Vida e Morte
CAPÍTULO XVIII Vida e Morte
Estranhamente, o pânico não tomou conta das pessoas. Madame Rosmerta continuou a atender os clientes, que aguardavam calmamente. Todos pareciam ter certeza de que se encontravam seguros, e que a crise logo seria controlada.
- Dessa vez eles têm muito trabalho a fazer, não é? - Sirius indicou a mesa onde os Donovan estavam extremamente concentrados. Sabiam que a repentina onda de clientes e a calmaria reinante só podia ser obra deles, por isso permaneceram a distância, observando-os atentamente.
"Sebastian, onde ela está?", a aflição permeava suas palavras.
" Estou tentando, Ana, mas ela não me ouve. Está muito nervosa."
"Eu vou atrás dela!"
"Não, Kristyn, sabe que não devemos interferir."
"E você sabe que ela não pode morrer, Sebastian. Seria o fim de tudo!"
Os primos se encararam, travando uma disputa muda. Por fim, Sebastian cedeu.
"Vá."
Kristyn não perdeu tempo.
- O que aquela louca pensa que está fazendo?! - exclamou Sirius, empertigando-se na cadeira, ao vê-la sair em disparada para a rua.
- Ela não pode ignorar o risco... - Remo foi interrompido pelo grito de Tiago.
- Lilly!!!
Ele correu para a saída, acompanhado pelos amigos. Como pudera esquecer que a garota estava lá fora, sozinha, exposta ao perigo? E tudo por culpa sua.
Quase perdeu o controle ao descobrir que alguma força poderosa impedia sua saída do prédio.
"Não faça nenhuma besteira, Potter."
Virou-se para Sebastian, enfurecido.
"Me deixa sair, Donovan. AGORA!"
"Não. Voltem para mesa de vocês, e fiquem quietos."
"Você não tem o direito de nos prender aqui!!!"
"Tiago, acalme-se.", interferiu Ana, "Não há nada que nenhum de nós possa fazer."
"É o que vocês pensam, Ana."
"Sirius, a barreira foi erguida por Kristyn, para proteção de todas essas pessoas. Apenas ela poderá retirá-la."
"Mas a Lilly..."
"Kristyn irá protegê-la. Se alguém pode fazer isso, é ela. Agora façam como Sebastian disse. Não piorem a situação."
Sem alternativa, eles obedeceram. Tiago lutava contra o desespero que o invadia. "Por favor, faça com que ela fique bem, por favor...", repetia com todas as suas forças, na esperança que algum ser superior o atendesse.
******************************
Kristyn corria como uma alucinada pelas ruas do vilarejo, seguindo a direção indicada pelo primo. Tinha que alcançá-la a tempo. Ela era sua melhor amiga, muito mais do que um dever. Faria de tudo para salvá-la.
Quanto mais se afastava do centro do vilarejo, mas claro se tornava o rastro do terror que se abatera sobre ele. Viu vários prédios em chamas, e concentrando seu poder, invocou uma pesada chuva, que seguia atrás de si, conforme avançava pelo caminho.
Atravessando a colina, chegou até um grande campo, onde se descortinava frente aos seus olhos uma imagem sangrenta. Corpos espalhados por todo lado, enquanto violentos duelos eram travados entre um numeroso grupo de Comensais – devia ter uns trinta – e um consideravelmente menor grupo de Aurores do Ministério.
Novamente a voz do primo ecoou em sua mente, indicando-lhe o caminho a seguir. Correu pelo meio do campo, ignorando a atroz batalha que ali se travava. Teve que estuporar dois Comensais, antes de conseguir chegar ao celeiro do outro lado. Contornou o prédio, para enfrentar uma cena que abalou-a mais que tudo até agora. Soube imediatamente que precisaria de reforços.
******************************
"Ana, Sebastian, a situação é pior do que pensávamos. Preciso que venham para cá agora!"
Os primos atenderam ao chamado sem hesitar. Ao vê-los correrem para a saída, Tiago, Remo e Sirius dispararam atrás, sendo imediatamente seguidos por Marlene, Frank e Alice, que acompanhavam a distância o desenrolar dos fatos, desde que Sebastian deixara a mesa. Pedro, que estava no outro canto com a namorada, sequer percebeu a saída dos amigos.
*************************
Caída no chão, Lílian contorcia-se de dor, sem forças nem mais para gritar. Alguns metros adiante, uma mulher mascarada ria com crueldade, divertindo-se com sua tortura. Parecia nem perceber a tempestade que começara de repente. Um trovão soou no ar, ecoando a ira que tomara conta de Kristyn.
- Chega!!!
Envolveu a amiga num escudo protetor, ao mesmo tempo em que a comensal voltava-se surpresa para ela.
