Face To Face - Parte II (28/01



[Dezembro de 2007]


Estava um dia glorioso, apesar do frio e da fina neve que caíra na noite anterior. O ar estava limpo e as máquinas trouxas haviam passado pela manhã cedo para limpar a estrada principal que cortava a pequena comunidade de ricos chalés campestres nos arredores de Londres.


 Um destes chalés pertencia a alguém famoso no mundo bruxo. Mas os vizinhos, alheios à existência de magia sobre a face da Terra, sequer desconfiavam da verdadeira natureza daquele homem estranho que quase nunca aparecia em sua propriedade, e que, apesar de nunca contratar os serviços das pessoas do povoado próximo, mantinha imaculadamente limpos e conservados os jardins. A casa sempre era arejada de quando em quando, apesar de jamais se ter visto quem lhe abrisse as janelas. E, em épocas como esta, os caminhos e calçadas apareciam miraculosamente livres de neve.


Mas, aquilo era a Inglaterra e um cidadão britânico jamais comete a indiscrição de parecer curioso. Ainda que a curiosidade seja, como neste caso, perfeitamente justificada. Claro que, de tempos em tempos, nascem “anomalias” dentre os súditos de sua Majestade - senão, como explicar a imprensa marrom inglesa? Petúnia Dursley e seu enorme pescoço para vigiar os vizinhos? Mas esta é outra história e felizmente a Sra. Dursley não é uma das vizinhas do nosso bruxo.


A gente que comprava aqueles chalés em Asheshire não queria proximidade com outras pessoas. O fato de alguém querer morar em um imóvel nos arredores de Londres e, ainda assim, afastado e com privacidade suficientes, devia dizer por si mesmo que não era uma boa idéia fazer perguntas ou aparecer para “dar as boas vindas” a novos vizinhos, ou se apresentar aos antigos.


Aquele não era o tipo de lugar que geralmente Myron Wagtail escolheria para si. E ele tinha muitos lugares, outras propriedades suas, para onde ir quando as turnês terminavam. Mas, quando queria compor, era a solidão e o sossego de Asheshire que procurava. Ou então, quando era necessário se esconder da imprensa em meio a um dos vários escândalos dos quais não raramente era protagonista. O último havia sido o seu divórcio e a quantidade exorbitante de galeões que sua ex-esposa tinha conseguido levar dele.


- E isto que eu a peguei na cama com outro. Imagine se não tivesse... – Disse o vocalista da banda mais famosa entre os bruxos, “As Esquisitonas”, com a voz de quem não sentia o mínimo a perda da esposa e até achava engraçada a situação.


- Myron! – Sua irmã mais nova e empresária do grupo o repreendeu, os olhos castanhos amendoados arregalados de alarme. Em seguida ela lançou um olhar para as três crianças que o escutavam com o interesse ávido de fãs.


O cantor não entendia muito de crianças. Aliás, não entendia nada. Hector, Mel e Felipe perceberam isto no primeiro momento. No entanto, apesar dos “foras”, ele os tratava de forma gentil e bem-humorada. Não que alguma vez Myron tenha sido descortês com algum fã, mas pareceu a Mel que ele estava nervoso porque era importante para Myra que aquelas pessoas o aprovassem.


“Myra está sempre cuidando de mim”, em certo momento o cantor deixou escapar o comentário para Mel. “Vivo me dizendo que deveria começar a cuidar dela também”.


- Crianças, vocês não sabem do melhor. – A metamorfomaga disse mudando rapidamente de assunto. – Myron tem um fantasma no porão! Um antigo carrasco do Ministério da Magia que veio junto com o baú onde ele guardava o machado. Não querem ir lá conhecê-lo?


Os meninos – ou seja, Hector e Felipe – animaram-se imediatamente, excitados com a possibilidade. Mel afundou no sofá, nada impressionada com algo tão bizarro quanto o fantasma de um carrasco. No entanto, ficou calada porque intuíra que, na realidade, a namorada do tio queria mantê-los longe da boca “classificação- para-maiores-de-18-anos” de Myron.


Infelizmente, a reação de Fernando à palavra “fantasma” não foi das melhores.


- Eu não vou deixar.


- Não seja bobo, tio. – Mel revirou os olhos. – Nós nos encontramos com fantasmas o tempo todo em Hogwarts.


- Eles são controlados pelo Ministério, Fernando. – Myra mordeu o lábio inferior enquanto torcia as mãos nervosamente. – Não podem fazer mal a ninguém.


Aqueles dois estavam estranhos, pensou Mel. Tudo bem, tio Nando descobrira que a namorada era uma bruxa. Isto é um choque e tanto, sem dúvida. Mas parecia que tinha mais do que isto, algo que ela não podia identificar. “Adultos são estranhos”, concluiu.


Hector havia praticamente se convidado quando soube que iriam para uma das casas de Myron Wagtail. Tonks repreendera o filho pela falta de educação, mas, como ela mesma era fã de As Esquisitonas, não pôde culpar a impulsividade do filho. “É por um ou dois dias mesmo...”, ela murmurou, certamente pensando com os seus botões que Hector não poderia se meter em confusão em tão pouco tempo... Ou poderia?


Bem, se a idéia era fazer seu tio se sentir melhor sobre a existência de magia, ela não tinha certeza se estava dando certo. Felipe não parava de contar sobre o que acontecia em suas aulas. Mel ficou particularmente alarmada com uma ocasião em que ele provocou tanto o Snape, que o professor de Poções tirou pelo menos uns mil pontos da Grifinória e o mandou para detenção. E Hector, tão logo soube que seu tio não conhecia nada sobre Harry Potter – o grande herói do menino – não parou de narrar as aventuras do Eleito, o que não poderia ser bom aos olhos de alguém que nunca sequer imaginou o que é se encontrar cara-a-cara com uma aranha gigante.


“Bem, vamos ao fantasma do porão!”, pensou Mel. No entanto, no meio do caminho encontrou uma porta que levava para o jardim dos fundos e não resistiu. Pensou em avisar os outros que tinha mudado de idéia (era a última da fila puxada por Myra), mas resolveu que não era necessário, já que não iria longe, sequer se afastaria da casa e não demoraria muito.


Havia caminhos interligando as propriedades, mas, pelo que a garota havia percebido, bem poucas pessoas os utilizavam, especialmente no inverno. Um vento gelado soprava, mas a neve que caíra na noite anterior não voltou.


Manteve-se no estreito caminho de tijolos, que por sorte (ou magia) não estava congelado, apreciando a paisagem. Aquilo era bem melhor do que um fantasma, pensou. Foi quando avistou duas árvores cujos troncos se entrelaçavam. O inverno havia feito suas folhas caírem, mas ainda assim eram uma visão bonita. Não sabia o que havia com as árvores que “se abraçavam”, mas achava-as fascinantes. Deu dois passos para trás, apreciando toda a extensão daquele quadro.


Foi quando se chocou contra algo. Ou melhor, contra alguém.


- Ah, desculpe! – Envergonhada, Mel apressou-se a ajudar a mulher a juntar os livros e papéis que havia derrubado. – Eu sinto muito...


- Não toque nisto, pirralha! – Sibilou a morena com sotaque italiano. – Deve sentir muito mesmo...


Além do choque pela reação rude, Mel pode perceber um desenho – algo que ela já vira antes – e o ver nas mãos daquela mulher a emudeceu.


A outra se afastou com a pilha de papéis desordenados nos braços, ainda resmungando e esbravejando. Seguiu pelo caminho até um outro chalé vizinho ao de Myron. Ela encontrou uma outra mulher à porta do chalé, esta loira e jovem, e ambas se encararam brevemente antes de acenarem uma para a outra e entrarem.


