Descobertas surpreendentes

Descobertas surpreendentes



Para onde Slughorn tinha ido, McGonagall não sabia informar. Disse apenas que quando o foi procurar de manhã em sua sala achou tudo vazio e deduziu que, por não ser a primeira vez, o professor tinha fugido de vez.
Cada vez mais essas fugas repentinas intrigavam Harry. Porém não havia muito tempo pra pensar. O garoto, assim como todos os outros alunos do sétimo ano, estava dedicando grande parte do seu tempo para estudar para o N.I.E.M.s, que ia ser em menos de seis meses. Se ele realmente queria ser auror teria de estudar e muito.
Rony também estava estudando bastante e como ele e Harry tinham decidido seguir a mesma carreira, aproveitavam os horários vagos para estudar juntos. Nenhum esforço, porém, parecia ser tão grande quanto o de Hermione, que queria ser auror e ainda, se desse, professora de Runas Antigas. Na cabeça dos garotos isso era impossível, mas a garota dizia que iria recorrer de novo ao vira-tempo.
Quando os três garotos se deram conta, já era Natal. A grande dúvida estava no ar: aonde iriam passar o Natal? Por fim Harry concluiu que seria mais “proveitoso” passar as férias na própria escola. Primeiro porque assim ele poderia estudar mais, mesmo que isso contrariasse todas as suas convicções. Segundo porque seria um tempo de reunir os membros da A.D. com mais calma e mais freqüência e terceiro porque ele sentia que estava prestes a abandonar a escola, mesmo que não soubesse o porque, o como e o quando.
Com toda a correria do dia – a – dia e todas as medidas de segurança, o exame de aparatação tinha sido adiado para o primeiro fim de semana no Natal e, mesmo que fosse contra as mais novas regras da escola, seria em Hogsmeade. No primeiro sábado de férias então, Harry e Rony acordaram cedo e foram tomar café antes mesmo de Hermione, que só apareceu quando os dois já estavam prestes a sair. A garota antes de se dirigir ao salão principal foi falar com o amigo e o namorado, que a aguardavam no Saguão de Entrada:
- Boa Sorte – desejou a garota beijando Rony e abraçando Harry.
- Obrigado – disse Harry. Rony, entretanto ficou calado. Parecia nervoso. Hermione notando disse:
- Ora, Rony! Você vai passar. Com certeza. – e dizendo isso deu-lhe outro beijo.
Durante o trajeto nenhum dos dois garotos conversou. Harry notou que Hogsmeade continuava extremamente suja, abandonada...como se fosse uma cidade fantasma. O examinador então deu a ordem para que todos permanecessem nas suas respectivas carruagens, puxadas por trestálios, e só descessem quando fossem chamados. Assim, de um em um, os alunos iam descendo e subindo com as mais estranhas e variadas expressões. Por fim foi a vez de Harry. O garoto tentava se concentrar nos três “d’s”: direção, determinação e distancia. O exame consistia em ir de uma linha demarcada à outra e voltar. Um pouco nervoso, Harry quase errava e ia se parar mais longe do que o devido, porém, concentrou – se e conseguiu passar. Rony, Harry observou, estava roxo de nervoso, como se estivesse com uma dor de barriga terrível, mas conseguiu prestar o exame de forma que tirasse uma nota satisfatória para passar.
Quando por fim todos os alunos tinham feito o exame, as carruagens foram fazendo a volta para retornar a Hogwarts. Distraído, a mente de Harry não acreditou no que seus olhos viram. O rosto pálido e magro com olhos cinzas e cabelos muito claros. Malfoy. Draco Malfoy parado em pé em uma janela dentro de uma das casas abandonadas. Estava mais magro do que nunca e tinha os cabelos sujos e desarrumados ao contrário do que costumavam ser antes. Não possuía mais a expressão de desdém, e sim uma mistura de ansiedade e remorso. Pelo visto, concluiu Harry, ele tinha assistido ao exame de todos os ex – colegas. Quando finalmente Harry se recuperou do choque já estava longe demais para mostrar a Rony.
