O dilema de Harry
Assim que aparatou na sala de estar dos Weasley, Harry observou que era muito tarde e que todos dormiam. Esperou um minuto para verificar se alguém despertara. Mas o silêncio continuou ecoando pela casa. Por um minuto, teve ganas de subir ao quarto de Rony e acordá-lo. Porém, pelo adiantado da hora, resolveu ficar ali mesmo. Ajeitou-se da melhor maneira que pode no sofá e esperou o dia amanhecer. Estava bastante frio e ele teve que se encolher na tentativa de se aquecer um pouco. Tinha a impressão de que sua mala faria um barulho horrível se fosse aberta. Não queria chamar a atenção para sua chegada. Na verdade, gostaria que ninguém fizesse qualquer comentário ao vê-lo na casa, como se ele tivesse passado o feriado inteiro junto com a família. Em sua mente, desenhavam-se cenas. Fred e Jorge descendo as escadas e perguntando se ele já tinha usado o presente de Natal que lhe deram. A senhora Weasley oferecendo uma deliciosa xícara de chocolate. Rony com uma matéria nova sobre os Chuddley e Gina surgindo com as mãos na cintura, dando-lhe uma dura por não ter recebido nada dele, nem um cartãozinho. Gemeu. O que diria para se redimir? Carlinhos cochichou que era melhor pedir desculpas de joelhos porque agora Gina era dona de um dragão chinês muito ciumento. Se a visse magoada, o bicho certamente iria imediatamente tostar o tratante. Carlinhos apontava a porta da sala onde se via o olho negro do dragão, espiando Harry. O rapaz respondia que nunca antes enfrentara um dragão chinês. E antes que Carlinhos pudesse lhe dar uma dica, o dragão bateu na porta. Era uma batida leve demais para um monstro daquele tamanho. Então, Harry ouviu outra. Desta vez, mais forte. Tão forte que o despertou do sonho. Ele esfregou os olhos e pela terceira vez escutou a batida. Era real. Deu um pulo e correu até a porta, confuso. Sem saber se devia abri-la, resolveu perguntar quem era.
- Sou eu, Harry. Abra a porta. Está frio aqui - respondeu uma conhecida voz feminina que o fez saltar de susto.
Completamente intrigado, o jovem bruxo virou-se procurando alguém da família. Mais uma vez ninguém veio. Aparentemente, os Weasley não tinham escutado qualquer ruído estranho. "Paciência. Vou fazer o papel de anfitrião". E abriu a porta.
- Cho! Eu nunca...
- Bom dia, Harry. Feliz Natal! - interrompeu uma alegre Tonks.
- Tonks? Ah, agora entendo. É por isso que a Cho conseguiu chegar até aqui. Você a ajudou - concluiu o rapaz.
- Consegui, é?! Que história é essa de sair correndo de casa? Que falta de modos! Minha mãe não vai gostar.
- Se foi para brigar comigo que você veio, acho melhor pegar o caminho de volta - resmungou.
- Sem discussões, gente. Hoje é dia de Natal. E aposto que ainda tem um monte de coisas gostosas aqui na Toca. Para que gastar saliva com bobagens? Podemos entrar, Harry?
- Claro. Ahn, só que os donos da casa ainda não se levantaram. Eu dormi no sofá. Não quis acordar ninguém.
Cho, que vestia um elegante casaco branco e trajava um gorro de pele, olhou para a lareira apagada e percebeu como a sala estava fria. Viu que Harry se cobrira apenas com a capa de bruxo e se condoeu.
- Harry, por que não usou o casaco que te dei? Couro de dragão aquece bem.
- Eu não quis fazer barulho.
A garota fez cara de pouco caso. Com a varinha, fez "zum" e um fogo começou a crepitar na lareira. Em seguida, abriu a mala que fez um "ploc" ao ser escancarada. "Accio, casaco de couro!" E num segundo a roupa estava em suas mãos. Harry agradeceu e tentou tomar-lhe das mãos. Só que Cho fez que não. Ela o vestiu e o ajeitou, fechando os últimos botões com um sorriso. Foi nesse instante que a senhora Weasley apareceu. Ela ficou tão espantada com a presença dos três que mal se ouviu sua voz.
