O Princípio do Fim
-Ai!- Gritou Harry, ao acordar com algo que lhe caiu em cima e o atingiu em cheio na cabeça. Praguejando entredentes, levantou-se e viu que Edwiges, a sua coruja branca, esvoaçava alegremente em seu redor, esperando uma recompensa pelo pacote que acabara de deixar cair em cima do dono.
Levaram alguns segundos primeiro que o estremunhado Harry colocasse os óculos e reparasse no pacote que estava, agora, no seu colo e se decidisse a afagar as penas da coruja, que voltara para ele, após uma semana desaparecida.
- 'Brigado, Hedwiges. Por onde você andou, sua tonta? Bom, vê se da próxima vez você acerta a pontaria!
Olhou para o pacote, sorrindo, com a certeza de que ceria um presente de aniversário. Sim, Harry fazia dezassete anos e estava certo: Edwiges trouxera um presente da sua melhor amiga, Hermione Granger. Rasgou o papel que envolvia o presente e sorriu ao dar de caras com um livro de capa prateada e letras pretas: "Fim do percurso escolar: e agora?"
- Típico! - Murmurou. Hermione sempre lhe oferecia livros. Depois, porém, o sorriso se desvaneceu no seu rosto. Sim, iria começar muito em breve o seu último ano na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, mas... e depois?
Folheando o livro, confirmou o que já imaginava: era uma espécie de manual para feiticeiros em busca do primeiro emprego. Harry suspirou. "Será que eu sobrevivo até lá?", pensou. Hermione parecia não ter qualquer dúvida, apesar de Harry estar constantemente em perigo de vida...
Porém, a segurança e confiança que a amiga demonstrava depositar nele fez com que ele sacudisse para longe os maus pensamentos. Hermione era inteligente e ele a admirava muito. Acima de tudo, a amava como a uma verdadeira irmã. Ela e Rony Weasley, o seu outro melhor amigo, eram os irmãos que Harry nunca tivera.
Nesse momento, uma pequena corujinha entrou pela janela do sótão onde Harry vivia, na casa dos seus antipáticos tios Trouxas, os Durley.
-Pitch! - Exclamou, agarrando o bichinho, enquanto Edwiges se afastava, fazendo uns ruídos estranhos para demonstrar o seu despeito.
Atado à patinha de Pitch estava um novo embrulho, da parte de Rony, o dono da corujinha. Imediatamente, Harry retirou com cuidado o embrulho da patinha da pequena coruja e lhe ofereceu um biscoito, que ela prontamente aceitou e mostrou o seu agradecimento presenteando-o com umas bicadinhas nas orelhas, antes de voltar a sair pela mesma janela por onde havia entrado.
Edwiges aumentou o volume dos seus ruídos de despeito e Harry lhe atirou dois biscoitos de coruja, rindo e exclamando: "Ciumenta!"
Ainda sorrindo, abriu o presente e os seus olhos verdes brilharam por detrás das lentes ao ver mais um livro, mas bem diferente do anterior: a sua capa colorida mudava de cor constantemente e as letras do título, igualmente de cor mutável, diziam: "Os Heróis do Quadribol".
- Uau! - Exclamou, abrindo o livro no meio e dando de caras com fotos do seu jogo favorito e de jogadores que já eram considerados mitos naquele esporte.
Folheando um pouco mais, achou um rosto conhecido e um sorriso malicioso bailou nos seus olhos: o jogador mais jovem que ele conhecia, Vítor Krum, da Bulgária, acenava alegremente na foto, abrindo um sorriso de orelha-a-orelha. - Algo de espantar, para quem sempre parecia estar de mau-humor e sempre aparecia nas fotos com cara de vampiro prestes a atacar.
- Será que o Rony reparou nessa página? - Interrogou-se Harry. - Se ele tiver o livro, também, aposto que rasgou a página! - Rindo, começou lembrar o passado.
No quarto ano em Hogwarts, haviam conhecido Vítor Krum e Rony, que era fã número um dele, acabara por ficar com uma péssima impressão do rapaz, que levara Hermione ao baile de Inverno que houve na escola e até hoje trocava correspondência com ela, mostrando-se verdadeiramente apaixonado... Porqê isso irritava tanto Rony, o próprio Weasley parecia não perceber, mas Harry já havia entendido, desde as discussões do amigo com Hermione no quarto ano, que toda a tensão que sempre houvera entre os dois se traduzia em duas palavras: paixão recolhida.
Harry deixou escapar uma pequena gargalhada, disposto a, nesse ano, fazer de tudo para que, finalmente, os seus dois melhores amigos percebessem e assumissem o que sentiam um pelo outro. Seria ótimo para eles, que seriam felizes, e também seria muito bom para ele próprio, que se livraria de uma vez por todas dos eternos boatos de que haveria algo entre Hermione e ele, Harry.
Parecia que só ele notava o que se passava e, para ele, era tão óbvio, que sorria perante o fato dos dois não se aperceberem dos próprios sentimentos. Principalmente Hermione: tão inteligente com a sabedoria dos livros e, no entanto, não entendia o que se passava com ela mesma.
Sorrindo, Harry se levantou, se dirigiu para a porta, que abriu, desceu as escadas e, quando estava entrando no banheiro, escutou a tosse do tio Vernon atrás dele.
- Pelo menos, "bom dia"! - Grunhiu o anafado tio.
- Pelo menos, "feliz aniversário" - Devolveu Harry, com ar de desafio.
O tio Vernon semi-cerrou os olhos, murmurando algo imperceptível e desceu as escadas para a cozinha, resmungando, sem olhar para o sobrinho: "Bom dia, feliz aniversário e vê se desce logo para o café!"
Harry abafou uma gargalhada. Desde que, quatro anos antes, Harry fizera (involuntariamente) com que a tia Guida (irmã do tio Vernon) inflasse e levantasse vôo como um balão, os Dursley viviam assustados, temendo que, a qualquer momento, Harry se descontrolasse e acontecesse algo estranho de novo.
Harry estava feliz como há muito tempo não estava. Ia voltar para Hogwarts, rever os seus amigos e... ia fazer 17 anos, o que significava que seria maior de idade, poderia ver-se livre dos Dursley de uma vez por todas e fazer o que lhe desse na telha.
Enfiou-se debaixo do chuveiro, e sentiu a água morna escorrer-lhe pelo corpo. Era uma sensação maravilhosa e Harry deu por si pensando em como coisas simples podem ser tão agradáveis. Estava realmente feliz.
Depois do banho, vestiu as calças e a camiseta que eram do enorme primo Duda (enorme para os lados... e um enorme chato, também). Harry sempre herdara as roupas de Duda. Jamais tivera roupas próprias (com exceção das roupas de Hogwarts e das camisolas de lã que a Srª Weasley fazia questão de lhe oferecer pelo Natal)...
Mas agora, tudo isso ia terminar. Agora, ele poderia ir viver para o mundo mágico, onde era um feiticeiro rico e jamais teria que usar roupas em segunda mão.
Sentindo uma enorme alegria, Harry desceu as escadas para o café da manhã.
Era o princípio do fim...
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