Que Ironia!



Cap 3 - Que Ironia!

Um turbilhão de imagens vagava por sua mente, todas desconexas ou talvez fosse meramente o fato de estar debilitada demais para conectar cada uma delas.

Lembrava-se da chuva, que caia incessantemente naquele dia, não devia fazer muito tempo, os seus cabelos já não lhe pareciam ter o volume infantil, embora ainda conservassem-se no meio caminho entre o liso e o enrolado, para seu completo desagrado, de uma forma ou de outra, estava completamente encharcada, mas não estava a sós.

Lembrava-se dos olhos... Sim, aqueles olhos brilhantes que contraiam-se num sorriso, não precisa nem ao menos pregar os olhos nos lábios para ter certeza que ali se abria o mais belo sorriso de todos.

E então, a notícia, acompanhada da névoa que cobrira novamente aqueles olhos que uma vez já piscaram tão vivos.

Era quando as imagens começavam a anuviar novamente. O cheiro de enxofre, as lágrimas, a decisão que ele tomara, o modo como os outros o seguiram, uma casa ao longe, comensais da morte, os olhos cinzentos brilhando de malícia, o desespero, a queda, o abandono...

- Harry. – disse a morena recuperando os sentidos e sentando-se um tanto assustada no próprio sofá, sem conseguir deixar de questionar-se, como diabos tinha chegado até ali.

- Você voltou! Eu achei que tinha morrido. – disse o rapaz encarando a moça.

Hermione piscou algumas vezes antes de conseguir focar as íris cinzentas com perfeição. Draco Malfoy, era ele, ali na sua frente, parado em seu apartamento e encarando-a como se ela fosse uma atração circense.

Hermione xingou-se mentalmente por ter sido fraca a ponto de desmaiar num momento como aquele, Malfoy poderia ter feito qualquer coisa com ela, literalmente.

- Então você ainda está aqui? – ela perguntou fazendo menção de se levantar, mas voltando a sentar-se logo em seguida, completamente zonza.

- Para onde esperava que eu fosse sujo desse jeito? – perguntou o louro horrorizado.

- Se já se encontra em condições de ser o Almofadinha nojento que é, então talvez já tenha condições de ir para a sua casa, pode ir.

- Céus, você é sempre grosseira assim? – falou levantando-se e saindo da vista da castanha.

- Aonde você vai? Volte aqui! Fique no meu campo de visão! – vociferou tentando levantar-se novamente e mais uma vez sem sucesso.

Malfoy não respondeu e já que Hermione não se encontrava em condições de levantar, ajoelhou-se no sofá e virou-se, procurando pela figura do louro.

A luz da rua iluminava fracamente o apartamento, que contava apenas com algumas luzes adicionais vindas dos abajures espalhados pela casa, sempre gostara dele, davam um ar aconchegante em qualquer lugar. O tapete branco na entrada encontrava-se enlameado e refreou ao sentir um profundo descontentamento invadir sua mente, tinha coisas mais importantes para se preocupar.

Ao lado da sala, tinha uma cozinha em estilo americano, do outro lado da sala, tinha um corredor que dava para o seu quarto, um único quarto, afinal de contas, não tinha sentido ter um apartamento gigantesco se morava sozinha e não parava em casa.

Os olhos cinzentos entraram no seu campo de visão indo ao encontro dos castanhos da moça.

Malfoy parou a sua frente e estendeu uma das mãos, oferecendo uma barra de cereal à garota.

- Acho que vai precisar disso se algum dia quiser sair desse sofá.

- Você mexeu na minha dispensa? – perguntou ela exasperada puxando a barrinha das mãos do louro e abrindo-a apressada.

- Mexi. Você desmaiou e eu tentei te acordar por algum tempo, mas estava ficando realmente chato olhar sua cara inexpressiva enquanto o meu estomago roncava de fome, então eu fui fuçar na geladeira e na dispensa, não era como se você fosse a algum lugar.

Era ele, o mesmo porco sem consideração alguma com qualquer pessoa se não a si mesmo, isso, porque ele nem ao menos se lembrava quem era, o que só podia significar que independente da ocasião, Malfoy era um idiota irônico simplesmente porque não sabia ser de outro jeito, e ela que tivera a esperança que aquilo tudo era só pose...

- Eu te odeio. – ela falou com a voz meio cortada pela boca cheia de comida.

- Eu diria o mesmo se soubesse quem você é. Mas você não tem modos e eu vi um porta-retrato rosa com pelinhos, simplesmente horripilante, então é justo dizer que não gosto de você também.

Será que alguém realmente se importaria se ela decepasse a cabeça dele fora e pendurasse em algum poste?

