O retorno de Riddle
Uma vez sozinhos na sala sombria e úmida, os piores temores de Gina passaram a assombra-la. O medo não era uma opção, mas sim uma reação inevitável. Estava nas mãos dele e não tinha a menor chance de escapar. O silencio tornava tudo pior do que já era, se ao menos ouvisse a voz fria e venenosa dele poderia ter uma noção do que a aguardava. Mas era quase impossível receber alivio daquele ser de trevas.
Ela podia observa-lo andando de um lado para o outro da sala, como se quisesse relaxar um pouco. O que viria depois? Talvez uma seção de maldiçoes Cruciatos antes de uma derradeira Avada Kedavra, ou quem sabe coisa bem pior. Não sabia por que, mas tinha a intima certeza de que seria a segunda opção.
Mais uma vez ele a olhava, era como estar nua na frente dele, não havia como esconder nada daqueles olhos rubros. Era triste pensar que ele já fora um jovem belo, muito belo, diga-se de passagem. Não havia nem lembrança daqueles traços firmes, da pele pálida, dos olhos cinzentos ou até mesmo dos cabelos negros como as noites de lua nova.
Ele quase sorria para ela, como uma criança sorri para uma loja de doces. E aquilo não podia ser considerado nem de longe boa coisa. Sentia o cheiro de maldade e de dor vindo em sua direção. Estava tão absorta em seus temores que nem ao menos percebeu quando ele ergueu a varinha no ar, apontando para o velho diário e proferindo palavras em uma língua antiga. Quando se deu conta da sena que era protagonizada por ele seu cérebro começou a se tornar irritante, como um aviso luminoso que piscava insistentemente, “perigo, perigo”.
Antes que pudesse raciocinar coerentemente um jorro de luz prata saiu pela ponta da varinha dele de encontro ao livreto e quase instantaneamente outro feixe, dessa vez vermelha, saiu do livro em direção a ela. Foi como ficar anestesiada por vários segundos e sentir uma estranha sensação de vazio que começava no peito e descia para o ventre e logo em seguida era substituída por algo frio que causava uma dor incomoda. Viu outra luz saindo de si e indo em direção a ele, era negra. O que viu em seguida foi um borrão difuso, como uma paisagem observada através de um vidro espesso e no meio desse borrão estava a figura imponente de um rapaz de dezessete anos virado de costas para ela.
Um frio incômodo desceu pela espinha dela e o rapaz se virou. Gina pode ver mais uma vez aqueles olhos que assombraram seus pesadelos por tantos anos, olhos cinzentos e cruéis, fazendo conjunto com o meio sorriso sádico e elegante no rosto pálido de traços firmes. Desmaiou com a certeza de estar sonhando acordada, ou melhor, estar sendo aprisionada em um de seus pesadelos mais temidos. Estar novamente sobre efeito das correntes do anjo negro, seu amigo, amante e traidor. O mesmo Tom Marvolo Riddle de seus onze anos de idade.
Observou suas mãos por alguns segundo. Não havia rugas ou sinais de envelhecimento. Tocou seu próprio rosto. Havia um nariz bem esculpido e pele sedosa. Tocou o alto da cabeça e viu as mechas negras que se desprendiam e caiam displicentes pelos olhos. O plano havia funcionado.
Virou-se para a garota e instantaneamente lembrou do nome dela. Gina, Virginia Molly Weasley, a garota que o ajudara na Câmara Secreta. Foi inevitável o sorriso de satisfação ao encarar os olhos dela, que logo em seguida se fecharam e denunciavam que ela havia sido tomada a força nos braços de Morpheus, estava inconsciente.
Caminhou graciosamente até ela e livrou-se das algemas que a prendia naquela parede fria e mofada. O corpo frágil dela caiu suave em seus braços, ele a tomou e foi em direção a porta, que se escancarou para dar passagem aos dois.
Ao deixar a sala deparou-se com Bella, que por sua vez soltou uma exclamação de felicidade e surpresa, Lúcius, Nott, Crabbe e Goylle deixaram seus queixos caírem, deixando-os boquiabertos. Sentiu-se satisfeito com o efeito causado por sua nova aparência.Dirigiu-se a Bellatrix, que ainda estava pasma.
- Espero que o quarto esteja preparado. Ela precisa descansar.- falou eficiente e apontou para o fardo em seus braços.
- Já providenciei aposento para ela, mestre.- disse com sua voz atônita.- Siga-me, por favor.- começou a caminhar a passos decididos, rumo à ala leste.
- Espero não ter que lembra-la de que a nossa convidada aqui -disse apontando novamente para a jovem em seus braços enquanto seguia a mulher a sua frente -precisa de segurança. Não quero correr riscos desnecessários Bella.
