Dois Lados
Antes do Amanhecer
escrito por snarkyroxy
traduzido por bastetazazis
beta-read por ferporcel
Summary: Dumbledore informa ao Trio que a Ordem tem um problema, e Snape leva Hermione para um passeio na Floresta Proibida.
Disclaimer: Qualquer coisa que você reconheça pertence ao talento imensurável de J. K. Rowling; eu só os pego emprestado para brincar um pouco!
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Capítulo Doze: Dois Lados
A uma semana antes das férias de Natal, o Diretor chamou Hermione, Harry e Rony no seu escritório. Ele explicou que, ao contrário dos últimos dois anos, eles não poderiam passar o feriado de Natal de uma semana no Largo Grimmauld devido às terríveis circunstâncias que os membros da Ordem se encontravam ultimamente.
Hermione já vinha desconfiando que alguma coisa estava acontecendo, e que era mantida em segredo. O Profeta Diário fora suspeitosamente indulgente ao informar sobre ataques de Comensais da Morte durante as últimas semanas, depois de tantas manchetes com as tragédias no início do ano. Certa noite, numa conversa séria no quarto de Hermione, Harry insistira que os ataques ainda estavam acontecendo.
Apesar das suas aulas de Oclumência com Dumbledore no ano anterior terem sido um grande sucesso, Harry ainda conseguia sentir explosões de humor particularmente fortes de Voldemort. Hermione deduzira que estas explosões geralmente coincidiam com as vezes em que Snape fora convocado nas últimas semanas, e embora ela soubesse que ele estivera apenas demonstrando seu progresso com a poção para seu antigo mestre, pelo pouco que ele lhe contara, parecia que os demais Comensais da Morte presentes naquelas noites estiveram muito mais... ativos.
Não havia nenhum brilho nos olhos de Dumbledore quando ele resumiu a situação para os três alunos. Ao invés dos ataques ao acaso de sempre, Voldemort havia iniciado uma nova estratégia de perseguir membros da Ordem e suas famílias. Quim Shacklebolt fora o primeiro, e o único, a ser noticiado pelo Profeta. Desde então, Dumbledore conseguira persuadir o jornal a não informar sobre os ataques, e Hermione ficou chocada e consternada ao ouvir que três membros da Ordem haviam sido assassinados desde então. Dois deles estavam em casa quando os ataques aconteceram, e suas famílias também se tornaram vítimas dos servos de Voldermort.
O mais inquietante foi como Voldemort sabia quem perseguir. O número de membros da Ordem da Fênix era extremamente sigiloso, e poucas pessoas fora da organização sabiam que ela existia, quanto mais os detalhes sobre seus membros.
– Outro espião – disse Harry, seus olhos estavam indecifráveis ao lembrar-se das conseqüências por terem falhado em descobrir o último espião infiltrado na Ordem: Pedro Pettigrew.
– É possível – Dumbledore lamentou severamente com um suspiro. – Eu não tenho mais nenhuma outra idéia de como essa informação poderia ter escapado. Eu confio totalmente em cada um dos membros da minha Ordem e, em tempos como este, nós não podemos permitir que essa confiança seja abalada.
– Como precaução – ele continuou –, todos os membros da Ordem vão morar no Largo Grimmauld até segunda ordem, com a exceção, é claro, daqueles que residem aqui na escola.
– E como ficarão suas famílias? – Rony perguntou, obviamente pensando nos seus próprios pais que eram membros da Ordem, e em seus irmãos espalhados por todo o país. – Os Comensais da Morte não vão persegui-los no lugar dos próprios membros da Ordem?
– Nós tomamos todas as precauções necessárias para proteger os parentes de todos os membros da Ordem – o Diretor declarou. – A única coisa que falta resolver é onde vocês três vão passar o Natal. Vocês são, é claro, muito bem-vindos a permanecer aqui, entretanto eu imagino que estejam esperando ansiosamente por uma mudança de cenário.