- Mel! – Era a voz de Hector atrás de si. Se ela estivesse prestando atenção, veria que o menino soava aliviado e contrariado ao mesmo tempo. – Onde você estava?


- A mulher... Ravenclaw... No retrato... O medalhão... – Gaguejou sem saber por onde começar.


- O quê? – Ele piscou, confuso.


Mesmo que não fizesse sentido, ela sentiu impaciência por Hector não ter compreendido o que queria dizer.


- Não, Hector! – Pôs as mãos na cintura e franziu os lábios; - Eu vi uma mulher que trazia cópias do retrato de Ravenclaw e do símbolo que havia tanto nele como no medalhão dela!


- Ah, bom... O QUÊ? Onde? – Ao contrário do que ela esperava, Hector parecia empolgado com a notícia. Ora, mas no que ela estava pensando? É claro que ela devia ter esperado que Hector ficasse encantado!


- Ela entrou naquele chalé ali... Não faço idéia porque uma trouxa teria... Espere aí, será que ela é bruxa? Bem, mesmo assim...


- Vamos lá para descobrirmos! – Hector se adiantou.


- Hector! Não podemos bater na porta e simplesmente perguntarmos...


- E quem disse que vamos perguntar? – Ele sorriu, matreiro.


- Hector...


- Nós só vamos rondar a casa para vermos se descobrimos mais, só isto.


- “Só” isto? Você ficou doido? Não... Corrigindo, você é claro que é. O que eu quis dizer é se você perdeu a noção do perigo. Se tivesse visto o jeito daquela mulher... Ela é perigosa, Hector, eu senti.


- Sentiu? Virou sensitiva agora? – O sarcasmo flutuava na voz dele. – Pensei que esta era a área da Dana...


- Dana! É isto! Vamos esperar ela e os meninos chegarem...


Estava se referindo ao fato dos outros três “Novos Marotos” serem esperados naquela tarde. Hector não apenas se convidou. Ele fez o “serviço completo”. Perguntou logo se todos os amigos poderiam também vir. Só não tinham chegado ainda porque o pai de Dana não tinha condições financeiras de mandar a filha para uma pequena viagem até Asheshire (é, mágica não resolve todos os problemas) e Andy se ofereceu para buscá-la. E o irmão de Josh, agora jogador de quadribol profissional, teria um jogo importante naquele dia ao qual o lufa-lufa não queria faltar e ele combinou com Andy que se juntaria a eles, à tarde.


- Nem pensar! – Hector se insurgiu contra a idéia de esperar. - Até lá pode ser tarde demais...


- Já é. – Mel o interrompeu, fazendo um gesto com a cabeça em direção ao chalé.


As duas mulheres saíram da propriedade, acompanhadas de mais dois homens. Mesmo à distância puderam perceber a elegância do grupo, que os distinguiria mesmo em meio a uma multidão.


- Droga! – Hector praguejou.


- Engraçado... – Mel murmurou. – Parece que conheço aquela loira de algum lugar. – Agora que conseguiu vê-la de perfil, a garota tinha esta estranha sensação.


- Mesmo? De onde? – Os olhos de Hector brilharam de esperança.


- Não sei...


- Ah, pois trate de se lembrar! Será que o seu irmão...


- Não ouse colocar meu irmão nisto, Hector Lupin!


- Por que não? O tampinha é irado, tenho certeza que daria um ótimo maroto...


- Não! – Gritou Mel, assustada. Hector teve que tampar a boca dela com a mão, pois os “vizinhos” ainda estavam perto o suficiente para ouvir. – Desculpe. – Ela disse depois que ele a soltou. – Por favor, não vamos colocar o Lipe nisto. Ele é impulsivo, não pensa antes de fazer as coisas e...


“Na realidade, é muito parecido com você”, Mel pensou, um tanto contrariada.


- E?


- E é meu irmão. – Ela achou melhor não provocar o grifinório com as costumeiras recriminações que ele já sabia de cor. – Se você tivesse um irmão não iria querer vê-lo em confusão também.


- Sim... Acho que entendo.


Mel sorriu, aliviada.


- Mas, quando Josh chegar, nós vamos entrar naquele chalé. – Completou, deixando-a em pânico. – Sei que ele ainda tem um pouco de Pó Negro Peruano que o tio Fred nos deu no último Natal.


Conhecendo Hector, ela nem se atreveu a perguntar onde ele tinha gasto o dele.


***


[Dezembro de 2007, poucos dias após o Natal]:


O Ministério em Londres fizera mais uma daquelas confraternizações que, se não fosse por algumas coisas que tinham acontecido daquela vez, seria a mesma festa aborrecida de sempre. Mas, com Sirius Black e Serenna praticamente se acertando (ela até deu a ele de presente de Natal, uma coleira que dizia: “Cuidado, ele já tem dona”!) e Snape torcendo o nariz adunco para toda a situação... As coisas ficaram bem interessantes.


Isto sem falar que a banda contratada para tocar no evento, “Dois Amassos e Um Gato”, que era composta por dois bruxos e um trouxa (por isto o nome), tinha um membro que era amigo de longa data de Serenna – ainda no tempo que ela era “Sarah Laurent”. E, agora, quem não havia gostado muito da idéia fora Sirius, porque o tal de Murilo era mais do que um amigo: ele tinha sido o ex-namorado de Serenna!


Luíza acreditava que o Sr. Black não tinha motivos para se sentir ameaçado por Murilo; e, ao final, parecia que o ex-grifinório também havia se convencido disto. Murilo agora estava casado com uma bruxa inglesa, e ele e Serenna se tratavam com intimidade, mas com a camaradagem de irmãos e não de amantes.


Ah, e aquela desagradável da Felícia Althorpe estava lá! Ana tinha contado sobre ela. Felizmente, Serenna não tinha sangue de barata e a colocou no seu lugar.


A única coisa que Luíza não entendia era como havia participado daquele final apoteótico no fim da noite, junto com Ana e Serenna. Apesar das duas mulheres terem dito que “a estavam levando para o mau caminho”, a verdade é que a razão de ter se levantado quando ambas a convidaram foi a expressão desafiadora de Zacharias. Lia-se perfeitamente no rosto de seu marido (era estranho pensar nele assim!) que ele não acreditava que seria capaz.


Mas foi. E, como! Diante de um salão já praticamente vazio, com poucas pessoas além de seus conhecidos, elas cantaram “Dancing Days”, das Frenéticas. Com direito a coreografia e tudo. (1)


Luíza decidiu que nunca mais faria isto, pois Zacharias a olhava agora com estranheza espantada, como se não reconhecesse a pessoa que estava caminhando ao seu lado pelas ruas de Londres.


Os passos de ambos faziam barulho nas ruas desertas, especialmente os saltos de Luíza (Ana insistira tanto que os usasse!). Fora isto, o silêncio era total. Som algum vinha deles ou daquela região da cidade, que durante o dia abrigava prédios e mais prédios de escritórios comerciais.


O Ministério da Magia havia achado melhor todos usarem a entrada de visitantes, por motivos de segurança. Nem aparatação, nem lareiras ou chave de portais. Por isto, o casal estava se distanciando do raio de abrangência do Feitiço Antiaparatação lançado pelo Ministério, para que Zacharias pudesse desaparatar, levando-os para casa. “Casa”... Outra coisa que Luíza achava difícil de acostumar-se: pensar no apartamento dele no Beco Diagonal como sua casa.


O jeito como ele a encarava - intenso e sem desviar o olhar, sorrindo de vez em quando como se estivesse se congratulando por ter descoberto um segredo – a intimidava demais.


