Banho Frio
CAPÍTULO VII Banho Frio
- Afinal, Remo, agora pode nos contar o que descobriu? - perguntou Tiago, impaciente.
Lupin insistira que eles procurassem um lugar seguro, onde ninguém os ouvisse, para conversarem em segurança. Por isso, tinham ido até uma das muitas salas secretas que conheciam. Os amigos já não continham a ansiedade.
- Ela é a chave. - declarou Lupin.
- Ela? Ela quem? E que chave é essa? - perguntou Pettigrew, perdido.
- Ela, Ana! - explicou Remo, começando a andar de um lado para o outro - Não sei como não percebi antes! Tudo que aconteceu, desde o expresso até a aula de hoje, tudo se encaixa! Tava ali, o tempo todo, e eu não vi!
- Uou, uou, tempo, tempo, tempo! - Tiago o interrompeu, gesticulando como se estivesse em um jogo - Aluado, você não está dizendo coisa com coisa.
- Sou obrigado a concordar com Tiago, Remo. - apoiou Sirius - Você está sendo confuso demais até mesmo para nosso incrível poder de compreensão.
- Vocês não vêem? O tempo todo nós achamos que tinha sido Ana quem invadira minha mente, no trem. Mas estávamos errados.
- Então quem foi? - perguntou Pedro.
- Por tudo que sabemos, aposto no primo. - respondeu Remo.
- Espera aí, Aluado. - interrompeu Sirius - Por que você mudou de idéia sobre ela?
- Depois do que aconteceu hoje, tenho certeza de que ela é uma Sensitiva.
- Uma o quê? - perguntou Pedro, mais confuso do que nunca.
- Uma Sensitiva. - explicou Tiago - Sensitivos são bruxos que possuem várias características especiais, entre elas os dons da Empatia e da Cura.
- São capazes de detectar nossas emoções, e tudo mais que forma nossa própria essência. Se um Telepata atua diretamente nas mentes, um Sensitivo age na alma, e através dela consegue curar o corpo. – completou Sirius.
- Mas, Remo, já fazem séculos que não existe nenhum registro de um Sensitivo na comunidade bruxa. - argumentou Tiago.
- É verdade, Pontas. O último caso registrado foi no século XI, no país de Gales. - confirmou Lupin. - Lembro que quando estávamos no primeiro ano, eu estava pesquisando sobre um trabalho para o Bins e li sobre isso.
Ao ouvirem aquilo, Sirius e Tiago se entreolharam, sobrancelhas erguidas. Só mesmo Remo para lembrar de algo assim. Este, acostumado com a implicância dos amigos, ignorou-os e continuou a narrativa.
- O texto falava sobre uma antiga e poderosa família bruxa. Tradicionalmente, havia em cada geração três bruxos com dons especiais, não lembro agora dos outros, mas um deles era a Empatia.
- E o que aconteceu com essa família? - indagou Sirius, interessado.
- Desapareceu. Simplesmente sumiu. O registro sobre o Sensitivo foi também o último sobre ela. Se não me engano, o nome da família era DeLanyea.
- Então, você acha que os Donovan podem ser os atuais descendentes dos DeLanyea. - deduziu Tiago, astutamente.
- Bom, admitindo que Ana seja uma Sensitiva, eu diria que as chances são muito grandes. A família pode ter migrado para a Irlanda e mudado de nome por algum motivo. Era uma prática comum na época, se estivessem sob alguma ameaça.
- Sabemos que eles podem ler nossas mentes, portanto o segundo dom deve ser Telepatia. - concluiu Sirius.
- E qual seria o terceiro dom?
- Não sei, Pontas, mas deve ter algo a ver com o incidente com o Sirius , no trem.
- Ahá!, então agora admite que eu estava certo? - vangloriou-se Sirius.
- Sou obrigado a te dar razão, Almofadinhas. Provavelmente foi ela que te atingiu, e fomos enganados por outro embuste do primo.
- "Fomos" uma vírgula! Eu sempre disse que tinha sido ela. - rebateu, arrogante.
- Ok, ok... - concedeu Remo. - Agora, temos que encontrar aquele livro e descobrir o que mais eles escondem. Lembro que tinha algo sobre um objeto, um amuleto eu acho...
- Ei, pode ser isso que o falcão trouxe! - arriscou Tiago, animado.
- É uma possibilidade, Pontas.
- Então, o que estamos esperando? - perguntou Sirius, sorrindo - A biblioteca nos aguarda!
E saíram em direção a biblioteca, seguidos por um Pettigrew que não entendera patavinas.
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- Descobri!
Lilly deu um pulo. Estava estudando no salão comunal, quando a amiga a assustou, sentando ao seu lado.
- Kristyn! Quer me matar de susto?! - exclamou, levando a mão ao peito. Kristyn apenas riu.
- Chegou a hora, Lilly!
- Hora de quê, pelo amor de Deus?!
- Da vingança!
Ana, que estava sentada em frente a elas, suspirou. Fazia dias que a prima matutava um jeito de "ensinar bons modos" aos Marotos.