Harry e Rony assentiram fervorosamente, e até mesmo Hermione teve que admitir que a atmosfera no castelo tornara-se um pouco opressiva. Com as visitas à Hogsmeade canceladas desde o ataque do ano anterior, os alunos tinham poucas oportunidades de se aventurarem além dos jardins do castelo. Assim, este ano nenhum aluno havia se registrado para permanecer na escola durante o feriado.
– Você sabe onde minha mãe e meu pai vão ficar, professor? – Rony perguntou. – Eu tenho certeza que o Harry e a ‘Mione seriam bem-vindos em casa se...
Dumbledore já estava balançando a cabeça. – Seus pais acham que seria mais seguro se você não fosse para casa neste ano, Sr. Weasley – o Diretor disse solenemente. – Arthur é um dos defensores mais ativos das boas relações entre bruxos e trouxas no Ministério, e seus temores de que isso possa atrair uma atenção indesejável são bem fundados.
Rony empalideceu.
– Tenha certeza, Sr. Weasley – o Diretor continuou gentilmente. – Seus pais estão bem protegidos no Largo Grimmauld com o resto da Ordem. Nenhum mal chegará até eles lá.
– Nós poderíamos ficar com Fred e Jorge – Rony disse, relaxando vagarosamente. – Eles ficariam felizes com a ajuda extra na loja durante o Natal... e eles podem até nos pagar por isso. – Seus olhos iluminaram-se com a idéia de gastar este dinheiro.
– Parece interessante – Harry disse, e então virou-se para Dumbledore. – É possível, professor?
O Diretor assentiu com a cabeça, seus olhos brilhando novamente. – Certamente. Eu imagino que verei algumas travessuras novas quando vocês voltarem para o novo semestre.
Hermione mordeu os lábios. Passar o Natal com os Weasleys parecia mesmo divertido, mas sentia-se mal negligenciando os próprios pais. Ela não passava o Natal com eles há alguns anos e, assim que ela se formasse e saísse para viver no mundo mágico, ela temia que a distância que já havia crescido entre eles só ficasse ainda maior.
Ela limpou a garganta. – Se você concordar, Diretor – ela disse –, eu acho que gostaria de passar o Natal com meus pais este ano.
Dumbledore assentiu num gesto de compreensão, e ela voltou-se para seus amigos. – Eu adoraria passar o Natal com vocês dois – disse honestamente –, mas acho que eu preciso ir para casa este ano.
Rony parecia levemente desapontado, mas tanto ele quanto Harry aceitaram sua decisão sem questioná-la. Com o assunto resolvido, a conversa voltou para a Ordem. Dumbledore estava confiante que eles encontrariam o espião em breve e, enquanto isso, o melhor a fazer era manter todos protegidos e seguros no Largo Grimmauld.
Surpreendentemente, foi Rony e não Harry, quem discordou, embora ele não tivesse dito isso na presença do Diretor. Os três grifinórios estavam discutindo isso mais tarde naquela noite, encolhidos em confortáveis poltronas num canto do quarto de Hermione, quando Rony expôs suas preocupações.
– Eu não sei no que Dumbledore estava pensando, colocando toda a Ordem junta daquele jeito num único lugar.
Hermione franziu a testa. – O que você quer dizer?
– Pense um pouco – Rony disse de maneira objetiva. – Quem quer que seja que esteja passando essas informações para Você-Sabe-Quem, com certeza está a par do que acontece dentro da Ordem. Se alguém que estiver no Largo Grimmauld for o espião, Dumbledore acabou de presenteá-lo com a lista completa de cada membro da Ordem.
Hermione gelou.
– Merda – Harry murmurou, e então disse depois de um momento: – Mas Dumbledore disse que confia em todos na Ordem. Tem que ser alguém de fora.
– Será? – Rony perguntou, cético. – Dumbledore confiou em Pedro Pettigrew, uma vez.
O rosto de Harry ficou sombrio e ele não disse nada.
– Ele confiou no Quirrell quando Você-Sabe-Quem estava firme atrás da cabeça dele... – Rony continuou. – Ele confiou no Moody, mesmo ele sendo na verdade um Comensal da Morte disfarçado... e ele confia no Snape, embora ele já tenha sido um Comensal da Morte.
