O beco abandonado/ Parte I - A

O beco abandonado/ Parte I - A



O beco abandonado
Parte I – A coruja negra

Já passavam das onze horas da noite quando um misterioso bruxo aparatou no beco diagonal, nas mãos, cobertas por luvas pretas de couro, a varinha em punho iluminando escassamente o extenso caminho escuro. Toda a rua estava deserta, não havia uma única pessoa por ali, apenas alguns pequenos lampiões estavam acesos nas portas de algumas lojas e uma branda ventania inundava a região. O bruxo parou abruptamente observando uma solitária coruja negra que piava agourenta. Ele a encarou por alguns instantes até ela levantar vôo. Suas vestes negras aparentemente bem conservadas e límpidas revoavam junto ao murmúrio eólico. Escondido através de um capuz que encobria seu rosto deixando visível apenas seus desgrenhados cabelos negros compridos. Caminhava lentamente estudando o local, analisando cada loja que olhava, os sapatos lustrados e brilhantes, a enorme capa arrastando-se logo atrás e farfalhando sobre o chão junto ao som dos passos que ecoavam por toda a extensa rua. Caminhou alguns metros até que algo chamou sua atenção. Todo o local a frente estava devastado, as lojas abertas totalmente destruídas, as portas e janelas escancaradas abrindo e fechando junto ao vento num ruído macabro. O chão úmido cheio de papéis e objetos, pequenas coisas aqui e ali espalhadas. Toda rua acima se encontrava na mesma situação e o bruxo seguiu seu caminho atento até que uma risada aguda e cruel congelou sua espinha e ele empunhou a varinha a frente procurando o que ou quem havia feito esse barulho. Foi então que viu uma pequena e fosca luz faiscar de dentro de uma pequena loja, correu para dentro desta e caminhando entre os escombros de madeira percebendo que não estava sozinho. A sua frente estava outra pessoa, agachado no chão, de costas para ele, estava um pequeno homenzinho de corpo de barril, vestindo uma longa capa de couro marrom e de cabelos crespos num Tom acinzentado. Estava agachado no chão examinando alguma coisa que pelo que o outro bruxo pode ver por cima de seus ombros, lembrava um pequeno caldeirão de estanho, borbulhando sobre fagulhas de fogo, a única fonte de luz do local exceto as varinhs dos dois. O homenzinho soltou novamente a risada aguda e o bruxo em pé estremeceu ao ouvi-lo, então ele se calou.
- Tinha certeza de que viria Erick. – e então ele se virou revelando seu rosto enrugado e branco pérola, contrastando com seus enormes olhos âmbar.
- Já te disse que não vou fazer isso. – Erick deu um passo a frente retirando o capuz.
- Eu sei, você é uma escória, uma vergonha pra toda raça de sangue puro... Argh! ainda não acredito que é o descendente dos Tourniquet. Seu irmão jamais...
- Eu não seu ele! – Erick aumentou o Tom de voz irritado – Não preciso ser comparado com o Brian.
- Vocês dois são os únicos vivos da família, se soubesse o grande homem que fora seu pai, Ah sim! ele sim era um bruxo decente, não fugia sem avisar como seu irmão nem se negava a servir o lorde Grindewald como você.
- Eu não sirvo a lorde nenhum – Erick disse entredentes enfurecido e o pequeno homem mostrou os dentes enraivecido – você sempre soube que eu tenho minhas próprias regras, não preciso ser um escravo de ninguém...
- Você está dando pra trás... E tudo por causa daquela fedelha de sangue-ruim...
- Você não ouse falar mal dela! – Erick enfiou a varinha no peito dele. Estava vermelho de ódio e agora o sangue lhe subia a cabeça...
O homenzinho riu debochadamente.
- O que foi? Vai me matar vai Erick?
- Cale a boca Louis! – disse Erick calmamente, um sorriso triunfante no rosto.
Imediatamente o homenzinho se calou, a respiração ofegante, os enormes olhos âmbar abertos como faróis, não podia estar mais irritado.
- Como ousa Erick? Como ousa me chamar de...
- Louis? – interrompeu Erick – não é esse o nome da sua mãe trouxa?
- Expelli...
- Impedimenta! – Erick foi mais rápido que o outro bruxo. Fagulhas vermelhas irromperam de sua varinha derrubando Louis no chão.
- Accio varinha! – berrou Erick, mas com um rodopio das vestes surradas, Louis aparatou deixando apenas o caldeirão que continuava a borbulhar.
Novamente o silêncio voltou a reinar, o vento uivava lá fora balançando ferozmente as janelas e portas que batiam nas paredes provocando incessantes estrondos. Erick se abaixou afim de examinar a pequena poção que estava sendo realizada, então um ruído de passos ecoou logo atrás dele. Erick virou-se lentamente e deparou-se com Louis bem atrás dele em pé, a varinha apontada para Erick.
- Ela vai pagar por você... – disse Louis com um sorriso malicioso e os olhos âmbar bilhantes.
- Não! – gritou Erick e tentou agarrar a barra da capa dele, mas antes que o segurasse ele desapareceu.
Erick sentiu uma dor no coração. Abaixou-se próximo ao caldeirão no chão e pôs o dedo no líquido grotesco de cor esverdeada cheirando em seguida.
- Poção polissuco... mas o que ele está planejando? – Questionou-se Erick.
Então fechou os olhos e sentiu-se fraco.
- Gina... – sussurrou ele, uma lágrima irrompeu de seus olhos. – Me desculpa...
Erick se levantou, confuso e alterado. Então gritou muito alto, cortando o silêncio da noite, e chutou o caldeirão longe, ao que o líquido poroso espalhou-se por todo o chão e as pequenas fagulhas de fogo tornaram-se azuis lentamente se apagando. Não sabia o que fazer, estava nervoso, chutou todos os móveis velhos e empoeirados no caminho até a rua e novamente se encontrava no beco diagonal. Encobriu o rosto com o capuz e continuou o caminho por entre os escombros com a varinha acesa a sua frente.
Parou à porta de um antigo bar, agora abandonado e vazio, e encostou na parede respirando ofegante.
- Erick seu idiota...
Ele olhou para o céu encoberto por uma densa neblina e então viu alguma coisa. Novamente a coruja negra o olhava, pousada sobre o telhado escasso de uma loja entupida de entulhos que caiam pela janela e pela porta. Ela soltou um pio e voou, Erick seguiu até a próxima esquina e entrou num beco onde numa placa de madeira cheia de teias de aranha lia-se: “Travessa do tranco”. Caminhou sem pressa, o caminho era mais escuro ainda, foi então que ouviu uma voz bem distante:
- Avada Kedavra – o ruído ecoava junto ao vento.
Erick correu na direção do som, desceu ligeiro a despedaçada escada de pedra, a varinha empunhada iluminando pouco mais que meio metro a sua frente. Antes que ele terminasse de descer os degraus seus olhos foram afetados por uma luz de cegar, até que aos poucos sua visão focava o homem que estava diante dele. Ele também usava uma comprida capa negra, os cabelos tão pretos quanto os de Erick e nas mãos cobertas por luvas de lã pretas, a fonte de toda a luz, sua varinha que mirava Erick, assim como o olhar penetrante que provinha de seus olhos negros.
Erick arregalou os olhos e boquiaberto mirou o jovem que estava na sua frente.
- Brian? – Sussurrou Erick

(Final da Parte I)

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