Cicatrizes




Hermione terminava de colocar algumas roupas numa mochila. Imaginou que seria impossível aparatar diretamente no local indicado pelo homem, então teriam uma longa caminhada pela frente. Após colocar a última peça de roupa, fechou a mochila, e caminhou até a sala. Ao ouvir o som da campainha, dirigiu-se até a porta.

- Estou pronto. – Harry avisou.

- Também. Apenas preciso pegar alguns mantimentos. – ele entrou no apartamento, e a seguiu até a cozinha.

- Quanto acha que teremos que andar?

- Eu não posso afirmar agora, mas assim que chegarmos ao início da floresta, eu te respondo.

- Como? – perguntou ele.

- Eu criei um dispositivo que pode encontrar barreiras mágicas, e delimitar a sua distância. Quando chegarmos lá, usaremos esse dispositivo para saber a localização do esconderijo de Venon, que provavelmente está delimitado por magia.

- Você é mesmo um gênio! – Hermione corou de leve.

- Imaginei que seria útil. O Ministério americano financiou minhas pesquisas, e quando eu consegui realmente que o dispositivo funcionasse, ele tornou-se um equipamento básico dos aurores de lá. – ela sorriu, orgulhosa.

- Poderíamos usá-los aqui, por que nunca me falou sobre isso nas reuniões?

- Porque estava preocupada demais em me defender de suas acusações e provocações, Harry.

- Eu sinto muito, Mione.

- Esquece... – ela sorriu. Harry correspondeu ao sorriso, então tocou levemente a face dela, e a beijou.

- Será que... Será que vamos encontrar mesmo a minha filha?

- Claro que sim. Venon certamente vai querer usá-la contra você, então para isso precisa mantê-la viva. Nós vamos resgatá-la, eu te prometo.

- Eu realmente não sei o que faria se não estivesse aqui. Provavelmente já teria enlouquecido. – ela riu.

- Você tem a Gina. – Harry olhou feio para Hermione, e se afastou.

- Você sabe muito bem que eu não posso contar com ela.

- Não era isso que costumava pensar. – ela provocou.

- Acho que não é o momento para discutirmos sobre isso!

- E quando será, Harry? Quando será o momento de esclarecermos o passado? – Hermione perguntou, irritada.

- Não agora. - ele caminhou até a porta – Espero você lá embaixo! – a morena bufou de raiva ao vê-lo bater a porta.

Ela, então, terminou de guardar alguns alimentos, pegou sua mochila, e deixou o apartamento. Odiava saber que Harry conseguia deixá-la feliz e furiosa com a mesma facilidade. Entrou no elevador, ainda com raiva; por que eles não sentavam e resolviam de uma vez o passado que tanto os atormentou? Encontrou-o conversando com o porteiro.

- Ficarei fora alguns dias. – ela avisou ao porteiro – Guarde minhas correspondências, por favor.

- Sim, senhora. – Hermione agradeceu e se afastou, sem nem olhar para Harry. O moreno esperou alguns minutos antes de se despedir do porteiro e partir.

Ela o esperava há alguns metros da entrada do prédio. Harry a conhecia muito bem e sabia que aquele não era o momento de começar um diálogo; muito menos beijá-la. Então, ele a seguiu em silêncio e sem protestar. Queria resolver as divergências do passado, mas não naquele momento. Não só porque não conseguia parar de pensar em Sara, como também porque tinha o pressentimento de que fora muito injusto com Hermione; estava com medo de enfrentar o passado.

Estava perdido em seus próprios pensamentos que sequer percebeu quando Hermione parou, e por isso acabou esbarrando nela. Ela olhou feio para Harry, que murmurou um pedido de desculpas e sorriu sem graça. Estavam num beco sem saída.

- Vamos desaparatar agora. – ela disse.

- Para aonde vamos?

- Estação de trem. Lá pegaremos um trem para chegarmos à cidade mais próxima da floresta Tess.

- Certo. – Harry concordou, e no instante seguinte eles desaparataram.

Surgiram numa estação de trem de Londres, e compraram as passagens. Seguiram para o trem que saia em dez minutos. Hermione mantinha o silêncio, e ele já estava começando a ficar chateado. Após acomodarem-se na cabine, Harry questionou.

