Feridas que não se fecham

Feridas que não se fecham



Os sons da noite teriam diminuído ou as batidas do coração teriam aumentado? Harry não tinha certeza do que estava acontecendo, mas nunca se dera conta de como a circulação do sangue se acelerava diante do medo. Tinha a impressão de que toda a floresta percebia que aquele era o momento da provação. Sua provação. A boca ficou seca de repente. Procurou manter firmes pernas, braços, o tronco. Precisava dar sinais de segurança. Precisava. Via que Voldemort não mexia um músculo, apenas o olhava com as pupilas de serpente, exibindo um ar soberbo e desdenhoso. Ele o encarava como se estivesse pronto a esmagar um inseto.

- Noto que você cresceu de um ano para cá, rapaz. Já é quase um homem. Sei que em breve deixará Hogwarts. Talvez seja um bom momento de reavaliar sua vida e se juntar àqueles que controlam a magia mais poderosa que há no mundo. Você pode ser um Comensal e ser grande ao meu lado. É uma oferta generosa a que faço.

- Eu não sou idiota, Voldemort!

Dissera tudo num fôlego só, ofendido pelo convite. A irritação o ajudara a recuperar o controle sobre a situação. Harry observou a movimentação de Comensais, partindo céleres rumo à área onde ele, McKinley, Hagrid e Gina estavam. E viu o balrog quieto, mas ameaçador, à espera de um comando do Lorde das Trevas. Este, por sua vez, retirara o sorriso do rosto. Semicerrara os olhos.

- Não se atreva a falar comigo desse jeito! Dumbledore, você não dá educação a este garoto.

Com o canto dos olhos, Harry visualizou o diretor. Estava do seu lado direito, com a varinha apontada para Voldemort. A coragem aumentou em seu peito. “Eu posso vencer!”, pensou. Hagrid, McKinley e Gina se colocaram atrás, todos tensos e com os olhos se esforçando para enxergar melhor os inimigos.

- Deixe o garoto fora disto, Tom. Era comigo que você estava duelando.

- E você acha que vou perder meu tempo? Dumbledore, você está muito velho. Sua magia não é mais forte como no passado. Já é hora de se aposentar. Sua era acabou.

- Sim, estou muito velho, Tom. Mas não vou permitir que faça mal a este jovem ou a qualquer um que se recuse a seguir as trevas.

Voldemort voltou a sorrir.

- As trevas são mais poderosas do que você imagina, Dumbledore. Elas já tentaram alguns de seus alunos. Eu sinto que ronda mais um – riu baixinho. - Você sabe disso.

E ele se dirigiu outra vez para Harry.

- Chega de conversa – e apontou a varinha rápido como uma serpente dando o bote. – Avada Kedavra!

À espera do ataque desde que seu inimigo surgira ante seus olhos, Harry desaparatou no mesmo segundo em que Voldemort estendera o braço. Teria escapado do feitiço apenas com o movimento. Mas Dumbledore havia feito com que a terra se erguesse formando um muro no lugar onde Harry estava momentos antes da maldição ser lançada. O diretor se orgulhou da capacidade de seu aluno fugir da pior magia usada contra um bruxo. “Será um excelente auror”, imaginou enquanto disparava outro feitiço, mirando o senhor das trevas. Voldemort usou a varinha como se brandisse um sabre e um feixe de luzes claras atravessou o jato denso que saíra da varinha de Dumbledore, fazendo com que a magia do diretor se desviasse em duas partes.

- Se depender da sua magia, Dumbledore, é melhor dizer adeus a seu pupilo! – e desaparatou.

A voz de Voldemort ecoou junto ao balrog. “Vá agora a Hogwarts e destrua o castelo!”. A criatura abriu as asas e o diretor berrou Imobilus, impedindo o monstro de se mover, mas a custo enorme. O velho professor sentia que o feitiço sugava muita de suas forças. E o balrog se debatia, demonstrando uma resistência formidável.

Harry se materializou às costas de um grupo de Comensais que procurava estuporar seus professores. O jovem bruxo não hesitou. “Estupefaça máxima!”, gritou e fez com que os atacantes despencassem sobre a relva.

- Belo golpe... – era Voldemort que acabara de aparatar ali e disparar uma azaração contra Harry.

O rapaz se defendera com Protego, mas seus cabelos se arrepiaram com a potência da magia do Lorde das Trevas. Embora rebatido pelo escudo, o impacto o desequilibrou. Voldemort veio caminhando em sua direção, absolutamente seguro de sua força.

- Melhor não resistir. Ou capriche mais, Harry Potter – e fez surgir uma naja gigantesca que rapidamente o enrodilhou. Quando estava para mordê-lo com suas presas venenosas, no entanto, a cobra soltou o rapaz.

Voldemort se surpreendeu. E se espantou ainda mais ao ouvir o jovem falando com a naja, incitando-a a atacá-lo. “É ele que te mantém presa. Liberte-se”, gritou. No instante em que ela se insurgiu contra seu mestre, o senhor das trevas a jogou no ar com um gesto curto e a explodiu no ar, espalhando as vísceras pelo campo.

- Você é muito nojento – disse o rapaz, assumindo a posição de ataque, com a varinha em riste.

- Seus pais não eram ofidioglotas. Como aprendeu a falar da língua das cobras?

- Eu tenho muitos truques – respondeu e sumiu em seguida.

O chefe dos Comensais soltou um impropério. “Não vou ficar brincando de gato e rato”, despejou. E saiu atrás de Harry. O apanhador da Grifinória aparatou ao lado de Gina. A garota já estava com a varinha apontada para ele.

