preocupar com o que viria. – Deveriam ser, no mínimo, cinco... - disse a menina por fim. Decididamente Harry a fazia flutuar, e foi com uma expressão imensamente realizada que ele a beijou novamente e bem mais de cinco vezes.
A manhã seguiu agradável. Potter e Hermione aproveitavam os divertidos jogos de tabuleiro que havia na casa e, graças a isso, Harry sentiu o próprio desconforto se esvaecer pouco a pouco como se nunca tivesse existido. Na verdade, o garoto preferiu que fosse assim - as coisas do passado deveriam permanecer nele por enquanto. O menino sentiu uma grande vontade de escrever para o melhor amigo a fim de saber se tudo estava bem nas férias da Toca, todavia algo o tranqüilizava: se Rony não entrara em contato até agora, certamente nada estranho havia acontecido, pelo menos, nada que não guardasse relação com a atuação engenhosamente criativa dos gêmeos Weasley. Apesar disso, Potter mortificou-se por não ter trazido logo Edwiges no trem. Aquela troca de correspondências demoraria um pouco mais.
O fim da chuva e o cair da tarde possibilitou que Hermione colocasse em prática mais uma de suas surpresas. Ela apenas avisou a Harry que possivelmente não voltariam para o jantar e o garoto concordou em não fazer maiores perguntas sobre o itinerário, desde que pudesse usar o telefone. Apesar de achar o pedido inusitado, Mione aceitou a condição e evitou questioná-la a despeito de toda a curiosidade. Potter esperou até ela subir e somente então buscou no catálogo telefônico o que desejava. Ele voltou ao quarto bastante feliz consigo mesmo pela grande idéia e conseguiu se arrumar antes de Hermione. Estava na sala, sentado em uma das poltronas voltadas para o topo da escada, quando viu a namorada irromper ansiosa do ponto mais alto. Ela estava absolutamente encantadora: um vestido delicado lhe cobria o corpo quase sem tocar a sua pele e o movimento lento dos seus passos, pousando nos degraus de maneira leve, acrescentava ao simples andar daquela garota uma magia que obrigou Harry a se levantar boquiaberto para recebê-la ao pé do último degrau.
― Parece que você adivinhou aonde vamos – sorriu ela para um elegante Harry.
― Não sei se desvendei isso, Mi, mas sei que vou descobrir todo dia uma nova razão de viver ficando ao seu lado. Você está linda e é a namorada mais incrível que alguém poderia ter! Muita sorte ser a minha – Potter continuou envolvendo-a cuidadosamente entre os braços. Ele não pôde deixar de sentir um aroma delicioso e conhecido vindo dela. – O perfume que dei a você?
― Prometi a mim mesma que só o usaria quando saíssemos juntos alguma vez e, claro, não como amigos – a garota complementou ousadamente.
― Mi, eu vi o vidro cheio no seu banheiro e imaginei que não houvesse gostado – confessou o rapaz, surpreso.
― Só estava esperando o momento certo. Apenas isso – Mione assumiu pouco antes de dar um breve beijo em um Harry atônito e sair seguida por ele. Em pouco tempo, chegaram ao lugar planejado por Hermione e a experiência que tiveram foi algo simplesmente indescritível. Assistiram à peça denominada A décima segunda noite ou o que quiserdes e foi impossível não se deixarem tocar pela força do amor que Shakespeare relatara. Depois, eles rumaram silenciosos para a rua com as mãos entrelaçadas numa conversa muda de afagos. Potter parou em frente ao restaurante Sorrento que ficava a três minutos do teatro e observou Hermione de uma maneira interessada.
― Nem precisei da sua ajuda para encontrar – disse o moreno, sorridente.
― Encontrar o quê? – perguntou Mione, procurando alguma coisa invisível pela calçada.
― O restaurante! – explicou o rapaz calmamente, fazendo-a entrar. – Temos reserva nele. Confesso que o destino mais uma vez colaborou... escolhi justamente um próximo ao teatro sem nem mesmo saber aonde iríamos.
― Ah, Harry, você reservou uma mesa para nós? – Hermione perguntou profundamente emocionada.
― Sim, senhorita! Já que minha namorada não me permitiu fazer muita coisa... Bem, pelo menos, eu cuidei do nosso jantar por telefone. Bons elfos domésticos nunca esquecem a comida dos amos... – lembrou o menino com um ar maroto.