- Escute, eu não... – Começou a dizer a ele, mas uma sombra alta se deslocou do canto escuro e esquecido de um prédio e atravessou a frente de ambos. Via-se claramente os contornos de um revólver por sobre o bolso esquerdo do sobretudo dele.


- Senhor e senhora Smith? – O estranho questionou, mas pelo tom de sua voz ele já sabia a resposta. – Creio que vocês têm algo que eu quero...


Zacharias havia ficado tenso desde que aquela montanha humana tinha se interposto no caminho deles. A face do homem estava encoberta pelas sombras noturnas e também pelo chapéu de abas que usava. Seu inglês era muito bom e livre de sotaques, o que indicava que não estavam lidando com um bandido comum.


Instintivamente, Zacharias pôs a mão por cima do casaco, procurando pela varinha, enquanto se colocava na frente de Luíza. O estranho percebeu o movimento:


- Este pedaço de madeira não vai ajudá-lo, sr. Smith. – Ele disse rindo, demonstrando que sabia da varinha.


- Isto é o que vamos ver! – Zacharias sacou a varinha.


Ele a movimentou para lançar um poderoso feitiço de desarmamento. Mas nada aconteceu. Tentou mais uma vez, diante dos olhos zombeteiros de seu interpelante, sem resultado algum. Luíza deixou sair um grito abafado de medo.


Sem alternativa, eles se viraram para correr pelo caminho pelo qual tinham vindo, mas outro homem saiu da escuridão de um beco e já se posicionava de modo a impedir-lhes a fuga.


- Sem magia, sem saída, sr. Smith. – O primeiro homem falou, agora com uma ponta de impaciência na voz. – Vamos, será melhor que cooperem... Pense em sua esposa. – Acrescentou com a última frase com a ameaça velada e cruel.


Luíza sentia que sua visão estava escurecendo. Sem que Zacharias pudesse usar meios mágicos para escaparem, o que fariam? Aqueles dois armários em forma de gente não os deixariam partir.


Mas seu marido a surpreendeu. Fez a última coisa que diria que ele faria no mundo: virou-se bruscamente e deu um murro no nariz do homem que lhes bloqueava a saída, tão bem dado que ele caiu zonzo pela força do golpe.


Então, antes que Luíza pudesse pensar qualquer coisa, viu o seu braço sendo puxado com ímpeto por Zacharias e ambos correram como se não houvesse amanhã pelas ruas escuras.


Bem, talvez não houvesse mesmo  - não para eles - porque os bandidos começaram a atirar.


Embora não tenha escutado o estampido de nenhum disparo, reconheceu imediatamente que o que abrira um pequeno buraco na parede do prédio, que estava a menos de um metro da cabeça deles, tinha sido uma bala de revólver. Certamente, vinda do primeiro homem que os abordara. Luíza pensou em dizer “eles estão atirando!” - mas, frente ao óbvio, isto seria inútil. Então, outro pensamento gelou sua alma: silenciadores. Seus perseguidores vieram preparados para matar sem fazer alarde.


Mas os disparos pararam tão subitamente quanto começaram. Atreveu-se a olhar para trás em tempo de ver o outro homem ainda afastando com fúria a mão daquele que impunha o revólver. O gesto era inconfundível: não queria que atirasse. Então parou de olhar, voltando toda a sua atenção em fugir.


Acharam que tinham desistido. No entanto, segundos depois um furgão preto atravessou a frente deles. A porta foi aberta na clara intenção de permitir que um dos seus ocupantes os puxasse para dentro, mas os reflexos de Zacharias foram mais rápidos, girando a ambos para a direção oposta.


Quando achou que estavam a uma distância segura, ele parou em uma esquina. O motorista do furgão já havia manobrado o veículo e o posto em movimento, mas tinham alguns segundos antes deles alcançá-los.


- Saímos do perímetro Antiaparatação. – Zacharias disse ofegando.


Luíza assentiu, entendendo o que ele queria dizer. Mas Zacharias, inexplicavelmente, não conseguiu desaparatar, como também não havia conseguido lançar o feitiço de desarmamento momentos antes. Ambos trocaram um olhar desesperado e estupefato: seria possível que o motivo fosse aqueles estranhos que os estavam perseguindo?


Não tiveram muito tempo para trocar palavras, muito menos conjecturas, pois como se não bastasse o furgão se aproximando, a toda velocidade, os dois homens que os abordaram dobraram correndo a esquina mais próxima a eles.


Com aqueles saltos altos, Luíza não podia correr muito rápido, especialmente com a neve fina que caíra durante a noite. Mesmo sabendo que congelaria seus pés, tirou os sapatos antes de voltarem a correr, na tentativa pouco provável de escaparem do furgão ou dos dois perseguidores que estavam a pé.


O furgão fez uma manobra brusca enquanto diminuía a velocidade, a fim de possibilitar aos dois outros homens embarcarem pela porta lateral. Segundos depois, uma explosão foi ouvida. Os dois caíram no chão pelo susto e pelo impacto do ar comprimido produzido pela explosão de uma Cafeteria, agora em chamas pelo o que quer que fosse que a atingiu. Felizmente, o estabelecimento estava fechado há horas e não devia ter ninguém dentro dele. Levantaram-se de forma desajeitada, cambaleando e ajudando um ao outro na pressa de fugir.


Corriam pelas ruas desertas de Londres, escorregando nas calçadas congeladas pela neve. Via-se em seus rostos a interrogação “Por que estão nos perseguindo?”, mas não havia tempo nem maneira de obterem resposta, pois seus perseguidores se aproximavam cada vez mais, os sons das explosões os precedendo.


Mais à frente, um pub. O único lugar ainda aberto e funcionando naquele centro de negócios. As pessoas dentro dele já começavam a sair para a rua, atraídas pelos estrondos. Ao que tudo indicava, seus perseguidores haviam desistido da discrição.


Os fregueses olhavam para eles estupefatos, mas antes de chegarem perto da aglomeração na entrada, Zacharias a puxou para perto de uma caminhonete branca desbotada e velha. A porta estava escancarada e seu motorista, agachado há cinco metros do veículo, ao lado de uma caixa de correio. Ele devia estar indo embora quando se assustou com as explosões e saiu do veículo.


- Vamos roubar a caminhonete? – Confusa, Luíza viu-se sendo jogada no banco do motorista do veículo.


- O que acha? – Zacharias bateu a porta e deu a volta no carro, sentando-se no banco do passageiro. – E você vai dirigir.


- Você não sabe dirigir?


- Você sabe voar em uma vassoura?


Luíza não discutiu, especialmente porque o dono do veículo já havia percebido suas intenções e se dirigia furioso até eles. Ela pôs a caminhonete em movimento, arrancando a toda velocidade, fazendo as garrafas de cerveja vazias que se acumulavam no chão do veículo tilintar quando rolaram uma sobre as outras. Segundos depois o furgão surgiu, seguido de outra explosão, desta vez dentro do pub.


Horrorizada, ela viu pelo retrovisor que as pessoas que estavam próximas à porta do bar foram arremessadas para longe, algumas em chamas, como se fossem bonecos de papel soprados por um ventilador. E, dentro do pub, devia haver mais gente. Mortas, com certeza, sem saber o que as atingiu, sem ter chance de se defender.


Luíza pisou mais forte no acelerador, cega pelas lágrimas. O furgão continuou a persegui-los, implacável e insensível à chacina que havia provocado – seja lá como, uma vez que não conseguiu ver qual arma usavam para produzir tal destruição.