- Relaxe, sou eu.

- Aqui, a gente não pode se descuidar – disse e no ato moveu o corpo para o lado e acionou a azaração de rebater bicho-papão, atingindo outro Comensal.

- Você está cada vez melhor, Gina! – afirmou baixinho e com admiração. E a segurou pela mão. – Mas gostaria que você fugisse.

- E deixar você? Só se eu fosse louca – respondeu sem pensar direito nas palavras.

O rapaz apertou a mão dela, enternecido com o comentário. A ruiva se deu conta do que dissera e ficou embaraçada. Foi o encontro de um segundo, em que os dois sentiram uma energia boa e suave no meio do caos. Mas o som de alguém aparatando interrompeu o momento. Voldemort ressurgira.

- Vou te dar uma lição de graça, Harry. Eu sou “inencontrável”. Uso um feitiço que impede meus perseguidores de me acharem. Não posso ser rastreado por magia. Mas você pode! Por isso, sou capaz de te encontrar todas as vezes que você desaparatar em um campo desprotegido como este. Só que estou cansado das suas fugas.

O Lorde das Trevas se abaixou para pegar a varinha de um Comensal estuporado. Olhou sinistramente para Harry e Gina. “A brincadeira se encerra agora”, disse, sorrindo maldosamente. Dumbledore aparatou junto aos dois a tempo de ver Voldemort fincar a varinha no solo com uma energia que fez vibrar a terra por uma larga extensão.

- Aparatum finite!!!

Gritara tão alto que o comando foi ouvido por todos. Ninguém precisou explicar aos jovens o que o inimigo fizera. Compreenderam que Voldemort utilizara um feitiço para impedir os bruxos de se desmaterializarem. A luta teria de ser cara a cara.





*****




McGonagall caminhava apressadamente rumo à torre da aula de Astronomia. Atrás dela, vinha uma leva de alunos encabeçada por Hermione Granger e Draco Malfoy. O sonserino se sentia deslocado, mas a diretora da Grifinória fora clara. Ele não se afastaria da monitora-chefe. Para tanto, usara um feitiço que os bruxos costumavam utilizar com bebês bruxos que estavam engatinhando: o cordão mágico. Onde quer que Draco fosse, Hermione saberia e poderia puxá-lo de volta. A garota também não ficara nada satisfeita com a idéia da professora. Mas aceitou a ordem. Afinal, ela não estava certa do papel do rapaz. “Ele pode ser um espião infiltrado entre nós”, pensou, olhando desconfiada para o loiro.

- Pare de me encarar! Já disse que vim ajudar.

- Silêncio – ralhou Minerva McGonagall.

A professora tinha convocado alguns professores e monitores para assumirem postos nas torres. Durante a reunião breve que fizera no salão principal expusera o perigo e o plano. Todos juntos tentariam impedir o inimigo de invadir Hogwarts. Quem não sentisse coragem suficiente para enfrentar as criaturas do submundo deveria ajudar Madame Pomfrey. Muitos estudantes da Sonserina preferiram se juntar a esse grupo. Alguns da Lufa-Lufa também. A Grifinória e a Corvinal compareceram em peso, embora houvesse um considerável número de jovens com medo. Pudera. Com a ajuda de Flitwick, McGonagall esclarecera quem eram os inimigos.

- Pena que a gente não conheça um feitiço capaz de vencer o tal do balorg – lamentou-se Luna, que seguia Hermione.

- Balrog – corrigiu a monitora.

- Isso mesmo. Meu pai sempre disse que eles não tinham desaparecido. Por via das dúvidas, trouxe minha vassoura.

- Para quê? Vamos precisar de magia e não de vassouras. Exceto se for para fugir – exasperou-se.

- Nunca se sabe se vamos precisar de uma – retorquiu, em tom conciliador.

- Estudantes de Hogwarts – clamou McGonagall, pondo fim à conversa das duas. – Estamos diante de um perigo terrível. Os aliados de Você-Sabe-Quem estão marchando para cá e vão tentar nos vencer. Mas nós não deixaremos que eles conquistem nosso castelo, nossa casa. Não sem lutar muito. Alguns de vocês chegaram apenas este ano a este lugar. A esses recomendo cautela. Fiquem no aguardo de ordens. Aos demais, peço que utilizem tudo o que aprenderam na escola desde que puseram os pés aqui. E obedeçam ao meu comando e ao comando dos professores. A vitória só virá se permanecermos juntos! Então, alunos, professores, funcionários, elfos domésticos, amigos, quero todos unidos. Por Hogwarts!

Uma sucessão de vivas se fez ouvir. O Barão Sangrento passou voando pelos alunos da Sonserina, incentivando-os a dar a vida pela escola. Madame Sprout torceu o nariz e sacudiu a cabeça, numa muda crítica ao fantasma. McGonagall ordenou que todos iluminassem o castelo e os arredores com a força máxima de Lumus. A luz das varinhas juntou-se a dos archotes, permitindo um mínimo de claridade. Não havia meios de serem atacados às escondidas. No lago, a lula gigante estendeu alguns de seus tentáculos. E assim esperaram por minutos, quase sem falar, respirando aceleradamente, os nervos tensos.

- Professora?

- Sim, senhorita Granger.

- Os aurores virão?

- É o que espero. Já despachei uma coruja para o Ministério da Magia. E pedi que o senhor Nigellus procurasse Tonks mais uma vez.

- Estou preocupada, professora. Sem essa ajuda...

- Lutaremos com o que tivermos, senhorita Granger.

- Eu me refiro aos outros. Os que estão lá fora.

McGonagall suspirou.