- Até quando pretende manter o voto de silêncio? – ela deu de ombros – Hermione, por favor... Eu prometo que logo vamos conversar sobre o passado, deixe apenas eu ter a Sara de volta.

- Isso é golpe baixo, Harry. Não use a Sara como desculpa. Poderíamos muito bem conversar agora.

- Mas eu não quero conversar agora. Por favor. – ela suspirou derrotada.

- Tudo bem, Harry. Eu não vou mais falar sobre isso.

Harry, que estava sentado em frente à Hermione, levantou-se para sentar ao lado dela. Passou um braço envolta das costas da mulher, e a trouxe para perto de si. Hermione pensou em se afastar, mas acabou cedendo ao abraço dele. Então, acariciou os cabelos dela, e um sorriso se esboçou nos lábios da morena.

Hermione acabou adormecendo nos braços dele, e acordou apenas quando o ouviu sussurrar seu nome. Já tinham chegado, e ele a acordava para descerem do trem. Pegaram suas mochilas, e desembarcaram. Já podiam ver a floresta Tess da estação. Ela sorriu para Harry, que correspondeu. Ambos caminharam sem demora para a entrada da floresta.

- Não vai demorar muito. – a morena comentou enquanto buscava na mochila o dispositivo. Lembrava um celular, tinha um visor e alguns botões, os quais Hermione começou a pressionar agilmente. Quando o aparelho começou a fazer um barulho, ela apontou para a floresta.

- E então? – ele quis saber. Hermione mirou o visor do dispositivo.

- Há uma enorme barreira mágica, com cerca de cinco quilômetros de extensão. Deve ser após a tal “montanha” que ele se referiu.

- Estamos há quantos quilômetros dela?

- Vinte. Não sei se é seguro aparatarmos diretamente lá.

- Concordo. O que acha de seguirmos dez quilômetros a pé? Tenho talismãs que nos alertarão quando estivermos perto de algum feitiço. – ele sugeriu.

- Tudo bem. – Hermione assentiu, e ambos desaparataram. Quando reapareceram estavam no meio da floresta – Há muito tempo eu não tinha uma missão desse tipo.

- Também não. – ele sorriu.

- Vou pegar minha bússola. – após verificar o aparelho e encontrar o norte, eles começaram a andar.

Andaram cerca de duas horas, e só quando o sol começou a se pôr, eles resolveram parar. Harry montou a barraca que trouxera, a qual era bem ampla por dentro. Havia uma cozinha, uma pequena sala, um banheiro e um quarto. Hermione ergueu a sobrancelha ao mirar a única cama.

- Alguém vai dormir no sofá, certo? – Harry riu.

- Eu sinceramente não me incomodo, mas não acha que já somos bem grandinhos?

- Grandinhos para que exatamente?

- Para dividirmos uma cama, a qual servirá apenas para dormimos. – ele disse naturalmente.

- Apenas dormir?

- Exato.

- Se realmente for apenas dormir, não tem problema. – ele se aproximou, e a abraçou.

- Eu jamais faria algo que não queira, Mione.

- Eu sei, mas talvez eu também queira... – ela corou de leve, fazendo-o sorrir.

- Então, não vejo qual o problema.

- Não acho certo, Harry. Por favor, vamos tentar apenas dormir. – Hermione pediu.

- OK. Eu prometo que vou tentar. – Harry sussurrou antes de beijá-la.

- Agora eu vou tomar um banho. Você pode ir preparando o jantar?

- Sem problemas. – ela sorriu, antes de seguir para o banheiro.

Quando Hermione terminou o banho, foi a vez de Harry entrar no banheiro. Ela terminou de preparar o macarrão que o moreno começara, e quando ele retornou, ambos jantaram. Era mais de sete horas quando se sentaram no sofá, após lavarem a louça.

- Acredito que amanhã alcançaremos o esconderijo de Venon. – ele disse.

- Sim, acordaremos bem cedo para continuarmos a caminhada.

- Está bem.

- Então, eu acho que vou dormir, agora. – Hermione levantou.

- Eu irei daqui a pouco. – ela assentiu, e saiu. Vestiu uma camisola, e estava começando a ajeitar a cama quando Harry apareceu.

- Pensei que demoraria mais.

- Mudei de idéia. – ele sorriu maroto para Hermione.