O espelho retrovisor direito foi estilhaçado por uma bala silenciosa, o que provocou um grito assustado em Luíza. Zacharias envolveu seus ombros como se pudesse assim protegê-las das balas, enquanto olhava para trás com a expressão frenética de quem não está gostando nada de se sentir impotente.


Um calor profundo começou a se fazer sentir no bolso direito de Luíza. No início ela nem se deu conta, apavorada e distraída demais para perceber nada além no frio em seu estômago e o grito de horror que parecia preso em sua garganta. Mas então, o calor se fez mais e mais concentrado, até o ponto dela não poder mais ignorá-lo.


- Zacharias, o medalhão no bolso direito do meu casaco! Tire-o!


Ele piscou, confuso, e logo depois pareceu entender o que ela estava falando e se apressou a procurar o objeto e retirá-lo do bolso dela. Estava quente, muito quente, e brilhava. Chegou a queimar a mão de Zacharias, que o soltou sobre o painel.


O furgão invadiu o acostamento – agora estavam chegando a uma rodovia mais movimentada – e, emparelhando com a caminhonete, começou a arremeter com a lateral esquerda contra a direita do veículo deles, objetivando fazê-los perder o controle da direção.


- Esta coisa não pode ir mais rápido? – Gritou Zacharias quando um dos bandidos apontou o revolver e começou a atirar.


- Não e duvido que agüente ir mais rápido! – Ela negou, mesmo que ainda assim apertasse mais o acelerador, inutilmente. - Com certeza desmancharia!


A porta lateral do furgão abriu e um dos bandidos se equilibrou, em pé, de forma que ficasse de frente para eles. Por alguns segundos, Luíza acreditou que ele ia atirar. Mas gritou de susto quando o homem pulou para a caminhonete, agarrando-se à lateral do carro.


Ele e Zacharias iniciaram uma luta. O homem tentava a todo custo entrar pela janela do lado de Zacharias, ou então empurrá-lo para que pudesse abrir a porta. Quando o bandido viu o medalhão em cima do painel, seus olhos se arregalaram. Imediatamente seu objetivo mudou: agora ele tentava alcançar e arrebatar o objeto com a ganância de um homem que vê um pote cheio de ouro.


Rápido, Zacharias alcançou e jogou o medalhão de Ravenclaw para a parte traseira da caminhonete, longe das mãos do atacante. Com os olhos brilhando de raiva, o homem não teve dúvidas e puxou um revólver de trás da calça. Ele ia atirar em Zacharias.


Foram átimos de segundo antes de Luíza tomar a decisão. Deu uma guinada brusca para a direita, prensando o bandido entre a caminhonete e o outro veículo. Pôde ouvir ossos se quebrando, juntas se estraçalhando e viu sangue espirrar manchando tanto a caminhonete quanto o furgão. O veículo dos perseguidores foi arremessado contra a parede de terra do lado do acostamento. Rodopiou e saiu da estrada, enquanto o corpo do homem que pulara na caminhonete rolava até parar no meio da pista.


Mas o furgão retornou à estrada e reiniciou a perseguição, indiferente à perda do companheiro. Ambos os carros estavam avariados com as colisões. Os outros veículos paravam no acostamento. Se tivessem oportunidade para tanto; os outros, desesperados, tentavam manter distância deles.


Foi então que Luíza viu, pelo retrovisor, um cilindro de metal sendo sustentado por um dos perseguidores e apontado para eles. No começo, achou que era uma bazuca ou algo assim, e quase gritou de novo. Mas percebeu que o centro frontal do cilindro tinha luzes circulares a intervalos constantes das bordas, lembrando o disco de um telefone antigo.


Só poderia...


- Que cheiro é este? – Zacharias perguntou, voltando-se para a parte traseira onde tinha jogado o medalhão.


- Gasolina! – Ela exclamou, temendo que o tanque estivesse vazando. Só quando Zacharias ergueu um recipiente azul escuro de plástico é que ela notou que devia ser o combustível reserva que algumas pessoas levam quando viajam para longe, com medo de não encontrar um posto por perto.


Ela devia estar ficando maluca, mas só havia um jeito de escapar, e era com magia. Mas antes, se o que estava pensando fosse correto, teria que acabar com o que estava impedindo Zacharias de conjurar um feitiço que os tirasse dali.


- Zacharias, rasgue a sua camisa e faça tiras com ela. – Começou a falar muito rápido, quase sem respirar, nem acreditando que realmente estava pensando em fazer aquilo. - Depois as torça e encaixe uma em cada garrafa de cerveja, deixando um pedaço para fora. Então, encha-as com gasolina...


- Mas o quê...


- Faz o que eu digo! – Ela gritou.


Seja porque não tinha alternativa melhor, seja por causa do susto de ver alguém tão calma e pacata como Luiza gritar daquele jeito, Zacharias começou a executar as ordens dela. Tirou o casaco e depois a camisa, reduzindo-a a tiras longas. Depois de colocá-las em duas garrafas e enchê-las com gasolina, ele se voltou para Luíza:


- Posso saber o que estamos fazendo?


- Bombas caseiras. – A voz dela soou grave e seca.


Zacharias arregalou os olhos e mirou as garrafas como se elas fossem explodir em suas mãos. Luíza teria rido se a situação fosse outra.


- Elas só vão ser perigosas quando pusermos fogo no tecido. – Apontou para o isqueiro que estava abaixo do cinzeiro, no painel do carro. – Ainda bem que o dono da caminhonete fuma.


- Fumava. – Zacharias resmungou com humor negro.


Luíza fechou os olhos, lembrando-se das pessoas em chamas do lado de fora do pub. Nunca mais iria esquecer daquilo – isto na hipótese de saírem vivos dali.


- Está vendo aquele objeto cilíndrico que eles acabaram de encaixar em cima do furgão? – Zacharias fez um gesto de assentimento com a cabeça. Era o quê os tinha deixado ocupados nos últimos minutos. – Acho que é o que está te impedindo de fazer magia.


Ele riu, incrédula e nervosamente, demonstrando que a idéia lhe parecia absurda.


- Aparelhos trouxas não fazem varinhas pararem de funcionar. É a magia que faz as engenhocas dos trouxas pararem. – Declarou convencido.


- Tem uma explicação melhor?


Zacharias engoliu em seco. Sério, admitiu que não, não tinha.


- Com cuidado para não deixar a gasolina cair em você, acenda a ponta do tecido, o pavio, e tente acertar aquele cilindro.


- Você ficou maluca? – Zacharias exclamou.


- Possivelmente. – Luíza tinha firme convicção que sim, tinha ficado maluca. Aquelas ideias eram coisa de suas amigas Ana e Carolina, não dela.


Zacharias respirou fundo duas ou três vezes, tomando coragem – e se convencendo que devia fazer mesmo. Depois pegou o isqueiro e sob as orientações de Luíza o acendeu. Com cuidado, incendiou o tecido e se voltou para a janela. Colocou metade do corpo para fora, sabendo que poderia a qualquer momento ser atingido por uma bala, ou que uma delas atingisse a garrafa, fazendo-a explodir.


Apesar de não esperar que Zacharias acertasse o alvo na primeira vez – possivelmente nem na segunda, ele o fez. Ter pertencido ao time de quadribol da Lufa-Lufa deve ter contribuído para a sua mira. A garrafa se espatifou contra o cilindro, colocando-o em chamas. O furgão perdeu o controle e saiu da estrada novamente.

- Tente desaparatar agora! Não, espere! Pegue o medalhão primeiro!