- Eles também não me saem da cabeça. Precisamos confiar neles e acreditar que conseguirão se salvar. Agora, concentre-se, querida. Nesta torre, você é meu braço direito.

Nesse minuto, as hordas emergiram da escuridão da floresta. Vinham como enxames de abelhas, ocupando o terreno, avançando sobre o gramado. Um orc enorme fez uma trombeta soar, num toque curto. E abriu caminho para outro ainda maior. Era Zarkis.

- Dê o sinal mais uma vez! O mestre tem de ser avisado que os orcs estão em Hogwarts – e afirmou desdenhoso. - E ele notará que o balrog está atrasado!




*****




Dumbledore usava o máximo de sua força para segurar o balrog. A criatura tentava alçar vôo. Era uma magia poderosa. Mas o velho professor vivia um conflito na alma. Sentia que Harry estava sendo caçado. Quando estava para soltar o demônio, McKinley surgiu ao seu lado, seguido de Hagrid.

- Thelonius, tenho de ajudar Harry. Ele precisa escapar! Estamos em grande desvantagem!

- Eu assumo, Alvo. Comigo, Hagrid. Imobilus! – gritou, fazendo um jato vibrante de energia incidir sobre o monstro.

O diretor não esperou um segundo sequer. Desaparatou e deixou que a magia o conduzisse a Harry. A criatura deu um risinho vendo que Dumbledore fora substituído. Ela sabia que o poder do homem de barba longa era o mais forte depois do seu senhor. De repente, os toques de uma trombeta chegaram aos ouvidos de todos. O demônio soltou outra risada. Desta vez alta, gutural e zombeteira. McKinley estremeceu.

- É um aviso! Do quê? Eu não sei – gritou para Hagrid.

O sinal deu novo ânimo ao monstro. O balrog soltou um urro descomunal e com os braços rompeu os grilhões mágicos. Liberto, atingiu McKinley com o chicote, derrubando o bruxo. Hagrid pegou uma rocha do tamanho de um bezerro e a arremessou com fúria sobre o demônio. Com a mão, a criatura desferiu um golpe contra o guarda-caça. E tentou esmagar-lhe com os pés. Hagrid rolou pelo chão, fugindo da pisada dos cascos. McKinley estava se erguendo penosamente quando viu sair de trás das árvores um gigante.

- Mas que diabos...

E o gigante correu direto para o balrog.

- Deixe Hagrid em paz!

Grope prendeu o demônio pelas costas. O balrog girou o corpo e fincou as presas no pescoço do gigante. O meio-irmão de Hagrid berrou agoniado. O guarda-caças conjurou um tronco de árvore e com ele passou a golpear seguidas vezes o monstro. Grope soltou Balrus, cobrindo a ferida com a mão gigante. A criatura avançou sobre ele e por minutos travaram uma luta titânica. Desesperado, Hagrid continuava batendo no inimigo, mas parecia que nada iria separá-los. McKinley teve de proteger as costas do amigo da ação de Comensais. Uma sucessão de pensamentos tomava sua cabeça. “Está cada vez mais difícil com esse balrog roubando nossa atenção. Ele está muito fortalecido neste campo... neste campo com tanto oxigênio para queimar, com tanto calor... mas... se fosse em outro?” Então, teve uma idéia. Precisava abrir um portal e levá-lo para longe. Para um lugar onde as condições lhe fossem menos favoráveis. Rebateu o feitiço de mais um Comensal e voltou a observar a luta.

O balrog ateara fogo ao corpo e o gigante gritava por causa das queimaduras. Balrus segurou o pescoço maciço de Grope e com suas garras deu o golpe final. Hagrid berrou, incapaz de salvar o meio-irmão. O gigante, porém, antes de despencar, agarrou-se a uma das asas e foi para o chão, arrastando-a. E nesse gesto rasgou a asa do demônio, impedindo-o de voar. A criatura extinguiu as chamas imediatamente e gritou tão alto que os Comensais se assustaram. O guarda-caças aproveitou o momento para arremessar o tronco contra o olho cego pela flecha de Gina. O demônio voltou a urrar e despejou um jato de fogo sobre Hagrid. Snape, livre do ataque dos inimigos, disparou em seu socorro um feitiço que pôs fim ao fogo. E Balrus partiu a pé rumo a Hogwarts, vencendo a distância com seus passos largos, esmagando árvores centenárias, incendiando arbustos, fazendo pássaros voarem assustados. A luz das chamas que cobriam seu corpo podia ser notada a quilômetros, contornando seu corpo gigantesco e medonho.

Atrás dele, o guarda-caças se movia com dificuldade, embora procurasse acelerar os passos. Com o rosto ainda enxovalhado pelas lágrimas, Hagrid só pensava em uma coisa: destruir o balrog, nem que para isso fosse necessário perder a vida. Nesse estado de espírito, McKinley o encontrou.

- Hagrid, eu posso cuidar do balrog.

- Não, professor! Eu vou me vingar! O senhor viu... – e, sem completar a frase, soluçou.

- Eu vi. Foi terrível. Sinto muito, Hagrid. Mas precisamos agir com a cabeça e não com as emoções.

- Para o diabo! Não vou deixar de sentir o que estou sentindo! Vou destruí-lo desse modo mesmo! – teimou, furioso.

- Volte para a campina e tire Harry e Gina de lá. Não temos mais condições de agüentar esse ataque, Hagrid. Você precisa ajudar Dumbledore.
Ao escutar o nome do diretor, o guarda-caças hesitou. Seu coração fervilhava de ódio. Mas pensou que seu mentor poderia estar numa situação alarmante. A luta não estava fácil.