- Estou dizendo que vi Malfoy. Vi mesmo! – confirmava o garoto pela milésima vez naquela tarde.
- Harry, nós não estamos duvidando de você. Só estamos dizendo que é um pouco improvável, não acha? – defendia – se Hermione.
- Não, eu não acho. – teimou o garoto – é muito simples, não? O Malfoy está servindo de espião de Voldemort!
- Harry...
- É. Só pode ser essa a razão. – disse Harry finalizando a conversa.
No domingo Harry se reuniu com os membros da A.D. logo após o almoço. Depois de uma hora e meia de aula intensiva resolveu dar um aviso a todos:
- Acho que vocês devem saber – começou ele – que nosso amiguinho Draco Malfoy está de volta.
Um murmúrio percorreu a sala e o olhar de Hermione encontrou-se com o do amigo como se o censurasse e fuzilasse só com os olhos.
- Ontem pela manhã, enquanto alguns de nós prestavam os exames de aparatação em Hogsmeade, eu o vi. – continuou o garoto. – o que quero dizer é que está muito perto aquilo para o qual temos nos preparado tanto.
- Como assim? – perguntaram algumas pessoas.
- Assim. Quero que vocês se esforcem e estudem Defesa Contra as Artes das Trevas a toda hora, porque não garanto estar aqui por muito tempo. – disse ele – e se eu não estiver – recomeçou após uma pequena pausa – quero que vocês continuem suas vidas, e só venham me procurar ao meu chamado. Não quero que abandonem Hogwarts por nada. E isso vale pra vocês dois – concluiu apontando para Rony e Hermione, que ficaram indignados
- Como assim “isso vale pra vocês dois”? – perguntou a garota mais tarde na Sala Comunal.
- Não quero que vocês abandonem Hogwarts. Só isso. E...
- Não quero saber Harry. Isso não se faz. – falou a garota revoltada e já chorando – você não está considerando a nossa amizade. Nós estivemos com você em todos os seus momentos difíceis. Ou pelo menos em grande parte deles. Ajudamos você a recuperar a Pedra Filosofal, o Rony resgatou a Gina da Câmara Secreta com você. Eu voltei no tempo no nosso terceiro ano pra te ajudar a salvar o Sirius e o Bicuço. E quem foi que te ensinou o feitiço convocatório? Eu, Harry. Juntos fomos ao Ministério da Magia e lutamos contra um monte de Comensais da Morte. Ano passado, não fomos com você, mas lutamos aqui em sua lealdade. Não vamos te deixar ir sozinho agora. Somos uma equipe.
- Eu... – começou o garoto, mas não conseguiu terminar. Estava emocionado com a reação da amiga.
- É cara. Iremos com você. Se você não gostar, ótimo. Estaremos lá mesmo assim. – apoiou Rony
- Mas e os outros? – perguntou Harry.
- Os outros entenderão. É melhor que eles fiquem como equipe de apoio. – respondeu Hermione.
- Mas quando você pretende partir? – perguntou Rony.
- Ainda não sei direito. Só quando for necessário. – disse o amigo.
Harry não conseguiu dormir durante toda à noite. Ficou revirando-se na cama imaginando para onde iria se e quando fugisse de Hogwarts; o que Malfoy estaria fazendo naquele lugar...acordou decidido a descobrir tudo o que até então havia lhe intrigado. Logo cedo, mesmo antes do sol nascer, já estava de pé. Arrumou-se, pegou sua capa da Invisibilidade, o Mapa do Maroto e desceu. Embaixo da capa consultava o Mapa para se certificar de que ninguém estava por perto. Filch estava no quinto andar acompanhado por Madame Norra. Todos os professores estavam em suas salas, imóveis, o que fez Harry deduzir que estavam dormindo. Exceto McGonagall, que parecia estar parada próxima à parede.