- Bom dia. Nossa, que hora para encontrar gente nova? Nem estou arrumada - brincou, enquanto deslizava os dedos pelos cabelos vermelhos. - Que estão fazendo de pé? Não dormiram? Por favor, sentem-se. Ou querem um café? Chocolate quente, Harry?
- Olá, Molly. Desculpe o horário incômodo. Eu dei um pulinho na casa dos Chang e soube que Harry veio para cá. Foi a avó desta mocinha bonita aqui que me contou - explicou Tonks.
- Você deve ser a Cho. Já ouvi falar muito bem de você, mas nada do que meus filhos disseram esteve a sua altura. É realmente linda a sua namorada, Harry - elogiou a senhora Weasley, um tanto sem graça.
Cho sorriu e Harry se encolheu ao se dar conta de que todos tomavam como certo o namoro entre os dois. O rapaz se sentiu culpado por até o momento ter evitado o assunto com a garota. Ia abrir a boca para perguntar dos demais quando passos soaram no alto da escada. Os três se viraram para ver o senhor Weasley, acompanhado de Hermione e Gina.
- Oh-oh, acordamos o povo antes da hora. Desculpem-nos, mas confesso que estou feliz em encontrar vocês - riu Tonks.
De fato, todos trajavam ainda roupas de dormir. Os senhores Weasley e as meninas tinham se levantado por ouvirem ruídos na casa. Harry queria falar alguma coisa, porém seus lábios estavam estranhamente colados. Seu coração dava saltos descompassados e parecia que não havia ar suficiente na sala. Tudo porque Gina o olhara brevemente com evidente espanto e depois se detivera em Cho com um ar aparvalhado. O rapaz queria explicar imediatamente a presença da garota, mas estava paralisado. "Eu não a trouxe", se imaginava dizendo para a ruiva. As palavras, porém, não saíam e ele temeu que as pessoas percebessem seu estado. Para sua sorte, Hermione correu para Harry e pulou em seu pescoço de pura felicidade. A amiga declarava sua alegria a plenos pulmões e sem saber provocou o ciúme de Cho.
- Harry! Que ótimo te ver. E que elegância! - riu.
- Olá, Hermione. Gostou do casaco dele? O couro de dragão não é macio?
- Como? - estranhou a jovem, desvencilhando-se do amigo e se voltando para Cho. - Oi. Que surpresa ter você aqui. Tudo bem?
Harry engoliu em seco, completamente envergonhado com a cena protagonizada por Cho. "Se tivesse um buraco aqui..." O senhor Weasley, sem dar bola para a conversa das duas, o cumprimentou com um tapinha nas costas. O rapaz, que não estava com coragem de olhar para as meninas, ficou aliviado de ter alguém com quem pudesse disfarçar o embaraço.
- Eu vou bem, obrigada. Esse casaco é o meu presente de Natal para o Harry - continuou Cho.
- Oh, é belíssimo - respondeu Hermione, sem saber o que mais deveria falar.
Gina aproveitou a deixa e se aproximou.
- Cho, como vai? Lembra de mim, não é?
Atraído pela voz da ruiva, Harry ergueu os olhos, buscando o rosto da garota. Ela, porém, ainda não se voltara para o rapaz.
- Oi. Como você é habilidosa, Gina. O cachecol que você deu de Natal para o Harry está muito bonito e bem feito - sorriu.
O comentário fez com que Gina quase afundasse no chão, o rubor tomando sua face. Não tinha revelado a ninguém que enviara um presente para o rapaz. Isso a fez lembrar que ele estava ali, ao lado. Rapidamente, girou o rosto para Harry e perguntou se estava bem. "Ai, o que faço? Encaro? Não encaro?" Atrapalhada, ela também se voltou para Tonks, a quem abraçou num gesto público de carinho e que, no fundo, era um pedido de socorro. "Por que essas coisas acontecem comigo?", perguntava-se, atordoada, mergulhando o rosto corado nos ombros da amiga.
- Minha querida, que saudades de você - retribuiu Tonks.