- Tem certeza de que o senhor vai dar conta desse monstro?

- Vou abrir um portal, Hagrid. Tenho de fazê-lo tocar na chave e sei para que tipo de lugar devo levar o balrog.

- E sozinho o senhor vai conseguir vencer esse demônio? – perguntou, olhando para a figura magra e curva do professor.

- Bom, minha especialidade é a defesa contra a arte das trevas. E desafio qualquer um no Reino Unido inteiro a saber mais do que eu a respeito do submundo. Será um duelo e tanto. Posso garantir, meu amigo.

Hagrid concordou e pegou o caminho de volta à campina. McKinley ainda o avisou para não permitir que a emoção negativa comandasse suas ações. “Isso é muito perigoso”, alertou. Mas o guarda-caças deu de ombros.
O professor seguiu a trilha do balrog e organizou na mente o que seria necessário para acionar o portal junto com a criatura. “Tenho de atrair a atenção dele, fazer com que ele me pegue em vez de me destruir com um jato de fogo e conjurar o portal quando estiver em suas mãos”, raciocinou durante a corrida atrás do demônio. Tarefa difícil, muito difícil. Mas quem disse que Thelonius McKinley gostava de ganhar fácil?




*****




Voldemort tinha pressa. Assim que fechou o terreno com magia, despejou um jato incandescente sobre Harry. Dumbledore demonstrou que ainda tinha agilidade e invocou um escudo prateado para impedir o ataque. O velho professor só teve de tempo de virar o rosto para Harry e dizer, aflito, que ele deveria fugir e se salvar. O rapaz, no entanto, se negou. Saltou para o lado, escapando da proteção do escudo, e lançou um feitiço no inimigo. O Lorde das Trevas teve de recuar, atingido por um surpreendente impacto. A ação de Harry tinha sido tão bem executada que Dumbledore se impressionou. Desmaterializou o escudo e conjurou uma bola de cristal sobre Voldemort. Era uma tentativa de mantê-lo preso.

- Por favor, Harry, leve Gina para um lugar seguro e fique com ela até que cheguem os aurores – disse, apressado.

- Por que o senhor não confia em mim? – resmungou.

Nesse instante, Voldemort quebrou a esfera com um forte raio de luz e a explosão espalhou estilhaços que atingiram os três bruxos. O senhor dos Comensais jogou uma azaração sobre o jovem que o arremessou longe e o feriu por dentro. No vôo curto, Harry não conseguiu segurar a varinha e soltou um grito ao sentir alguns ossos se rompendo.

- Ele não confia em você, garoto, porque você é fraco. Não é páreo para mim – vociferou, erguendo sua varinha.

Para defender o estudante, Dumbledore fez surgir do solo um jato de água que levou o bruxo das trevas às alturas. Gina aproveitou a situação para correr até o amigo. “Por Merlin, tudo está acontecendo rápido demais”, pensou vencendo a distância. De fato. Voldemort se transfigurou numa forma pétrea e retornou para o chão, anulando a magia do velho professor. Ainda assustada com o desenrolar da batalha, a garota ajudou o rapaz a se erguer e notou as gotas de suor que lhe cobriam a testa. “Ah, Harry...”, murmurou com o coração agoniado. Ele não estava 100% consciente. O impacto tinha sido muito violento, mas conseguiu ouvir, como se estivesse num sonho, Voldemort dizer para o diretor que teria de fazer muito mais caso tivesse planejado deter a força das trevas. A voz assustada da ruiva perguntando se estava bem o trouxe de volta. Harry fixou sua atenção sobre ela e percebeu os olhos úmidos, o rosto aflito, as roupas rasgadas e o corpo marcado de sinais arroxeados, pequenos cortes e machucados esfolados, tudo por causa da luta. Respondeu baixinho que sim enquanto entrelaçava os dedos dela com os seus. Ali, diante do perigo, tinha a impressão de que não podia haver nada mais belo no mundo do que Gina. “Tenho de protegê-la. Custe o que custar”, refletiu. Reanimado assim, retomou plenamente a consciência e partiu mais uma vez para o confronto.

- Accio varinha!

O espanto de Gina ao descobrir que Harry já tinha a capacidade de usar magia com as mãos nuas se refletiu em Voldemort. A garota soltou a mão do rapaz ao sentir a energia se manifestando e conduzindo a varinha de volta ao dono e dirigiu um olhar arregalado para o diretor de Hogwarts. Voldemort espremeu os olhos de serpente, desconfiado.

- Pelo que acaba de ver, Tom, nós faremos muito mais para te deter – disse Dumbledore, exibindo o único sorriso que esboçara na noite.

- Tentem, seus tolos, tentem – e Voldemort se transformou numa nuvem negra e densa que se arremessou sobre Harry de modo tão rápido que o velho professor nada pode fazer.

Se o jovem estivesse em condições normais e não debilitado como estava, talvez pudesse resistir à invasão. Mas não era o caso. Harry gritou ao ser tocado pela nuvem que penetrava seus poros, tomando seu corpo e provocando uma dor aguda e um frio arrepiante. Mais uma vez, ele sentiu os ossos se contraírem. E teve a impressão que seus órgãos estavam congelando. A mente continuava trabalhando febrilmente, porém o corpo parecia adormecido, apesar da sensação de agulhas picando seu organismo sem parar.

“- Não vou ser controlado” – pensou.

“ – Vai, sim” – respondeu a voz de Voldemort em sua cabeça.

Gina fez menção de correr outra vez para Harry, mas foi impedida por um grito de Dumbledore.