- Ah, mas que alegria! - sua voz sarcástica estava repleta de um prazer sádico - Mais divertimento!
- Acho que não. - retrucou, com a varinha em riste. A comensal gargalhou.
- Acredita mesmo que pode me enfrentar? - perguntou com arrogância, e alguma coisa em seu modo de falar soou estranhamente familiar - Pobrezinha. Crucio!
A incredulidade tomou conta dela ao ver que não provocara nenhuma reação na garota, nem mesmo um piscar de olhos.
- Mas como...
- Surpresa, minha cara? - debochou, a sobrancelha erguida de forma arrogante - Vai descobrir que suas Artes das Trevas não são tão poderosas quanto imagina. - erguendo a varinha, Kristyn a atacou, lançando-a alguns metros para trás, caindo sem fôlego no chão lamacento. Ela ergueu-se rapidamente, furiosa e determinada a ensinar àquela garota o que era poder de verdade.
****************************
Quando os Donovan perceberam que os Marotos tinham-nos seguido, tentaram fazê-los voltar para segurança do prédio.
- Esqueça, Donovan - interrompeu Tiago - Se vocês saíram, é por que as coisas estão complicadas para Lílian e Kristyn. E nós não vamos ficar de braços cruzados, enquanto isso.
- E nós também não! - completou Marlene, juntando-se ao grupo.
- Ah, não...
- Ah, sim, Sebastian. - cortou Alice, friamente - Se nossas amigas estão em perigo, nós vamos socorrê-las, e ninguém pode nos impedir! - concluiu determinada.
- Sebastian, estamos perdendo muito tempo! E ficar aqui na chuva discutindo não resolve nada!
- Está certo, Ana. Já que estão todos tão decididos, vamos logo! - não perderam mais tempo em seguir para junto das amigas.
Ao chegarem ao campo, foram impedidos de atravessar por um grupo de comensais, que acabara de se livrar de alguns aurores.
- Ora, ora, carne fresca! - murmurou o que parecia ser o líder deles, provocando o riso maquiavélico dos outros.
- Carneirinhos de Dumbledore. - comentou outro, sorrindo sadicamente - Que melhor maneira de encerrar nossa festinha?
- Acho que ficarão desapontados. - retrucou Sirius irônico, a varinha erguida, preparado para o combate. Mesmo através daquele aguaceiro, era possível ver o brilho furioso em seus olhos.
- Não os matem logo. - o líder ordenou friamente - Vamos brincar um pouco antes.
O duelo começou, e logo eles mostraram porque eram os melhores alunos de Hogwarts. Em pouco tempo os seguidores de Voldemort perceberam que não seria fácil derrotá-los, como pensaram a princípio. Aqueles jovens eram extremamente hábeis e poderosos, e os comensais não possuíam a mesma enorme vantagem numérica de quando enfrentaram os aurores.
Três comensais jaziam estuporados, enquanto os outros enfrentavam grandes dificuldades em seus duelos. Marlene encurralara um deles, que tentava desesperadamente acertá-la com o Avada, sem sucesso, pois ela era muito ágil. Alice estava com o braço ferido, mais ainda assim lutava ferozmente, assim como Frank, Remo e Ana, que acabara de desarmar seu adversário, e o perseguia, enquanto ele tentava recuperar a varinha. Jatos faiscantes voavam em todas as direções, enquanto os gritos da batalha confundiam-se com os trovões que enchiam o ar.
Percebendo que um outro grupo de mascarados se dirigia para onde a prima estava, Sebastian fez sinal para Tiago e Sirius seguirem-no. Tiveram o caminho bloqueado pela chegada de quatro comensais. Prepararam-se para enfrentá-los, quando Frank surgiu a sua frente, estuporando um deles, e partindo para cima de outro. Remo o seguia e passou a combater os outros dois.
- Vão!!! - gritou para eles - Deixem aqui por nossa conta, vão ajudá-las!!!
Eles obedeceram prontamente.
**********************************
As duas rodeavam-se lentamente, atentas a todo movimento uma da outra, indiferentes a chuva que as encharcava.
- É menina, você é muito boa. Deveria juntar-se a nós.
- Como você disse, eu sou muito boa. Não preciso me rebaixar a esse nível. - retrucou com desprezo, provocando a ira da outra.
- Parece que você precisa aprender a demonstrar respeito. - sibilou, atacando-a impetuosamente e dando início a luta. Kristyn desviou do feitiço, contra-atacando rapidamente, mas a outra conseguiu bloqueá-la. Os ataques eram rápidos e violentos, jatos faiscantes voavam das varinhas, que eram como espadas de dois esgrimistas. Kristyn evitava usar seu dom, para não atrair a atenção da outra. Afinal, não precisava, era exímia em duelos.