O silêncio se fazia presente enquanto a moça comia a barrinha e ele a observava com uma expressão irritante na face, o que na opinião da castanha, era bem melhor do que ouvir aquela odiada voz arrastada, pena que ele não parecia partilhar da mesma opinião.

- Então... – começou o louro apenas numa tentativa patética de puxar assunto.

- Malfoy, aprecie o silêncio.
- Malfoy? – perguntou o louro estranhado.

- Olhe, eu não sou Parkinson, não espere que eu te chame de coelhinho, xodozinho ou qualquer baboseira do tipo. – disse com ironia.

- Quem é Parkinson? – a sua testa se franzia cada vez mais.

Por alguns instantes, Hermione se divertiu com a possibilidade de dizer a Malfoy que ele era uma beterraba e dar o assunto por encerrado, seria realmente hilário vê-lo apresentando-se para os outros.

Infelizmente, a consciência de ser uma Grifinória, pesava-lhe demais para prega uma peça dessas, mesmo em alguém como Draco Malfoy.

- Isso vai ser bem complicado. – disse a garota recostando no sofá. – Certo, do que você se lembra?

Malfoy parou por alguns instantes e baixou a cabeça, o rosto contraído em sinal de concentração.

- Não muito. – respondeu por fim parecendo extremamente infeliz – Eu só me lembro de sensações, para falar a verdade. Lembro-me de sentir-me irritado, depois nervoso e irritado novamente. Lembro-me... Lembro-me de sentir dor, muita dor de cabeça e de alguma coisa amendoada, algo bonito. – ele terminou levantando os olhos – Acho que a coisa amendoada eram os seus olhos.

Hermione baixou a cabeça para a embalagem plástica que brincava entre seus dedos, tentando inutilmente refrear o rubor que lhe tomava o rosto, balançou a cabeça dizendo a si mesma que aquilo era absolutamente patético.

- Bem, eu não sou a pessoa certa para falar sobre você, já que nunca trocamos mais do que meia dúzia de frases e eram todos insultos. – um sorriso se abriu nos lábios dele e ela teve vontade de enfiar a embalagem plástica que ainda manuseava em lugares pouco ortodoxos no corpo do outro – Seu nome é Draco Malfoy, você é rico, mimado e é meu inimigo declarado dês que temos onze anos.

- Legal... E?

- E o quê? – perguntou a castanha sentindo um calor inexplicável, junto com uma vontade louca de quebrar coisas, a única coisa que lhe impedia, era a consciência de que ela mesma teria que limpar tudo depois.

- O que mais? Não é possível que você só saiba isso a meu respeito! Quantos anos eu tenho? Onde está minha família? Por que estamos sujos? De onde caímos e por quê?

- Caímos porque existe uma coisinha que se chama Lei da Gravidade. – respondeu a castanha irônica.

- Só porque não me lembro do meu próprio nome, não significa que eu tenha ficado retardado.

- Você sempre foi retardado Malfoy, cair e rachar a cabeça não mudou em nada.

- Certo, não estamos progredindo e eu nem sei o porquê de você estar sendo uma completa bastarda, porque não responde apenas as minhas perguntas? Quem sabe eu até entendo porque você está sendo tão pouco amável?

Hermione suspirou, conversar com Draco Malfoy exigia todo o seu alto-controle, mesmo que ele não estivesse sendo realmente desagradável ao extremo, a lembrança das vezes que ele fora, era o suficiente para enervá-la.

- Seu nome é Draco Malfoy, acho que você tem dezessete anos, não sei quando faz aniversário, por isso pode ter dezesseis ou dezoito, mas é por aí. Não sei como anda a sua família, ouvi que seu pai tinha sido libertado da prisão e sua mãe tinha fugido, não sei se é só boato. Estamos sujos porque brigamos e rolamos na terra, é isso.

- Ó sim, consigo sentir uma profunda conexão com minha alma agora. – reclamou o louro levantando-se exasperado.

- O que você esperava de mim? Não é como se eu realmente te conhecesse! – ela vociferou levantando-se de repente, sentindo o mundo girar a sua volta, mas conseguindo fixar com certo esforço os pés no chão.

- Bom, eu perdi a memória, eu não espero nada de ninguém! – gritou ele a plenos pulmões a um palmo do rosto da castanha.

- Então pare de me cobrar explicações!

Os dois ofegavam, o rosto contraído de Malfoy deixava evidente a força descomunal que ele fazia para se controlar, respirando alto e ruidosamente, enquanto a morena apenas afilava ainda mais os seus olhos procurando alguma maneira de atacá-lo.