Quando finalmente alcançou os jardins o sol já estava nascendo, o garoto se dirigiu à orla da Floresta e procurou um trestálio, porém não encontrou. Então, pegou a menor das gigantes abóboras que Hagrid cultivava e se concentrou. Com um pouco de dificuldade transformou a mesma em um belo pedaço de bife sangrento, o que atrairia os trestálios. Não demorou muito, dois deles apareceram. Harry subiu em um e cochichou – lhe ao ouvido: Hogsmeade.
Como um tiro, o cavalo preto percorreu os céus e em menos de meia hora o garoto já encontrava-se aterrissando no seu destino. Desceu do animal e ficou parado olhando para todos os lugares que conseguiu o mais rápido possível. Por fim avistou a casa em que vira Malfoy. Fitou – a por um segundo e depois foi se aproximando. Sob a capa da Invisibilidade não havia risco de ser visto.
Vamos Malfoy, sei que está por aqui...
O coração de Harry não batera tão forte assim desde a vez em que correra atrás de Snape querendo vingança. Chegou à porta da casa e murmurou baixinho: alôromora. A porta se abriu com um pequeno estalido. O garoto entrou procurando fazer pouco barulho, porém isso era quase impossível. As tábuas sobre o chão rangiam como se tivessem mais de 200 anos e reclamassem disso.
De repente uma voz já conhecida perguntou em tom alarmante:
- Quem está aí?
Nenhuma resposta foi obtida. Então, Draco Malfoy apareceu na sala onde Harry estava. Não viu o garoto e tornou a perguntar sacando a varinha e deixando-a em punho:
- Quem está aí?
Novamente ninguém respondeu. Uma expressão de terror maior se espalhou pelo rosto de Draco. Naquela hora Harry lamentava por nunca ter aprendido Legilimêcia. Queria tanto saber o que se passava na cabeça de Malfoy...a resposta porém não demorou:
- O Lorde das Trevas te mandou? Quem quer que seja, saia! Eu não vou voltar para ele! – gritava o filho de Lucio Malfoy alucinado – Não vou!!!
Então era isso? Draco Malfoy, o responsável pela morte de Dumbledore, um dos maiores bruxos do mundo, estava agora fugindo daquele ao qual ele havia prestado lealdade? Ele estava sendo tão covarde ao ponto de deixar que Dumbledore morresse e ainda de fugir de Voldemort? Harry não conseguia pensar em tudo aquilo sem pensar em estrangular Draco. O ódio ia crescendo em seu peito enquanto o garoto louro ia se afastando todo desconfiado. Era agora. Harry iria matar Malfoy e fugir de Hogwarts atrás de Voldemort...
- Harry...Harry... – ouviu-se a voz de Hermione ao longe...parecia que ela estava o procurando.
- Potter? – perguntou Malfoy parando no meio do seu caminho de volta – Potter? O que você quer Potter? – perguntou gritando para as paredes como se achasse que Harry pudesse estar encostado em alguma delas, quando na verdade o garoto estava bem em frente a ele com a varinha já em punho.
- Rony, você ouviu? – ouviu-se Hermione dizer longe - Era a voz do...Malfoy?
- Harry? Malfoy? – gritavam Rony e Hermione a intervalos
Por fim a porta atrás de Harry e à frente de Malfoy se abriu e Rony e Hermione entraram. Harry teve a impressão de ter visto no rosto de Malfoy uma expressão de desprezo. Mas um segundo depois ele viu que devia ter se enganado, porque o garoto se ajoelhou aos pés de Rony e Hermione e começou a chorar.
- Por favor, me desculpem. – choramingava o garoto louro sentado no chão – eu estou tão arrependido.
- Não acreditem nele! – Harry havia tirado a Capa da Invisibilidade e bradava de fúria ao encarar Malfoy – é um truque.
- Não, não é. Por favor Potter! Acredite em mim! – implorava o menino ainda chorando.
- Harry...talvez ele esteja... – começou Hermione
- Não. Ele é um traidor. Traiu Dumbledore. Ele matou Dumbledore Hermione! – gritava Harry – matou...