- Foi isso que descobriu? - perguntou Lilly, interessada.
- Exatamente. Venham comigo.
Acompanharam a amiga em direção ao segundo andar, e enquanto a seguiam, ela explicou o seu plano.
- Como vêem, é muito simples! - concluiu, satisfeita - Não sei por que demorei tanto pra pensar nisso.
- Eu não vi nada de simples. - retrucou Lílian, irritada. - Eu me recuso a fazer esse papel!
- Ah, vamos Lilly! Não vai ser de verdade, você só precisa fingir um pouquinho! Não precisa nem falar com ele, pode deixar por minha conta. - ao vê-la hesitar, completou. - Imagine só a cara deles!
Lílian ainda não estava de todo convencida, mas tinha que admitir que era uma plano interessante.
- Chegamos. - anunciou Kristyn, alegre.
Entraram na porta no fim do corredor do segundo andar. Era o banheiro feminino e estava deserto. Ou quase.
- Olá, Murta!
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- Isso é frustrante!
Os Marotos estavam na biblioteca, local onde eram regularmente encontrados nos últimos tempos, e tinham acabado de pesquisar mais um lote de livros, sem nenhum resultado. Há vários dias que estavam naquela busca, que estava se revelando inútil.
- Não é possível, Remo, já procuramos em todos os livros de História da Magia! - reclamou Tiago.
- E estamos quase acabando com a biblioteca. - contribuiu Sirius. - Daqui a pouco restarão apenas os da "área proibida", mas esses estão fora, pois no primeiro ano você não teria lido nenhum deles. - concluiu Sirius.
- O jeito é continuar procurando.
- Olá, rapazes! - estavam tão entretidos que não tinham percebido a aproximação de Kristyn, que sorria abertamente para eles. - Posso falar com vocês dois? - perguntou a Sirius e Tiago. Esses, espantados, concordaram e a seguiram para fora da biblioteca.
- Aconteceu alguma coisa, Donovan? - perguntou Sirius, quando pararam no corredor deserto.
- Ainda não, Black, mas está para acontecer.
- E o que está para acontecer? - perguntou Tiago, curioso.
- A realização dos seus sonhos, meu caro. - respondeu, entregando um pedaço de pergaminho a ele.
Tiago arregalou os olhos ao lê-lo, surpreso, e sua expressão era de feliz incredulidade ao passar o bilhete para o amigo, que o observava, curioso.
"Você venceu. Não posso mais negar meus sentimentos.
L. Evans"
Sirius ergueu a sobrancelha e olhou para Kristyn.
- Sério?
- Seríssimo! Ela quer se encontrar com você hoje, Potter, num lugar reservado. - Tiago quase não conseguia conter a euforia que aquelas palavras provocaram.
- Ainda não entendi por que me chamou aqui, Donovan. - comentou Sirius, entediado.
- Acontece que Lilly está muito nervosa, e pediu que eu fosse com ela nesse encontro. - Tiago murchou visivelmente. - Mas eu não quero dar uma de castiçal, então pensei que você poderia ir também, para me fazer companhia enquanto esses dois se acertam. - propôs Kristyn, maliciosa.
Sirius se surpreendeu com aquilo, mas disfarçou bem. Lançou-lhe um olhar irônico.
- Pensei que tinha dito que era uma meta inatingível.
- Quem sabe? - retrucou, sedutora - Talvez seja seu dia de sorte.
Marcou o horário do encontro, explicando a eles como chegar no local, e foi se encontrar com a amiga, que a esperava no dormitório.
Tiago e Sirius voltaram para junto de seus amigos, sorrindo satisfeitos.
- Que foi? - Remo os observou, intrigado.
- Meu caro Aluado, acabamos de ter a prova do que já sabíamos há muito tempo. - comentou Sirius, com superioridade.
- Somos irresistíveis! - completou Tiago, arrogante.
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Naquela noite, os Marotos estavam sentados no salão comunal, Remo explicando a Pedro a lição de Poções, e Sirius e Tiago aguardando o momento do encontro, quando as viram descer do dormitório feminino. Ficaram alertas, observando-as enquanto se dirigiam a saída. Antes de passarem pelo retrato da Mulher Gorda, lançaram um olhar convidativo na direção deles.
Aguardaram alguns minutos, como tinha sido acertado, e foram atrás delas. Logo, chegaram ao local combinado, e abriram a porta do banheiro feminino do segundo andar.
As garotas estavam do outro lado do grande aposento, sentadas sobre o parapeito de um dos janelões. O olhar de Sirius se acendeu. Kristyn havia erguido a barra das vestes sobre os joelhos, deixando a mostra as belas pernas que estavam cruzadas. Tudo nela, desde o olhar até a postura, sugeria que a noite dele seria muito boa.
- Oi, Lilly. - cumprimentou Tiago, olhando ansioso para a garota, que olhou para o chão, corando.
- Oi. - respondeu, tímida.
- Lugar estranho para um encontro, não? - perguntou Sirius, enquanto olhava para os lados, desconfiado.
