Quase Conversas



- Ah, oi Harry... – Ginny finalmente falou, depois de longos segundos lutando contra a vontade de ficar calada. Um calafrio percorreu seu corpo quando percebeu que o garoto estava se aproximando rapidamente.

- Você está bem? Não te vi no jantar... – ele parecia realmente preocupado. A garota se mostrou incrédula “Ele está se importando com o que eu faço ou deixo de fazer?” a pergunta surgiu descaradamente nos pensamentos dela.

- Oh sim, já estava indo jantar – ela respondeu, cinicamente – Eu só estava... – parou subitamente, ela não tinha o porquê de ficar dando explicações para Harry, afinal, ele não era nada dela. – Não tem importância. – concluiu. Estava se recompondo para ir embora o mais rápido possível, mas foi impedida.

- Ginny, eu... – Harry segurou-a pelo braço. Seus corpos se aproximaram. Ginny lutou contra sua própria vontade de querer ouvir o que ele tinha a dizer, mas acabou ficando quieta, esperando que continuasse. – Eu estou... muito arrependido de... – ele iria continuar, se ela não tivesse se desvencilhado de seu “abraço”.

- Ora Harry, agora você vêm, depois de tudo que eu passei, me pedir desculpas? Querer-me de volta? – ela vociferava para cima dele. Ele percebeu a mudança do olhar dela. Antes, Ginny sempre o olhava perdidamente apaixonada. Mas agora, era diferente. Ela revelou um ódio contido desde o dia em que romperam. Ginny, por um lado, não sabia o porquê de soltar tantas verdades ao mesmo tempo para o garoto – Você enlouqueceu... fique com a Chang. – finalizou. Uma lágrima brotou nos olhos verdes da ruiva. Eles brilhavam.

- Co-como? Quem te falou essa besteira? Nunca tive nada com a Cho, ela é só uma amiga minha e... – ele tentou arranjar alguma desculpa plausível, mas nada veio em sua cabeça (de vento). A ruiva explodiu por dentro. Se controlou ao máximo para escolher cada palavra, não iria perder a postura diante dele.

- E? Me poupe Harry, a garota bobinha que você conheceu já não está mais aqui. Ela agora é uma mulher digna de respeito – ela fez questão de enfatizar as palavras finais. Arqueou as sobrancelhas, um desprezo que subitamente tomara conta de Ginny. – Você me dá náuseas! – terminou, quase cuspindo as palavras. Ela deu as costas e saiu rapidamente, deixando Harry sem ação. A lágrima rolou pelo rosto sardento da garota, sem que ela percebesse. Ao mesmo tempo que sentia um ódio mortal pelo Garoto que Sobreviveu, ela se sentiu triste. Uma dor tomou conta de seu coração. Mas ela não iria parar, apressou o passo e sumiu pelo corredor.

Ginny havia deixado um Harry perplexo com a reação surpreendente da ruiva. Sem mais argumentos, ele deu meia volta e saiu andando sem pressa. Um sorriso tomou conta de seu rosto. A ação ainda estaria por vir.

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O dia seguinte amanheceu nublado. Nuvens cobriam o azul do céu e os raios de Sol do outono em Hogwarts. Ginny acordou com uma leve dor de cabeça. Espreguiçou-se e massageou levemente as pálpebras. Levantou-se rapidamente, prestes a colocar o uniforme quando se lembrou do acontecimento da noite passada. A ruiva mal podia acreditar que tinha finalmente falado o que esteve durante semanas na sua cabeça. Conseguiu colocar pra fora todo o rancor que guardara de Harry, o quanto ele a havia feito sofrer. Ela sorriu satisfeita. “Um assunto a menos para ser resolvido” pensou, alegre. Mas a alegria de Ginny durou pouco quando se lembrou de um loiro que parecia estar disposto a tirar o sono da ruiva. O sangue da garota subiu, sensações estranhas e diferentes percorreram seu corpo ao lembrar do beijo dele. Não era a primeira vez que acordava pensando nisso. Isso a irritou.

- Maldito, ele ainda não me disse o que tinha para falar... – lembrou Ginny, subitamente. “Aquela doninha não me chamaria se não fosse algo interessante...”. Ela não deixaria por aquilo mesmo, justamente por ser persistente e, não menos importante, era uma Weasley. Seu coração bateu mais forte. Em sua cabeça, os pensamentos se voltavam em como fazer Draco Malfoy falar.

