O despertar de Luna
“Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, 1969”
Ela já não prestava mais atenção na aula que deveria ser de Poções, se contorcia na cadeira, com a mão entre os joelhos cruzados e balançando as pernas pra lá e pra cá.
- Srta. Lovegood? O que está acontecendo? – a professora chamou-lhe a atenção e o que Luna menos queria aconteceu. Devagar ela levantou da cadeira e com a cabeça baixa respondeu.
- Desculpe, Senhora... É que preciso ir ao banheiro! – ouve uma explosão de risadas na classe e a Profª disse.
- Vai, não quero ninguém fazendo nas calças durante a minha aula! – e Luna saiu da sala sob o coro de “mijona”.
Gina e Lilá estavam esperando Hermione no banheiro feminino de Hogwarts, no sétimo andar. Elas iriam fazer o jogo do copo... Nenhuma tinha ouvido falar até que um dia Hermione menciou e resolveram fazer o tal jogo dos espíritos.
- Então... Será que ela vai demorar muito? – perguntou Gina.
- Sei lá... Mas não é melhor você ir chamá-la? Já que ela está trazendo o copo? – disse Lilá.
- Não será necessário – disse Hermione entrando no banheiro – Já estou aqui.
- Até que enfim! Já estava desistindo... Você sabe que esse banheiro é meio abandonado... – disse Gina.
- Vamos logo com isso! – apressou Hermione.
As meninas pegaram a cartolina que Gina tinha levado e escreveram o alfabeto em forma de circunferência depois fizeram os números de 1 à 10 colocaram SIM numa extremidade e NÃO na outra o copo no meio e as velas que Lilá tinha levado acesas em volta.
- Prontas? – Hermione perguntou.
- Você tem certeza de que isso é seguro? – Lilá perguntou
- Lilá... Desde quando mexer com espíritos é seguro?
Em toda escola sempre tem um aluno que é motivo de piada, pegadinhas, chacotas, etc. E Luna sempre fora à preferida de Hogwarts, desde o seu primeiro ano, e agora com 16 anos e no 7º ano não era diferente. Não tinha amigas nem conhecidos, ninguém gostava de ficar perto da “Di-Lua”. Sua aparência era frágil, quase que instável, cabelos loiros escorridos, caindo em sua face, olhos azuis piscina, magra e quieta.
Caminhava para o banheiro feminino do sétimo andar, a saia azul do uniforme esvoaçava muito com o ritmo do seu andar, a camisa branca ¾ fechada até em cima e a gravata, meias ¾ e sapatos negros, tudo fazia parte do uniforme. Quando chegou ao banheiro havia algumas garotas ali que estavam se olhando nos vários espelhos que havia na frente das torneiras. De repente uma menina diz:
- Olha quem ta entrando no banheiro!
- A Luna... Aquela esquisita.
As três colocaram o dedo indicador em cima do copo que estava virado do avesso.
- Tem algum espírito aqui presente que queira se comunicar? – perguntou Hermione. Nada, o copo permaneceu imóvel. Elas se olharam e foi Gina que perguntou novamente:
- Tem algum espírito que queira se comunicar? – o copo se arrastou para a palavra “SIM” e depois voltou ao centro. Todas se admiraram e ficaram mais animadas.
- Como é o seu nome? – perguntou Lilá.
- Mas o que é isso? – disse uma voz. Gina e Lilá ficaram com os olhos vidrados na figura atrás de Hermione. Hermione conhecia aquela voz, na verdade todos naquela escola conheciam, era Mcgonagall, a segunda funcionaria mais velha do local, trabalhava ali há quase 40 anos, e era realmente muito rigorosa.
- Um jogo, Profª... – Lilá começou.
- Velas, copos... Isso parece um culto a satanás! - da onde ela conhecia isso ninguém sabia – Vamos recolham logo isso tudo, vocês já estão atrasadas para as aulas.
Hermione tentou dizer a ela que não era bem assim para sair do jogo.
- Besteira! Vamos, vamos! Já pra aula.
- Mas Professora... Você tem que pedir permissão pra sair! E isso pode demorar um tempo indeterminado! – Hermione tentou suplicar para que ela as deixasse terminar, mas a decisão da Profª era irredutível!