De repente, surgiram mais cinco comensais, que avançaram em direção às duas, e ela viu-se sem opção além de revelar-se. Antes disso, porém, Sebastian, Sirius e Tiago chegaram, interpondo-se entre eles, e enfrentando os recém-chegados.
- Cadê a Ana? - gritou, desviando-se de um ataque da oponente.
- Ficou retida lá trás por um grupo de comensais. Os outros estão com ela. - respondeu Sebastian, atacando seu adversário - Viemos atrás desses aí quando vimos que vinham para cá. Obrigado, Black! - Sirius tinha acabado de estuporar um comensal que tentava atacar Sebastian pelas costas.
- Sem problemas. Vamos acabar logo com esse lixo. – pôs-se ao lado do amigo, defendendo-se de outro ataque.
- Pretensioso como sempre...
Sirius voltou-se na direção da voz, enquanto Tiago impedia que o comensal atingisse o amigo.
- Ora, Bella, por que será que não estou nem um pouco surpreso? - comentou irônico, voltando a atenção para seu combatente.
- Depois que ensinar uma lição a essa sua amiguinha, eu cuidarei de você, traidor do sangue.
- Duvido muito. Você não é páreo para ela. - depois dessa provocação, foi obrigado a se afastar dali por um ataque mais violento de seu adversário, e passou a dedicar completa atenção ao duelo.
Alguns metros adiante, Tiago enfrentava dois adversários ao mesmo tempo, mas parecia nem se importar. A fúria que o invadira ao ver Lílian caída dava-lhe a força necessária para enfrentar até mesmo um batalhão de comensais. Estes recuavam ante o ataque feroz do rapaz.
- Então você é Bellatrix. - deduziu Kristyn, desviando de outro ataque - Eu deveria ter imaginado.
- Ah, vejo que já ouviu falar de mim... - respondeu satisfeita - Então sabe que não tem chance, não é?
- A única coisa que sei é que você é podre, assim como sua irmã Narcisa. - ela teve seu ataque bloqueado pelo feitiço protetor da outra.
- Quem pensa que é para ofender alguém? Aposto que é o novo brinquedinho do meu primo. Ele sempre teve queda pela ralé. - comentou com desprezo.
- Quer saber de uma coisa? Cansei de perder meu tempo com você. - com essas palavras ela lançou um poderoso ataque contra a outra, que atravessou seu feitiço protetor, fazendo-a bater contra a parede do celeiro e desabar no chão mais uma vez, agora desacordada.
Ao perceber que a Bellatrix tombara, o comensal que duelava com Sirius atacou-o com uma ferocidade incrível, obrigando-o a recuar, e correu para junto dela. Pegando-a no colo, gritou, ordenando a retirada, pouco antes de desaparatar. Os outros obedeceram imediatamente.
Sem perder tempo eles correram para onde Lílian permanecia do mesmo modo que Kristyn a encontrara, e esta sentiu o coração apertar-se dentro do peito ao constatar o estado em que a amiga se encontrava. Tiago fora o primeiro a chegar até ela, e estava ajoelhado ao seu lado, tentando desesperadamente reanimá-la.
- Sirius, rápido, vá buscar a Ana.
- Não precisa, Kristyn, eu estou aqui!
Ana vinha correndo na frente dos outros. Alice vinha segurando o braço ferido, enquanto Remo e Frank ajudavam Marlene, que parecia ter sido ferida na perna. Antes mesmo de se aproximar, Ana soube a gravidade da situação. Ajoelhou-se ao lado do amigo.
- Tiago... - chamou suavemente.
- Ela vai ficar bem... - ele repetia aquilo como um mantra, enquanto abraçava o corpo inerte da garota, afastando os cabelos molhados de seu rosto pálido. Voltou o olhar torturado para os amigos, a voz tremendo - Foi só um susto, ela vai acordar logo, vocês vão ver...
Mas ele sabia que não era verdade. Todos sabiam. Podiam ver e sentir isso. O fio que a ligava a vida era muito tênue, e logo se partiria.
Ana sabia o que tinha que fazer, mas antes precisava afastar o amigo. Aliás, precisava afastar todos, principalmente Remo. Levantou-se, indo até onde ele estava parado, olhando triste para Lílian.
- Eu te amo. - ela murmurou, abraçando-o fortemente, enquanto o beijava. Um beijo que tinha sabor de adeus.
- Ana, o que... - ele tentou retê-la quando ela interrompeu o carinho, voltando para junto de Lilly.
- Sirius, por favor, afaste-o sim?
Ele a atendeu prontamente, usando toda sua força para tirar Tiago de perto da garota. As lágrimas agora misturavam-se com a água da chuva no rosto do rapaz, que lutava desesperadamente para escapar do amigo.
- Kristyn...