- Providenciei uma guarda especial para ela. Eu mesma destaquei e treinei os Comensais encarregados de vigia-la.- falou sorrindo satisfeita com sua própria eficiência.- Também cuidei para que um grupo de elfos doméstico fique de olho nela. Não há como ela fazer nada estúpido com tanta gente vigiando.
O mestre não pronunciou mais nada, sinal de que o resto do percurso foi feito em silencio. Chegaram a torre da ala leste, Bella acenou com a varinha e a enorme torta de mogno se abriu suavemente revelando um quarto cuidadosamente decorado.
O lugar era bem iluminado, com grandes janelas adornadas por cortinas de veludo azul escuro, uma lareira acesa, uma bela cama de dosséis com cortinas iguais as das janelas. O leito estava forrado com lençóis de linho branco em cobertores grossos feitos de tecido também azul. Havia também uma escrivaninha, repleta de pergaminhos em branco e tinteiros cheios, com penas de águia descansando ao lado, e um armário grande o bastante para caber uma enorme quantidade de vestes, que seriam providenciadas no dia seguinte.
O, agora jovem, Lord, depositou a moça adormecida no centro da cama e cobriu-a em seguida. Fez sinal para Bella deixar o quarto e pouco depois estava novamente sozinho com aquela criaturinha de cabelos vermelhos. Sentou-se na cama, bem ao lado dela.
Um efeito colateral do feitiço era recuperar as memórias que possuía em comum com ela e tornar-se de certa forma dependente da pequena adormecida. Estava nostálgico e encantado com tudo aquilo. Olhava para ela com olhos de admiração recordando o quão doce e gentil ela fora em seus anos de menina. Menina ela ainda era, mas com certeza não seria tão inocente como quando tinha onze anos.
Encarava aquele rosto branco, de bochechas rosadas, salpicadas de sardas, como se de alguma forma ela fosse um anjo sem asas. Era estranho pensar que ela era agora a fonte de sua força e juventude e ao mesmo tempo seu ponto fraco. Não estava sendo romântico, apenas realista. Tinha consciência de que caso ela morresse o mesmo ocorreria com ele instantaneamente. Ela carregava dentro de seu corpo um fragmento da alma dele e ele também possuía um fragmento equivalente da alma dela dentro de si. Logo não haveria vida para o outro se um dos dois morresse, por isso havia preparado uma guarda poderosa para vigia-la.
Tocou-lhe os cabelos ruivos que emolduravam a face e ficou brincando com uma das mechas em seus dedos. Com certeza ela estava esgotada. Dormia o santo sono dos querubins e nem ao menos imaginava o que aconteceria com ela. O sofrimento da pequena estava apenas começando. Era algo necessário para que ele obtivesse poder total, ela teria que ter ódio, não importa de que ou de quem, mesmo que fosse ódio dele, ela teria que se render a tal sentimento, para alimentar o pedaço dele que ela carregava dentro de seu corpo jovem e delicado. Se ele estivesse certo, muito em breve ela seria temida por todos assim como ele era. A pequena Virginia Weasley era pré-destinada a se tornar a Lady das Trevas.
Mais uma vez lembrou-se de Potter. Com certeza o desaparecimento de Gina seria uma boa isca para pagá-lo, ainda que esse não fosse o objetivo do plano. Seria unir o útil ao agradável. O pobre garoto da cicatriz iria sofrer bastante, quem sabe até pelas mãos delicadas a ex-namorada. Seria divertido ver Virginia atacando Potter ou proferindo palavras frias e cruéis a ele, fazendo-o implorar pela morte rápida e indolor.
Iria amar tudo isso. Iria amar toda dor e todo sofrimento esboçado pelo rosto do jovem Harry e iria amar ainda mais ter Virginia para executar a sentença do pequeno herói.
Havia porem um risco muito grande de que a parcela da alma dela que estava dentro dele acabasse sendo alimentada também, só que por sentimentos bons, e isso seria uma tragédia para todos os seus planos. Não poderia jamais ter sentimentos nobres, principalmente amor, mas havia algo dentro dele que dizia que olhar para aquela menina era o mesmo que se apaixonar varias vezes seguidas. O rosto, agora sereno, dela, era quase uma personificação fiel do amor.
Não podia sentir nada daquilo, não queria sentir, mas ele sabia dos riscos que ele corria e estava disposto a arcar com as conseqüências quando executou o plano. Então aquele era um caminho sem volta, ou morreria pelas mãos dela ou morreria por ela. Que viesse a sentença, estava preparado.