De repente o copo começou a se mover sozinho para as letras do alfabeto.
Luna passou por elas e foi direto aos sanitários, entrou na ultima porta e se trancou, antes que as meninas começassem a chamá-la de alguma coisa. Assim que Luna entro em um box as meninas rasgaram pergaminhos e colocaram em frente a porta e puseram fogo. Todas riam e quanto mais o fogo aumentava mais elas riam e se afastavam do lugar.
Luna se assustou com a fumaça que emergia da porta e levantou rápido do assento. Tentou abrir a porta, mas o fogo já havia comido grande parte da porta de madeira. Começou a gritar e bater na porta, pedindo por socorro. O alarme da escola disparou e começou a jorrar água do teto. Então alguém chamou-a, ela olhou em volta, mas não viu ninguém.
- Luna! Aqui em cima! Luna! – Luna olhou pra cima e viu uma menina de cabelos cacheados debruçada na divisória com a mão esticada em sua direção. Luna subiu na privada e agarrou a mão da menina. Ficou na ponta dos pés, chegando ao fim do seu limite, tentou escalar a superfície lisa da divisória, mas os seus sapatos estavam molhados e de repente ela sentiu um solavanco. Escorregou e bateu com a cabeça no vaso. A sanitária se encheu de sangue. A menina virou pra trás e disse:
- Ela caiu! Meu Deus! Ela caiu!
“L”
- Mas... O que é isso?
“U”
- O copo está se movendo!
“N”
- Sozinho? Isso é possível?
“A”
- Não pode ser!
Mcgonagall esperou que o copo voltasse para o centro depois da ultima letra e depois o arrancou da cartolina.
- PROFESSORA! Não é assim! Isso pode... – Hermione começou.
- CHEGA! Todas para a minha sala! – todas recolheram o restante do material e foram para a sala da diretora substituta.
- Me desculpem! Sei que meti vocês em uma enrascada... – Hermione começou enquanto a Professora não chegava.
- Que nada! Nós queríamos ver também! A culpa também foi nossa! – disse Gina.
- É... Se nós não quiséssemos não teríamos vindo! – reforçou Lilá.
A Professora chegou e começou a criticar aquilo que ela tinha chamado de “Culto à Satanás!”. Dizendo por fim que mandaria uma coruja a cada uma das mães informando disso, e dispensou Lilá e Gina, pedindo apenas que Hermione ficasse.
- Até você Hermione? – disse ela com ar decepcionado.
- Olha... Já fiz isso varias vezes... E nada aconteceu a mim nem a ninguém que estava junto! Não tem com o que a Sra. se preocupar!
- Os trouxas acham que só por que somos bruxos mechemos com espíritos que já se foram! Mas não, e você sabe que não! Deixamos eles em paz para podermos viver em paz! Mexer com eles não é coisa boa! Você tem que entender que quem já foi... Já foi...
- Certo... Mas por favor não mande carta para as mães delas! Elas não tiveram nada a ver...
- Como não, Hermione? Estavam lá isso já é motivo suficiente! Vou mandar sim! Agora se me der permissão... Preciso escrever algumas cartas.
- Mas...
- Boa tarde Srta. Granger!
Hermione saiu de lá cabisbaixa e foi direto para a aula.
- Professora?
- Sim?
- Posso ir ao banheiro?
- Sim, Srta. Granger. – Hermione levantou e foi ao mesmo banheiro de antes. Quando entrou viu a ultima porta bater e alguém chorando. Preocupada, por que poderia ser alguém do primeiro ano, Hermione chegou perto e perguntou:
- Você está bem? – ela perguntou, mas ninguém respondeu. Entrou dentro do box, baixou a saia e sentou apoiando o cotovelo nos joelhos e o queixo nas mãos. Quando terminou ela ainda podia ouvir a pessoa chorar e soluçar. Ergueu a saia e subiu no sanitário e olhou para o outro lado da divisa. Uma menina chorava muito, estava sentada no vaso abraçada aos joelhos. Cabelos loiros caindo pelas costas, a menina usava um uniforme que parecia ser de 36 anos atrás.
- Menina? Você está bem? – ela voltou a perguntar.