Sem demora, os dois foram conduzidos até uma mesa situada em um canto discreto e aconchegante. Talvez o melhor lugar daquele charmoso restaurante italiano. Eles conversaram sobre a peça, recordaram os amigos, os momentos difíceis e os instantes incríveis que atravessaram para, só então, darem-se conta do quanto cresceram naquele ano e de como ele representava uma ponte na união dos dois. Na realidade, tão entretidos que estavam em trocarem carinhos, pouco conseguiram jantar. De uma forma doce e apaixonada, eles compartilharam um delicioso gelatti de morango e chocolate, na sobremesa. Lá fora, a lua se erguia romântica aparentando ter surgido naquela noite somente por causa dos dois.
― Não sei o que faria se houvesse perdido você, Mi. – Harry respirou intensamente, preparando-se para dizer algo importante. – Eu apenas sei do que sou capaz para ter você. Até faria com que “o eco, o amigo falante do ar,” gritasse o seu nome, só para você ter certeza de que não o esqueço por um minuto sequer, porque me lembro todos os segundos dele de você.
― Harry... – Hermione já tinha os olhos fulgurantes de emoção.
― Então você imagina como me senti quando sai naquela noite para o encontro com Voldemort. Tinha medo de não realizar o que vou fazer agora. – o garoto apanhou no bolso a caixa de couro com detalhes dourados; ele a abriu com cuidado, revelando um belo anel. Era uma linda jóia trabalhada e na parte interna havia uma inscrição brilhante de onde Hermione pôde distinguir, no meio de uma frase, o próprio nome. – Por favor, não leia agora – pediu Harry fitando Mione detidamente -, essa é uma frase para ser lida quando não estivermos juntos... eu vou saber que você está pensando em mim. – Potter colocou o anel na mão esquerda da namorada e a beijou carinhosamente no dedo que carregava a jóia. – Amo você – ele concluiu de maneira apaixonada.
― Amo você também, Harry, e nunca vou esquecer tudo isso! – disse Hermione com uma voz embargada enquanto secava com a mão livre os olhos castanhos. Deles, escapavam insistentemente algumas lágrimas inevitáveis. O anel havia se adequado de forma perfeita ao dedo e a menina não pôde deixar de se intrigar com aquilo. – Harry, eu queria saber...
― Quando eu comprei o anel? – Potter adiantou-se à pergunta. – No nosso primeiro melhor dia trouxa. Você deve se lembrar dele.
― Como esqueceria? Foi o meu melhor dia não bruxo também até hoje. Mas eu estava o tempo inteiro com você durante aquela tarde... – insistiu Mione.
― Não no banheiro – recordou Harry, sorrindo pelo rubor imediato da namorada. – Disse que iria a ele, mas fui a uma loja naquela galeria aonde vimos um filme. Quando olhei o anel, sabia que deveria ser seu. Depois, usei alguns feitiços para torná-lo adequado apenas à mulher que eu amo e outras magias que só com o tempo você perceberá.
― Pelo visto, você também estava preparando algo para o futuro...
― Vale sempre a pena pensar no futuro se for com você – admitiu Potter honestamente.
O jantar se encerrara com beijos e certamente marcara a história dos dois de modo intenso. Eles tinham acabado de sair do restaurante Sorrento e o passeio que se seguiu estava sendo incrivelmente fantástico. A cidade ganhou uma atmosfera mais encantadora depois de tudo aquilo; as curvas das charmosas ruas de Stratford pareciam ter se preparado para abrigar novamente uma história de amor tão intensamente bela que seria capaz de recordar as palavras mais doces, saídas da pena de um ilustre morador daquele lugar: William Shakespeare. Embalados pelas sensações que os invadiam a cada momento, Harry e Hermione nem se deram conta de já terem chegado diante do grande casarão. Eles se olhavam com uma ternura cativante e era evidente a existência de uma cumplicidade apaixonada entre os dois. Quando chegaram à sala principal, o lugar estava apenas iluminado sob a luz quente da lareira num clima acolhedor.
― Poderíamos escutar uma música antes de subirmos – sugeriu Hermione, sonhadora. – Alguns discos antigos do meu avô. Tem muitas coisas fantásticas aqui, apesar de não serem do nosso tempo. Acredita que ele ainda possui uma vitrola que funciona?
― Creio em qualquer coisa que venha de você e, claro, acredito sim, acho uma ótima idéia ouvirmos algo. Podemos mesmo ficar mais um pouco juntos hoje. Não conseguiria dormir agora – concordou o garoto extremamente feliz.