De novo não – Hermione pensou. Em voz alta, ela disse friamente: – Ah, então é isso.
– Não, eu não quis dizer isso, Hermione – Rony protestou. – Apenas me escute.
– Não – ela o cortou irritada. Ela achava que eles tinham resolvido o problema de confiança no Snape da última vez que eles discutiram, mas aparentemente não. – É a sua vez de me ouvir. Eu já estou cheia de ver você tentando culpar o Professor Snape por tudo que dá errado. Desde o nosso primeiro ano, você tinha certeza que ele estava tentando matar o Harry, mesmo depois de nós descobrimos que não era verdade. Não, ele não gosta do Harry. E daí? A Professora McGonagall não gosta do Draco Malfoy; isso significa que ela está tentando matá-lo?
– Não foi isso que eu quis dizer, Hermione – Rony disse. – Snape é um Comensal da...
– Ele não é um Comensal da Morte! – Hermione gritou.
Ela respirou fundo, dando graças ao feitiço silenciador que colocara na sua porta por hábito.
– Ronald Weasley – ela disse calmamente. – Se você soubesse de metade das coisas que o Professor Snape já sofreu na vida, a idéia de que ele possa não ser leal à Ordem jamais passaria na sua cabeça.
Rony suspirou. – Olhe – ele disse –, é óbvio que estou me expressando mal. Eu não estou tentando começar uma discussão, não estou sendo um idiota como da última vez e não estou dizendo que eu acho que o Snape é o espião.
Hermione bufou. Ele poderia tê-la enganado.
– Eu só espero que nós consigamos pegar o espião logo, porque até lá... – ele fez uma pausa e olhou de relance para Harry. – Seu pai confiou no Pettigrew, não foi?
Harry cerrou os dentes e assentiu com a cabeça, e finalmente, Hermione entendeu o que Rony queria dizer.
Ele só estava usando o Snape como um exemplo, e embora ela preferisse que ele não o fizesse, ele deixara sua opinião bem clara. Eles realmente não sabiam em quem podiam confiar, porque da única vez que alguém traíra a Ordem, havia sido a última pessoa imaginável quem o fez. E talvez o verdadeiro traidor estivesse se aproveitando disso; criando medo e dúvida entre os membros leais à Ordem, dificultando seus esforços em trabalharem juntos para vencer a guerra.
– Dumbledore acredita em dar uma segunda chance às pessoas – Harry disse, entendendo o que Rony quis dizer –, e isso o torna vulnerável a qualquer um que consiga convencê-lo ser merecedor do seu perdão.
– Vê o que eu digo, Hermione? – Rony implorou. – Não que Dumbledore tomou a decisão errada ao confiar no Snape, mas que se ele esteve disposto a mandar um antigo Comensal da Morte fiel de volta para Você-Sabe-Quem como espião, é possível que ele tenha dado a mais alguém uma chance de se redimir... alguém que ele não deveria ter perdoado.
– Desculpe-me se eu tirei conclusões precipitadas – ela disse arrependida. – Mas guardem minhas palavras, eu acho que o Professor Dumbledore precisaria de uma razão bem convincente para confiar em alguém do outro lado. Ele não aceitou simplesmente a palavra do Professor Snape quando ele veio até o Diretor pedindo para trocar de lado.
Seus dois amigos a olharam com curiosidade e ela balançou a cabeça. – Não – ela disse com firmeza –, eu não posso contar-lhes o que eu sei, mas eu acho que posso dizer com segurança que o Professor Dumbledore não é um velho tolo a ponto de ser enganado por qualquer história triste.
Os três ficaram quietos, olhando fixamente para o fogo por alguns minutos até Harry falar novamente.
– Da última vez que alguém traiu a Ordem eles eram leais ao Dumbledore antes, e depois trocaram de lado. É possível que isso tenha acontecido de novo?
