Uma Sombra no Vau da Floresta

O mapa da suposta localização de Lupin indicava a região montanhosa de uma floresta. Snape seguia a trilha sinuosa,varinha em riste iluminando toda a desolação das árvores que cobriam a lua cheia ou qualquer brisa morna, deixando o ar frio e abafado.O caminho era estreito e as ramagens tão densas, que o final sempre estava oculto na penumbra.
Os passos deslizantes de Severo eram quase inaudíveis,e enquanto ele serpenteava pela paisagem misteriosa e difícil, pensava em tudo o que acontecera naquela noite,principalmente na imagem quase espectral do rosto de Luna Black na esquina...rapidamente lembranças de seu passado toldaram-lhe a mente com a menção de duas odiosas figuras:Remo Lupin e Sirius Black,ainda não conseguia acreditar que tinha ordens de matar Lupin e estava atrás da irmã de Sirius...a elegante figura que conversava com Bartô na Travessa do Tranco...e novamente estava pensando nela...sentia um ódio ferino quando pensava em Sirius e agora este sentimento convergia-se para a irmã...bom,só podia ser ódio o que o levava a sempre lembrar de Luna...não podia ser outra coisa senão isto...
Com a varinha acesa,observava concentrado ora o caminho pela trilha estreita,ora o mapa,os olhos negros a prescrutando cada possível ruído suspeito; contudo, o silêncio aterrador era pertubado somente por seu passos deslizantes sobre as ramagens secas no chão.Não havia nada além disso,somente uma quietude excessiva.
Severo seguia a trilha tortuosa,as copas escurescendo cada vez mais o local,até o momento em que não viu-se mais nada, exceto o círculo de luz produzido por sua varinha, que iluminava apenas alguns passos a frente...
Ao consultar o mapa,percebeu que faltavam apenas alguns metros para alcançar o lugar marcado por Greyback; foi quando um ruído chamou-lhe a atenção: gravetos sendo quebrados e folhas sendo arrastadas como se mais alguém caminhasse ao longe. Snape, imediatamente,abandonou a trilha e seguiu o barulho,que apesar de ínfimo era constante.Com a varinha em riste,andou por entre as árvores cerradas umas nas outras,atento ao ruído que afastava-se cada vez mais...
Então tudo silenciou-se novamente.
Snape parou,olhando ao redor,perdido.Tudo o que via eram carvalhos imensos erguendo-se majestosos ao redor de si,a trilha ficara para trás,e por mais que se esforçasse não conseguia identificar o caminho pelo qual viera.
“Aonde está você,Lupin? Brincando de esconde-esconde?”
Após algum tempo decidiu seguir ao norte.Voltou a caminhar rápido,a varinha iluminando os recantos supeitos,seus olhos semi cerrados a procura de alguma pista; o caminho que seguia fechava-se cada vez mais com seus ramos nodosos e árvores retorcidas,estava ficando difícil avançar...
Foi quando o ouviu; à sua direita, quase ao sul :gravetos quebrando-se,folhas sendo arrastadas.
Voltou-se novamente seguindo o ruído.Este caminho que tomara,ao contrário do primeiro,abria-se enquanto avançava.Não demorou muito,logo avistou uma clareira aproximando-se;era circular e iluminada pelos primeiros raios solares da aurora.Severo diminuiu o passo e avançou cauteloso,esgueirando-se por entre os salgueiros e observando a tudo cuidadosamente...
E sem o auxílio de qualquer ruído,avistou a figura de um homem caído no chão,reencostado em uma árvore,o rosto cravado de dor.Snape sorriu ao aproximar-se,observando Lupin indefeso e vulnerável,e não pôde deixar de sentir um certo prazer vingativo...caído ali,suor em suas faces,via-se claramente feridas em todo seu corpo,as vestes rasgadas,hematomas no olho e linhas avermelhadas de sangue coagulado.Ele respirava com dificuldade,e olhava de um lado a outro como se procurasse algo ansiosamente.
Snape,já a alguns passos de Lupin,ia ao seu encontro...
CREC!
Distraído,pisara alto sobre um galho morto.