A garota levantou de súbito e abriu a porta saiu correndo até a porta, Hermione foi a trás. A menina seguia a passos rápidos pelos corredores até parar em frente à sala da diretoria. Virou-se pra trás mostrando a pele branca cera levemente azulada e um par de grandes e inexpressivos olhos.
- AHHHHHHHHHHHHHHHH! – Hermione gritou acordando. Não tinha percebido, mas acabou dormindo em sala de aula. Todos a olhavam assustados – O que...? O que aconteceu?
- Acho que você acabou dormindo no meio da aula de DCAT! – respondeu Harry – Você está bem?
- Acho que sim... Professora?
- Sim?
- Posso ir ao banheiro?
- Sim... Mas espero que não durma mais em minhas aulas ou terei que dar uma detenção!
- Sim, Senhora!
- Senhora, posso acompanha-la? Caso ela se sinta mal... – perguntou Gina.
- Pode... Vá, vá!
As duas caminharam em silencio até o banheiro quando chegaram lá Hermione contou todo o sonho para Gina.
- Acho que o jogo te afetou... – disse Gina meio preocupada.
- Não... Foi tão real... Não... Sei... Mas ela morreu aqui...
- Como você sabe?
- Não sei! Apenas... Sei...
Então a porta do ultimo Box começou a abrir com um barulho de ferrugem. Hermione sentiu seu coração bater mais rápido e viu Gina com os olhos esbugalhados. De dentro do Box saiu uma menina escutando discman. As três se olharam assustadas no primeiro instante, mas depois começaram a rir e a menina de discman foi embora.
- Nossa que susto... Por um instante eu pensei que você estava falando a verdade! Bom de qualquer modo eu vou indo.
- Mas...
- Até logo.
Hermione ficou ali parada, então tudo começou a rodar e ela se viu no mesmo banheiro, mas... Estava diferente... E lá estava ela, entrando no banheiro... Luna... Hermione viu algumas meninas no lavatório e escutou elas dizerem?
- Olha quem ta entrando no banheiro!
- A Di-Lua... Aquela esquisita.
Luna entrou no ultimo Box e se trancou. Hermione viu as meninas arrancarem pergaminhos de suas mochilas e atearem fogo na porta do Box onde Luna estava. Ela tentou gritar, avisar, pedir socorro e até mesmo apagar as chamas, mas parecia que elas não a escutavam... Era como se só posse visualizar e nada fazer, o alarme da escola disparou e água começou a jorrar do teto. Então uma menina de cabelos cacheados entrou no Box ao lado e subiu no sanitário ficando na divisória. Hermione curiosa para saber o que ela faria, foi atrás e ficou de pé do lado dela espiando pela divisória. A garota estendeu a mão na direção de Luna e gritou:
- Luna! Aqui em cima! Luna! – Luna subiu na privada e agarrou mão da menina. Ficou na ponta dos pés, chegando ao fim do seu limite, tentou escalar a superfície lisa da divisória, mas os seus sapatos estavam molhados. De repente a menina soltou a mão de Luna, fazendo parecer que tinha escorregado. Luna escorregou e bateu com a cabeça no vaso. A sanitária se encheu de sangue. A menina sorriu e virou pra trás e disse:
- Ela caiu! Meu Deus! Ela caiu! – Hermione pode ver a maldade estampada em cada rosto principalmente do da menina. Tudo rodou novamente e Hermione se viu caída no chão do banheiro. Saiu de lá pensando em como tudo aquilo fora tão real, uma idéia veio a sua cabeça e ela saiu correndo só parou quando chegou na frente da sala da diretoria.
- Posso entrar?
- Claro Srta. Granger – disse Mcgonagall.
- Senhora... Alguma Luna estudou aqui e também... Morreu aqui?
- Como sabe? – perguntou assustada.
- Estudou? – reforçou. Se contasse como sabia a professora iria julga-la louca.
- Sim – suspirou – Luna era um amor de menina... Todos sempre fizeram brincadeiras sem graças com ela. E eu sempre esperei pelo dia em que ela iria explodir e revidar as provocações... Sempre achei que um dia ela iria cansar de ser esculachada... Mas infelizmente esse dia nunca chegou... Ainda lembro do dia que ela chegou aqui chorando por que algumas meninas haviam rasgado o seu trabalho de astronomia sobre os astros...