Hermione procurou entre os discos do velho Granger um que a agradava bastante. Eram realmente canções de uma outra época, contudo falavam sobre sentimentos e sensações atemporais. Uma energia especial ia pouco a pouco envolvendo o ambiente e, enquanto Mione explicava com entusiasmo histórias relacionadas àquelas músicas que tocavam, Harry a observava completamente embevecido.
― Estou me sentindo uma tola agora – assumiu a morena, constrangida. – Eu e minha mania de viver ensinando...
― Tola? – Potter indagou surpreso. – Isso você nunca será, Mi! Aliás, como tem sido importante que você seja exatamente assim e, se isso for uma tolice, amo isso em você também – Harry falou sinceramente.
― Acredito que esse meu jeito tenha afastado muitos... - disse Mione de forma reflexiva.
― Muitos rapazes? – Harry completou, adivinhando o que a namorada pensava. – Mas não me afastou, Mi; não afastou o Krum e não afastaria quem realmente percebesse tudo aquilo que você é e oculta. Não considero sua inteligência um crime, mas um dom. Eu não me intimido com ele, nem me incomodo; apenas me orgulho. Sempre me orgulhei como seu amigo e agora como alguém que quer fazer parte da sua vida de uma maneira ainda mais profunda.
― Sei que me excedo às vezes, Harry.
― Todos nos excedemos em algo, Mi – ponderou o rapaz por fim, ficando de pé inesperadamente.
― Quer dormir agora? – questionou a menina numa voz afetuosa.
― Não. Quero apenas que você venha aqui – Harry pediu com os olhos verdes iluminados, oferecendo a mão para que Hermione se levantasse. Ele a abraçou calmamente de forma intensa, provocando-lhe um arrepio involuntário. Sem sequer se darem conta, os dois se deixaram envolver pela música* que tocava numa dança lenta e poderosa. O garoto notou com rapidez o quanto Hermione se deixou levar por ele a cada novo acorde da canção. – Você está se permitindo ser conduzida, futura senhora Potter, – observou o rapaz de modo amoroso.
― Esse é o momento de deixar você guiar, Harry; o instante de permitir que você conduza todas as danças – assumiu Hermione com os olhos castanhos carregados de uma emoção maior e não foi preciso repetir. Potter a observou demoradamente e, sem desviar o olhar, tomou-a nos braços de maneira carinhosa, levando-a para o quarto. Ele subiu cada degrau da escada de forma paciente enquanto observava a namorada envolta numa beleza magnificamente encantadora. Os dois trocaram um beijo calmo, repleto de amor e foi possível perceber como Harry conduziria Hermione naquela dança: com o mesmo carinho que o fizera na sala. A música lá embaixo parou de tocar, no entanto, na parte superior do casarão, uma nova canção era composta naquele instante e suas notas se entoavam de forma tão unicamente transcendental que era como se a noite compartilhasse aquele momento e convertesse cada nova sensação deles na melodia mais perfeita que se poderia ouvir. Eles adormeceram entrelaçados e embebidos numa cortina de sonhos da qual jamais se esqueceriam para precisar recordar.
Contrastando com o dia anterior, o amanhecer daquele domingo foi talvez o mais ensolarado de que já se ouvira dizer. Os pássaros, que estavam silenciosos, despertaram aos poucos, brindando mais um dia com cantos afinados e exuberantes. O vento soprava suave por entre as cortinas do casarão e um barulho convidativo de panelas na cozinha demonstrava que as atividades comuns àquele cotidiano tão charmoso e romântico, peculiar em toda a Stratford, iniciaram-se calorosamente. Entanto, aquela não era uma manhã qualquer para Potter e Mione. Eles despertaram em meio a uma atmosfera de novos sentidos que a vida de cada um havia recebido e, de alguma forma, aquela emoção matutina pela simples presença do outro foi o bastante para guardarem uma certeza: o amor entre os dois apenas aumentaria com o tempo. Dispensando-se olhares que falavam por si só, eles saíram para um passeio pelos arredores do casarão logo após o café da manhã.
― Espero que tenha sido como no seu sonho – Harry desejou em voz baixa, surpreendendo Hermione enquanto caminhavam. Ele absolutamente extasiado a olhava.
― Como você descobriu? – perguntou a morena, admirada.
― O modo como você reagiu quando questionei sobre ele... – Potter explicou enquanto a aconchegava de um modo que ainda pudessem andar, mesmo estando próximos.
― Foi muito melhor – admitiu a morena com os olhos brilhando.