- Não se aproxime! Mantenha-se em alerta!

Contornando Harry, havia ainda a nuvem. Ela formava uma espécie de aura negra. No alto da cabeça do rapaz, a fumaça se condensou e um rosto transfigurado e escuro surgiu. As pupilas de serpente se destacavam e um sorriso malévolo despontou. A força das trevas ergueu o corpo do jovem a alguns centímetros do solo. O bruxo se assemelhava a um fantoche. O rosto demonstrava a dor, mas ele já não gritava mais, resistindo o máximo que conseguia.

- Acabou, Dumbledore! – e riu, provocando estremecimentos em Gina e um raro nervosismo no velho professor.

Forçado por Voldemort, Harry apontou a varinha para o diretor de Hogwarts.

“- Avada Kedavra!”

Desesperado, o rapaz não aceitou o comando, sentindo a dor aumentar em seu cérebro. Manteve os lábios fechados. Foi a vez do professor estremecer. Via o quanto seu pupilo sofria e se abateu pela tristeza de ter fracassado em seu propósito de defendê-lo.

“- Não!” – replicou Harry em seus pensamentos.

“- Eu te mostrarei quem manda!”

E a energia foi tão poderosa e a dor tão lancinante que Harry deixou escapar a maldição imperdoável sobre Dumbledore. O feitiço atingiu o diretor de Hogwarts no coração e ele caiu para o lado, em meio aos gritos de Gina.




*****




Toda Hogwarts lutava contra os orcs. Os professores orientavam os alunos a se juntarem em grupos de cinco e lançarem feitiços potencializados. Apenas desse modo a magia de certos estudantes funcionava. Os enviados de Voldemort atacavam em massa e se protegiam com escudos grossos, capazes de rebater azarações mal aplicadas. Quando os primeiros bewolfes saíram da floresta, a maioria dos jovens perdeu a voz. Outros gritaram de pavor. As criaturas se atiraram contra as paredes do castelo, fazendo pedras se soltarem e ameaçando ruir a barreira com a insistência dos golpes. McGonagall berrava ordens aos professores que despejavam feitiços sobre os monstros, que não faziam efeito. Hermione virou-se para Draco, nervosa.

- Como se derruba essa monstruosidade?

- Não sei. Não vi essas coisas e meu pai não me falou nada.

- Não minta!

- Não estou mentindo. Acha que eu quero virar comida de... que raios será isso?

Ao notar que a magia das varinhas era refletida pela couraça, McGonagall decidiu que o melhor era reforçar as defesas de Hogwarts. “Óleo! Façam com que um rio de óleo cubra as paredes”, gritou para os professores. Os bewolfes não puderam mais se jogar contra as paredes porque o óleo começou a formar poças na base e eles não conseguiam se manter em pé.

Os orcs arremessavam flechas flamejantes e pedras imensas, jogadas por catapultas que eram empurradas pelas fileiras de trás. Zarkis espumava. Queria derrubar o portão do castelo. Ordenou um grupo a partir contra a porta usando um pesado tronco. Mas, do alto, Hermione amoleceu o tronco ao fazer sumir, por magia, todo seu interior. Os orcs jogavam terra sobre as camadas de óleo para permitir que os bewolfes se aproximassem de novo das paredes. O trabalho era febril. Um capitão do exército inimigo, então, sugeriu ao comandante que os bewolfes ficassem de costas para a porta e que destruíssem a proteção com golpes dos rabos. O líder dos orcs sorriu.

- Façam isso agora. Quero invadir esse castelo antes daquele balrog aparecer. Vamos faturar nosso prêmio e teremos o que negociar com o Lorde das Trevas.

Os flashes de feitiços eram disparados pelos estudantes a todo instante. Muitos se perdiam. Outros tantos eram ineficazes. Na escuridão da noite, tudo parecia mais terrível. McGonagall se dividia entre as alas. Algumas vezes pegava a vassoura de Luna para percorrer as defesas organizadas. A garota se comprazia.

- Grande idéia a minha.

- Por que você não olha mais para cá e ajuda a destruir as flechas e as pedras? – perguntou Hermione, nervosíssima.

Ela se calou imediatamente porque dois bewolfes avançaram em direção ao portão, se posicionaram de costas e passaram a distribuir golpes com o rabo sobre a entrada de Hogwarts. Eles faziam estremecer as paredes e Hermione sentiu no coração as batidas dadas pelas criaturas. McGonagall ressurgiu, entregou a vassoura para Luna e disparou um feitiço estuporante sobre um dos condutores da besta. Mas eles estavam bem protegidos pelos escudos. Os bewolfes distribuíam golpes cadenciados. Em pouco tempo, o pesado portão de Hogwarts estaria no chão. E o castelo seria invadido pelas hostes ansiosas. A professora gritou para Flitwick que o acompanhasse. Precisavam defender a entrada. E dispararam para o térreo. McGonagall ainda teve tempo de berrar para Hermione assumir o comando das torres. “Não deixe seu posto”, e desceu as escadas.

A luz de Hogwarts estava mais fraca do que a acionada no início da batalha. Alguns alunos se abaixaram temerosos e iluminavam mais a área interna do castelo do que a externa. Hermione pediu mais empenho quando ouviu uma aluna do terceiro ano da Corvinal chorar histérica e se jogar no chão. Draco Malfoy soltou um palavrão. E, finalmente, a monitora-chefe se deu conta do que passava. À distância, um ser gigantesco avançava velozmente, derrubando árvores e incendiando a mata. Era o balrog que vinha. Madame Sprout, que estava na torre mais longe de Hermione, berrava palavras encorajadoras aos estudantes. Porém ela mesma sentiu o coração se apertar. Nunca tinha visto nada mais amedrontador. Hermione não conseguiu conter as lágrimas. Sua varinha tremia nas mãos. Uma flecha quase a atingiu e isso a obrigou a recuperar a concentração.