- Senhora... Eu poderia ver os registros de alunos de 69?
- Claro. – disse ela abrindo uma gaveta da escrivaninha – 59... Não, 67, não... Aqui 69! Esta era Luna! – ela apontou para uma menina de cabelos loiros e grandes olhos azuis-piscina tristes.
- É ela... Como foi que ela morreu?
- Ninguém nunca soube como o incêndio começou... Só o que sei é que eu tinha chegado há pouco tempo aqui, era o meu 3º ou 4º ano como Diretora substituta, e do nada o alarme mágico de incêndio começou a tocar por toda a escola quando chegamos no local com o Zelador vimos o que se passava... Sr. Filch derrubou o restante da porta a pontapés e pegou a garota no colo. Levamos até a enfermaria, mas Madame Ponfrey só confirmou o que eu já sabia... Luna não vivia mais entre nós... Sofreu um traumatismo.
- Obrigado... – Quando estava saindo ela voltou e perguntou – Professora? Quem é esta menina? – e apontou para a menina de cabelos cacheados, que havia visto no banheiro.
- Você não consegue pensar em ninguém? – disse sorrindo.
Hermione saiu dali e foi direto para a sala da Diretora.
No instante em que sua cabeça teve contato com o vaso Luna não vivia mais. Seus olhos arregalados opacos e sem vida. Luna foi enterrada no cemitério que havia no pátio dos fundos da escola. Seu corpo foi velado no Salão Principal da escola, usando o vestido preto que usaria em sua formatura, as mãos cruzadas em cima do peito segurando um rosário de prata e os cabelos loiros em cima dos ombros. Luna se despediu de uma vida que não teve. Tudo seguiu tranqüilo exceto pelas vezes em que sua mãe desmaiou e as duas vezes que Luna abriu os olhos durante a noite.
Hermione chegou e entrou na sala pedindo permissão antes.
- Claro! – respondeu a diretora que parecia uma sapa gorda e que se chamava Umbridge.
- A Senhora poderia me acompanhar?
- Para aonde?
- Apenas poderia?
- Certamente... – ela falou oscilante.
Hermione caminhava rápido pelos corredores e Umbridge a seguia preocupada.
- É algo grave, Srta. Granger? – perguntou preocupada.
- Depende do ponto de vista... Chagamos! – disse parando na frente do banheiro feminino do 7º andar.
- O que...?
- Entre por favor, Senhora! – a diretora entrou e logo após Hermione entrou também.
- E agora? – disse Umbridge. As portas dos armários começaram a bater e uma corrente de ar frio começou a passar. Então, todas as portas dos boxes abriram.
- A Senhora andou matando alguma menina ultimamente? – disse Hermione ferozmente.
- Como...?
- Ou será que era só uma menina mimada e que gostava de tacar fogo na porta do banheiro?
- Mas... Como sabe? – a ultima porta do ultimo box estava fechada e Hermione estava caminhando naquela direção. Então ela abriu a porta e empurrou a diretora pra dentro e trancou de novo, subiu na divisória e ficou olhando.
- E agora? Como se sente no lugar daquela menina? Aposto que é muito divertido, não?
- Me tire daqui, ou você vai ver... – disse tentando abrir a porta.
- Ver o que? – no chão, do lado do sanitário, um buraco negro começou a se abrir e a cabeça cheia de sangue de Luna saia de lá, depois o corpo todo.
- Tire-me daqui! Socorro! Tire-me daqui! – disse desesperada enquanto se encolhia a um canto olhando para Luna. Luna agarrou uma perna dela e a arrastou pra dentro do buraco – Socor... – o buraco se fechou.
O sumiço da diretora saiu em todos os jornais bruxos possíveis por meses, mas nunca ninguém a encontrou ou a viu de novo.
6 MESES DEPOIS...
Hermione jogava quadribol quando uma menina a acertou com um balaço.
- Que foi? Não gostou? Fracote! – disse a garota. Hermione a olhou e logo após olhou para as arquibancadas e viu Luna, deu um sorriso voltou a encarar a garota do balaço dizendo:
- Eu e você depois das aulas no banheiro feminino!
FIM
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