- Nem pensar, Harry! Já conversamos sobre isso e... – mas era tarde demais, e o moreno já a beijava intensamente.

Hermione até tentou afastá-lo, mas foi inútil. Logo, acabou cedendo aos carinhos dele, e sem nem perceber, já estava deitados na cama. Há muito tempo ambos não tinham aquele tipo de intimidade; Hermione tinha terminado com Paul há vários meses, e como o casamento de Harry estava em crise, ele evitava a esposa na cama.

Ele beijava a curva do pescoço dela, enquanto suas mãos puxavam a camisola da morena, a fim de acariciar-lhe as coxas. Hermione suspirava a cada beijo e toque, ao mesmo tempo em que o beijava também. Ele se afastou um pouco e sorriu, sua respiração já descompassada. Jamais pensou em fazer amor com Hermione, mas agora essa idéia não lhe saía da cabeça. Seus lábios capturaram os dela para mais um beijo cheio de desejo. Harry voltou a se afastar, e ia retirar a camisola dela, quando Hermione o afastou.

- Espera. – ele a olhou, confuso.

- Fiz alguma coisa errada?

- Não. Harry, é melhor pararmos.

- Por quê? Você não parecia querer que eu parasse. – Harry sorriu.

- Eu... Eu... – ela se encolheu na cama.

- Você está com vergonha de mim, Mione? – ela não respondeu, fazendo-o rir – Oh, querida, não precisa ter vergonha de mim...

- Você não entende, Harry...

- Talvez se você tentasse me explicar, eu entenderia. – ele acariciou delicadamente a face dela.

Hermione fechou os olhos, e começou a abaixar a camisola. A principio, Harry não entendera, mas à medida que ela se despia, ele viu o que a envergonhava. Ela tinha uma cicatriz entre os seios, e mais algumas no abdome. Por vários segundos, ele ficou imóvel, sem ação, apenas tentando imaginar como Hermione conseguira tantas cicatrizes; mas então, decidiu que pensaria naquilo depois, ou a morena poderia pensar que ele a rejeitaria.

Sempre fora difícil conviver com aquelas marcas. Custou a deixar Paul vê-las, temendo que o homem a rejeitasse, mas ele jamais fez isso, amando-a do mesmo jeito. Sentia-se nervosa, não tinha certeza se Harry também não se importaria com aquelas cicatrizes. Ela ia abrir os olhos, e sair dali, quando sentiu os lábios dele em sua pele. Manteve os olhos fechados por mais algum tempo, enquanto sentia as mãos de Harry acariciarem seu abdome, e seus lábios distribuírem beijos entre seus seios.

Ele parou de beijá-la, e finalmente ela abriu os olhos. Harry sorriu para ela, antes de tomar-lhe os lábios mais uma vez. Hermione, então, entregou-se ao moreno, e eles fizeram amor pela primeira vez. Quando terminaram, ela repousou a cabeça no tórax dele, e Harry começou a passar uma das mãos pelos cabelos dela.

- Não deveria ter vergonha de mim por causa disso, Mione. – ele murmurou.

- Não sabia se você se sentiria incomodado. – confessou baixinho.

- Claro que não. Sinto-me triste, pois elas indicam apenas que deve ter sofrido muito.

- Eu garanto que a dor física foi o de menos.

- Por quê?

- Porque depois dessas cicatrizes, eu só tive tristezas em minha vida. – Hermione deu um sorriso triste.

- O que houve?

- O que houve? – ela virou-se para encará-lo – Harry, eu perdi meus pais de uma maneira traumatizante, ainda posso escutar os gritos deles em meus pesadelos... E depois... Bom, eu achei que encontraria conforto com meu melhor amigo, mas ele simplesmente briga comigo e me expulsa da vida dele.

- Espera, espera... Como assim perdeu seus pais? Hermione, do que está falando? Os Granger morreram? Quando? – ela olhou horrorizada para Harry, e se afastou bruscamente. Vestiu a camisola, e ia deixar o quarto, quando o moreno, após vestir rapidamente um short, a impediu.

- Não seja cínico, Harry. Nem se faça de desentendido. Você sabe muito bem que meus pais morreram há anos! – ela disse, numa mistura de irritada com triste. Odiava relembrar aquele momento de sua vida.

