A Aposta
CAPÍTULO XI
A Aposta
- Eu realmente não estou entendendo nada!
Kristyn largou-se no banco ao lado da prima. Lilly a acompanhou, o semblante intrigado. O grupo de amigos estava reunido em uma mesa do salão comunal. Frank ajudava Alice com a matéria de Transfiguração, enquanto Ana, Sebastian e Marlene terminavam a lição de Poções. Todos queriam se livrar das tarefas antes do início da folga do Natal, que se aproximava.
- Pode ser mais clara, Kristyn? - perguntou Marlene - O que exatamente você não entende?
- O comportamento dos caras dessa escola está muito estranho, Lenne. Digam, Sebastian e Frank , - com todo o respeito Alice – Lilly e eu somos bonitas, não é?
- Não, prima, vocês são lindas. - Frank concordou com o amigo.
- Então, por favor, nos expliquem: por que todos os rapazes da escola parecem estar nos evitando? - perguntou Lílian. - Acabamos de passar por Seymor Creevey, e ele só faltou fugir apavorado quando o cumprimentamos.
- E não foi o primeiro. Semana passada, Jack Corner ficou em nosso grupo na aula de Herbologia. Estava tão pálido que pensamos que fosse desmaiar.
Os amigos se entreolharam e caíram na gargalhada.
- Bom, isso realmente explica tudo! Muito obrigada pela ajuda! - ironizou Lilly, irritada.
- Desculpem, meninas. - pediu Marlene, tentando conter o riso. - Mas é difícil acreditar que vocês não saibam.
- Saber o quê, meu Deus?!
- Eu explico, Kristyn. - interrompeu Sebastian - Resumindo, - começou, com ar de quem tentava não rir – parece que todos acham que vocês foram amaldiçoadas e que dá azar se aproximar de vocês.
- O quê?!!! - gritaram em uníssono, fazendo com que várias cabeças virassem em sua direção.
- Isso mesmo que ouviram. - corroborou Frank, rindo. - O boato que corre é que qualquer um que tentar se engraçar com vocês vai se arrepender.
- Mas... por quê? - perguntou Lilly, incrédula.
- Ah, tudo começou com aqueles dois Corvinais, Boot e Goldstein. Depois que apareceram no armário da Drückgeister, uma semana depois de terem sumido misteriosamente, espalharam que era a segunda vez que acontecia algo quando tentavam se encontrar com vocês.
- Por isso foram tão evasivos quando fomos perguntar como estavam. - concluiu Kristyn.
- Exatamente. E depois ainda teve o incidente com os dois da Lufa-Lufa, Branstone e Cauldwell.
- Madame Pomfrey teve muito trabalho para fazê-los voltar ao normal. Ela deu a maior bronca neles, mas continuaram insistindo que não tinham tomado Poção Polissuco para virarem morcegos. - ajudou Alice.
- Como eles tinham encontro marcado com vocês naquele dia, foi o suficiente para confirma a estória da "maldição". - concluiu Sebastian.
Lilly e Kristyn não conseguiam falar, tamanho o espanto. Se entreolharam, boquiabertas, para logo em seguida levantarem-se, indo decididas até onde os Marotos jogavam uma partida de Snap Explosivo.
- Vocês devem estar muito satisfeitos!
Viraram-se para as garotas, enquanto o snap explodia na cara de Pedro.
- Donovan, você já foi mais articulada, sabia? - provocou Sirius.
- Escute aqui, Black, esse joguinho de vocês já foi longe demais! Eu não vou cair no ostracismo social, como se tivesse uma doença contagiosa, só por sua causa.
- Isso mesmo! - apoiou Lilly, lançando um olhar furioso para os dois, que tinham as expressões mais inocentes do mundo. - Tratem de arrumar um jeito de consertar todo o estrago que essa brincadeira de mau-gosto causou.
- Ah, vocês estão falando sobre a "maldição". - Tiago falou como se houvesse acabado de matar uma charada. - Mas não sei por que estão nos acusando. Não temos nada a ver com isso.