Céus, detestava-o, não sabia exatamente quando começara mas com certeza o detestava, só o som da sua já era o suficiente para fazê-la querer abocanhar as paredes, e agora ele estava ali, dentro de suas paredes, da sua fortaleza, exigindo com todo o seu mau gênio algo que o definisse.

Hermione não era a pessoa certa para defini-lo, não mesmo, a menos que ele se contentasse com “você é um desperdício de matéria orgânica e eu espero que tenha uma morte dolorosa”.

- Eu só quero entender... – ele começou parecendo procurar as palavras a fim de evitar uma nova explosão vinda da morena – Se você me detesta tanto, então porque era justamente você que estava ao meu lado quando eu acordei?

Hermione piscou algumas vezes e respirou fundo antes de pensar em algo para responder, o que será que se passava pela cabeça dele com relação àquilo?

- Nós estávamos em um lugar discutindo e de repente, eu não sei como ou porquê, fomos jogados no meio daquele matagal todo, então começamos a duelar e....

- Por que você fala em “duelar”? Sério, em que século nós estamos? – perguntou debochado.

- Duelar é como se diz “briga” no mundo dos bruxos. – ela respondeu didaticamente, como quem explica que um mais um é dois.

- Bruxos? Então estamos na Idade Média? Ó céus, eles vão te queimar! E eu, como fico? Não repita essas baboseiras para ninguém, ouviu? – advertiu ele desconexo, enquanto Hermione a muito custo refreava a uma vontade de rir.

- Não Malfoy, estamos em 1997 e tente não gritar quando eu te disser isso, okay? Nós somos bruxos, nós nos conhecemos numa escola de bruxaria.

Hermione observou com satisfação a testa do garoto se contrair, mesmo que ele estivesse absolutamente vulnerável, havia um prazer sádico em arrancar algo além de indiferença de Draco Malfoy.

- O que quer dizer? Que eu devo esperar pela minha verruga na ponta do nariz? Que vôo em vassouras? Que eu... Eu... Eu preciso me sentar. – ele falou sentando-se no sofá com uma expressão vaga no rosto.

Apesar da vontade quase doentia de assustar ainda mais Malfoy, pr algum motivo, a castanha obrigou-se a sentar-se ao lado dele e explicar aquilo com calma. Colocando-se no lugar dele, não deveria ser uma coisa fácil descobrir o que você é em meia hora.

- Olha. – disse Hermione recolhendo a varinha de Malfoy de cima da mesa que se postava de fronte ao sofá.

A morena agitou a varinha e abriu a mão, em questão de segundos, havia um livro sobre a mão dela. Malfoy estava absolutamente maravilhado.

- Eu faço isso também? – perguntou com os olhos brilhando.

- Faz, e nós fazemos muito mais do que isso. A questão, é que apesar de podermos fazer as mesmas coisas com magia, o que muitos não podem, ainda não é o suficiente para dizer que temos qualquer coisa em comum, nós somos diferentes Malfoy. Você despreza todos os meus conceitos.

Malfoy baixou o rosto e a morena viu um sorrisinho de escárnio abrir-se nos rosto dele.

- O que foi? – perguntou já esperando por algum comentário irônico e completamente detestável da parte dele.

- Não é uma cruel ironia que tenha sido justo você que estava ao meu lado quando perdi a memória?

- É. – ela respondeu baixando a cabeça também – Estou me chutando por isso dês do momento que abri os olhos.

- Eu só queria entender o porquê...

- Você vai, mas acho que já sabe o suficiente sobre você, pelo menos para poder se apresentar para os outros, caso precise. Não se preocupe, você vai acabar descobrindo porque me detesta e porque estávamos brigando. – ela respondeu com um sorrisinho morno, parecia ser cruel constatar aquilo, mas gostava muito mais dele quando não se lembrava quem era.

- Certo, você deve estar cansada, melhor ir dormir.

Hermione assentiu levantando-se vagarosamente do sofá, já pensando onde colocaria Malfoy para dormir e no que poderia pegar da geladeira quando ele a segurou pelo braço ainda sentado.

- Mais uma coisa. – ele falou ainda segurando o braço da garota, Hermione baixou os olhos para este, que eram apenas contidos, não segurados grosseiramente, como esperava que Malfoy o fizesse caso algum dia ele a tocasse. – Quando você acordou, você chamou por alguém, quem é Harry?

Hermione tinha plena noção que sua expressão amena tinha sido tomada por outra completamente inexpressiva. Ó céus, Harry! Estivera ali, conversando com Draco Malfoy sobre amenidades enquanto Harry podia estar naquela casa, enquanto Harry podia estar em qualquer lugar.