- Bobagem! - retrucou Kristyn - O lugar é perfeito. Ninguém nunca vem aqui. A Murta não gosta muito que a perturbem. Mas podem ficar tranqüilos, nós pedimos a permissão dela para vir aqui hoje. Afinal, - concluiu, maliciosa – não queremos que nada nos atrapalhe, não é?
Incentivados por essas palavras, eles caminharam na direção delas. Quando estavam a pouco mais de dois metros, porém, elas os fizeram parar.
- Esperem! - disseram em uníssono.
- Por quê? - perguntou Sirius, confuso.
- Queríamos pedir uma coisa a vocês. - disse Lílian, tímida, ainda sem encará-los.
- Não se acanhem, podem pedir. - incentivou Tiago, sorrindo.
- Digam X! - gritaram, enquanto erguiam as câmeras fotográficas que escondiam as costas.
Na mesma hora, os rapazes viram o chão desaparecer debaixo deles, e um instante depois sentiam o choque com a água gelada que os envolveu, enquanto ouviam o ruído dos flashes disparando.
Voltaram a tona ouvindo as risadas delas. Infelizmente, o frio era tanto que não conseguiam esboçar nenhuma reação, apenas as olhavam, surpresos, tremendo e batendo os dentes.
Kristyn bateu mais uma foto e agachou-se ao lado da pequena piscina onde eles caíram. Pegou a foto que saía da Polaroid, juntando-a com as outras que tinha na mão e fingiu analisá-las.
- Vão ficar ótimas no meu álbum de recordações, não acham? - perguntou, mostrando-lhes as fotos.
- S.. s.. s... su-as.. tra... tra.. tra.. ço.. ço.. ço-ei .. ras.. – rosnou Sirius, tiritando de frio.
- Ora, rapazes, o que é isso? - interviu Lílian,. A timidez tinha desaparecido completamente. - Onde está o senso de humor de vocês?
- Acho que congelou, Lilly, junto com o resto deles. - brincou Kristyn. - Não fiquem bravos, meninos, nós só fizemos isso porque achamos que vocês estavam tendo problemas em controlar seus hormônios. - disse, inocente.
- Afinal, - completou Lilly - agarrar garotas pelos corredores não é um comportamento adequado a rapazes educados!
- É isso mesmo! - apoiou a amiga – E como sempre ouvimos falar que banho frio é bom para esses casos, resolvemos ajudá-los! - concluiu, alegre.
As duas riram e deram a volta na piscina, indo em direção a saída. Já estavam no meio do caminho quando pararam de repente.
- Ah, só mais uma coisinha.. - começou Kristyn, voltando-se juntamente com a amiga - Expelliarmus! - disseram em uníssono, fazendo voar as varinhas que eles tinha acabado de conseguir empunhar, e agarrando-as no ar.
- Vocês as terão de volta quando chegarem a Torre. - comunicou Lilly, sorrindo.
- Não queremos que vocês machuquem ninguém, não é mesmo? - completou Kristyn, rindo enquanto saía do banheiro com a amiga, deixando dois Marotos furiosos para trás.
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Remo estava sozinho no salão comunal quando o retrato da Mulher Gorda se abriu, dando passagem aos amigos, completamente encharcados e tremendo de frio. Correu para junto deles, puxando a varinha e fazendo um feitiço que os secou imediatamente.
- Obrigado, Lupin. - agradeceu Sirius, sentando-se em frente a lareira e estendendo as mãos em direção as chamas, tentando se aquecer. Seu rosto parecia esculpido em rocha, tal a raiva que brilhava em seus olhos. Tiago sentou ao seu lado, igualmente furioso.
- O que aconteceu com vocês?
- Quer saber o que aconteceu? - retrucou Tiago - Aconteceu que a srta. Evans e aquela amiguinha dela nos pregaram uma tremenda peça, isso que aconteceu! - e relatou ao amigo tudo que tinha acontecido. Lupin fazia muito esforço para permanecer sério, pois os amigos estavam mesmo furiosos. No fim, não agüentou, e caiu na risada.
- Você acha muito engraçado, não é? - criticou Sirius, aborrecido - É por que não foi VOCÊ quem teve que se arrastar do segundo andar até aqui, pingando água e quase congelando, rezando para não encontrar o Filch pela frente!
Remo respirou fundo, tentando recobrar o fôlego e controlar o riso.
- Me desculpem, Almofadinhas, Pontas, - pediu – mas têm que admitir que tudo isso é muito engraçado. Ah, isso é de vocês. Ana me entregou pouco depois que elas voltaram. - disse, entregando as varinhas aos amigos.
- Engraçado vai ser a gente morrer de pneumonia por causa daquelas duas malucas! - retrucou Tiago.
- Elas não sabem no que se meteram. Ninguém faz um Maroto de bobo e sai impune. - afirmou Sirius, ameaçador.
- É isso mesmo, Almofadinhas. - apoiou Tiago. - Se elas querem brincar, vamos mostrar a elas como se faz!
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