- Não estou sendo cínico! Não sei do que está falando! Por Merlim, Hermione, eu não sabia que seus pais tinham falecido!

- Meus pais foram assassinados!

- C-como? – ele ainda estava chocado com as informações que ouvia.

- Por que está fazendo isso? – as lágrimas começaram a rolar pela face dela – Você quer me ver triste?

- Claro que não, Mione. Eu juro que não sabia, eu...

- Como não sabia? Assim que recobrei a consciência eu te escrevi contando o que havia acontecido, explicando que eu não poderia estar ao seu lado na guerra. Eu passei vários dias num hospital trouxa, por isso tantas cicatrizes... Mas os meus pais não resistiram, os comensais não tiveram piedade deles e...

- Comensais? – o mundo de Harry parecia que tinha virado de pernas para o ar. O que era tudo aquilo que Hermione estava falando? Como os Granger foram assassinados e ele não ficou sabendo?

- Eles me seguiram, Harry... – ela tremia. Era a primeira vez que falava sobre o que havia acontecido naquela época – Eu havia voltado para casa uns dias antes da batalha final, para me despedir dos meus pais, caso acontecesse algo comigo, lembra? Quando eu cheguei em casa, mal tive tempo de abraçar minha família, pois vários comensais começaram a destruir minha casa, torturar os meus pais...

- Mione, se acalme. – Harry a abraçou, tentando confortá-la. Imaginou o quanto ela deveria ter sofrido por ter passado por tudo aquilo sozinha. Deveria ter feito aquilo anos atrás, mas estava tão cego que não a escutou quando retornou à Ordem.

- Eu vi os meus pais serem mortos, e até hoje eu não consigo esquecer esses momentos. – ela correspondeu ao abraço com força – Pensei que ia morrer também, mas eu resisti.

- Mione, eu sinto tanto... Eu nunca recebi a sua carta.

- Você me respondeu, Harry. Disse que eu deveria ser forte, e retornar logo, pois ainda tínhamos a batalha contra Voldemort.

- Não! Eu não respondi a sua carta; eu nunca a recebi... Alguém deve ter recebido a carta e respondido... – ele falou.

- Por que alguém faria isso?

- Eu não sei, mas eu vou descobrir. Eu sinto muito pelos seus pais, sinto muito que tenha passado por tudo isso sozinha... Sinto muito ter te maltratado quando retornou, mas eu não sabia... Eu pensei que você tinha se acovardado por causa da batalha, e por isso não havia retornado.

- Eu tinha prometido que estaria sempre ao seu lado, não foi? Eu teria dado minha vida por você, Harry. Não estive na batalha porque não pude... Estava internada num hospital trouxa e... – ela começou a chorar novamente.

- Shh... Fique calma, depois conversaremos mais sobre isso. – ele continuou abraçando-a carinhosamente – Eu não vou deixar que nada te aconteça novamente, eu prometo. Vou cuidar muito bem de você.

Harry beijou a testa dela, e a carregou. Levou-se de volta para cama, e após deitar-se também, a trouxe para perto de si. Aos poucos ela parou de chorar, e não demorou a adormecer. As palavras de Hermione ainda martelavam na mente dele; como tanta coisa poderia ter acontecido e ele não ficar sabendo? Fechou os olhos, e se amaldiçoou mentalmente. Estava cego naquela época; seu mundo girava ao redor de Gina. Abriu os olhos e deixou escapar o nome da esposa...

- Gina! – de repente, tudo começou a se encaixar.

N/A: ¬¬ Ahhhhh... Polxaa... Eu queria tanto que esse capítulo tivesse ficado legal, mas infelizmente acabou não saindo como eu imaginava =( Sorry... Tudo gira em torno dele, e eu o imaginei desde o dia que comecei a fic, mas no fim das contas não saiu bem como eu queria, e não ficou emocionante como eu desejava *chora*. Espero, contudo, que vocês tenham gostado ao menos um pouquinho =/ E também queria me desculpar pela demora, mas só agora pude escrever, aproveitando que minha facul ta em greve... Bom... Eu volto em breve!! Um beijo enorme!! Mil desculpas!! Obrigada a todos que leram, comentaram e votaram!! Bjuss!! Pink_Potter : )

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