Entreouvindo
Quando a porta se fechou ele sentiu um extremo vazio. Devia ser tarde, mas para sua surpresa, quando olhou no relógio, ele marcava a mesma hora de quando estava chegando ao encontro de Moira.
Virou o corredor e pela segunda vez na noite, uma mão o agarrou.
- Onde ele está?
- Moira?! – Será que Anna era uma falsa? Então se lembrou do pedido, pediu para ela para de bater na porta e não ir embora.
- Me leve até Gui! Ele é meu! – suas mãos estavam vermelhas seu cabelo todo bagunçado.
- Ele não pode sair com você, sua louca!
- Ele saiu com outra! Quem é a piranha?
- Não há outra! E sim outro.
- O QUEEEEEEEEEEÊ? – berrou.
- É isso mesmo, depois de você ele ficou complexado!
- Então vai te que ser você!
- Eu não, mas conheço algo que poderá gostar de você!
- Quem?
- A murta-que-geme – e saiu correndo em direção a torre da Grifinória, deixando Moira atordoada.
Nos dois dias que se seguiram, Carlinhos só pensava em Anna, não comia, não prestava atenção nas aulas, não estava nem aí para o que poderia acontecer. Só queria ver aqueles olhos prateados novamente.
Ele procurara na noite seguinte e nada. Na outra noite e nada. Onde estaria aquele ser. Ele desejava muito encontrá-la. Fez todo o caminho daquela noite em vão, não achou a sala. “Não fique triste, eu estarei tecendo seu destino”, por que está frase insistia em surgir na sua cabeça?
David estava sempre tentando tirá-lo do transe, mas todas as tentativas foram inúteis. Carlinhos só se movia porque David o levava aos lugares.
Na terceira noite, ele refez todo o caminho, mas teve um problema. Encontrou Moira na escada e ela não desistindo, o perseguiu e quando viu, uma mão o puxava para dentro da sala.
- Anna – banhada ao luar, era esplendorosa.
Ela o abraçou.
- Consegui, até que enfim.
- Ficou triste? Estive tecendo seu destino.
- Eu senti.
- Nós temos uma ligação muito forte. Vamos retomar as lições?
Ficaram a noite inteira tecendo o destino de Katie Bell.
- Quando se tece um destino não se pode mais voltar atrás. Quando você tece algo prejudicial, a tapeçaria pode se completar, ela se costura e termina para sempre.
- Não há um jeito de voltar atrás?
- Você teria que sacrificar uma vida para fazer isso. Não se pode arrepender do que fez.
- Mas e seu eu tecer uma tapeçaria, como vou saber que ela é do destino.
- O tear precisa ser tocado pelas minhas mãos, vou lhe ensinar como arranjar um tear.
Ela lhe disse para ir ao corredor do 7º andar, em frente do Barnábas, o amalucado. Fizesse o pedido de um tear, mas que fosse minúsculo, para ele poder carregá-lo para ela.
Ele, sentado em seu colo, parecia tão frágil perto daquele instrumento que poderia acabar com sua vida em um deslize.
- Ela vai ter olhos amendoados, cabelos castanhos e vai ser alta.
- Que mais?
- Vai jogar quadribol, na posição de artilheira, aqui, no time da escola, na grifinória.
- Só?
- Vai acabar se casando com meu irmão.
- Qual?
- Ronald – depois de ajudá-lo a tecer ela percebeu.
- Você não tem um irmão que se chama Ronald.
- Ops!
- Você sabe o que fez? – ela perguntou séria.
- Não – disse encolhendo os ombros.
- Acabou de criar mais um Weasley, você mudou o futuro da sua mãe.
- Mas eu pensei que era só de bruxos na minoridade.
- Você o driblou. E isto é muito sério. Helga não ficará contente.
- Quem é Helga?
- Quando se atingi a maioridade bruxa, passa das minhas mãos para as de Helga, e ela não é tão boazinha quanto eu.
- E se eu começar a tecer?
- Você será escolhido para algum grupo.
Depois de terem adiantado bem a vida de Katie Bell, prenderam o começo do que seria uma longa tapeçaria.
- Está na hora de ir.
- Você fala de hora? Mas quando eu saí da sala aquele dia o tempo não tinha passado.
- Quando você está aqui dentro, o tempo não passa...
- Mas e a Moira? – cortou.
- Nesta sala. Você não deixa nem molhar o bico!
- Desculpe. Mas se aqui não passa, como lá fora passa?
- Você não entenderia, precisa ter noções de dimensões e tudo o que engloba, esqueça isso – isso encerrou por vez a discussão.
- Tchau Anna.
Ela lhe deu um beijo no rosto e murmurou: “Não conte a ninguém sobre nada”. Ele, num ato desesperado, ninguém nunca o tratou tão bem, a abraçou forte. “Eu te amo, Anna”. Ela suspirou e sorriu e eles ficaram abraçados por muito tempo.
*__*
- Carlinhos voltou finalmente ao normal, já estava me preocupando.
- Ele tem mais que se ferrar Gui, esse pirralho é um tonto.
- Não fala assim – disse fazendo beicinho.
- Falo sim – Lucy o beijou.
- Mas ele é meu irmão!
- E daí? Você é mais bonito, mais simpático, mais sociável, mais em tudo e ele não é nada.
- E daí que ele é minha família.
-Azar o seu.
Carlinhos ouvia tudo, estava sentado atrás da poltrona onde os dois estavam. Nenhum dos dois o havia visto.
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