― Acho que o tempo inteiro foi esse o recado do salão do tempo... – Potter observou sem interromper o passo.
― Como assim? – Hermione perguntou aflita.
― Bem, Mi, nós tivemos uma antecipação de que nosso filho viria. – falou o garoto tranqüilamente e com um belo sorriso.
― Mas, Harry, eu era um pouco mais velha na visão que tive do futuro...
― Mi, eu sei que nosso filho não chegará agora, mas se havia isso no nosso caminho futuro, certamente eu retornaria daquele combate com Voldemort porque nós esperamos até o momento certo para deixar as coisas acontecerem. Esse instante foi ontem, então começo a crer que essa era a mensagem do salão ou parte dela... A sala do tempo também revelou a mim um Snape com mais segredos do que jamais imaginei e saber que a nossa ida até lá foi idéia dele, segundo professor Dumbledore, ainda me intriga muito. Admito não conhecer o significado completo de tudo que vivemos naquele salão, mas há determinadas coisas que não poderemos esquecer daqui em diante.
― Acho que sempre vamos nos lembrar delas, meu amor, e, algum dia, nós descobriremos o sentido disso tudo – tranqüilizou a morena, fitando o namorado com uma expressão imensamente feliz.
― Até lá, estarmos juntos é o mais importante – encerrou o jovem homem de olhos verdes, sem esconder o grande amor que sentia pela sua garota.
Em casa, eles haviam se decidido por um passeio de barco para iniciar a manhã. Ali, caminhando lado a lado as margens do rio Avon, com as mãos entrelaçadas e os corações unidos em um compasso semelhante, Harry e Hermione observaram o mundo se abrir em cores mais vivas que os traços de antes. Fitaram-se em um encaixe perfeito de braços, abraços e só aquela conversa, cúmplice de olhares profundamente interligados, bastou para perceberem, na presença um do outro, a verdadeira fonte de uma Poção da Felicidade inesgotável, aquela que promana do amar e ser amado; a única capaz de provar a existência do amor pelo simples pensamento de um doce encostar de lábios. Ao longe, entre as flores multicoloridas de um vale verdejante, ainda puderam ver a embarcação que tomariam, partindo rumo a um ponto distante, entanto aquilo não os lembrou da fugacidade da vida. Eles sabiam que bastaria aguardar o momento certo e uma outra barca os levaria ao passeio desejado. Então foi natural quando, entre as mãos que se acariciavam ternamente, surgiu um outro beijo cheio de paixão. Da intensidade dele, uma certeza: não existiriam razões para que Harry e Hermione temessem o tempo quando já haviam atingido, pelo amor, a noção mais humana de eternidade.
FIM
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* Para quem ficou curioso em saber qual música Harry e Hermione dançaram, o nome dela é You Do Something To Me de Cole Porter - absolutamente linda. Ela segue separada da narração para os interessados:
You do something to me
(Você mexe comigo)
Something that simply mystifies me
(Algo que simplesmente me mistifica)
Tell me, why should it be,
(Diga-me, por que deveria ser assim)
You have the power to hypnotize me?
(Você tem o poder de me hipnotizar?)
Let me live 'neath your spell
(Deixe-me viver sob seu encanto)
Do do that voodoo that you do so well
(Faça aquele vodoo que você faz tão bem)
For you do something to me
(Porque você mexe comigo)
That nobody else could do
(De um jeito que ninguém mais faz)
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ALGUMAS IMAGENS DO ÚLTIMO CAPÍTULO ANTES DOS AGRADECIMENTOS FINAIS:
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AGRADECIMENTOS FINAIS
Meus queridos,
chegamos ao último capítulo numa grande festa! Sirvam-se do mais gostoso hidromel da Madame Rosmerta, todo estoque de cerveja amanteigada, feijõezinhos de todos os sabores e tantas outras guloseimas preparadas para recebê-los nesse último encontro que teremos na fic “A Poção da Felicidade”.
Algumas perguntas foram respondidas e outras tantas talvez não (porque ainda não era o momento delas... talvez elas estejam numa outra ficção). Os Weasley aparecem de forma mais indireta nesse capítulo justamente porque ele era um momento do Harry e da Hermione. Foi um capítulo deles e com um sabor especial para mim principalmente por isso. Muitas partes escritas não foram usadas (serão, mas não aqui...). Estejam certos de que é com grande emoção que me despeço de vocês nessa ficção. Nela formei verdadeiros parceiros (vocês!) e muitos amigos! A comunidade no orkut respondeu a enquete e com isso ditou um pouco o que precisava ser feito no fim, portanto, saibam que ouço muito vocês na hora de conservar ou descartar algo escrito... Aliás, gostaria de escutá-los agora que tudo se encerra! Muito mesmo e prometo responder todos os e-mails como sempre faço com aqueles que preferem o contato por lá.