- Já que estamos de pé, vamos até a cozinha tomar um belo café. Cho, espero que goste dos cookies que temos aqui. Foram feitos pela Gina, que está se revelando muito talentosa para a cozinha. Mas o que estou dizendo? Quem liga para isso hoje em dia - gracejou a senhora Weasley enquanto fazia as cadeiras da grande mesa da cozinha abrirem espaço para todos.
Durante o café, as habilidades de Gina voltaram a ser comentadas. Hermione contou que a amiga esteve quietinha nos últimos dias, tão empenhada ficara em fazer os presentes. "Eu ganhei um par de luvas e o Rony, um gorro", disse. A ruiva balbuciou que não daria mais nada se ela continuasse a falar dela daquele jeito. "Eu já estou encabulada", explicou.
- Foi como eu disse. É preciso ser realmente habilidosa com a varinha para executar esse tipo de feitiço. Estou vendo que você está ensaiando para ser uma boa dona de casa.
- Não estou ensaiando para nada. Não sou boa em muitas coisas. Então, naquilo que acho que tenho jeito, eu procuro caprichar mais.
- E você capricha mesmo. Todos esses presentes foram feitos manualmente. Por isso, dou ainda mais valor para o meu - emendou Hermione.
Gina deu uma risadinha. Sabia que Hermione falava aquilo com conhecimento de causa. Afinal, ela tinha tricotado durante a campanha pelo F.A.L:.E.. O sorriso discreto da garota animou Harry, até aquele momento absolutamente calado.
- Eu... er... queria agradecer o presente, Gina. E pedir desculpas por não ter enviado nenhum.
- Não tem de se desculpar por nada, Harry. Eu te mandei o presente porque tive tempo de fazer... Quer dizer, eu realmente queria te dar um presente desde o seu aniversário... Então, eu fiz um... Não é nada demais. É só uma bobagem - declarou já bastante vermelha.
- Claro que não é bobagem. Presente é presente. E se o casaco de couro de dragão que dei para Harry não fosse suficientemente quente, ele poderia estar usando o cachecol agora - disse Cho, com outro de seus sorrisos habituais. - Ele não ficou lindo?
- Ah, namorados! - suspirou Tonks, antes de sorver um gole de café.
Gina segurou a onda e se manteve concentrada na panqueca que sua mãe tinha feito. Harry desejou correr até ela e dizer-lhe que não estava namorando Cho. Que não podia namorar ninguém. Que era perigoso. O olhar dele se cobriu de uma sombra entristecida.
*****
Antes que a manhã chegasse ao fim e depois de se encontrar com os rapazes Weasley e mais Vitor Krum - que ainda estava na casa -, Harry conseguiu reunir no quarto de Rony os membros da Ordem presentes na Toca. Os anfitriões ouviram o relato da conversa com Candice Scott em completo silêncio. Tonks balançava a cabeça. Carlinhos e Gui faziam comentários em voz baixa um para o outro. Hermione, que participava da reunião a pedido de Harry, às vezes olhava intrigada para Rony, outro que estava ali graças à intervenção do amigo. A contragosto, Gina ficara fazendo sala para Cho, procurando disfarçar a ausência dos demais. Os gêmeos e Percy se encarregaram de distrair Krum.
- Faz tempo que não temos nenhuma pista do paradeiro de Moody - disse Tonks.
- Por outro lado, eu me recuso a aceitar a idéia de que Lúcio o capturou. Ele não é suficientemente esperto para pegá-lo numa armadilha - observou o senhor Weasley.
- Arthur, deixe velhas rixas de lado. Além do mais, duvido que Lúcio esteja nessa sozinho - replicou a senhora Weasley.
- Não importa agora se ele o pegou sozinho ou com ajuda de alguém. O que interessa é encontrar esse refúgio. Senhor Weasley, pode descobrir esse endereço? - perguntou Harry.
- Como poderia? Não me dou bem com nenhum dos figurões da sociedade. E mesmo que eu vasculhe os arquivos do Ministério, não será possível encontrar esse endereço. Não é à toa que ele é chamado de refúgio. Lúcio pode ser o fiel do segredo. E se assim for, não há meios de descobrir.