- É isso aí! Não temos culpa se os outros são uns medrosos. Pessoalmente, acho que tudo isso não passa de lenda. Pura bobagem.
- Eu concordo. Aposto que se saíssem conosco, não nos aconteceria nada de mau!
- Muito pelo contrário. - completou Sirius, com um sorrisinho malicioso - Aliás, Pontas, acho que acabou de encontrar a solução perfeita para o problema. Que tal, meninas? Estamos dispostos a ajudá-las a desmentir esse boato idiota, e provar que não são perigosas para rapazes incautos.
Lílian não agüentou e virou-se, indo embora antes que perdesse e controle e começasse a gritar. Kristyn estreitou os olhos, que lançavam faíscas furiosas na direção dos rapazes.
- Vá sonhando, Black! - sibilou e saiu atrás da amiga, deixando-os rindo.
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Passava muito da meia-noite quando Sebastian acordou sobressaltado. Levantou-se rapidamente, vestindo-se em silêncio, e desceu para o salão comunal. Logo depois as primas surgiram do dormitório feminino, as expressões preocupadas.
- Ele está nos esperando. - informou em tom grave - Kristyn...
A garota assentiu, fechando os olhos.
- Vamos. – disse um segundo depois.
Quem estivesse observando não entenderia por que a entrada se abriu, fechando pouco depois, porque não veria os três jovens que por ali passaram, indo em direção à gárgula que guardava a entrada do escritório do diretor. Depois de darem a senha, "delícias gasosas", seguiram pelas escadas até onde Dumbledore os aguardava. Pararam diante de sua mesa, e os olhos que normalmente tinham um brilho risonho, estavam muito sérios.
- Srta. Donovan, por gentileza...
- Claro, desculpe, professor.
No instante seguinte voltavam a ser visíveis e Dumbledore pediu que se sentassem antes de começarem a reunião.
- Começa hoje. - informou Sebastian.
- Tem certeza?
- Absoluta. Ele vai atacar alguém do alto escalão do Ministério, enquanto seus seguidores fazem uma "festinha" com trouxas de um vilarejo próximo.
Ana fechou os olhos às palavras do primo. Ainda sentia o horror que a visão lhe trouxera.
- Então é verdade. - comentou Dumbledore, muito triste - Entraremos em um tempo de trevas.
- E será um tempo longo e doloroso. - completou Sebastian, amargo. - Sofreremos muitas perdas, veremos aqueles a quem amamos serem destruídos, amigos tombarão na batalha, enquanto outros trairão a quem neles confiam. Nenhuma família ficará livre do mal que esse tempo trará.
- É o que seu Dom mostra? - Sebastian assentiu.
- O meu também. - interviu Ana, sofrida. - Mostra algo mais, porém. A esperança nascerá em meio ao sofrimento.
- É verdade. – concordou o primo - Mas até lá, será preciso muita luta e muito sacrifício para impedir o domínio total das trevas sobre o nosso mundo.
- Pode confiar de que temos muitos aliados prontos a sacrificarem-se nessa luta. - afirmou Dumbledore, enérgico. - Apesar de que, eu tinha esperanças, ainda que pequenas, de não chegarmos a este ponto.
- Mas chegamos. - interrompeu Kristyn. - E eu gostaria de me juntar a nossos aliados na batalha.
- Não, srta. Donovan, nenhum de vocês deve interferir diretamente na luta, pelo menos não por enquanto. Sabe disso.
- Eu sei. - suspirou, vencida. - Mas me sinto tão impotente...
- Conhecíamos o preço, Kristyn. - interviu Sebastian, suavemente. - Sem arrependimentos, lembra-se?
Retribuiu o sorriso cansado do primo, envergonhada. Sabia que para ele e Ana, o preço era maior. Afinal, ao contrário deles, ela só via flashes. Podia apenas imaginar a dor que sentiam, sabendo de antemão o que iria acontecer, ou sentindo todo o sofrimento desses acontecimentos, sem nada poder fazer para evitá-los.