Basta enviar mensagem a [email protected] (melhor copiar e colar, pois o e-mail é imenso rs). Se não receber minha resposta, tenha certeza de que o e-mail não chegou para mim, então envia, por favor, novamente que uma hora chega. Quero agradecer as todos vocês por terem escrito essa história comigo! A presença de cada um fez parte da escrita também e de maneira fundamental! Agradeço imensamente também a minha super, hiper, mega beta, ANDY OITO DEDOS, que chegou quando a ficção já estava em andamento e é uma pessoa tão extraordinariamente fantástica que me pergunto a razão de só tê-la encontrado agora! Ao menos, encontrei-a para minha felicidade e felicidade de todos que leram o texto livre de alguns deslizes que ainda me pergunto como cometi (rsrs...). É a vida! Agora, vou agradecer aos meus amados e essenciais comentadores:
Olá NATHALIA FALLATTI, puxa que maravilha saber que você gostou dessa história! Obrigada mesmo por ajudar comentando, querida! Espero que o cap. 33 tenha correspondido à ansiedade! Beijos para você!
Querida RHAISSA BLACK, é hoje sim (risos), ou melhor, foi hoje! Querida, sei que dá realmente uma tristeza com o fim de uma ficção que gostamos ou um livro (estou só imaginando o fim da saga Harry Potter daqui a alguns meses...). Mesmo assim, ainda fica a alegria por ver as coisas enfim resolvidas e tenho certeza de que outras histórias virão, querida! Quanto ao Jorge e a Hermione? Bem, acredito que sua conclusão esteja certa sim e, por sorte, Voldemort ainda não sabe quem tomou a poção (talvez nunca saiba...) ou qual fim ela teve. A princípio, não pretendo fazer epílogo nessa história, querida, já há outra se iniciando e corro o risco de antecipar o que não devo (risos) então nos veremos por lá! Obrigada mesmo pela sua paciência! Quero agradecer também a sua presença muito importante (fez-me muito bem sua companhia esses meses), assim como dizer que sou grata por todo o trabalho que teve divulgando essa ficção no Orkut, Rhaissa! Espero que tenha gostado das férias do Harry e Hermione! Um beijo grande, Arwen.
Amada ANDY 'OITO DEDOS', você por aqui? Que honra! Estou muito feliz por saber que gostou tanto do capítulo 30 e, devo dizer, serei eternamente grata a você pelo seu auxílio extraordinário e agradecida a Deus por ter posto uma amiga especial (um anjo) em minha vida como Você! Plagiando suas palavras: Beijos no seu coração, Arwen.
Querida EDILMA MORAIS, gostaria de expressar meu muito obrigado pela sua presença e carinho comigo! Saiba que seus comentários e incentivos tiveram e têm um valor especial para mim e foram essenciais nessa história! Realmente muito obrigada, querida! Um super beijo e espero que a novidade tenha sido boa!
OTAVIO BACH, você é super querido por mim! Tenha certeza! Esteve presente nos momentos especiais dessa ficção e posso dizer com segurança que foi um dos responsáveis por torná-la igualmente especial. Obrigada pela sua presença e ajuda incrível! Peço que não se entristeça! Ver-nos-emos em breve numa outra história! Até lá, um beijo e abraço apertado em você! Beijos especiais, Arwen.
Meu querido JERRY MAGUIRE XD, li o seu primeiro comentário e fiquei tocada! Sei que dá certa tristeza com o fim de uma história da qual gostamos, mas isso abre oportunidade também para que outras histórias cheguem e nos façam imensamente felizes! Sua presença aqui sempre me alegra muito e espero mesmo que o final não o tenha decepcionado (ao menos, nunca foi essa a minha intenção). Obrigada mesmo pelo seu carinho e sua ajuda com os comentários! Um super beijo, Arwen.
Minha querida CAROLINE MARQUES, devo agora agradecer mais uma vez a sua imensa ajuda com essa ficção e, acima de tudo, agradecer também a força que você me deu em tantas outras coisas (sabe do que falo!). Você ocupa um lugar importante para mim e quero mesmo expressar isso aqui! Falando sobre o seu comentário agora posso concordar com você! Realmente a Mione e o Jorge bem, o Draco sem dente, o retorno à Toca com a felicidade da Molly são coisas para comemorarmos e estou alegre por saber que gostou! Também acho que o Voldemort é um “Cérebro” disfarçado (risos) e é bom ver que aqui os planos deles não deram certo! Um beijo especial para você, fica com Deus e até a próxima ficção!