- Draco Malfoy pode saber.
- Duvido. Ele é só um garoto.
- Eu sou só "um garoto". E sei de muitas coisas - cortou Harry.
- Sabe porque nós deixamos - retrucou a senhora Weasley.
Harry ficou vermelho e sentiu-se realmente irritado com a frase. Percebendo a situação, Rony interferiu.
- De qualquer jeito, continuamos amarrados. Temos uma pista de Moody e parece que nada pode ser feito, ao menos é o que a gente está concluindo aqui. Que tal levarmos a questão para os outros membros? Lupin e o professor Dumbledore podem ter alguma sugestão.
- Será que isso não é uma armadilha? Por que esse mulher iria trair o primo? - questionou Hermione.
- Por causa do camafeu. Ou você quer dizer que não devemos acreditar nessa história? - atrapalhou-se Tonks.
- Não vejo motivos para suspeitar dessa história. A mulher ficou mesmo uma arara com o Lúcio Malfoy, que é bem capaz de ter inventado o sumiço da jóia. Essa Ingrid quer se vingar. O único problema é ela não ter o endereço do refúgio - disse Carlinhos.
- Mas vocês não estão esquecendo de outro "detalhe" da carta? Com mil dragões, qual o significado de "segredo da passagem"? - intrigou-se Rony.
Ninguém conseguiu responder. A reunião terminou com Tonks sendo encarregada de procurar os demais membros da Ordem e levar a pista de Moody. Assim que os mais velhos se retiraram do quarto, Harry puxou Rony e Hermione pelo braço.
- Eu tenho um convite para entrar na vila onde mora a prima de Malfoy. Podíamos aparecer por lá e procurar mais pistas.
- Não acho uma boa idéia. E se for mesmo uma armadilha? Não gostei do jeito dessa colunista social que te mostrou a carta. Quem mostraria uma carta dessas? Não é porque ela é amiga da sua namorada que devemos confiar nela - arriscou Hermione.
- Eu também não gostei dela. Se ela me mostrou é porque é frívola demais para perceber o que é realmente importante. E Cho não é minha namorada.
A última frase fez os dois amigos arregalarem os olhos.
- Se ela não é sua namorada, por que veio junto com você? - tascou Rony.
- Ela não veio comigo. Ela apareceu com a Tonks e foi uma surpresa para mim também. Cho pensa que vim aqui por causa da Edwiges. Inventei que ela estava muito doente.
- Surpresa é você dizer que Cho não é sua namorada. O que você está fazendo com ela, afinal? Por que foi até a casa dela? - continuou Rony.
- Fui porque vocês praticamente me obrigaram a ir. E porque...
Harry interrompeu seu discurso no meio. Sua intenção era explicar que fora até lá para se afastar de Gina.
- Ninguém te obrigou a ir, Harry. Eu achei que você estava interessado nela. E se você não está, representou muito bem em Hogsmeade. Vocês não foram discretos nos seus encontros - alfinetou Hermione.
- Vai me dizer que nunca ficou com alguém por ficar? - perguntou Harry, zangado por se sentir numa encruzilhada e porque todos jogavam na sua cara a história da discrição.
- Eu não! Eu fico com o Vitor porque gosto dele - respondeu a garota.
- Chega dessa conversa! - interrompeu Rony rispidamente.
- Concordo. E vamos voltar ao ponto: eu voto em ir à casa de Ingrid Fulton.
- Meu voto é não. Jogue fora esse convite - sustentou Hermione.
Fez-se um silêncio. Harry encarou o amigo, esperando pela resposta. Rony fez uma careta.
- A Mione está certa. É muito suspeito. Surge uma carta misteriosa e um convite que praticamente dá acesso ao covil do lobo? Não dá para confiar. Mas eu guardaria o convite. Sempre quis conhecer a vila dos ricos - tripudiou.
Harry não escondeu o aborrecimento.
- Preferia quando vocês discordavam.