Por longos vinte segundos, Zacharias tentou achar o objeto na escuridão do carro. A parte traseira onde ele o havia jogado estava cheia de tralhas, o que dificultava ainda mais. Incrédula, Luíza viu que os homens do furgão usavam um extintor para apagar o fogo do cilindro, e ainda assim seu motorista não parou o carro. O objeto chamuscado e destruído foi jogado do lado da estrada.


- Achei! – Zacharias exclamou. O medalhão ainda deveria estar queimando, pelo grito de dor que ele soltou antes de envolver o objeto no tecido que sobrou de sua camisa e guardar no bolso do casaco, que vestiu novamente, e pegou a varinha. – Segure no meu braço!


Luíza manteve a mão esquerda no volante e estendeu a direita para ele. Segundos depois, o mundo sumiu ao seu redor. Deixou de sentir o banco do motorista e o volante. O típico enjôo que acompanha a desaparatação apareceu.


A caminhonete saiu da estrada exatamente quando estavam passando por uma ponte, atravessando-a e caindo no Tâmisa, diante dos olhos esbugalhados de seus perseguidores.


Pouco antes de abrir os olhos novamente, Luíza sentiu o braço bater em algo que se estilhaçou e o impacto das costas sobre um chão amadeirado. Zacharias caiu sobre ela, o que lhe roubou o ar dos pulmões. Depois dos primeiros segundos de atordoamento, Zacharias recobrou a noção de onde estavam.


- Merlim, você machucou a mão! – Ele pegou o pulso esquerdo dela para um exame minucioso.


A mão exibia um corte profundo de onde um filete de sangue escorria.


- Não foi nada. – Ela disse. – Foi quando aparecemos no apartamento. Espero que o vaso não seja valioso. – Apontou para o objeto de cerâmica que jazia aos pedaços no chão, ao lado de sua cabeça.


Zacharias nem lançou um olhar para o vaso. Levantou-se em um pulo, puxando-a com ele. Analisou cada centímetro dela para se certificar que não havia machucado mais nada.


- Estou bem, de verdade...


- Espere, resolvo isto em um instante. – Ele pegou a mão dela na sua e com a outra girou a varinha de forma elegante e segura. O corte se fechou imediatamente. – Viu como é bom ter um marido bruxo? – Ele sorriu.


Este deveria ser o momento em que ambos se dedicariam a discutir a perseguição que haviam sofrido. Que correriam até a lareira e avisariam os membros da Ordem da Fênix que havia mais alguém atrás do medalhão... Mas, em vez disto, os dois se viram presos no olhar um do outro.


- Zacharias! Lu! – Era a voz de Ana vindo da lareira, parecendo desesperada. – Zach, você está aí?


Luíza deu um pulo de susto, enquanto Zacharias emitia algo entre um gemido e um suspiro de decepção.


- Sim, estamos aqui, Ana. – Ele se aproximou da lareira.


 - Que alívio, uma confusão tremenda aconteceu em Londres... – Ana disparou.


 - Fomos perseguidos em Londres, a Ordem precisa ser avisada. – Zacharias disse ao mesmo tempo.


 - O QUÊ? – Na lareira, a cabeça flutuante de Ana arregalou os olhos.


Zacharias contou toda a história e a recontou para Harry minutos depois, pois Carlinhos, escutando tudo atrás de Ana, não perdera tempo em avisá-lo.


- Não saiam daí, Zacharias. – Harry disse. – Aurores já estão sendo enviados para fazer a vigilância em seu apartamento.


- Aurores?


- É. Desta vez não há como deixar o Ministério fora disto. Houve destruição demais. – Abaixou o tom de voz. - Mortes demais.


- Que droga, Potter! – Zach xingou baixinho. – Não quero aurores aqui. Para falar a verdade, nem sei se quero gente da Ordem!


- Como é que é? – Os olhos verdes de Harry dançaram de surpresa entre as chamas da lareira.


- Sejam lá quem quer que fossem as pessoas que estavam nos perseguindo... Elas queriam o medalhão. E só a Ordem sabia que ele estava com Luíza.


Harry viu seus piores temores se tornarem realidade.


- Temos um traidor. - Depois de quase trinta anos, havia outro espião na Ordem da Fênix.


Os dois homens estavam tão absortos na conversa que esqueceram de Luíza, a poucos passos deles. Sua mente trabalhava há mil por hora, fatos se conectando depois do ocorrido como não tinham feito antes. O medalhão estava na mesa de centro da sala, à frente dela, com o tecido com o que Zacharias o havia embrulhado ao seu redor.


- Vou falar com Quim para escalar só gente de confiança. – Harry decidiu. – Acho que Shacklebolt, Tonks, Rony e eu. Não tenho coragem de pedir pro Carlinhos “liberar” a Ana no meio da noite, deixando a filhinha deles. Está bem assim para você?


- Sim. – Zacharias concordou. – Acho que vocês quatro estão no meu círculo de confiança.


- Ora, vejam só... – Achou graça. – Quem diria que um dia estaria admitido no rigoroso círculo de confiança de Zacharias Smith! Mais uma coisa... – Ficou sério. - Mesmo com a possibilidade de haver um traidor, precisamos marcar uma reunião da Ordem. Amanhã, ou melhor, hoje – corrigiu-se olhando as horas no relógio que tinha pertencido a Fábio Prewett – à tarde, o mais tardar.


Zacharias fez uma careta, mas concordou, com a condição de que tomariam cuidado com as informações repassadas, e os dois homens se despediram.


- Vão fazer a segurança do lado de fora do apartamento, mas o Potter me garantiu que a sua resistência aos feitiços de memória ficará em segr... Luíza? – Chamou quando percebeu que ela mantinha o olhar vidrado no medalhão.


Ele mal teve tempo de ampará-la quando de repente ela cambaleou. Luíza cobriu os olhos com a mão e gemeu, parecendo estar sofrendo terrivelmente.


- Está acontecendo de novo. – Sussurrou para ele. – Foi demais, eu não...


Sequer conseguiu terminar a frase. Agora ela apertava os ouvidos enquanto mantinha os olhos fechados. Era como se qualquer estímulo provocasse dor.


Ana o havia alertado sobre as crises de Luíza. Na realidade, a prima estava muito preocupada que ela pudesse ter mais uma a qualquer momento, com tanta pressão que estava sofrendo. Diversas vezes pediu para Zacharias não a deixar pegar tão pesado com o trabalho com o medalhão, mas ele não tinha levado a sério. Luíza pareceu ótima nestes últimos meses!


No entanto, ao que tudo indicava, a perseguição tinha sido a gota d’água em um copo que já estava prestes a transbordar. No caso, o copo era a mente de Luíza.


Apesar de aquele tempo todo ter reclamado e repetido diversas vezes que não queria ser o herói de nenhuma mulher, nunca desejou tanto poder salvar uma como agora queria salvar Luíza. Mas estava impotente. Com o olhar perdido, carregou-a até o sofá e ficou ali segurando a cabeça dela em seu colo, conforme Ana o tinha ensinado, esperando com o olhar perdido.


As horas foram passando e, por mais que Zacharias tentasse se manter acordado, pouco antes dos primeiros raios da manhã surgirem, fechou os olhos por um segundo e foi o suficiente para cair no sono. Quando acordou novamente, o sol já ia alto no céu. Percebeu que ainda segurava a mão de Luíza, que também acordara e agora o olhava com a testa enrugada.


- Você... Está melhor? – Sussurrou.


- Sim. – Ela respondeu em tom normal, piscando algumas vezes. – Tudo vai ficar bem agora.


 Zacharias quase riu. Não era ele quem devia estar dizendo aquilo?