- O que preciso de vocês agora é que sigam vivendo como qualquer um de seus colegas, estudando e fazendo tudo o mais que é próprio de sua idade. Aproveitem o pouco de paz que nos resta. Apenas mantenham-me informado daquilo que puderem. Agora voltem para suas camas e tentem dormir. Precisam descansar, pois o fardo que aceitaram é muito pesado.
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No dia seguinte o [i]Profeta Diário[/i] trouxe estampada na primeira página a foto de um enorme crânio, aparentemente composto de estrelas de esmeralda, uma cobra saindo da boca como uma língua, e envolto em uma névoa de fumaça esverdeada. Pairava ameaçador sobre uma bela mansão. A reportagem, encimada pela manchete "Ministro da Magia Sofre Ataque Fatal", informava que o Ministro e toda sua família tinham sido mortos pela maldição Avada Kedavra, e a única pista do assassino era a sinistra figura sobre sua casa. O mesmo sinal tinha sido avistado há alguns quilômetros adiante de onde o ministro morava, onde ocorrera o massacre de trouxas de um vilarejo.
Conforme as notícias se espalhavam, o burburinho das conversas ia ficando cada vez mais alto no salão principal. A revolta e o medo tomavam conta de todos, que passaram a olhar na direção da mesa dos professores, a procura de Dumbledore, o único em quem confiavam em situações de crise. Porém, o diretor estava ausente, o que aumentou ainda mais sua apreensão.
Kristyn olhava fixamente para o jornal em suas mãos. "Cinqüenta e oito mortos! Ana, você...?", ergueu os olhos para encontrar os da prima, que estava extremamente pálida, os lábios trêmulos. Ela assentiu. Kristyn olhou para o primo, e viu a dor e a amargura que havia em seu olhar fixo na mesa diante de si.
Levantou-se e seguiu decidida para o local onde os Marotos estavam sentados. Ignorando os outros três, inclinou-se para falar ao ouvido de Remo.
- Lupin, sua namorada precisa de você. Agora!
Continuou caminhando até sentar-se ao lado de Marlene, mais adiante.
- Marlene, eu vou ser direta. Você gosta do Sebastian, não é?
- Kristyn, o que...
- Sim ou não?
- Olha, nós somos amigas, mas isso não te dá o direito ...
- Eu tô pouco me lixando se tenho direito ou não! Eu amo Sebastian como a um irmão, mais até. Agora, olhe para ele. Olhe! - Marlene obedeceu, notando a grande tristeza no semblante do rapaz. - Você não tem idéia de como ele está sofrendo nesse instante. Eu queria muito poder confortá-lo, mas só existe uma pessoa no mundo que é capaz disso, e ela está na minha frente. Então, me responda: sim ou não?
Marlene continuou observando o rapaz que agora saía cabisbaixo do salão, então suspirou.
- Sim.
- Ótimo. Nesse caso, por favor, faça alguma coisa. Conheço seu espírito determinado, sei que não me desapontará. - sorriu e voltou para o seu lugar, agora sozinha, já que Ana também tinha saído do salão com o Lupin.
Marlene hesitou alguns minutos, então saiu atrás de Sebastian.
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- Ei, Donovan, o que está acontecendo? - Sirius sentou-se ao lado da garota, que fingiu examinar suas anotações.
- Você já foi mais articulado, sabia, Black? - devolveu, maldosa. - Não faço idéia do que está falando.
- Não? Primeiro você intima o Remo daquele jeito, depois dá uma chamada na McKinnon que a faz correr rapidinho atrás do seu primo. Que foi? Sua vida amorosa anda tão monótona que resolveu bancar o cupido, é? - provocou, irônico.
- Será que, pelo menos uma vez na vida, você podia deixar de ser um completo idiota? - ela falou aquilo de forma lenta, a voz traduzindo um pouco da mágoa que sentia. Vendo o estado de perturbação em que ela se encontrava, Sirius desculpou-se.
- Isso os afetou demais, não foi? - perguntou suavemente, apontando o jornal.
