Tronquilhos e poções
Lino, Jorge, Katie e Alícia já haviam acordado quando Fred chegou ao Salão Principal na manhã seguinte.
- Então, Fred, encontrou o endereço daquela menina? – perguntou Lino colocando uma torrada no prato do amigo.
Fred nem ao menos prestou atenção no que o amigo dissera. Estava observando a mesa da Corvinal, onde Mariana estava sentada com Penelope e com a menina de cabelos negros que ele vira no Três Vassouras.
- Puxa vida, ela não quer nem se sentar mais com a gente?
Jorge e Lino se entreolharam.
- Não é nada disso, cara – disse Jorge parecendo tranqüilo. – Ela costuma ir comer com a Penelope às vezes.
Fred não respondeu. Pelo jeito Lino contara a Jorge o que ele dissera na noite anterior. Mas ele não queria falar disso com Jorge. Na verdade não queria falar de nada com ninguém.
Passou o resto da refeição em silêncio, abrindo a boca apenas para comer e dar bom-dia para Angelina quando esta sentou à sua frente.
Teve uma manhã monótona: um tempo de Feitiços e dois de Herbologia.
No intervalo entre as aulas, Jorge e Lino foram catar tronquilhos à orla da floresta para soltar na aula do Snape. Fred não quis acompanhá-los. Sentou-se sozinho na escadaria de mármore comendo Feijõezinhos de Todos os Sabores quando ouviu uma voz conhecida ao seu lado, que o fez engasgar com um feijãozinho de chocolate.
- Por que está sozinho, Fred?
Era Mariana, que acabara de se sentar ao seu lado.
- Eu, er... Jorge e Lino foram lá fora e eu não quis ir.
- Eu te procurei a manhã inteira, onde esteve?
Fred engoliu seco. Ela o procurara? Então não estava nervosa com ele. Isso reacendia uma chama de esperança em seu peito.
- Feitiços e Herbologia.
- Ah, é mesmo, eu te vi entrando na estufa, mas não pude ir atrás – lembrou-se Mariana apontando para a barra das vestes, que estava queimada. – Explosivins!
- Então, por que queria falar comigo? – perguntou Fred oferecendo-lhe feijõezinhos.
Mariana não respondeu por um momento. Levou um feijãozinho à boca enquanto tirava uma mecha de cabelo do rosto e fez uma careta.
- Eca... Catarro! – disse rindo. – Bem, eu queria te perguntar se está chateado comigo. Você sabe, pelo que eu disse ontem. Você nem falou comigo no café da manhã!
- Não, claro que não estou chateado... – mentiu, tentando ser educado. - Isso acontece! E me desculpe se não falei com você.
Os dois olharam em direções diferentes. Fred (talvez pela primeira vez na vida) se sentia envergonhado. Não se imaginava falando daquela conversa com Mariana. Será que acontecera como entre ele e Angelina? Será que Mariana gostava dele, mas preferia o tal do Patrick?
- Você ainda gosta dele? – “burro, não devia ter perguntado!”.
- Patrick? Não, não gosto. Eu estava sendo idiota, ele não gosta de mim!
- Isso significa que eu ainda tenho chances?
- Hum... Talvez!
A sineta tocou. Fred foi para as masmorras e Mariana para as estufas.
- Ela não resistiu, hein, Fred? – perguntou Jorge, que estava à porta da sala de poções com Lino, Angelina e Alícia.
- Quem não resistiu?
- Ah, não se faça de burro! – disse Lino se aproximando de Fred e dando uns tapinhas nas suas costas. – Pensa que nós não vimos você e a Mari conversando no saguão?
- Nós só estávamos conversando! – protestou Fred.
Angelina notou que Fred estava se irritando com os dois e mudou de assunto.
- Lino, o que é isso na sua mão?
- O quê? Isso? – perguntou Lino levantando a mão que não estava nas costas de Fred. – Tronquilhos.
- Eu sei que são tronquilhos, babaca. Quero saber o que você vai fazer com eles aqui embaixo.
- Você vai ver, Angel. Vai ver – respondeu rindo.
A garota demonstrou certa desconfiança e entrou na sala que Snape havia acabado de abrir. O quadro negro já continha instruções para o preparo da poção do dia quando eles se sentaram, mas os meninos não tinham a mínima vontade de fazê-la.