De novo. Os olhos dos dois se prenderam um no outro, provocando aquela sensação esquisita no estômago de Zacharias. Ah, havia desejo, é claro, ele o reconheceu imediatamente. Mas era ainda melhor. Era, era...


- O que está fazendo? – Luíza sussurrou quando ele passou um dos braços ao redor da cintura dela e a puxou firmemente para si.


 - Me certificando que, desta vez, você não vai fugir. – Respondeu com voz rouca antes de beijá-la profundamente.


***


Um burburinho correu a sala quando Zacharias terminou de fazer seu relato. A Ordem da Fênix estava reunida em peso ali, com apenas uns poucos ausentes.


E Harry não parava de pensar que era bem provável que um daqueles rostos aos quais fitava agora – rostos tão conhecidos, tão familiares e queridos a ele – os havia traído.


- Quem é esta gente? - Alguém levantou a voz um pouco mais alto que os demais, referindo-se aos perseguidores de Smith e de Luíza, mas Harry se sobressaltou, pois a pergunta poderia perfeitamente se encaixar no que estava pensando.


- Os Comensais... – Imediatamente outra voz se interpôs.


- .... da última vez, não há jeito...


- Um grupo de estrangeiros, quem sabe seguidores de Grindewald...


- Eu ouvi...


 - Penso...


 - Naquela vez...


Ele percebia os fragmentos de frases em meio à balbúrdia, cada uma delas representando as muitas possibilidades que passaram pela mente dele mesmo, infinitas vezes, torturando-o. E, apesar disto, sempre retornava a mesma questão: tinham um traidor.


Durante todos aqueles anos lutou para não cometer o mesmo erro de seu pai, cego à traição daquele a quem considerava um grande amigo. Ao mesmo tempo, sabia que desconfiar de todos ao seu redor só levaria a um coração amargurado e à solidão. Tinha o exemplo destes dois extremos: seu pai e Snape, e achava que havia achado o meio-termo.


E ali estava a evidência de que estivera errado.


Passou novamente o olhar pelos rostos dos presentes. Cada um deles era uma opção dolorosa demais para ser aceitável. Sua família. Seus amigos. Gente que estava há tanto tempo com ele, Que sofreu junto e tanto... Não poderiam, não teriam motivos!


Mas não foi isto que seu pai pensou?


A simples cogitação o deixou doente e tomado por uma profunda culpa, só de imaginar o que eles diriam, como se sentiriam, como o olhariam se soubessem que sequer considerou a hipótese.


Não, não podia descartar a idéia, mas tampouco comprá-la tão facilmente. Ainda faltava muita gente, colaboradores ocasionais da Ordem que recebiam relatórios – superficiais, é verdade, mas que, ainda assim, podiam ser a pessoa a quem procurava.


Na sala, as pessoas ainda discutiam, incrédulas e assombradas, quem seriam aqueles que haviam perseguido os Smiths na madrugada anterior. No entanto, não pareciam mais próximos de chegar a uma conclusão do que quando começaram.


Também pudera! Ninguém tinha a menor pista de quem – ou o quê – teria a capacidade de fazer as coisas que Zacharias disse que aconteceram naquela noite. Buscou as expressões das pessoas a quem considerava mais aptas a descobrir algo: Gina, que atualmente era professora de Defesa Contra as Artes das Trevas; Hermione (claro!), mas esta exibia uma ruga de interrogação na testa; e Lupin, que primeiro lhe revelou segredos mais profundos da magia, mas também não encontrou sinal de alguma luz no rosto de seu ex-professor. Até mesmo Snape, a quem por orgulho raramente recorria, parecia perdido.


Harry dava voltas na sala, esperando que o burburinho se acalmasse. Não era um bom começo para as festas de fim de ano.


- Seja lá quem sejam eles – ele disse em voz alta, chamando a atenção de todos -, não eram bruxos, mas... Podiam nos deixar sem poderes. E eles queriam o medalhão.


A gravidade da idéia de que alguém poderia simplesmente anular a magia que os bruxos controlavam deixou a sala mergulhada em um silêncio sepulcral. Claro, todos haviam escutado muito bem o que Zacharias havia dito, mas simplesmente se recusavam a “digerir” o assunto. No entanto, quando Harry o repetiu com o semblante soturno – logo ele, o Eleito, um dos mais poderosos bruxos que conheciam – os membros da Ordem da Fênix sentiram a ameaça como sendo mais real.


- Não existe tal coisa. – Snape pronunciou a afirmação lenta e pausadamente, ainda que Harry captasse uma nota de hesitação. – Smith deve ter ficado apavorado demais para executar um feitiço adequadamente.


- Pareço alguém que entra em pânico à toa, Snape? – Zacharias rebateu entre os dentes cerrados de irritação. O ex-lufano já havia confidenciado a Harry que Severo Snape estava no topo da sua lista de suspeitos como traidor.


Snape apenas olhou para Zacharias pelo canto do olho com um sorrisinho irônico.


- Eu não disse que foi à toa.


- Zacharias... – Lupin, que estava de pé, encostado à parede, deu um passo a frente. – Tem certeza que não poderia ser um feitiço antiaparatação?


- Tentei vários outros feitiços, não só aparatar. – E então, elevou a voz, impaciente: - Eu estou dizendo, não era nada que qualquer um de nós conhecesse! E, além disto, que bruxos usariam armas trouxas ao nos abordar?


- Se realmente havia algo de natureza desconhecida que estava impedindo feitiços... – Gina olhou firmemente para Zacharias, e Harry reconheceu o olhar “se acalma aí, senão te chuto”. – Veja bem, eu disse “SE”...  Então, talvez este feitiço também os impedisse.


- Ah, qual é! Vocês escutaram o loirinho. – Sirius se manifestou com o seu costumeiro jeito indolente. – O cara que o atacou disse que aquele “pedaço de madeira” não iria ajudar em nada. Que bruxo se refere a uma varinha como “um pedaço de madeira”? Algum de vocês sequer já pensou em falar assim sobre sua própria varinha ou a de alguém? Não, os caras não eram bruxos.


Gina franziu o cenho e torceu os lábios, mas não o contradisse.


- Ainda assim – Hermione falou, enquanto fitava pensativamente a chama que tremulava na ampla lareira de Grimmauld Place – concordo com Snape de que não há nada, mágica ou não, que conhecemos que pudesse fazer o que Zacharias descreveu. Estamos lidando com pessoas que têm um profundo conhecimento da natureza da magia... Mais do que nós mesmos. E é neste ponto que concordo também com Zacharias de que não devemos subestimá-los.


Até mesmo Snape assentiu à conclusão de Hermione, o que fez Harry ter certeza de que haviam chegado ao consenso de que deviam ser cautelosos. O que o lembrava...


- As novidades não acabam por aqui. – Harry declarou. – Há alguns dias, Zacharias entrou em contato comigo para falar sobre uma descoberta recente de Luíza.


Ele fez sinal para que Zacharias prosseguisse, mesmo que o outro lhe lançasse a típica expressão de quem discorda. Ambos haviam divergido sobre contar aquela parte na reunião, em virtude do traidor que poderia estar ouvindo. Ainda assim, Harry o convenceu com o seu argumento.


Contariam a verdade sim. Mas ela seria uma isca para o espião.


- Minha esposa descobriu... – Zacharias começou.


- “Sua esposa”? – Rony o interrompeu com a sua costumeira “sensibilidade” e “senso de decoro”, boquiaberto com o termo utilizado pelo outro ao se referir à Luíza.


Zacharias enrubesceu imediatamente. E Zacharias nunca enrubescia. O que só contribuiu para confirmar o significado daquilo.