Lupin virou-se imediatamente em sua direção,e Severo teve de esconder-se mais uma vez e esperar,praguejando.Neste momento,na extremidade oposta,ouviu-se mais ruídos.Lupin pareceu desistir de vigiar o local em que Snape estava,e concentrou-se no outro lugar.Ao observa-lo de esguelha,Severo percebeu,surpreso,que suas feições transmitiam um misto de alívio e felicidade...
Virou-se na direção que Lupin olhava e sobressaltou-se.Mal podia acreditar no que via e sentiu o chão faltar-lhe...
Na extremidade oposta da clareira estava Luna Black.
Aproximou-se rápida,a massa negra de cabelos deslizando com seus movimentos ligeiros,olhar preocupado, a varinha em uma das mãos, e na outra uma surrada mala de couro de dragão.Ajoelhou-se ao lado de Lupin,tirou da capa um pequeno lenço e usou-o para enxugar-lhe o suor,passando-o suavemente sobre o rosto.
Snape observou-os juntos,admirado com a misteriosa ligação entre os dois,ainda surpreso que eles se conhecessem, e imaginando como o Lorde das Trevas ficaria grato ao ver suas duas missões cumpridas simultaneamente.Contudo,uma sensação estranha incomodava Snape enquanto observava Luna ao lado de Lupin...
— Obrigada por ter vindo...— sussurrou Lupin
— Então eles te seguiram...
Lupin forçou um sorriso.
—Acho que eu não fui rápido o bastante.
—Você estava ferido...devia ter-me deixado ajudar.
—Mais do que ajudou? Escute,se não tivesse avisado-me da emboscada provavelmente eu nem estaria aqui...
—Não foi o suficiente,devia ter seguido Greyback mais vezes...
Lupin segurou a mão de Luna com força.Havia medo em seu olhar.
—Nunca ouviu,nunca mais diga isso ,ou pior, tente fazer isso.Você não sabe o quanto Greyback é perigoso.
—Eu sei,Remo,você é a prova disso.—respondeu desvencilhando-se dele
—Olha eu...
—Por favor—interrompeu ela—Não atrapalhe-me
Luna abriu a mala, e dela retirou vários frascos e ataduras;mas antes que pudesse fecha-la novamente,parou de súbito.
—O que foi?—perguntou Lupin
Luna acenou para que ele se calasse e com o cenho franzido olhou ao redor da clareia focalizando as árvores obscuras,seus olhos azuis semi cerrados como se procurasse algo...
—O que foi?—insistiu Lupin,tentando acompanhar seu olhar,mas ela sacudiu negativamente a cabeça e começou a abrir os frascos.
—Por que negou meu convite?—indagou,pegando outro lencinho e molhando-o com um líquido vermelho.
—Preferi não causar-lhe problemas...se alguém me visse entrando em sua casa seria desastroso,principalmente nas circunstâncias atuais...AI !
—Me desculpe. O que quer dizer com circunstâncias atuais?—Luna parecia aturdida enquanto tirava alguns fios de cabelo que teimavam em cair-lhe no rosto.
—Você sabe muito bem...A herança.
Snape encostou-se na árvore,a varinha segura em uma das mãos,ainda admirado com o fato de ter conseguido tudo o que queria com tanta facilidade.
Luna,com um gesto impaciente,continuou a limpar os ferimentos de Lupin.
—Ah,isso — disse por fim —então você já soube.Sirius não perde tempo...
—Ele só quer o seu bem,Luna!
—Que comovente! — debochou ela
—Ele...eu...quero dizer...nós,sabemos o que é melhor para você! Você devia...
—Não Remo! Você nunca soube o que é melhor para mim!...somente eu...— calou-se.Um silêncio aterrador envolveu ambos,havia tensão e desconforto no ar.Luna,com o cenho franzido,fitava Lupin intensamente.Snape percebeu em seu olhar uma explosão de sentimentos retidos,e novamente sentiu-se estranho,deconfortável ao vê-los entreolhando-se daquela maneira...queria acabar logo com isso,mata-los de uma só vez;contudo,sabia que devia esperar,precisava de mais informações,ainda era arriscado se pronunciar.
—Luna...nós já conversamos sobre isso...eu tomei aquela decisão porque...