– Era isso que eu estava pensando – Hermione murmurou. – Deste modo, a pessoa não precisaria ganhar a confiança do Diretor para se infiltrar na Ordem; ele já seria um membro.
– O único problema é – Rony colocou –, isso significa que pode ser qualquer um? Como nós saberemos em quem confiar?
–Eu acho que Dumbledore está certo – Hermione lamentou. – Ninguém pode fazer muito mais que ter cuidado e ficar de olho em qualquer coisa estranha.
– Vigilância constante – Harry disse, com um riso forçado.
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O dia seguinte era sexta-feira e, depois da sua última aula, Hermione, como sempre, pegou a passagem secreta para o laboratório do Snape para continuar as poções da Ala Hospitalar. Apesar da enorme lista que Madame Pomfrey lhe dera, ela conseguira preparar a maioria das poções não-perecíveis no último mês, deixando-a agora com tempo para ajudar o mestre de Poções com seu próprio trabalho.
O aviso inicial para que ela ficasse longe do seu trabalho quando ela começou a usar o laboratório dele fora esquecido pelos dois e, entre a persistência dela e a descoberta dele que o seu interesse em poções era genuíno, ela se viu cada vez mais envolvida no trabalho dele.
Ela ficara surpresa e contente quando ele consentira em mostrar-lhe a pesquisa em que ele estava trabalhando, e a profundidade e qualidade do trabalho dele apenas aprofundaram seu respeito por ele como um acadêmico.
Há uma semana, Snape finalmente descobrira o ingrediente problemático no antídoto para a Poção Cruciatus e, por sorte, a substância tinha um substituto fácil de conseguir. Agora ele estava apenas esperando para recolher outra porção de excrementos da égua apaixonada para completar a mistura final.
Hermione continuou preparando suas próprias poções no laboratório até que Snape entrou apressado, logo após as sete horas, e olhou por sobre seu ombro.
– Poção calmante – ele mencionou. – Ficará bem. Lance um feitiço de estase, Srta. Granger. Nós temos coisas mais importantes para fazermos esta noite.
Ela lançou o feitiço, limpou sua bancada de trabalho e então entrou na sala de estar. Ele reapareceu pela outra porta, deixando de lado o casaco preto habitual por outro, também preto, mas mais pesado e forrado com um pelo grosso. Ela o olhou com um olhar questionador assim que ele a entregou um casaco semelhante.
– Está congelando lá fora – ele declarou –, e feitiços aquecedores não são tão eficientes.
– Aonde nós vamos, professor? – ela perguntou, pegando o casaco das mãos dele e jogando por cima dos ombros. Cheirava levemente a sândalo e alguma outra essência que ela não conseguia identificar. Era bem pesado, mas a sensação luxuosa da pele mais que recompensava o peso.
– Esta é a terceira noite de lua crescente – ele disse –, e nossa única oportunidade durante o mês para recolher o ingrediente chave do antídoto. Como agora o Lorde das Trevas terá a poção completa antes que outro mês termine, não temos tempo a perder.
– Você vai dar a ele a poção verdadeira tão cedo? – Hermione perguntou enquanto o seguia para fora dos aposentos pela porta principal. Ele a conduziu por um pequeno corredor e a outra porta, que se abriu revelando os jardins cobertos de neve que levavam até a Floresta Proibida. Apenas depois atravessaram os jardins para longe do castelo ele falou novamente.
– Dumbledore decidiu que fingir fracasso por muito mais tempo colocaria minha posição entre os Comensais da Morte em risco – ele explicou. – Sendo assim, na próxima vez que eu for convocado, entregarei a poção completa.
– Quando você espera ser convocado novamente? – ela perguntou cautelosamente, assim que eles alcançaram à borda da Floresta Proibida e entraram por um caminho estreito entre as árvores.
– Eu não sei. – ele disse brevemente, então suspirou e acrescentou: – Embora eu não espere que o Lorde das Trevas deixe o Natal passar sem algum tipo de... comemoração.
Ela estremeceu. Não foi a imagem de Comensais da Morte cantando músicas natalinas em Hogsmeade na Véspera de Natal que as palavras dele trouxeram à sua mente.