Viu, pelo canto dos olhos, que Ana abriu um grande sorriso e fez menção de se levantar e abraçar Zacharias. Mas recuperou o juízo a tempo e ficou sentada no sofá, trocando um olhar cúmplice com o marido.


Fred resmungou baixo alguma coisa que soou irritada e Jorge estendeu a palma da mão na frente dele, com um sorriso vitorioso. Fred depositou alguns galeões nela, à contragosto. Todos que sabiam da aposta que os gêmeos haviam feito entenderam o que o gesto significava também.


Zacharias - que, por sorte, não viu os gêmeos – pigarreou e prosseguiu:


- Ela descobriu números ocultos que apontavam para uma região em específico no mapa de Somerset, chamada “Badger Hill”.


Então, Zacharias buscou um cilindro de couro e de dentro dele tirou um rolo de pergaminho com aparência extremamente antiga:


- Foi quando lembrei de uma coisa que já havia visto antes. Isto, senhores, é provavelmente um dos tesouros mais valiosos da família Smith. – Ele desenrolou o pergaminho revelando o esboço de uma paisagem, feita à carvão e com a característica falta de perspectiva dos desenhos medievais.


- Está escrito Badger Hill em cima! – Rony apontou para as letras em vermelho quase apagado.


- Perspicaz como sempre, Ronald. – Zacharias disse com ironia, aproveitando a oportunidade para ir à desforra da indiscrição do ruivo momentos antes.


- Vá logo em frente, Smith. – Ronald estreitou os olhos perigosamente.


- Você disse que é um dos bens mais valiosos dos Smiths. – Lupin voltou a se manifestar, já acostumado com as implicâncias dos “meninos”. – Certamente é muito antigo. O que é?


- Este pergaminho é de autoria desconhecida, mas veio passando de geração em geração. O guardamos no cofre do Gringotes como medida de segurança.


- No Gringottes? – Gui, que até então se mantivera só ouvindo, ficou com queixo caído. – Deve ser realmente valioso para se valer da proteção dos duendes.


- Smith... – Snape tinha um brilho febril no olhar. – O “quão” antigo, exatamente, este pergaminho é?


- Uns mil anos, mais ou menos. – Zacharias sorriu, satisfeito, porque a pergunta do Professor de Poções havia indicado que ele tinha entendido aonde tudo aquilo ia levar.


- Então quer dizer que...


- Ninguém da minha família ou os historiadores bruxos podem dizer com certeza. Mas é provável que tenha pertencido a Helga Hufflepuff.


- Ah, não, de novo não... – Ana gemeu.


- De novo? – Neville estranhou.


- Não é a primeira vez que tem dedo de Helga Hufflepuff nos segredos dos fundadores de Hogwarts. – Rony disse, com o canto dos lábios tortos com o riso.


- Da última vez não foi nada engraçado para mim, Ronald. – Ana rosnou para o cunhado.


- Foi na época que éramos adolescentes, Neville. – Harry esclareceu. – Antes do fim da guerra. Depois eu te explico. (2)


- Helga Hufflepuff e mais um segredo de um fundador. – Zacharias sorriu, empolgado, e se voltou para Ana: - Sabe o que isto significa?


- Que nossa ancestral gostava de se meter na vida dos amigos? – Ela arriscou dizer com uma careta.


Como era de se esperar, a hipótese de Ana causou risadinhas pela sala. Ela piscou algumas vezes, confusa, porque a piada não foi intencional, simplesmente... Saíra.


- Um traço de família, suponho. – Fred se apressou a acrescentar, lançando um olhar significativo para Ana.


Desta vez, as risadas não foram dissimuladas, mas irromperam de todos os cantos. Ana não precisou de explicações para entender que agora a indireta era com ela: todos sabiam que segredos e Ana não combinavam.


Só Zacharias permaneceu sério:


- Não, quer dizer que os outros fundadores viam em Helga alguém em quem podiam confiar. E acredito que deva ser nós dois a irmos averiguar Badger Hill.


- Por quê? – Jorge se insurgiu, sendo acompanhado pelo irmão.


- Pode haver algo ligado à hereditariedade naquele lugar. – Zacharias respondeu sem titubear. – E somos os únicos membros da Ordem que são descendentes de Helga.


- Você só é membro por causa desta confusão envolvendo o seu casamento com Luíza. – Rebateu Fred.


- Não – Harry resolveu intervir - Zacharias é membro honorário da Ordem da Fênix desde a Batalha dos Dragões.


Ele percebeu que sua declaração, como previra, causara espanto na maioria das pessoas daquela sala. Todos sabiam que Zacharias lutou com eles naquele dia, é claro, mas o fato ficou esquecido, sobrepujado à lembrança de que ele tinha fugido da Batalha Final, em Hogwarts. E pelo fato de que Zacharias nunca mais fez uso de seu posto na Ordem.


Exceto pelos membros mais antigos, como McGonagall e Lupin, poucos ainda se lembravam que Smith fora admitido e que ainda recebia relatórios das atividades da Ordem durante todos aqueles anos. Claro, Zacharias não se fazia muito presente e não dava importância ao seu cargo. Até saber sobre a verdade daquele dia da retirada abrupta dele da Batalha Final, Harry nem mesmo entendia porque ele tinha entrado, para início de conversa.


- Também acho que ele e a Ana são quem devem ir. – Harry prosseguiu. – Até onde eu sei isto é... uma questão de família.


- Vocês estão se esquecendo que Agatha também é da Ordem e é uma Smith. – Sirius, impaciente por uma aventura, também não estava satisfeito por perder aquela oportunidade.


- Vai querer mandar aquela velhinha? – Ronald contrapôs em tom de falso horror, claramente provocando Sirius. Até que se lembrou de uma pessoa que estava presente e que era da mesma geração que Agatha Smith: - Desculpe, professora McGonagall. – Suas orelhas ficaram vermelhas. – Não estou dizendo que não podem... Ou que a senhora... Ham... Bem – concluiu de uma vez: - o Harry tem razão. Por que estão insistindo tanto? Não é como se tivesse um prêmio em galeões esperando por vocês por lá.


- Mas pode haver um bracelete de ouro e ônix como da última vez. – Sugeriu Jorge, só de brincadeira.


- Que vocês entregariam para seus legítimos donos, é claro. – McGonagall os lembrou, implacável. Molly Weasley faria o mesmo se não tivesse ficado na Toca com o marido, tomando conta dos netos.


- Claro... – O sorriso de Jorge se apagou imediatamente.


Não importa quantos anos tenham se passado desde que você saiu de Hogwarts: McGonagall ainda tem o poder de fazer você se sentir um aluno sendo repreendido.


- Desde que eu não acabe com mais uma jóia presa no meu corpo... – Ana pensou em voz alta.


- Não. – Carlinhos o surpreendeu com a oposição tardia, quando todos os outros já pareciam ter concordado. – Não vou deixá-la ir para um local que pode ter mais daquelas flechas que você recebeu, Harry.


Harry não entendeu o comportamento do cunhado até que se deu conta que a referência ao bracelete de Hufflepuff deve ter trazido à tona lembranças ruins de Carlinhos a respeito daquela época. Ele sabia que o tratador de dragões ainda tinha um medo irracional de perdê-la novamente.


- Confie em mim, Carlinhos. – Ele tentou passar uma mensagem silenciosa ao olhar para o cunhado. Teria que se lembrar de mais tarde contar o plano a ele e a Ana mas, por hora, tinha que fazê-lo entender sem saber dos detalhes. – Não iria colocar a vida de ninguém em risco, muito menos a de Ana.


- Amor, lembra sobre o quê conversamos sobre me superproteger? – Ana o enlaçou pela cintura.