- Atentos! – cobrou dos colegas.

Luna, no entanto, parecia pouco interessada na batalha. Depois de se assombrar com o balrog, fixou seus olhos em dois pontos luminosos que se tornavam mais e mais intensos.

- Ou vem mais algum bicho esquisito ou aquilo que se aproxima é um automóvel – comentou em voz alta.

Os bewolfes já haviam aberto um enorme talho na madeira do portão, por onde podia passar um homem, quando as luzes apontadas por Luna venceram os metros que a separavam das criaturas. Hermione conteve um grito. Era o Ford Anglia dos Weasley que atingiu violentamente uma das bestas na lateral, fazendo com que ela tombasse. Imediatamente, uma das portas do carro se abriu e de lá saiu Rony, com a varinha em punho e arremessando um feitiço na barriga da criatura.

- Estupefaça!

O monstro parou de se mexer, mas seu condutor avançou sobre o rapaz. “Imobilus”, berrou o bruxo. E o orc tombou. A ação do jovem impressionou todos os estudantes e professores que observavam a batalha do alto. Vivas se ouviram. O Ford Anglia se atirou sobre o outro bewolf e Rony repetiu o que já havia feito com o primeiro. Do buraco aberto no portão, McGonagall viu tudo, com a boca aberta.

- Esse Weasley se saiu melhor do que a encomenda... Temos de atingir as criaturas pela parte de baixo. Corra, Argo, e avise todos.

Hermione derramava lágrimas copiosas. De alegria em ver Rony vivo e bem. Os alunos se esqueceram do balrog por um segundo. E dos orcs também, que arremessaram mais pedras, destruindo uma janela do corredor que levava à enfermaria. A monitora cobrou atenção mais uma vez. Só que ela também não conseguia se concentrar.

Após ter se livrado do ataque de alguns orcs e ter derrubado outro bewolf, Rony ergueu seus olhos para as torres, tentando adivinhar onde estaria Hermione. Não viu que uma besta se aproximara demais e girara o corpo para desferir uma violenta rabada contra ele. O rapaz foi atingido no peito e perdeu a respiração por um instante. Agora, sentia que as forças estavam indo embora. Que tinha de descansar um pouco. A grama lhe pareceu muito convidativa e tombou semiconsciente. “Madame Pomfrey deve estar bem perto”, pensou enquanto via a lua rodar, rodar e rodar.
Os alunos gritaram no alto das torres. Mas Rony não escutou as lamentações. Alguns voltaram a acompanhar os movimentos do balrog, que estava a dois, três quilômetros do castelo. E prosseguia em sua marcha assustadora. Hermione, não. Aterrorizada, buscava meios de salvar o amigo. Olhou para a Luna e viu a vassoura.

- Dê-me a vassoura, Luna. Vou voar até Rony!

- Você não pode – cortou Draco.

- E por que não? – perguntou irritada e já pegando a vassoura.

- Porque a McGonagall falou para você não abandonar o seu posto e porque eu estou preso a você. Não se lembra não, monitora? – observou o rapaz, com ironia na voz.

Hermione quase desabou. Ficou pálida e voltou os olhos para Rony. O Ford Anglia rodava em círculos, impedindo os orcs de se aproximarem do rapaz caído. Os pneus cantavam, as flechas ricocheteavam na lataria e o automóvel, já bastante amassado, continuava fazendo a barreira.

- Pode deixar. Eu vou – interrompeu uma voz etérea.

Luna montou sobre a vassoura. Hermione nem conseguiu pedir cuidado e a loira saiu voando até Rony. O vôo não teve nada de gracioso. A garota se desviava das flechas sem aparentar preocupação. Chegou ao centro da barreira criada pelo automóvel. Debruçou-se sobre o jovem e disse num tom alegre.

- Estou aqui, Rony. Demorei muito? – brincou.

Rony não distinguiu a voz de imediato. Mas seu primeiro pensamento foi para a jovem de cabelos castanhos.

- Hermione?!

- Lamento, bonitão. Ela não pode vir. Está com o Draco. Se você quiser me acompanhar, eu te levo na vassoura. Para onde quer ir?
Sem entender por que Hermione tinha preferido ficar com Draco, Rony fez força para se erguer. Mal conseguiu, sendo amparado por Luna.

- Hoje eu estou mais para saco de batatas.

- O saco de batatas mais interessante de Hogwarts. E o mais corajoso também – sorriu a garota, ajudando o rapaz a se ajeitar sobre a vassoura.

- Você também foi bem corajosa em vir aqui – respondeu antes de desfalecer.

Luna ganhou altura e disparou rumo à janela destruída, a que levava até a enfermaria. Hermione não conseguiu ver Rony. Mentalizou um “olá” e um “estou muito orgulhosa de você”. Draco a cutucou para que olhasse para Neville. O aluno da Grifinória pulava de alegria como se tivesse apanhado o pomo de ouro. Apontava um ponto no céu e mal conseguiu articular as palavras:

- Lá... testrais... Eles estão carregando... trazendo para cá... aurores!!!