- Harry, não foi bem ele que matou... – começou Rony
- Mas teria matado. Não vêem que isso é um truque? Ele está fingindo. Quando é que os seus amiguinhos Comensais da Morte vão aparecer pra capturar agente? – perguntou Harry alterando o tom de voz como se esperasse que mais alguém ali pudesse ouvir.
- Não, por favor, não grite. Não quero que eles apareçam – suplicou Malfoy com a voz trêmula de medo.
- Ah, agora você tem medo deles? – perguntou Harry ironicamente.
- É, eu fugi do esconderijo do Lorde das Trevas. Não agüentei. É horrível...eles fazem coisas horríveis consigo mesmo... – falou Malfoy baixinho como que para si mesmo.
- Coisas? – perguntou Hermione – que coisas?
- Ah...você não iria querer ouvir Granger... – começou o garoto – são coisas...se vingam uns dos outros...duelam...
- Tudo o que você sempre quis, não Draco? – ironizou Harry.
- Harry! – censurou Hermione interessada na história de Malfoy – continue...
- Daí, quando eu fugi daqui vi que já não tinha mais jeito. Estava indo ao encontro do Lorde das Trevas pela primeira vez na vida. Eu senti medo. Como nunca senti. Mas já estava feito. Eu ainda não conseguia acreditar que Snape tinha matado Dumbledore. Quer dizer, o tempo todo ele tentou me convencer a não mata-lo. Sim, ele sabia o tempo todo que eu tinha de matar Dumbledore. Minha mãe. Minha mãe tinha feito uma espécie de pacto. Se eu não conseguisse cumprir a missão que o Lorde das Trevas havia me designado ele me mataria. Então, Snape, se achasse que eu não conseguiria, assumiria a missão. Nesse caso, se ele não cumprisse, ele seria morto. Ele me disse que Dumbledore por alguma razão tinha tentado persuadir-lo ao contrário. Mas ele não podia me deixar sozinho. Ele prometeu a minha mãe que faria isso. – contou Draco confusamente.
- Mas, se Snape sabia que se você não cumprisse a missão e ele também não vocês morreriam...por que então ele tentou te convencer a não matar Dumbledore?
- Pra ele matar, é claro! – disse Harry furioso.
- Talvez... mas tem alguma coisa aí que não bate – falou Hermione pensativa.
- Tem sim. Sanape não queria matar Dumbledore. Mas ele simplesmente não podia deixar de mata-lo, senão morreria. Era uma questão de vida ou morte, entendem?
- Entendo sim. Ele era um covarde, isso sim. Eu morreria por Dumbledore. – respondeu Harry energeticamente.
- Você é por inteiro um homem de Dumbledore, Potter – comentou Malfoy com um certo tom de inveja na voz. – Snape, porém, já havia sido Comensal. Por mais leal que ele fosse a Dumbledore, foi a ... a ... Voldemort que ele jurou fidelidade.
- Ah, perdeu o medo de falar o nome dele, foi? – perguntou Harry provocante.
- Foi sim. Uma vez uma colega me disse que o medo do nome só faz aumentar o medo pela própria coisa. – disse Malfoy olhando para Hermione com doçura e, por incrível que pudesse parecer, com respeito.
Não estava dando pra acreditar. Malfoy estava considerando Hermione? Harry não conseguia absorver tantas informações ao mesmo tempo.
- Certo, continue – falou Hermione percebendo as reações de Harry e Rony.
- Ele simplesmente não podia ser desleal a minha mãe e ao seu mestre. Ele não queria, podem acreditar, não queria ter matado Dumbledore. Granger, você...acredita em mim? – continuou Malfoy
- Eu... não sei o que dizer, Draco. – respondeu a garota.
- Eu fugi porque não agüentei mais. Fugi tem quase uma semana. Eu sei que o Lorde das Trevas vai me procurar, nem que seja pra fazer vingança. Mas pensei que talvez...em Hogwarts, eu voltasse a me sentir seguro...
- Foi você quem fez de Hogwarts e da sua vida insegurança. – disse Harry finalizando a conversa.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.