Gui colocou a mão sobre um dos ombros do irmão, passando ao mesmo tempo força e uma repreensão de irmão mais velho. Carlinhos então finalmente aquiesceu.


- Só me diz uma coisa, Zach. – Ana se voltou para o primo. – O cara que te perseguiu realmente os chamou de “Senhor e Senhora Smith”? – E ela caiu na gargalhada.


Ninguém entendeu o quê ela achara tão engraçado, nem ele. Quando Ana percebeu que estava rindo sozinha, parou e disse, amuada:


- Piada de trouxa. A Serenna entenderia se estivesse aqui. – Disse a última frase como uma queixa, sentindo falta da amiga que compartilhava as estranhezas do confronto entre o mundo bruxo e trouxa. – Aliás, por que ela não está?


A pergunta foi feita para Snape.


- Alguém tinha que ficar com as crianças. – Foi a resposta evasiva.


As crianças eram o filho adotivo de Snape, Alan, os filhos de Serenna e as outras crianças do Lar de Elizabeth.


- Pensei que estivessem ainda na casa de Lady Marjorie. (3) – Sirius estranhou. – Ela não poderia cuidar deles?


Sirius Black visivelmente queria que Serenna estivesse ali. E Snape, por outro lado, visivelmente engoliu uma resposta atravessada para ele.


- Eu queria que ela passasse estas festas de fim de ano da forma mais normal possível. Achei melhor que ela ficasse tranqüila na casa de Marjorie. Não a perturbei com os eventos desta noite.


- Ela vai é fazer picadinho de você quando souber que não contou para ela... – Ana murmurou. Ela era a única, além de Serenna, a quem Snape permitia estas “intimidades”.


- Sinto muito, professor, mas precisamos de Serenna ainda hoje. – Hermione interpôs educadamente. – Preciso que ela pesquise no computador do Lar de Elizabeth informações atuais sobre Badger Hill, antes de Ana e Zacharias ir para lá.


- Permita-me buscar minha mulher, Snape. – Sirius disse, feliz demais para o gosto de Snape, o que Sirius tinha perfeito conhecimento.


Serenna finalmente havia descoberto o que todos pareciam saber e ela não, desde que tirara Sirius do Véu da Morte: eles estavam casados. Magicamente casados. O ritual que encenaram para salvar Sirius se revelou um feitiço de união que era inquebrantável. Por outro lado, se ela não fosse alma gêmea de Sirius, jamais teria podido tirá-lo de lá, então, o casamento entre eles tinha tudo para dar certo.


No entanto, Sirius estava indo devagar, dando tempo para que Serenna se acostumasse à idéia... e a ele.


- Não precisa, Black. – Snape interpôs. - A casa de Lady Marjorie está equipada com um cômodo onde magia não atrapalha os aparelhos trouxas. Ela tem um computador lá. Minha irmã pode perfeitamente usá-lo. Só vou falar com ela pela lareira...


- Eu insisto em ir mesmo assim. – Sirius informou com um sorriso cordial que sabia que irritaria Snape. – Estou com saudade de minha mulher.


Ele não parava de falar “minha mulher” sabendo que estava provocando o antigo rival dos tempos de escola.


- Você falou com ela hoje de manhã.


- Ah, mas é assim mesmo entre marido e mulher. Não conseguimos nos manter longe um do outro.


- Snape. Sirius. – Harry chamou a atenção deles. – Não podemos perder tempo.


Á contragosto, Snape cedeu. Sirius se enfiou dentro da lareira todo serelepe e com um sorriso satisfeito nos lábios, carregando um pedaço de pergaminho que Hermione lhe entregara com as instruções para Serenna do que ela precisava que procurasse.


Meia hora depois, Serenna voltava com Sirius para entrada da lareira, o rosto afogueado (Harry bem sabia que o padrinho deveria ser o responsável por isto) e folhas e mais folhas de papel que os trouxas usavam para imprimir os dados que queriam de um computador.


- Descobriu alguma coisa? – Tonks perguntou, vendo como ela se apressava até eles.


- Sim. – Serenna parou um segundo e lançou um olhar repreensivo a Snape, os lábios franzidos.


- Para quê conversaríamos em casa depois? – Snape disse para a irmã, indiferente. – Você já decidiu que está brava comigo.


- Mais da “luz roxa” deles. – Ana explicou aos demais como Snape sabia o que a irmã estava pensando (ou tentou, porque Harry duvidava que eles entendessem a referência ao filme “Fuga da Montanha Enfeitiçada”).


- Bem. – Serenna lançou um último olhar desgostoso para o irmão e, depois, um outro a Sirius, quando percebeu que ele estava provocando Snape com um sorrisinho irritante. – Há muito pouco sobre Badger Hill, mas o que achei foi realmente interessante. A única referência é sobre o campo de futebol localizado ali e... – Serenna prendeu a respiração, como se estivesse prestes a dizer algo fantástico. – O time dali não vence nenhuma partida naquele campo há dois anos.


Silêncio.


- O que tem de sobrenatural um time de futebol ruim pra dedéu? – Rony questionou.


 Serenna riu:


- Acho que a causa da desgraça dos jogadores vai um pouco além de imperícia com uma bola. A notícia que eu encontrei na internet fala que a direção do clube contratou uma pretensa bruxa para ajudar. Parece que as pessoas acreditam que o campo está “amaldiçoado”. (4)


- A mulher é uma bruxa de verdade? – Hermione perguntou boquiaberta.


- Isto eu não sei dizer. Mas o que chamou atenção foi a data em que a “má sorte” começou. Ela coincide com o início de uma escavação arqueológica em um novo sítio da Abadia de Glastonbury.


 Silêncio, desta vez de assombro.


  


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LEGENDA


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(1)  “Close To You: sonho de um maroto”, da Regina McGonagall..


(2) Harry Potter e o Segredo de Sonserina.


(3) Lady Marjorie: personagem original de Regina McGonagall, na fic “Close to You”. Ela é parente dos Snapes.


(4) Isto é interessante: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/england/somerset/3394643.stm.


 


 


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NB.: Belzinha, que sufoco, amiga! O que foi aquela cena de perseguição???? Fiquei sem fôlego. Não consegui ser a beta e a fã. Então, para não dar mancada, eu li como fã e depois como beta, ok? Deu pra sentir a tristeza da Luiza com os atingidos pela galera do mal. E o Sirius??? Ai, ai. Adoro ele provocando o Ranhoso. E o Zacharias. Que fofo, viu? Amei. Tudo. E confesso que já estou sonhando com o próximo, que vem quando mesmo??? Hehehe. Parabéns, querida e conte comigo sempre, pois, como já te disse quem mais aproveita isso sou eu. Ehehehe


 


 


N/A: Eita capítulo mais longo, hem, gente? Matei vocês de cansaço? Não? Mas quase, né? Hehehehehe. Minhas mais sinceras desculpas pela demora em postar a segunda parte. E também a minha mais profunda gratidão pelos comentários e votos a esta fic. O que mais me motiva a escrever é saber que vocês estão se divertindo com ela.


E, se isto servir de compensação pela “lentidão” com que posto, revelo – a quem interessar, é claro – que logo-logo um mistério que não foi resolvido ainda no Segredo de Sonserina vai ser revelado nos próximos capítulos.


À minha betha, sempre disposta a encarar qualquer texto que eu escrevo. Obrigada, Lica! Sua generosidade e energia são cativantes e, com certeza, estão entre a longa lista de qualidades que todos nós que te conhecemos amamos tanto em você. Um beijão especial para você e para a Cacá.


 Abraços a todos e muito, muito obrigada!

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