Neville berrava, incontinente. Os outros estudantes se contagiaram e passaram a dar uivos. Alguns enxergavam os testrais e diziam que eles transportavam mais de um auror cada. Madame Sprout, de onde estava, soltou um grito de felicidade também. Mas manteve sua atenção sobre os orcs, assustados com a novidade – sim, eles podiam ver os testrais -, e sobre o balrog, que parara subitamente. Hermione acompanhou o olhar da professora e viu que o demônio diminuíra as chamas por algum motivo que desconheciam. Os demais estudantes sentiram a mudança no clarão que iluminava a floresta. Os focos de incêndios tinham sumido. Magia?

- Deve ser Dumbledore! – urrou Simas, alterado.

A criatura se abaixou e pegou algo em suas mãos. Soltara uma risada roufenha que foi ouvida em Hogwarts com nitidez. Simas suspendeu a respiração, agoniado com a possibilidade de ser Dumbledore o objeto da atenção do demônio do mundo antigo. O balrog abriu a boca e se preparava para engolir o que estava em suas mãos quando um imenso portal branco se abriu e fez desaparecer o ser maligno. E quem mais estivesse com ele.

- Nããoo! Não pode ser Dumbledore. Ele não seria uma presa tão fácil. Seria? – perguntou Simas, intrigado.

Hermione não respondeu. Sua mente agora estava nos amigos que ainda estavam na floresta. Ou na campina. “Espero que Harry esteja seguro”, gemeu.




*****




Harry arregalou os olhos ao ver Dumbledore desabando. A emoção foi tão grande que logo sentiu um formigamento no braço, o que o fez abaixar a mão. A cicatriz ardia terrivelmente. Nesse momento, surgiu Severo Snape, que derrotara os últimos Comensais que estavam na campina – os demais tinham se misturado aos orcs e atacavam Hogwarts. O professor de Poções correu a socorrer o diretor. Ainda se ouvia a risada de Voldemort quando Dumbledore se moveu vagarosamente, amparado por Snape. Não tinha morrido, como era de se esperar. O Lorde das Trevas se enfureceu. Lembrou-se, então, que a falha de Harry se devia à dificuldade de se conjurar a maldição imperdoável máxima por alguém que não dominava a magia negra. Snape parecia ter compreendido a razão do estado atordoado do inimigo.

- Graças à incapacidade de Harry, o senhor ainda vive – disse, ajudando o diretor a se erguer. – Se me permite, senhor, aconselho a retribuir a paga.

Ao ouvir isso, Gina sentiu o coração disparar. Dumbledore, no entanto, meneou a cabeça.

- Harry ainda está lá, Severo.

Sem perder tempo, Voldemort obrigou o rapaz a lançar novamente o feitiço, desta vez contra Snape. Percebeu que o jovem não oferecia a mesma resistência. E riu de novo antes de soltar as palavras malditas.

- Avada Kedavra! – murmurou com debilidade.

Mas Snape estava atento. Percebera o movimento do braço do aluno e se desmanchou numa nuvem branca, como fizera Voldemort, e escapou da magia. O líder dos Comensais desdenhou.

- Aprendeu muita coisa comigo, não é, Severo.

A nuvem se dispersou para atravessar o corpo do diretor. A atitude do professor serviu para conferir energia extra ao seu mestre. Gina entendeu que aquilo funcionava como uma doação, algo temporário para auxiliar na recuperação do comandante de Hogwarts. A estratégia funcionou. Dumbledore pode, finalmente, ficar de pé e encarar o senhor das trevas, que tentou armar Harry para outro ataque. Porém, o rapaz não cedeu, obrigando Voldemort a tomar o corpo do jovem por inteiro. O restante da nuvem negra se tornou mais vaporoso e penetrou de uma vez no estudante. Harry balançou para a frente e fechou as pálpebras. Ao reabri-las, as pupilas de servente cintilavam no lugar dos olhos verdes. Horrorizada, Gina recuou em direção aos professores.

- Este é o momento de atacá-lo, senhor. O Lorde das Trevas está mais vulnerável agora... – sussurrou Snape, nervoso e com a varinha em riste.

- Não posso. Não vou destruir o garoto – respondeu Dumbledore num tom baixo, mas que foi captado por Gina.

Invadido por Voldemort, Harry deu um grito irritado e usou a maldição máxima. O jato de energia incidiria sobre o diretor se Fawkes não tivesse voado direto sobre ele. A fênix estivera acompanhando todos os movimentos e esperara até o momento em que seria necessária. Suas cinzas caíram formando um monte aos pés de Gina.

Ato contínuo, Snape repeliu o inimigo com uma azaração tão forte que Harry cambaleou.

- Ninguém falou em destruir o moleque, professor Dumbledore – comentou entre dentes.

Aquele-que-não-deve-ser-nomeado gemeu, ferido. Com a invasão total, ele também passava a sentir o mesmo que o rapaz. Ele exibia um rosto terrivelmente pálido. Atormentada por ver o amigo ser agredido, a ruiva não resistiu.

- Liberte o Harry. É muita covardia da sua parte tomar o corpo dele – falou, trêmula.

O rapaz que antes só tinha olhos para seu oponente, virou o rosto para a garota. Abriu a boca, mas apenas se ouviu a voz do inimigo.

- Eu tenho o comando pleno! Faço o que quiser – disse com desdém e apontou a varinha para ela.

Dumbledore conjurou um escudo transparente para Gina, que se sentiu incapaz de reagir à visão de Harry falando como se fosse Você-Sabe-Quem. As lágrimas encheram seus olhos. E de onde estava o apanhador da Sonserina se condoeu com a imagem. Voldemort esforçou-se para lançar o feitiço que eliminaria a jovem. Mas Harry não o permitiu. Não poderia ferir alguém que amava tanto.

“- Mate-me, mas não toque nela” – suplicou em pensamentos.