- Pode deixar, Ana. - imediatamente ela ergueu uma barreira invisível entre eles, isolando-os dos amigos.
- O que está acontecendo? - perguntou Alice, confusa, observando os amigos, atônita.
- Lilly!!! - Tiago gritava, ainda contido pelos braços dos amigos. Frank agora ajudava Sirius a segurá-lo.
- Ela não pode fazer isso, é muito arriscado!... - Remo dizia transtornado, as mão cerradas sobre a barreira, tentando em vão ultrapassá-la.
Os primos deram as costas à barreira e aos amigos, enquanto Ana bloqueava toda e qualquer interferência, preparando-se para o inevitável. Ajoelhou-se novamente ao lado da amiga, e ergueu o rosto em direção ao céu.
- Em nome de Merlin, eu invoco o poder do Gaworn... - sua voz ecoou em meio a tempestade, firme e cristalina - O poder que me foi oferecido ao nascer, e pelo qual aceitei pagar o preço. Venho reafirmar minha escolha. Sem arrependimentos. - conforme falava, os amuletos passaram a emanar um intenso brilho azulado. O brilho do seu amuleto a envolveu por inteiro, ficando mais forte a cada palavra. Ela pousou suas mãos sobre o peito de Lílian - Todo o mal que foi feito seja agora trazido a mim, pela graça e a força do dom que me foi confiado. Que assim seja. - fechou os olhos com um estremecimento ao receber o impacto da forte onda de dor, e involuntariamente gritou.
- Ana!!! Por favor, não!... - Remo agora estava mais descontrolado que Tiago, e socava a barreira, queria de qualquer forma chegar até ela.
- Meu Deus, o que ela está fazendo? - murmurou Frank, abraçado a Alice, que tremia, sem tirar os olhos da cena a sua frente.
- Está salvando a vida de Lílian. - respondeu Marlene gravemente, os olhos fixos nas amigas.
- E arriscando a sua própria. - completou Sirius, soturno. Já não precisava segurar o amigo, que agora estava estático, tão absorto quanto os outros, aguardando o desfecho dos acontecimentos.
Kristyn e Sebastian apenas observavam, tristes, enquanto a prima, tão amada, distanciava-se cada vez mais. Nada podiam fazer. A escolha era apenas dela.
Ana ignorava a todos, prosseguindo concentrada em sua tarefa, o brilho do amuleto enfraquecendo cada vez mais a sua volta. Sentia cada gota de sua energia esvaindo-se de seu corpo, enquanto ia até a beira do abismo, onde a amiga se encontrava, e a trazia de volta. Sua mente começou a nublar-se, sentia-se prestes a desfalecer, mas não desistiu e prosseguiu firme. Tinha que conseguir, havia muito em jogo.
Foi além do que jamais sonhara, mas valeu a pena. Pouco antes de perder os sentidos, soube que cumprira sua missão. Podia partir em paz.
Ao ver a prima cair desacordada, eles avançaram em sua direção, ao mesmo tempo em que a barreira desaparecia. Logo Tiago ajudava uma fraca Lílian a sentar-se, e a abraçava, dividido entre a alegria de vê-la bem, e a dor pelo preço que isto custara, enquanto via o desespero de Remo ao chegar até Ana.
- O-o que aconteceu? - murmurou Lílian fracamente, olhando confusa os rostos tristes a sua volta.
- É o que todos queremos saber. - respondeu Frank, observando Remo agarrado de forma desesperada ao corpo agora inerte de Ana, chorando copiosamente, completamente transtornado.
- Ana é uma Sensitiva. - explicou Sirius, amparando Kristyn, que estava muito abalada, chorando tanto quanto Remo. - Ela curou Lílian, trazendo-a de volta da morte.
- Mas ela vai ficar bem, não é? - perguntou Alice, temerosa, encarando os amigos. Parou o olhar em Sebastian - Ela vai se recuperar, não vai, Sebastian? - sua pergunta era quase uma súplica ao amigo. Mas ao encará-lo por sobre a cabeça de Marlene, que estava abraçada a ele, soluçando, ela leu a resposta dolorida em seus olhos marejados. - Não, não pode ser verdade, não a Ana. Oh, Frank! - atirou-se nos braços dele, partilhando a dor dos amigos.
A chuva agora caía mais forte do que nunca, como que demonstrando todo o sofrimento que instalara-se naquele local. E foi assim, em meio a dor, que a inocência e a confiança no futuro que todos tinham no começo do dia, quando esperavam aproveitar doces momentos de alegria inconseqüente entre amigos, se foram para sempre. Ficaram ali, sofrendo e chorando a perda da melhor pessoa que todos jamais conheceram.
**************************
N/A: Pelo amor de Deus, comentem!!! Preciso saber o que acharam!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!