Eles andaram silenciosamente por um tempo, Hermione quebrou o silêncio momentâneo apenas para sacar sua varinha e murmurar lumos. A escuridão abaixo da copa das árvores altas era absoluta e Snape, à sua frente, estava iluminando o caminho à frente com sua própria varinha, deixando-a sob sua sombra.
Eles estavam andando por mais de meia hora e adentrado no coração da floresta quando Snape parou de repente na beira de uma clareira, iluminada por um estreito raio de luar que espreitava por entre uma brecha nas árvores.
– Lá – ele disse brandamente, apontando para base de uma árvore. Hermione podia ver o que eles vieram procurar; uma pilha razoavelmente grande de excrementos, brilhando levemente.
– Ela deve estar por aqui, em algum lugar – ele murmurou, e então chamou em voz alta numa língua que Hermione reconheceu como latim, embora ela não entendesse as palavras.
– A criatura fala latim? – ela perguntou maravilhada. Embora a maioria das criaturas mágicas semelhantes ao homem: centauros, duendes e gigantes, falassem línguas humanas, Hermione não tinha considerado a égua-apaixonada entre eles, comparando a criatura a um unicórnio em contraponto, cuja fala era entendida apenas pelos da mesma espécie.
– Ela – disse o mestre de Poções, com um olhar de reprovação para Hermione –, entende a língua morta. Ela não sabe falar, como tal, mas pode escutar, e eu posso entendê-la suficientemente bem.
No mesmo instante, um movimento no lado mais afastado da clareira pegou os olhos de Hermione, e uma criatura muito bonita deu um passo cuidadosamente para fora das árvores.
Nenhuma das ilustrações em livros sobre criaturas mágicas fazia justiça ao animal à frente deles. Era muito menor que um unicórnio, talvez tivesse uns quarenta centímetros de altura, mas com a mesma forma e graça. Seu pêlo era de um marrom escuro e lustroso, e onde os raios de lua o atingiam, brilhavam com uma luminosidade singular. Quando a criatura se moveu, a luz rastelava pelo seu pêlo numa dança intoxicante. A crina e a cauda também eram escuras, como o pêlo do corpo, mas seus fios pareciam absorver ainda mais a luz da lua, de maneira que eles brilhavam distintamente.
Isso fez Hermione lembrar-se de um documentário que ela assistira na televisão quando estava em casa no último verão; sobre como a Lua era um lugar sombrio e estéril, ainda que vista da Terra, à noite, parecia ser uma coisa de grande beleza.
A criatura bufou e bateu com as patas no chão, nervosamente.
– Ela não está acostumada com outras pessoas – Snape disse gentilmente. – Espere aqui.
Hermione observou, enamorada, como a criatura, depois de ver Snape, relinchou e moveu-se em direção a ele. Quando estava perto o bastante, ele esticou a mão e acariciou sua crina e ela, inclinando-se ao toque dele, levantou a cabeça para aninhar-se ao seu lado gentilmente, por entre as pregas das vestes.
Uma risada baixa ressoou do mestre de Poções e ele foi até suas vestes, retirando um punhado de algum tipo de alimento. A égua-apaixonada comeu a comida oferecida da mão dele enquanto ele falava em voz baixa.
Hermione não conseguia ouvir o que ele estava falando, mas pôde fazer algumas suposições quando a criatura olhou além dele, observando-a então com agitação nos olhos brilhantes.
Snape acenou para ela se aproximar e, respirando profundamente, ela deu um passo em direção à clareira para juntar-se a eles.
Quando ela chegou mais perto deles, hesitou e pisou em falso. Snape, observando-a, disse alguma coisa para a égua-apaixonada, e a criatura avançou, esticando o nariz para cheirar a sua mão. O focinho era macio e quente, e a criatura começou a circular a sua volta, farejando-a gentilmente.
Hermione permaneceu parada, sem saber o que fazer, quando a criatura bufou espalhafatosamente, assustando-a, e fugiu saltitante através da clareira.