Ficou velando o sono vazio dela, guardando cada traço daquela sena em sua mente. Odiava o conforto dela, odiava o conforto que sentia perto dela, odiava amando tudo o que havia nela. Estava se auto destruindo e estava quase feliz por isso.
Sentiu-se cansado e achou melhor voltar para o seu próprio quarto, algo lhe dizia que os próximos dias não seriam fáceis, então era melhor dormir. Saiu silencioso e desapareceu nas sombras do castelo, deixando uma bela adormecida para trás.
Abriu os olhos pesados e preguiçosos. Fora apenas um pesadelo incomum. Imagine, Voldemort recuperando a forma do jovem Tom Riddle, surreal de mais. Passou as mãos pelo cabelo despenteado.
Sentou-se na cama e olhou ao redor, demorou a perceber que o quarto estava na penumbra e que havia cortinas azuis ao redor da cama de dosséis. Estranhamente não percebeu que aquele não era seu quarto, afastou o tecido e tocou o chão com seus pés. Estava frio. Levantou-se e foi até as grandes janelas, afastou as cortinas para olhar a paisagem chuvosa do lado de fora. Conhecia aquele lugar.
Não estava em casa e sem duvida aquilo não era sonho, então significava que todas aquelas senas estranhas que povoavam sua mente haviam realmente acontecido. Estava no centro de comando dos Comensais e o pior, havia dormido sob o mesmo teto que Tom Riddle. Nem em seus piores pesadelos aquilo teria acontecido.
Olhou para os lados desnorteada e atônita. Queria gritar, queria chorar, queria fugir, mas com certeza morreria tentando. Estava perdida, pior, estava presa nas mãos de Tom. Estava tão desesperada que nem mesmo percebeu a criaturinha vestida de trapos que estava em frente à porta do quarto e quase passou por cima.
Deu-se conta de que não estava só afinal. Olhou para aquele ser minúsculo, de olhos castanhos enormes, e nariz pontudo, uma elfa domestica usando um pedaço velho de uma toalha de jantar florida. A elfa fez uma reverencia exagerada a qual Gina não respondeu.
- Sou Nany, senhorita.- disse com um tom de voz emocionado, como se estivesse diante de uma rainha ou coisa assim, seus olhos estavam marejados.- Fui encarregada de ser sua serva particular. É uma enorme honra... Nany nunca imaginaria... Oh não, nunca! Alegria de mais para uma elfa só... Imagine.- e a pequena elfa continuava a tagarelar contente enquanto Gina olhava-a com confusão.
- O que é exatamente uma honra, Nany?- perguntou desconfiada, erguendo uma das sobrancelhas.
- Ora, servir a senhorita é claro.- disse soltando uma risadinha aguda.- Sei que só os melhores aqui do castelo foram designados para tal tarefa e eu fui selecionada pela própria senhora Bellatrix.
- Não estou entendendo. Sou uma prisioneira, não deveria ser servida por ninguém.- disse sem entender o que a elfa falava.
- Oh não, senhorita... A senhorita não é prisioneira... Não, nunca.- a elfa ria incrédula.- A senhorita é mestra, é convidada do nosso Lord... O Lord é bom, deu Nany de presente para a senhorita. Nany está feliz de servir a nova senhora. Nany veio informar a senhora de que o café da manha será servido para ela aqui...
- Você é minha serva?- perguntou ainda incrédula e a elfa confirmou exageradamente com a cabeça.
- A senhora Bellatrix pediu para informar a senhorita que mais tarde ela vira para preparar roupas para a senhorita.- ela continuava eufórica.- A senhora Bellatrix mandou Nany para arrumar a senhorita.
Ficando cada vez mais surpresa com a sua situação Gina observou Nany colocar uma enorme bandeja de prata em cima de uma mesa redonda recém conjurada pela elfa. Sem ter outra opção, sentou-se e comeu a farta refeição, ainda com medo de estar envenenada. Sentiu um frio pela espinha ao imaginar que mais tarde estaria frente a frente com a assassina de Sirius Black e não tinha como escapar de Bellatrix.
Enquanto a chuva caia lá fora, Tom apenas encarava o nada, com seus pensamentos perdidos em recordações e possíveis planos a cerca da jovem de cabelos vermelhos que no momento estava do outro lado do castelo.
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Mais um capitulo no ar. Desculpe pelos erros de concordancia e ortografia no anterior, eu estava escrevendo de noite e morrendo de sono entao saiu muita bestera. Esse ficou um pouco maior. Vou postar o proximo no mais tardar domingo q vem.
Obrigada e por favor comentem.
Bjux a todo
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