Harry poderia estar...

E Ron? Ó céus, Ron estava com ele e apesar de ser estupidamente corajoso, era bem menos preparado que o moreno, ele seria esmagado por aqueles homens cruéis, ele se esqueceria de tudo o que discutiram antes de embarcar naquela missão, ele agiria por instintos e aquilo não seria o suficiente para manter-se vivo.

Seus melhores amigos, suas duas razões de viver, podiam estar mortos, enquanto ela encontrava-se relativamente confortável em seu apartamento abrigando um garoto que a cerca de duas horas atrás a perseguia com uma varinha tentando retalhá-la.

- Hey, você está bem? – perguntou Malfoy levantado-se e segurando-a pelos ombros, receando que ela pudesse cair novamente.

- Eu tenho que sair, Malfoy. Não quero que você saia do apartamento, eu tenho que descobrir algo muito importante. – ela respondeu andando até o banheiro com urgência.

- Você vai sair? Você mal consegue ficar em pé! Como vai sair daqui? Para onde vai? – perguntou seguindo-a e parando a porá do banheiro, onde assistia a moça jogar água no rosto.

- Tenho que descobrir uma coisa,é muito importante que eu vá, não saia do apartamento ou você vai se perder. – ela continuou prendendo os cabelos em um coque no topo da cabeça, estava muito apressada para se preocupar com os cabelos.

- Calma, garota, espera! – falou Malfoy andando atrás da morena até o quarto da mesma, onde ela revirava o armário a procura de um casaco.

- Já te disse para não me chamar de garota.

- Eu não sei o seu nome, queria que eu te chamasse de garoto?

- Me chame de Granger. – ela falou arrancando as roupas dos cabides e jogando-as no cão, tentando tirá-las da sua frente.

- É só esse o seu nome? Granger?

- Não, é Hermione Granger, mas me chame de... Ahá! – ela gritou encontrando um casaco e vestindo-o. – Tchau Malfoy, não saia do apartamento e não faça zona.

- Espere! – ele falou e saiu correndo do quarto, voltando instantes depois com três barrinhas de cereal na mão. – Se você desmaiar no caminho, vai me largar sozinho aqui para sempre.

- Certo... – disse ela apanhando as barrinhas e colocando duas delas no bolso do casaco, enquanto desembalava a terceira – Não toque em nada. – falou por fim desaparecendo no ar, deixando para trás um Malfoy completamente atônito.

Quando tudo o que tinha em mente era o mantra “Por favor, faça com que estejam bem”.


Notas da autora (por MSM):
Olá! Espero que tenha gostado do capítulo, não tão bom com o segundo feito pela Angy, mas vá lá.
Quanto a demora, a culpa foi minha e inteiramente minha.
Eu quem entrei em vinte e cinco mil cursos extra curriculares e fiquei sem tempo para nada, eu quem viajei, eu quem ficou doente enfim... a culpa é minha e me desculpem.
Queria agradecer a todos os que comentaram na nossa fic, alias, quanta gente, obrigada pelo carinho de todos!
Mari Gracita (Obrigada por todos os elogios, linda! E por favor, não morra. o.o), Ara Potter (Que bom que você gostou moça! Espero que continue acompanhando.) Nick Malger (Niiiick!Obrigada por ler a fic, espero que esteja gostando, apesar da... curiosidade. Há!) Leni Malfoy (Ela é toda foda, né? Háháhá! Desculpe pela demora.) Vinola Nightingale (UAU! Que bom que passamos uma boa impressão para a senhorita. E sim, aqui têm fics ótimas.) Leandra (*MSM ruboriza* Desculpe. Mas espero que continuem acompanhando!) Kk (Obrigada pelos elogios moça! Espero que continue gostando e tomara que faça sucesso né? Depende de vocês!) Bezzi;* (Beeeeeeeezzi! Você por aqui! XD Convenhamos que é muuuuuito melhor! Háháhá! Espero que goste dessa capítulo!) Nanda (Aqui está, boa leitura! ;*) Marcele (Desistir não, mas me desculpe pela demora. Adoro quando partidários de outros shippers gostam de fics DHr, significa que além das pessoas estarem mais abertas ao shipper, que a fic está boa! Muito obrigada!) Isadora (Angy, essa moça entusiasmada é para você. Háháhá, as fics da Angy são todas fodas, né?) Anne Haze Granger (Amoooooor! Obrigada por tudo linda! Pelas críticas sinceras, pelas avaliações, por me agüentar e por ser minha amiga a quase quatro anos. ;*)

Obrigada também a todos os que leram mas não comentaram.
Até a próxima!
=*
MSM

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