– Eu fiz alguma coisa errada? – ela perguntou para Snape, que parecia vagamente divertido quando balançou a cabeça.
– Não, ela só ficou desapontada porque você não tinha nenhuma guloseima para lhe oferecer, como eu tinha.
– Ah.
– Agora – Snape disse vivamente –, vamos recolher o que viemos pegar.
A égua-apaixonada voltara para o lado de Snape, e ele acariciava a sua crina levemente com uma mão enquanto tirava um rolo de lona de um bolso das suas vestes com a outra. Hermione reconheceu que era o mesmo tipo de lona que ele havia embrulhado os excrementos que mostrara a ela há um mês.
A égua-apaixonada obviamente também reconheceu suas intenções, porque ao ver o material, a criatura trotou para a pilha de excrementos, esperando ansiosamente que eles a seguissem.
Os dois ajoelharam-se ao lado da pilha e Snape mostrou a Hermione como coletar a valiosa substância sem contaminá-la pela sujeira ou pelo toque humano. A égua-apaixonada permaneceu por perto, observando, enquanto que Hermione cuidadosamente embalava os excrementos em camadas extras de lona.
Snape disse alguma coisa para a criatura então, o que lhe resultou numa cabeçada não muito gentil no lado dele.
– O que você disse? – Hermione perguntou, tão fascinada quanto confusa pela camaradagem que os dois seres tão diferentes pareciam dividir.
– Eu disse para ela não ficar tão orgulhosa de si mesma – ele disse, sorrindo maliciosamente. – Ela não tem nenhuma outra escolha a não ser livrar-se disso.
Desta vez foi Hermione quem bufou, tentando segurar uma risada. Ela ainda não estava acostumada a ouvir o mestre de Poções falando tão abertamente, e tendo descoberto o senso de humor sarcástico dele, as aulas de Poções passaram a ficar difíceis de acompanhar. Ela tinha que ficar constantemente se lembrando de não rir quando ele direcionava um insulto cuidadosamente disfarçado, mas totalmente justificável, a um de seus colegas de classe.
Seu acesso de riso, entretanto, pareceu ter assustado bastante a criatura e ela relinchou assustada, encolhendo-se atrás de Snape por proteção.
– Eu sinto muito... – Hermione começou a dizer brandamente, mas Snape levantou a mão, falando novamente com a criatura. Hermione escutou atentamente à voz baixa e retumbante de seu professor, mas não conseguia entender nada além de palavras estranhas. Depois de alguns minutos, a égua-apaixonada, parecendo levemente encabulada, se isso era possível, saiu de trás de Snape e foi cheirar a mão dele, depois fez o mesmo com a mão de Hermione, antes de virar-se com um assovio da sua cauda e desaparecer na escuridão além da clareira.
– O que foi aquilo? – Hermione disse.
– Aquele é o jeito dela de dizer adeus – Snape disse, e depois de uma pausa acrescentou –, ela é uma criatura estranha, mas uma aliada útil, particularmente agora. – Ele levantou o pacote com os excrementos cuidadosamente embalados.
– O que você disse para ela depois que eu a assustei? – Hermione perguntou depois de um tempo, enquanto eles caminhavam de volta ao castelo. – Vocês conversaram por um tempão.
– Eu apenas disse a ela que você era minha amiga e que não faria nenhum mal a ela.
– Amiga? – Hermione voltou-se para o seu professor, contando com a penumbra para disfarçar a expressão esperançosa do seu rosto.
– Traduzido livremente – ele disse, olhando de cima para ela, a escuridão deixava a expressão dele indecifrável. – Ela não entende latim fluentemente. Dizendo a ela que você era minha amiga, ela entendeu que você não faria nenhum mal a ela. – Ele fez uma pausa. – Eu também pedi a ela que se você um dia viesse coletar seus dotes sem a minha presença, que ela os providenciasse para você.
– Ah.
Eles andaram sem se falar por um tempo, apenas os seus passos e os ruídos das pequenas e invisíveis criaturas nas redondezas quebravam o silêncio.