- Vão ficar bem. Ainda mais com Lupin e McKinnon ajudando.
- E você?
- Eu também, é claro. Assim que encontrar alguém em que descarregar minha frustração. - brincou, propondo a seguir - Quer se candidatar?
- Depende. O que tem em mente? - perguntou malicioso - Conheço ótimas maneiras de se livrar de frustrações.
- Você não tem jeito mesmo, não é? - retrucou, entre irritada e divertida.
- Por que não tenta me dar jeito?
- Quem aprecia metas inatingíveis é você, meu caro, não eu.
- Já provei que a meta a qual se refere não é tão inatingível assim.
- E eu já disse pra guardar muito bem essa lembrança, pois foi a primeira e última vez que conseguiu tal feito.
- Quer apostar?
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- Você o quê?!!!
Estavam as três em seu quarto da Torre. Ana ria muito, observando uma Lilly furiosa encarar Kristyn, que calmamente lixava as unhas, depois de ter soltado a "bomba".
- Como você pôde fazer isso?
- Olha, foi muito fácil, viu? E eu não sei por que você está tão nervosa. Achei que ia ficar contente.
Ana riu ainda mais da cara que Lilly fez.
- Contente? Você faz uma aposta onde, se perder, eu tenho que sair com o insuportável do Potter, e ainda acha que eu tenho que ficar contente? - ela estava quase histérica agora.
- Mas.... - retrucou Kristyn - se eu ganhar, ficamos livres da perseguição dos dois, sem falar dessa "maldição" idiota.
- E quem garante que você vai ganhar?
- Eu garanto! Pense bem, Lilly: pra ele ganhar, eu teria que beijá-lo, de livre e espontânea vontade, sem subterfúgios, truques, enganos, totalmente consciente e de acordo com o que estou fazendo. Ou seja: é impossível. - concluiu serena.
Ana sorriu maliciosamente. A prima estava muito confiante, mas esquecera de um pequeno detalhe: Sirius era um Maroto. Talvez o mais perigoso deles. Ia ser muito divertido acompanhar aquela aposta.
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- Você o quê?!!!
- É isso aí, Pontas. - Sirius parecia muito satisfeito consigo mesmo. - Não precisa me agradecer.
- Agradecer?! Você ficou louco, Sirius?
- Que foi, meu amigo? - retrucou Sirius, irônico. - Acha que não consigo?
- Deixa eu ver... - Tiago fingiu pensar. - Estamos falando da garota que te "arremessou" para longe quando você se engraçou com ela da primeira vez. - começou a enumerar - Depois, quando você tentou beijá-la, acabou de joelhos, com o "equipamento" avariado. Só conseguiu algum resultado positivo quanto estava disfarçado, e pelo que me contou, essa opção não é válida. Claro, tá no papo! - debochou.
- Sabe que eu adoro um desafio.
- Ficou louco. - concluiu Tiago - Pense bem, Sirius, se você não conseguir, teremos que abandonar toda a campanha. Já imaginou, a fila de caras que vai se formar para ficarem com as duas?
- Isso não vai acontecer, Pontas. - redargüiu, calmamente.
- E pode me dizer da onde vem toda essa certeza?
- Eu tenho meus métodos pra vencer essa aposta. Além disso, a Donovan é muito esperta, mas peca pela impulsividade.
- O que quer dizer com isso?
- Ela aceitou a aposta, mas esqueceu de estipular um prazo. Portanto... - começou, sugestivamente.
- ...você pode demorar o tempo que for preciso para ganhar a aposta, e ela não poderá contestar. - completou Tiago, finalmente entendendo a artimanha do amigo. - Almofadinhas, você é um gênio!
- Acabou de descobrir a Inglaterra, Pontas. - retrucou, arrogante.
Remo, que apenas acompanhava a discussão dos amigos, sorriu. Sirius estava muito confiante, mas pelo pouco que conhecia de Kristyn, aquela omissão não tinha sido um descuido. Não sabia o que a garota planejava, mas tinha certeza que o embate dos dois seria memorável.
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