*****
Apesar do frio, Harry estava se sentindo sufocado naquela noite. Durante todo o dia padecera de dores de estômago. Por um tempo conseguira disfarçar o incômodo, mas logo perceberam que algo ia mal com ele. A senhora Weasley fizera um xarope bruxo que resolvia qualquer parada, tivesse o doente comido ovos de monstro Gila ou apenas ingerido leite azedo. Para o jovem, no entanto, o remedinho não surtiu efeito. Ele não quis falar para ninguém, porém suspeitava que o problema estivesse na cabeça e não no estômago. As dores se manifestavam sempre que via Cho conversando com Gina a respeito dele. E começaram quando naquela manhã a primeira ficara amuada porque não havia vassoura para ela disputar uma partida de quadribol, que minutos antes havia desprezado. A caçula dos Weasley descera do alto e oferecera a sua, para espanto da visitante. "Oh, não há vassouras suficientes? Por que não me explicaram? Não quero te tirar o prazer de jogar, Gina", dissera na hora. "Você e a Mione são hóspedes. Têm a preferência", respondera a ruiva. Harry, mais uma vez envergonhado pelo comportamento de Cho, se aproximara da irmã de Rony para desistir da partida. "Fique. Eu disputo a próxima." Gina, entretanto, não lhe permitira a gentileza. "Não. Você também é hóspede", recusara num tom de voz doce, mas que não admitia contestação. Embora a rigor fosse verdade, ser considerado "hóspede" - e não alguém da família, como a senhora Weasley vivia repetindo - lhe dera a sensação de que havia uma pedra no estômago.
Sem melhorar do distúrbio, Harry se revirara na cama. Rony continuava dormindo. O rapaz, então, decidiu ir até a cozinha e talvez tomar um chá. Vestiu seu robe e desceu na escuridão mesmo. Estava tão tonto pela dor que somente notou uma luz bruxuleante na cozinha no minuto em que pôs os pés no ambiente. Ergueu os olhos no mesmo instante em que Gina virava-se para ver quem chegava. De frente um para o outro, os jovens permaneceram mudos por uma curta fração de segundo. Apenas algumas velas estavam acesas, produzindo sombras no rosto de ambos. Não fosse por isso, Harry teria reparado no violento rubor que tomara a garota. Ele balbuciou "desculpe" e já estava para dar meia volta quando a ouviu.
- Não precisa sair. Entre e se sente. Quer algo?
- Eu ainda não estou bem do estômago. Achei que um chá talvez me ajudasse.
- Deixa que eu preparo. Um tradicional chá de camomila pode resolver o problema.
Com um piparote na varinha, uma chaleira bastante velha se encheu de água e chamas arderam no grande fogão da senhora Weasley. Gina executava movimentos com precisão e delicadeza, demonstrando que estava absolutamente à vontade naquele ambiente.
- Você leva jeito mesmo para a cozinha. Faz tudo parecer muito fácil.
- Quem dera fosse assim em todas as situações... - riu baixinho.
- Quando pratica feitiços é exatamente desse jeito. Não fale para o seu irmão, mas você é mais habilidosa do que o Rony nesse aspecto.
- Se eu sou por que você não me chamou também para ir à casa da prima dos Malfoy e por que não me contou toda a história que essa Candie deixou escapar?
Harry não tinha idéia do que responder. O estômago ardeu como se houvesse um vulcão dentro dele. Fez uma careta de desconforto antes de abrir a boca.
- Foi a Mione que te falou? Eu devia ter proibido a linguaruda de fofocar por aí.
- Ela não fofocou por aí. Disse só para mim. Ela me considera uma boa amiga.
- Eu também te considero.
- Sério? Então, por que tem me evitado? Por que me colocou de lado, sabendo que eu faria qualquer coisa para ajudar? Por que me nega a chance de ser útil?
O vulcão estava preste a explodir nas entranhas de Harry. Involuntariamente, ele colocou uma das mãos sobre o estômago. Contraiu os lábios. "Não faz isso comigo", pensou, enquanto um sabor amargo invadia sua boca. Os gestos não passaram despercebidos pela garota. No ato, fez a chaleira despejar o líquido quente numa xícara e a empurrou até o rapaz, ainda atônito por ter sido encostado na parede. Gina se serviu da água também para fazer outro chá para ela e retomou a palavra.
