Na detenção



No quarto ano entrei no time de quadribol da Grifinória, como apanhadora. Adorava voar, e ainda mais vencer a Sonserina, só para ver a expressão de raiva no rosto de Riddle quando isso acontecia. Logo após o jogo entre nossas casas – em que Grifinória venceu, por isso eu pude comemorar bastante e esfregar a vitória na cara zangada de Tom – Slughorn marcou uma reunião do seu Clube do Slug.
Depois de vinte minutos eu pedi licença e fui embora, estava cansada do jogo e prestes a cair no sono ali mesmo. Senti mais do que ouvi, que estava sendo seguida. É claro, por Tom Riddle. Parei e suspirei, revirando os olhos com irritação. Então me virei para ele, que estava parado atrás de mim, parecendo divertido.
- Por que diabos está me seguindo?
- Não estou seguindo você, por que seguiria?
- Você está andando atrás de mim desde a sala de Slughorn, responda você!
- Estava querendo te encontrar sozinha – disse ele em uma voz baixa, que me deixou arrepiada. Ele se aproximou – Eu estou realmente cansado de você, Manchester! – falou em tom ameaçador, erguendo a varinha. Puxei a minha imediatamente.
No instante seguinte eu o havia jogado contra a parede, com um feixe vermelho, e ele se levantava atirando feitiços contra mim. A poeira subira, e não conseguíamos ver tão bem, mas estávamos ocupados demais lançando azarações e feitiços um no outro e nos desviando para notar o vulto alto e magro que se aproximava. Minha varinha voou da minha mão, ele não podia ter tirado a minha varinha, não podia, eu não ia aceitar isso...
- Acho que agora já chega – disse a voz calma do professor Dumbledore. Ele parecia quase divertido. Vi que segurava minha varinha segura na mão esquerda, juntamente com a de Riddle, a dele na outra mão – O que aconteceu aqui?
Eu comecei a gritar: “Foi culpa dele, professor, ele me atacou!”, e ele gritava: Ela está mentindo! Ela está mentindo! Manchester me atacou primeiro!”. Parecíamos duas crianças de cinco anos.
- Silêncio. Muito bem, se nenhum vai assumir a culpa, terei que lhes dar uma detenção. Para os dois.
- Mas professor... - Riddle tentou se explicar, mas Dumbledore o cortou, e quando ele fez isso só senti meus lábios se contorcerem em um sorriso, quem era superior agora? Era isso que eu tive vontade dizer, mas achei que aquela não era a hora apropriada.
- Nem mas, nem meio mas, Sr.Riddle – ele olhou para o corredor – se eu não tivesse escutado o barulho, era bem capaz de vocês dois destruírem Hogwarts! – ele exclamou com surpresa. Eu resolvi olhar. Ele tinha razão: havia tijolos faltando nas paredes, algumas estátuas daquele corredor estavam em pedaços, e preferi nem olhar o resto. Voltei a encarar o professor – Voltem para os seus salões comunais e amanhã depois do jantar quero os dois me esperando no Saguão de Entrada.
Nós afirmamos com a cabeça, Tom parecendo muito contrariado. Ele nos devolveu nossas varinhas e saímos.
- Viu só o que você fez? – sibilou Riddle para mim, mas quando abri a boca para retrucar ele já tinha ido embora.