Ela colocou rapidamente o uniforme e desceu as escadas do dormitório feminino, rumando para o Salão Comunal. A ruiva não chegou a perceber que Harry Potter estava observando todo o seu percurso até sair pelo buraco do retrato da Mulher Gorda.

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Draco comia lentamente o mingau de aveia no café da manhã, ao lado de Pansy, que falava pelos cotovelos, deixando o loiro irritado e emburrado. Ele havia melhorado e estava retomando as atividades escolares. Não que isso o agradasse, pois ficar ouvindo Pansy suspirando perto de seu ouvido, chamando-o de ‘Draquinho’ o deixavam completamente entediado. Além do colégio ser apenas um pretexto para que o loiro não tivesse obrigações fora de Hogwarts. Ele não gostava de pensar muito no assunto, mas achava que aceitaria servir alguém mais poderoso, a fim de se tornar poderoso também. Isso não o incomodava tanto no momento, quanto Pansy.
Ele não havia desviado o olhar de seu café da manhã, e quando o fez, pousou seus olhos de cor cinza inconscientemente na mesa da Grifinória, mais precisamente em Ginny. “Como eu gostaria que ela sumisse” pensou o loiro, soltando um muxoxo de tédio. “Por que diabos eu estava disposto a devolver aquele diário brega para a pobretona? Eu enlouqueci, ou foram aqueles remédios”. Por mais que tentasse, Draco não conseguia tirar essa idéia ridícula que teve, mas que foi consertada a tempo. “Ela não perde por esperar! De novo!” e riu internamente, ainda ouvindo a voz esguinançada de Pansy ecoando na sua cabeça.
Draco levantou lentamente, não queria mais contusões e estava tomando todas as precauções sugeridas por Madame Pompfrey, e aceitou logo para receber alta da ala hospitalar.

No mesmo instante em que levantou, Ginny, do outro lado do salão, levantou-se também, havia engolido a comida rapidamente, pois muitos olhares estavam voltados a ela, novamente, mas dessa vez ela não sabia o porque, pelo menos não estava estampado em sua cara que havia beijado Draco Malfoy e queria distancia de Harry Potter. Ou sim. Mas a ruiva não deu importância aos próprios pensamentos e seguiu seu rumo, carregando seu material para as aulas da manhã. Quando estava na porta do Salão Principal, parou subitamente e olhou ao seu redor, procurando um par de olhos acinzentados, e os avistou em seu habitual lugar na mesa da casa em que mais odiava. Observou que o garoto estava se retirando e seguia em direção à porta, onde a ruiva estava plantada. Ele sempre era visto com seus ‘fiéis’ amigos, Crabbe e Goyle, mas eles não estavam por perto. Seria a chance perfeita para colocá-lo contra a parede e fazê-lo falar. Draco parecia distraído quando passou pela porta do salão, e rapidamente foi empurrado para longe da porta. O loiro perdeu o equilíbrio e bateu com as costas na parede dura e fria, que ficava de frente às pilastras que sustentavam o castelo. O garoto soltou um palavrão e pensou “Quem foi o IDIOTA que fez isso!?” e olhou ao redor, furioso, e por um momento com o rosto ruborizado, pois reprimira um grito de dor. Por detrás da pilastra que estava na frente de Draco, Ginny apareceu, um pouco receosa por ter feito o garoto cair.

- Err.. Nunca pensei que fosse falar algo do tipo para alguém como você, mas... Desculpe, Malfoy, não foi minha intenção te jogar na parede deste jeito – ela disse, quase murmurando de vergonha. Ele a fitou, desejando a morte da ruiva, o que era habitual.

- Você enlouqueceu mesmo, não é Weasley? Primeiro me derruba de uma vassoura há metros de distancia do solo, e agora... – mas foi interrompido.

- Ok, Malfoy, eu já te pedi desculpas e não me interessa se aceitará ou não. – Ginny disse, retomando a postura e deixando o ocorrido de lado. – Estou aqui porque quero saber o que queria me falar ontem – falou, rapidamente. – E já vou avisando que só sairei daqui com uma resposta. – finalizou.

- Ficou curiosa, Weasley? Pois saiba que da próxima vez que te chamar, será para limpar o dormitório, acho que assim você ganhará trocados – debochou o loiro, usando seu tom habitualmente sarcástico. Riu internamente da piada de mal gosto que havia feito. Porém, não iria rir do estrago causado. Olhou bem para o rosto de Ginny e percebeu sua expressão de ódio, porém, ela parecia mais corajosa, e não parecia se abalar mais tão facilmente. Mas, o pensamento de Draco sobre isso logo mudou quando viu uma lágrima se formar nos olhos verdes muito vivos de Ginny. Ele se levantou e limpou suas vestes, como se nada tivesse acontecido.