O coração do jovem bruxo bateu apressado e se encheu de calor, despertado pelo sentimento inspirado por Gina. Desse modo, o Lorde das Trevas foi expulso. Para Voldemort, compartilhar o organismo de Harry se tornara sufocante. A nuvem negra saiu do corpo do rapaz e gravitou pelo ar até se colocar numa posição em que podia ver todos de frente. Nesse deslocamento, descobriu que alguns Comensais retornavam montados em bewolfes e acompanhados de orcs. Entre eles, Belatrix e Malfoy. Voldemort recuperou sua forma e recebeu os aliados sentindo-se fraco.

- Milorde, os aurores acabaram de chegar! – disse um homem que vestia uma capa negra e cujo rosto a escuridão da noite protegia.

Dumbledore e Snape se colocaram na frente de Harry, prostrado no chão e coberto por um suor gelado, provocando-lhe calafrios e um tom azulado à pele. Gina tencionou acudir o colega de equipe, mas o diretor foi enfático. Não podia tocá-lo. “Ele ainda está sensível. O corpo dele foi muito devastado pela força das trevas e tem de se recuperar sem a interferência de outras energias”, explicou, mantendo a varinha apontada para os Comensais. Se o velho professor soubesse exatamente o que salvara Harry, não teria impedido o socorro da garota. O toque carinhoso da moça era o que o rapaz mais necessitava naquele momento.

- Mestre, podemos eliminar esses bruxos, se quiser.

- Onde diabos estava você, Malfoy, que não o vi desde que a luta começou? – sibilou.

- Ele foi aprisionado por um deles, milorde – respondeu Belatrix, vendo o colega empalidecer.

Aborrecido pelo andamento da batalha, Voldemort percebeu o quanto estava ferido e enfraquecido e decidiu mudar o plano. Via claramente que Dumbledore e Snape não iriam se afastar do jovem, que começava a mover a cabeça. Pediu, então, que os orcs fossem chamados de volta. Um Comensal tocou uma trombeta, emitindo um som longo. Belatrix se colocou ao lado do mestre, aguardando instruções. A tensão se espalhava, mas ninguém piscava um olho sem medir os gestos. Até que Hagrid apareceu do nada. Estava furioso e falastrão.

- Vamos acabar com todos esses bruxos das trevas. Cambada de ordinários! – e disparou um feitiço contra Você-Sabe-Quem.

Voldemort se defendeu e seus aliados começaram a duelar com os bruxos de Hogwarts. Dumbledore internamente lamentou a precipitação do guarda-caças. Conjurou de novo o escudo transparente e chamou Gina para ficar ao seu lado. Nesse instante, Hagrid se deu conta de Harry agonizando.

- POR MERLIN, O QUE FIZERAM COM VOCÊ?

Ninguém seria capaz de deter um homem tão grande quanto Hagrid. Enlouquecido pela dor de ter perdido Grope e pela fúria em descobrir Harry num estado lamentável, o guarda-caças se precipitou. Saiu da proteção do escudo de Dumbledore e disparou todos os feitiços que conhecia.

- Este é por Grope. E este, por Harry.

Enquanto se defendia do contra-ataque dos Comensais, Snape tentou chamar-lhe à razão e pediu que levasse o rapaz e a garota para longe dali, que os protegesse na escola. Mas Hagrid não queria ouvir mais nada. Grunhia e urrava, incontrolável. O diretor mantinha o escudo num tamanho considerável para resguardar o grupo, porém o guarda-caças insistia em avançar. Gina ajudava na defesa, estranhando o comportamento do amigo. E Harry estava recuperando a consciência. Sentia a mente embotada e o corpo sujo. O coração pesava. O frio o atormentava. Com dificuldade, observou a ruiva acionando a varinha e olhando espantada para o lado. Trôpego, virou o rosto e se deparou com Hagrid, que parecia dançar. Ele se movia de um lado para o outro, provocando um grupo de Comensais que estava à frente deles. Harry ouviu Dumbledore chamar Hagrid uma, duas, três vezes. Teve a impressão de captar um tom de preocupação. Mas seu raciocínio não fluía normalmente. Não compreendia bem o que estava acontecendo. Escutou Gina pedir cuidado ao amigo. E Snape soltar uma imprecação. Aos poucos, o torpor estava deixando seu corpo. Deu dois passos, atraindo a atenção da garota. Ela caminhou até o rapaz, mas foi contida pelo diretor.

- Mais um minuto, Gina. Ele ainda está tomado pela energia das trevas. Deixe que sua consciência desperte totalmente.

O destino, entretanto, não quis assim. Num dos arroubos de Hagrid, o guarda-caças avançou mais do que via. Para muito além dos feitiços protetores de Dumbledore, Snape e Gina, que o ajudavam a se livrar da ação dos Comensais. Cansada do joguinho, Belatrix saltou para a frente e sorriu diabolicamente antes de usar a varinha apontada para Hagrid.

- Avada Kedavra!

O torpor de Harry se foi no mesmo instante. Seus olhos haviam registrado a cena. O momento em que o facho de luz mortiça atingira o amigo, um de seus mais queridos amigos, aquele que lhe apresentara primeiro o mundo bruxo. Seu mundo. Hagrid tombou pesadamente, causando um estremecimento no solo. O coração de Harry foi intensamente invadido pela dor e pelo ódio. E ele gritou junto com Gina. Snape deixou o queixo cair e Dumbledore não conseguiu balbuciar nenhuma palavra. Subitamente, a Terra pareceu parar de girar. De se mover. Exatamente como Hagrid.











Taí o novo capítulo. Não me queiram mal.

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