- Quero te falar algo importante. Algo que espero que coloque nossa amizade nos eixos. Acho que ela ficou abalada desde aquela noite em que... bom...
Para Gina não estava sendo fácil discutir esse assunto. Mas ela acreditava que apenas daquela forma - abrindo o jogo, ou um pouco dele - conseguiria conviver com a dupla Harry e Cho. O dia inteiro ela se sentira a invasora. Em sua própria casa. E isso não podia continuar. Ainda mais porque Cho estava dormindo em seu quarto, falando do namorado o tempo todo e perguntando sobre coisas que desconhecia na vida do rapaz. Disfarçar a tristeza se tornava ainda mais complicado vendo Harry se esquivando dela. Portanto, era hora de agir e desfazer os nós que atrapalhavam seu relacionamento com o amigo.
- Você sabe a que me refiro. E, na verdade, eu até teria esquecido essa história se você não estivesse me evitando. Eu sei que aquilo não foi nada. Não sou boba assim - tentou rir. - E beba o chá. Juro que ele vai te fazer bem.
Harry levou a xícara aos lábios. "Nada? Não foi nada? Só se for para você", reclamou com seus botões. Ele olhou para a garota. "Gosto de você, Gina Weasley, mas eu não posso ficar com ninguém." A frase permaneceu em sua mente.
- Não precisa se preocupar. Não vou atrapalhar seu namoro com a Cho. E não pretendo espalhar por aí esse... deslize. Ninguém vai ficar sabendo. Então, relaxe e... vamos voltar a ser amigos como a gente era antes daquilo. Tá bem?
O chá começava a esfriar. Harry ainda não atinava o que dizer. Desejava ardentemente esclarecer que não se sentia namorando Cho. Ela era apenas uma desculpa. Uma maneira de fugir dela, Gina. "Queria que você me entendesse. O perigo está sempre perto de quem gosto. Não posso, não devo me aproximar mais de você", pensou, cravando os olhos verdes nos castanhos. A ruiva, no entanto, desviou os seus para sua própria xícara. Então ocorreu a Harry que o engano da garota poderia ser útil. Não teria mais de falar sobre o assunto e nem correria riscos de revelar o dilema instalado em seu coração.
- Peço desculpas se te fiz imaginar algo além das minhas possibilidades.
- Nossa, está parecendo um adulto falando - brincou Gina.
- Às vezes eu me sinto adulto demais.
- Eu sei. São muitas coisas com que se preocupar.
- É - e o sabor amargo se acentuou na boca.
- Mas agora espero ser uma preocupação a menos. Bom, já que está tudo esclarecido e que voltamos a ser amigos como éramos antes, eu vou indo...
Ela se levantou e ele desejou que a garota não se fosse. Queria falar que estava dividido entre conquistá-la e se afastar para protegê-la.
- Gina.
- Sim?
Hesitou. Não podia falar. Disfarçou.
- Por que você veio para cá?
- Estava sem sono. Melhorou do estômago?
Harry balançou a cabeça. Era verdade. A dor sumira. Mas em seu lugar ficara um vazio no peito. Estava claro para ele que não teria mais de fugir de Gina. O problema era o que fazer com a vontade de correr atrás dela.
A garota acionou a varinha mais uma vez para lavar a xícara e guardá-la no armário. Disse-lhe "boa noite" e pediu que apagasse as velas quando saísse. Mas assim que ela sumiu, a luz foi varrida com um gesto rápido do bruxo. Com o coração oprimido e os olhos úmidos e brilhantes, Harry apertou entre os dedos a xícara completamente fria. "Será que ela não gostou do meu beijo? Será que sou tão ruim assim? Por que ela não quer nada comigo? Deve ser porque eu realmente não sou nada mais do que um amigo", desanimou-se. Abaixou a cabeça. "O jeito é me concentrar em Hogwarts E esperar pela guerra para cumprir o meu destino." E com essa idéia o sangue voltou a pulsar com energia em seu corpo.
No próximo capítulo, Harry, Gina, Rony e Hermione estarão de volta a Hogwarts. Mais: Dumbledore e o novo professor de Defesa Contra a Arte das Trevas.
Até lá. Bjs, Karina
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