- Eu desisto, ok? Eu desisto, você me dá náuseas, Malfoy, não sabe conversar como uma pessoa civilizada, só sabe rebaixar quem está a sua volta e humilhar quem cruzar seu caminho. Continue assim, seu imbecil, pois mesmo sendo um comensal ridículo, só conseguirá aquilo que sempre fez com as pessoas: humilhação. – retrucou quase que educadamente Ginny, que apesar de ter sido firme ao lançar suas palavras, estava cada vez mais enjoada ao ouvir sempre as mesmas ladainhas de Malfoy.
A garota deu as costas e saiu andando, pisando fundo e profundamente magoada com as palavras dirigidas a ela. Porém, a tristeza durou pouco, e logo se transformou em um sentimento diferente, talvez ódio, talvez raiva, mas não era exatamente isso que a ruiva sentia. Ela subia as escadas em um ritmo quase acelerado, indo em direção à sala de aula, para não chegar atrasada, porém, chegando no 3º andar, sentiu uma sensação estranha e olhou para os lados. Não encontrou nada de diferente. Olhou para trás e nada também. Fora apenas coisa de sua cabeça. “Que loucura” pensou a ruiva, que estava virando para frente, para tomar seu rumo, quando deu de cara com Malfoy. Ela deixou escapar um gritinho assustado que foi abafado pelo corredor mal iluminado.

- Pode parar de me assustar e me seguir, por favor? – disse, sem olhar nos olhos do loiro, que estava um pouco próximo a ela. Continuou a sentir uma sensação estranha.

- Não – respondeu, sem mais nem menos, com um tom de voz neutro. Ginny levantou uma sobracelha, desconfiada. O garoto exibia uma afeição diferente, a ruiva pensou.

- Diga logo, o que quer? – esclareceu, querendo encerrar a ‘conversa’ logo, pois ela já ouvia alguns passos se aproximando, os alunos se dirigindo às suas respectivas salas. Ela não queria mais fofocas a respeito dela. – Vamos, Malfoy, diga! – mas ele não se movia. Ela resolveu finalizar. – Você me ofendeu, como sempre, está aqui com cara de idiota, que é o que você é, me inferniza, tira o meu sono e ainda fica me seguindo? Você é retardado, Malfoy. Eu cansei de ouvir seu papo que é sempre o mesmo. – ele ia começar a falar, mas Ginny continuou com o discurso – Me deixe em paz, eu estava curiosa sim, você queria me falar algo, mas agora não quero mais saber. – e esperou o loiro falar.

- O que vai fazer? Fugir de mim, pequena Weasley? – debochou, sem sorrisos sarcásticos ou semelhantes. Ele a fitava com desprezo. A ruiva quase conseguiu manter sua aparência de indiferença, mas estava complicado. “Por Merlin, o que eu fiz para merecer isso?” ela se perguntava, ficando irritada.

- Se for preciso sim, agora com licença – ela falou, com muito esforço – vou para a minha aula.- e tentou sair o mais rápido possível, pessoas estavam se aproximando e algumas já haviam visto a cena de confronto Weasley versus Malfoy, porém, o Weasley raramente era Ginny. Ela andava rapidamente em passadas largas e ruborizava ainda mais à medida que passava pelas pessoas que a olhavam estranhamente, ou talvez, até aterrorizadas. Ela ouvia também, passos caminhando juntamente a ela.

Ginny andava depressa e os passos também. Passou batido pela sala que deveria entrar e assistir a aula de História da Magia e continuou com suas passadas largas, a garota estava atordoada e absorta em seus pensamentos, porém, ao mesmo tempo sua cabeça parecia explodir de pensamentos. Pensamentos que nem ela mesma conseguia colocar em frases. Era tudo muito confuso. De repente parou, e os passos que a acompanhavam pararam juntamente com ela. Ela percebeu que quem estava seguindo, estava muito próximo, talvez a poucos centímetros da garota. Prendeu a respiração e fechou os olhos.


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N/A: Depois de praticamente 1 ano e meio, estou aqui de volta, retomando minha fic, postando ela hoje, dia 24/12, véspera de Natal!
Peço (novamente) mil desculpas por toda essa demora, mas eu nunca abandonei totalmente essa história, pois eu a amo :)
Espero que gostem, tem muito mais por vir!
Beijos,
Mary Malfoy*

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