Assim, depois do jantar, eu e Riddle nos encontramos com o professor Dumbledore no saguão e seguimos com ele até as masmorras. Descemos três lances de escada antes de pararmos em um corredor escuro, com uma única porta no fundo. Acho que nunca tinha estado tão embaixo da escola.
Ele nos levou até a porta negra e abriu-a. Era um armário muito grande, ou uma sala muito pequena. Deviam caber no máximo umas cinco pessoas ali.
- Entrem – disse ele – Vocês têm duas horas para arrumar este armário. A não ser, é claro, que passadas às duas horas vocês ainda não tenham terminado, e assim sendo terão de concluir o trabalho. Dêem-me as varinhas – ele estendeu a mão e nós lhe entregamos as varinhas – Não tentem fugir, vocês dois... mas por precaução – ele pareceu pensativo – É, por precaução eu vou trancá-los.
- Professor – chamou Riddle – e se terminarmos antes das duas horas?
Eu olhei para ele como se fosse louco. Sem magia, limpar um armário daquele tamanho, e naquele estado de caos, iria levar pelo menos umas quatro ou cinco horas. Mesmo seu eu tivesse mais dez Clear para me ajudar. Havia duas escadas, dois panos, e um balde para a limpeza, mas ainda assim havia vidros de formatos estranhos, cobertos de poeira, com coisas estranhas e nojentas dentro, nas prateleiras que iam até o teto. Isso sem falar nos pergaminhos espalhados aqui e ali nas prateleiras e caídos no chão.
- Ainda assim – disse Dumbledore – vocês ficarão aqui até que o tempo acabe, e eu venha destrancar vocês.
Ele se retirou.
- Por Merlim – exclamei olhando novamente ao redor – Isso está uma bagunça!
- Não será por isso que nos mandaram arrumá-lo? – perguntou Riddle sarcástico. Preferi não responder – Escuta, você arruma aqui embaixo e eu vou limpar as prateleiras de cima.
- Quem foi que te elegeu o chefe?
- Tem alguma idéia melhor?
Engoli em seco. Aquele olhar dele sempre me fazia... ai, meu Deus. Odiava ficar sem fala na frente dele.
- Certo – disse de mau humor – Certo, mas é bom organizarmos tudo por ordem alfabética. Você começa pelo A e eu pelo Z, certo?
Ele não respondeu, e subiu os primeiros degraus da escada quando eu, irritada, dei um empurrão proposital nela, fazendo-o cair.
- Eu falei com você, sabia? Idiota – disse e, sorrindo vitoriosa, voltei-me para o trabalho, a tempo de ouvi-lo soltar um “Ok” rabugento.
Incrivelmente, estávamos acabando tudo muito rápido. O único problema era que eu estava achando muito difícil parar de pensar nele. De olhar para ele. De imaginar eu e ele... Meu Deus, estava ficando louca, só podia ser! Sacudi a cabeça para afastar Riddle dos meus pensamentos, e continuei o trabalho. Terminamos antes de Dumbledore vir nos chamar. Ele se encostou com cuidado em uma das prateleiras, e eu me encostei à prateleira da frente. Ele fitava o chão pensativo, e eu o fitava.
-Quanto tempo falta para completar duas horas?- perguntou ele sem se mexer
- Cinco minutos – mais silêncio. Não agüentei – Minha companhia é tão insuportável assim?
Ele levantou o rosto e perguntou, sério:
- Aprendeu a ler pensamentos?
- Não, mas achei que devia se sentir como eu.
- Você não seria tão ruim se não andasse na companhia daqueles sangues-ruins nojentos.
- Você não devia falar assim deles, Riddle. Você é metade trouxa – disse vingativa.
Ele se sobressaltou:
-Como você sabe?
-Não interessa!
-Se não interessasse eu não perguntaria! – novamente não soube o que retrucar, teria que mudar de assunto, sem deixá-lo perceber. Mas ele era esperto, com certeza iria perceber...
-Quando o professor Dumbledore vai chegar?- perguntei olhando para a porta.
-ANDA MANCHESTER!- ele gritou se desencostando da estante, e eu voltei a olhar para ele.
-Desde quando você manda em mim, Riddle?
-Desde agora! Diga como você descobriu que eu sou...
-Não vou dizer e acabou, não devo explicações a você e nem a ninguém – eu também me desencostei da estante – e eu jamais obedeceria alguém tão ridículo, estúpido e nojento como você! – exclamei sem medir minhas palavras.
-Você quer saber o que é nojento? – perguntou ele furioso, aproximando-se de mim – É ter que passar duas horas preso aqui com uma Grifinória traidora do próprio sangue, que ainda por cima...!
Ele parou de falar. Eu estava novamente encostada na prateleira, e ele estava tão perto de mim, eu podia sentir o calor emanando do corpo dele, o hálito dele, a respiração na minha pele... senti meu rosto corar, meu coração batendo acelerado. Fechei os olhos. Só deus sabe o quanto eu me segurei para não ir para frente, ou para não puxa-lo, já que eu estava com uma mão no ombro dele e a outra no pescoço. Não que eu estivesse com medo de ser pega, sempre gostei de correr riscos, mais beija-lo? Ele poderia entender errado, poderia entender que eu gosto dele, ou até eu poderia entender errado e começar a achar que gosto dele. Mas eu não gosto,não posso gostar...ele estava com uma mão nas minhas costas e a outra na minha nuca,estava me puxando devagar,em câmera lenta,e eu não conseguia afasta-lo,e nem queria afasta-lo, nossos lábios estavam quase se encostando... Ouvimos um “clique”, e ele se afastou tão rápido que eu fiquei boba por alguns segundos. A porta se abrira e lá estava Dumbledore.
- Bem vejo que terminaram aqui – disse ele alegremente – Podem ir.
Mas Tom já estava saindo da sala antes mesmo do professor terminar a frase.
- Tom? – chamou ele calmamente.
- O que foi? – perguntou ríspido.
- Sua varinha – disse estendendo a mão para entregar-lhe a varinha. Riddle pegou-a e se afastou ligeiro.
- Merlim, que bicho mordeu ele? – perguntei saindo do armário.
- Ele não gosta do nome Tom.
- Não? Por que não? – perguntei tentando não parecer interessada.
- É um nome comum. Ele não gosta de coisas que o liguem a outras pessoas, ele quer ser... diferente.
Ele me desejou boa noite e foi embora. E eu, eu fiz outra anotação mental, para dali em diante: sempre chamá-lo de Tom.

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