JOANE GRANGER POTTER, agradeço de coração o movimento pela atualização! Muito obrigada, querida, pelo pedido e por ler! Beijos, Arwen.
Querida ALINE BRAGA, pois é! Não demorei muito para o cap. 32 (devo dizer que sacrifiquei sim algumas coisas, mas vale a pena por saber que você gostou dele!). É verdade, a idéia de dividir a poção dá uma noção bem precisa do grande homem que o Harry é! Quanto à frase do Dumbledore? Alegra-me que tenha prestado atenção nela! É realmente o tipo de coisa que ele diria (adoro deixar as idéias dele fluírem para o papel, pois também o amo!). Bom saber que essas e outras imagens vão ficar retidas em sua mente! Isso não tem preço que pague e é o grande prêmio para mim! Concordo que o soco em Draco foi merecido (impetuoso, mas merecido) e apenas peço que não se entristeça pelo fim dessa ficção. O momento é de festa! Pegue sua taça de hidromel e vamos comemorar! Outras ficções virão e elas serão boas se eu tiver a sorte e a bênção de ter leitores como você! São os leitores que fazem a história (nunca tive tanta certeza disso depois dessa ficção!). A continuação já está a caminho e nos encontraremos em breve para o primeiro capítulo dela! Um grande beijo, muito obrigada por tudo (tudo mesmo) e fica com Deus, Arwen.
NATY89, valeu pelo comentário, querida! Estou feliz por você ter gostado da ficção até o 32 e espero, sinceramente, que o cap. 33 tenha correspondido a algumas das suas expectativas. Se consegui parte disso, já me sinto lisonjeada! Um grande beijo e obrigada por ler e comentar!
RAISSA BEATRIZ, deixa-me imensamente feliz saber que gostou dessa ficção, querida! A Mione corada é realmente uma gracinha (risos). É realmente muito bom ver a escolha que o Rony fez (a amizade é o que fica afinal!). Um super beijo e obrigada mesmo pelo comentário.
Querida DANIELA PAIVA, fiquei também emocionada com o encontro do Harry com a Mione e estou ainda mais alegre por ver que você também se sentiu bem com ele! Gostaria de te agradecer pelo carinho que você tem e teve com essa ficção e comigo (quando precisei!). Certamente nunca vou me esquecer de algo assim! Um beijo mais que especial para você, fica com Deus e até a próxima ficção!
Minha querida BRUH ANGELLORE, ai que lindo ver você quase se emocionando com o cap. 32! A solução de Harry foi realmente muito especial mesmo e você estava certa em suas grandes e precisas suposições! O beliscão da Gina foi de fato engraçado para nós (risos) e todos os outros que o viram (apenas um pouco doloroso para certo gêmeo). Quanto ao sarcasmo do Harry? Dei boas risadas escrevendo aquilo (rsrsrs). Muito bom saber que se divertiu também com essas cenas! Não quero que fique triste com o fim da “Poção” (apenas vamos brindar com hidromel pelo momento!). Sem você, a dica dos travessões e tantas outras que você deu nada disso seria possível (tenho certeza). Então, mais do que nunca, quero que guarde a certeza de ter sido uma presença de valor incalculável para “A Poção da Felicidade” e para mim! Obrigada por tudo! Beijos super especiais para você, Arwen.
CARLA LIGIA FERREIRA, pois é, querida, chegamos ao final da saga e eu agradeço por você ter feito parte dela, bem como pelo desejo de feliz Páscoa! Sinceramente, muito obrigada por expressar seu carinho com essa história! Deixou-me imensamente feliz! Beijos grandes, Arwen.
Mais uma vez, obrigada a TODOS que leram, comentaram, votaram e ajudaram essa ficção a se tornar uma realidade! Vocês são realmente fantásticos e possuem uma generosidade de alma tocante da qual jamais me esquecerei! Aliás, saio daqui com a convicção absoluta de que são os leitores que fazem a história (nunca tive tanta certeza disso depois dessa ficção!). Espero ter a sorte de encontrar leitores como vocês nas próximas ficções!
Um grande beijo em todos, fiquem com Deus e até a nossa próxima ficção,
Arwen Undómiel Potter.
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