– Sabe, professor – ela disse, puxando conversa, assim que as árvores começaram a se abrir perto da borda da floresta –, você deveria ensinar Trato das Criaturas Mágicas. Você foi realmente brilhante com ela.
– Tentando tirar o emprego do Professor Hagrid? – ele comentou maliciosamente.
Hermione hesitou. Snape sabia que ela não estava mais cursando Trato das Criaturas Mágicas como matéria para seus N.I.E.M.s, e embora ela fosse uma grande amiga do professor meio-gigante, e os conhecimento e carinho dele pelas criaturas mágicas eram enormes... algumas vezes suas aulas eram um pouco selvagens demais.
– Não – ela disse –, mas se alguma vez você se cansar de ensinar Poções, eu tenho certeza que...
– Duvido que eu teria muito sucesso – ele disse abruptamente, andando ao lado dela agora, enquanto apontava para o braço esquerdo. – Muitas das criaturas mágicas são repelidas pela magia negra da mesma forma que as éguas-apaixonadas são atraídas por ela. Metade das criaturas na ementa do currículo N.I.E.M. não chegariam perto de mim.
Ele acelerou o passo para caminhar à frente dela e pelo tom decisivo dele ela sabia que a conversa estava encerrada. Incomodava-a o fato de suas discussões agradáveis sempre pareciam transformar-se e terminar com uma nota desagradável. Era como se ele não pudesse se permitir ficar alegre por um minuto sequer.
A máscara sempre voltava ao lugar; ai de quem visse o verdadeiro Severo Snape. Hermione estava vendo-o cada vez mais conforme o tempo passava, e a assustava um pouco o quanto estava começando a gostar do lado escondido do seu professor.
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De volta ao castelo, o humor de Snape parecia piorar a cada minuto. Ele a ensinou a preparar o antídoto, embora eles não saberiam com certeza se daria certo até que ficasse cozinhando lentamente por trinta e seis horas e aparecesse uma oportunidade para testá-lo. Entretanto, ele recusou-se redondamente a contar-lhe qualquer coisa a respeito dos ingredientes ou do processo de preparo da Poção Cruciatus, embora ele tivesse começado a preparar uma nova leva naquela noite. Ela tentou argumentar com ele que conhecer os ingredientes da poção original a ajudaria entender melhor a cura.
Ele virou-se para ela, atirando sua varinha na bancada entre eles.
– Não questione meu julgamento – ele sibilou furioso. – Você está sob a minha supervisão e vai aprender apenas o que eu julgar adequado para você.
Então ele virou-se para o caldeirão atrás dele, ignorando-a resolutamente.
Este era absolutamente o Professor Snape, não aquela outra pessoa que ela passara a conhecer... Severo, como ela, possivelmente sem notar, chamava-o para si mesma.
Ela não tinha a menor idéia do que havia causado essa explosão de fúria repentina. Ela já havia discutido com ele antes, há algumas semanas, quando ele recusara-se a mostrar-lhe uma poção para detectar magia negra no sangue justificando que ela era considerada fronteiriça à própria magia negra. No final, sua persistência falara mais alto, e ele acabou mostrando-lhe com relutância, rosnando com indiferença alguma coisa sobre “grifinórios insistentes”.
Ela se perguntou, por que a reação dele desta vez fora tão diferente?
Ela sabia, depois de sete anos nas aulas dele, que a melhor maneira de aplacar a fúria do Professor Snape era manter a cabeça baixa e continuar com o seu trabalho. Movendo-se para o outro lado do laboratório, ela tirou sua poção calmante do estado de estase e completou seu preparo. Ele não olhou na direção dela uma vez sequer e, após limpar o espaço onde havia trabalhado, ela saiu quieta, sem saber se estava mais brava ou chateada com aquele homem complicado.
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Continua…
N/A: Obrigada a todos que deixaram reviews. Alguns são bem perceptivos e eu realmente valorizo todos os seus comentários.
N/T: Obrigada a Ferporcel, minha beta-reader.
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