- Faça uns três tronquilhos flutuarem até a poção do Montague – murmurou Jorge para Lino, com a mão direita empunhando a varinha embaixo da mesa e a esquerda segurando uma porção de tronquilhos que se debatiam em seu bolso. - Eu mando o resto para a mesa do Snape.
Fred olhou para a mesa onde Montague estava sentado. O seu narigão estava perto demais do caldeirão, o que causou um acidente...
A intenção de Lino era apenas jogar os tronquilhos dentro da poção de Montague, mas os bichinhos estavam desesperados por estarem flutuando precariamente através da sala e quando passaram por Montague agarraram-se no rosto do menino. Este, começou a gritar, com os olhos fechados de medo, apalpando a mesa em busca da própria varinha.
- Professor! Um besouro grudou na minha cara!
- Não é um besouro, Montague, são tronquilhos – disse Snape dirigindo-se até o aluno e tentando tirar os bichinhos dele, já que estes tinham fincado suas pequenas garras nas bochechas dele.
Fred não pôde deixar de rir, a cena era cômica. E como o resto da sala estava distraído com aquilo, ninguém viu os oito tronquilhos que Jorge fez levitar até a escrivaninha do professor.
Logo Snape tirou os bichos do rosto de Montague, que estava com leves arranhões espalhados pela face, o que já foi suficiente para que o professor o deixasse ir à ala hospitalar.
Ele voltou à sua escrivaninha, onde a maioria dos tronquilhos rasgavam pergaminhos e jogavam seus pedaços no chão, embora dois deles pudessem ser vistos quebrando penas no estojo de Snape que, para a surpresa dos meninos, não demonstrou a menor alteração. Apenas petrificou os tronquilhos e jogou-os na lixeira, enquanto restaurava seus pertences.
Isso tudo havia ocupado toda a aula, de modo que quando a sineta tocou Lino e os gêmeos não haviam sequer começado a preparar suas poções.
- Weasley, Weasley e Jordan! – chamou Snape quando eles alcançaram a porta da sala.
- Que é? – perguntou Fred virando-se.
- Acabam de perder sessenta pontos para a Grifinória e deverão comparecer à minha sala amanhã às oito e meia para cumprir suas detenções.
- Por quê? – perguntou indignada Angelina, que havia parado junto a eles.
- Por indisciplina e porte de material desnecessário e prejudicial à minha aula.
- Que material? – agora quem perguntava era Alícia.
Snape mostrou à menina seu velho e conhecido sorriso de desdém.
- Tronquilhos, Srta. Spinnet. Que não devem ser retirados da floresta.
- Mas não foram eles, você não tem a menor prova! – Angelina alterara a voz, o que foi um grave erro.
- Menos vinte pontos para a Grifinória pela impertinência das duas. E é melhor saírem da minha sala antes que ganhem detenções também.
Eles saíram da sala, os meninos nem um pouco preocupados com a detenção, mas Angelina e Alícia muito nervosas.
- Viu o que vocês conseguem por se meter com o Snape? – repreendeu Alícia.
- Vai começar a defender ele, é? – perguntou Jorge.
- Não, só acho que vocês podiam ter evitado isso se comportando melhor.
- Ah, cale a boca, você também perdeu pontos!
- Por sua causa!
Eles encontraram com Katie em um corredor do segundo andar. Ela era um ano mais nova e acabara de sair da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Não se deu o trabalho de perguntar o que estava acontecendo – desde que haviam terminado o namoro, Jorge e Alícia procuravam o tempo todo por motivos para se xingar.
Alcançaram o terceiro andar quando Angelina, parecendo realmente muito ofendida, finalmente disse alguma coisa.
- Como ele pôde? Não tinha o direito de tirar pontos de vocês, não fizeram nada! Isto é... Fizeram, mas ele não tinha provas! E você nem ao menos estava envolvido e levou detenção também, Fred!
- E quem se importa? – disse Fred tranqüilo, sorrindo para Mariana quando essa passava ao seu lado no corredor.
- Não esquenta a cabeça, Angel – disse Lino quando eles chegaram à porta da sala de Transfiguração. – Você sabe que mesmo se nos comportássemos como santos o Snape ia dar um jeito de nos tirar pontos!
Angelina sorriu para ele e entrou na sala.
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