—Porque teve medo de machucar-me,eu sei,Remo,eu sei.Mas...e quanto mim? Você nunca me perguntou o que eu achava!Ou o que eu queria!
—Luna,eu queria te proteger!!!
—ME PROTEGER DE VOCÊ?!— explodiu ela levantando-se — SIRIUS,TIAGO,PEDRO,NUNCA PRECISARAM DE SUA PROTEÇÃO!— gritava ela,enquanto andava de uma lado a outro — PORQUE EU PRECISARIA?
—Porque...
—Tudo bem,esqueça— disse ajoelhando-se novamente ao seu lado e voltando a tarefa dos curativos— como você disse,já tomou sua decisão;não tocarei mais no assunto.
Severo não conseguiu reprimir o ódio profundo que sentiu de Lupin ao vê-lo observar Luna carinhosamente;nunca gostara do lobsomem,mas não conseguia explicar aquele repentino sentimento...
Luna era hábil com as poções,e as misturava com facilidade,enquanto aspergia as substâncias nos ferimentos e colocava os curativos;Severo observava seus movimentos profissionais perguntando-se onde ela adquirira tais exímios conhecimentos ainda tão nova...
—Mas...o que vai fazer com o livro? — insistiu Lupin timidamente
—Ora, o que você acha? Ele é uma herança não é? E coincidentemente... a minha herança.
—Você não pode ficar com o livro,Luna,sabe que é arriscado,quando descobrirem...
—E o que você sugere?
—Entregue-o a Dumbledore,ele saberá o que fazer...
Mas Luna Black já não escutava,guardava os frascos na maleta,rindo com desdém
—Boa tentativa,Remo,mas vai funcionar— levantou-se,a mala nas mãos — Como disse-lhe anteriormente o Diário de Slytherin me pertence,e eu vou dá-la a ninguém...NINGUÉM
—Você deveria escutar-me ao menos uma vez...
—Lamento,não costumo ouvir conselhos...
—Não é um conselho...é um pedido...— Olhou-a intensamente,e pareceu que por um momento ela cederia a vontade de Lupin;Snape apertou ainda mais sua varinha, e dela saíram faíscas vermelhas,já não conseguia conter a raiva...
—Por favor,venha a minha casa,estará mais seguro lá...—disse mudando de assunto
—Luna seja racional!
—...minhas poções vão cura-lo,contudo,ainda está fraco e vulnerável,pode ser arriscado permanecer aqui sozinho.
—Acredite,eu não vou a lugar nenhum enquanto você continuar inflexível!
—Ótimo,eu sabia que você não iria aceitar meu convite mesmo — respondeu friamente — seja cauteloso,eu voltarei para trocar os curativos. Agora preciso ir,tenho um compromisso no Cabeça do Javali.
As feições de Lupin mudaram imediatamente ao ouvir a última frase,já não fitava Luna com carinho ou paciência,seus olhos agora estavam sérios e até hostis.
—O quer dizer com compromisso?! Vai encontrar-se com alguém?!
—Isso não lhe diz respeito,Remo...antes dizia,agora não mais.
—É aquele misterioso informante do qual falou-me? Luna,você está se arriscando ao manter contato com este...sujeito.Ele pode ser um Comensal da Morte!
Mas a garota simplesmente sorriu,seus olhos brilhando.
—Não se preocupe,eu sei me cuidar...
E sem esperar resposta,seguiu o mesmo caminho pelo o qual chegara,a passos largos,os cabelos envolvendo-lhe como uma túnica negra.
Severo ponderou sobre o assunto e viu-se em dilema: ali estava Lupin,ferido e só,a vítima mais fácil que conseguira capturar,e no entanto,a idéia de seguir Luna Black ao Cabeça de Javali animava-o;poderia descobrir todas as informações necessárias para conseguir o livro e tirar a cruel dúvida sobre quem realmente iria encontrar-se com ela,mesmo tendo um forte palpite;além disso sentia que deveria vigia-la por mais tempo...seria cauteloso para que o plano fosse perfeito,sem erros ou mudanças...depois mataria Lupin,sabia onde encontra-lo...
Decidiu-se:mas devia apressar-se se quisesse chegar em Hogsmead a tempo.

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