Fique em silêncio
Hermione observou atentamente seu reflexo no espelho, procurando pelo mínimo defeito que pudesse existir. Mas finalmente, tudo parecia em ordem.
- Você está linda! – Gina elogiou abrindo um grande sorriso.
- Obrigada! Me sinto tão nervosa... Será que isso é normal?!
- É claro que é! Toda noiva fica nervosa no dia do casamento Mione, você não é a primeira e nem será a última... – animou-a a ruiva.
- O Vítor já chegou? Ele às vezes é tão enrolado...
- Calma amiga! Eu não sei se ele chegou, mas se quiser posso ir ver pra você, está bem?
- Tudo bem... Obrigada, Gina... Você tem sido uma amiga maravilhosa, sabia?... – Hermione lançou a ela um olhar agradecido. Gina retribuiu o olhar e abraçou-a com ternura. Hermione deixou o abraço protegê-la, Gina sempre estivera ao seu lado nos momentos difíceis, era realmente uma boa amiga... E estava ali agora, no dia de seu casamento, fazendo o papel que uma irmã faria. Ressaltando suas qualidades e dizendo como ela ficara bonita naquele vestido branco... Se ela ao menos pudesse dizer à ruiva o que se passava dentro de si... Mas não! Ninguém deveria saber.
- Ora, não seja boba... Não me faça chorar, quero ser uma madrinha impecável. – Gina desfez-se do abraço enxugando delicadamente os olhos marejados – Vou lá fora um instante para ver como andam as coisas... Volto quando for a hora.
- Certo... Tudo bem... – a morena respirou fundo. “Quando for a hora...” , a hora de se entregar, entregar sua vida nas mãos de outra pessoa, a hora de entregar suas expectativas, seus sentimentos. Hermione viu Gina adiantando-se até a porta e abrindo-a vagarosamente.
Logo a ruiva já estava fora da sacristia. Ela voltou a encarar o espelho, alisou o tecido fino do vestido, e ajeitou pela milésima vez o véu. O que Gina dissera era verdade, ela estava linda. O longo vestido branco não lhe cobria os ombros, mas descia majestosamente até seus pés. Detalhes dourados envolviam as extremidades, bem como o arco que em seus cabelos dava início ao véu. Um véu curto, de verão, que jogado para trás lhe descobria o rosto, belamente maquiado. Era o dia de seu casamento e ela esperava ansiosamente que aquela euforia nervosa começasse a tomar conta de si, mas isso ainda não acontecia. Ao invés disso, uma angústia habitava em seu peito e as dúvidas assombravam sua mente. Não deveria haver receios sobre isso. Vítor era um bom homem, carinhoso, delicado, e a amava muito. Sempre fora um bom amigo, fiel, devoto, sempre estivera ao seu lado e a apoiara em tudo. Depois de alguns anos de um namoro tranqüilo ele a pedira em casamento, e fora sensato e certo dizer-lhe que sim. Era verdade que seu peito não acelerava de paixão, que seu corpo não ardia de desejo, que seus sonhos não o tinham sempre como príncipe. Mas ao lado dele, ela sabia, a vida seria calma, certa, e lhe traria paz. Ou não. Por que seus sentimentos a traíam?! Depois de tanto tempo ainda a dominavam, e a faziam temer o que vinha pela frente. Era quase insuportável o terrível e constante conflito em sua alma.
- Hem hem... Posso entrar? – involuntariamente os olhos da morena voltaram-se á entrada, pousando na porta que havia sido entreaberta. Um homem alto com cabelos flamejantes enfiara a cabeça para dentro.
- Claro Rony, pode sim... – por que seu estômago ainda insistia em dar aquelas cambalhotas?!
- Uau! Você está tão... Linda! – o ruivo lançou á ela um olhar especulador que percorreu todo seu corpo, fez com que ela se sentisse nua.
- O-Obrigada... – ela murmurou sem graça – Bem... Foi a Gina que pediu pra você vir? Tem algum recado pra me dar?
- Não, não foi a Gina que me pediu para vir. Eu só queria te ver... – o olhar dele fixou-se ao dela, será que ele podia ver através de si?!
- Me ver? Mas por que a pressa?! Já estou saindo e...
- Mas eu não vou estar lá fora, Mione. – interrompeu-a - Só não podia deixar de te olhar, só mais essa vez... – completou enigmaticamente.
- P-Por que você não vai estar lá fora? E p-por que você fala como se nunca mais fosse me ver?... V-Você está me assustando, Rony... – por que não conseguia parar de gaguejar?!
- Desculpe. Não quero te preocupar, é que... – os olhos dele ainda estavam fixos aos dela, como se de algum modo estivessem ligados – Acredite ou não, eu estou indo pra África. Madagascar, para ser mais exato. Minha chave de portal será ativada daqui a três horas, e eu ainda tenho alguns detalhes para arrumar... É por isso que vim aqui... Me despedir
- Nossa! Madagascar?! – seu cérebro lutava para não absorver aquela informação.
- É... É bem longe, não é mesmo? – ele abriu um sorriso triste – Mas recebi uma boa proposta do Ministério e não devo recusar...
- Ah, Rony! Nem sei o que dizer... – ela fitou-o com ternura e um segundo depois estava envolta naqueles braços fortes, abraçando-o profundamente como se aquela fosse a última vez – Por que você só me diz isso agora?! Você não ficou sabendo hoje... – questionou assim que se separaram.
- Sim, é verdade.... Mas você estava tão atarefada com os preparativos do casamento, eu não quis te atrapalhar com as minhas besteiras. E também, eu... Eu estava adiando isso porque... – ele não continuou a frase.
- Por quê? – ela instigou, mesmo sabendo que talvez não devesse fazê-lo.
- Será que eu posso te contar uma história? Não vou tomar muito o seu tempo... – de novo aquele sorriso triste... Ele estava tão abatido!
- Claro, claro. O que você quiser, Rony, eu não acredito ainda que você vai embora... – mas seu coração havia entendido e se apertava dolorosamente em seu peito.
- Pois é, nem eu... Mas quer saber? Depois de hoje, sendo sincero, não existe nada que me prenda aqui. – Hermione abriu a boca para se opor, mas o olhar dele fez com que ela se calasse – Uma vez eu conheci um garoto... – ele começou determinadamente – Imaturo, bobo, mas apaixonado. Tão apaixonado que beirava a insensatez. Essa menina, a qual ele amava, era linda, linda demais, inteligente demais, mulher demais pra ele, e ele sempre soube disso. Mas os olhos dela, ah, os olhos dela retribuíam ao amor dele. E nesse tempo foi como o céu, como o paraíso. Então outras pessoas chegaram, ou voltaram à vida dela. E o que todos diziam, ou pensavam, era que esse garoto não devia prendê-la a si. Ela tinha um futuro brilhante e ele não era bom o suficiente... As coisas acabaram, o relacionamento acabou, mas não o amor, não a paixão que ainda habita o corpo dele. Esse garoto hoje é um homem, talvez um homem covarde demais pra dizer o que sente, por isso ele foge. E hoje ele foge de novo, dessa vez pra muito longe, mas essa menina, que começa a montar seu futuro, ela ainda vai entendê-lo...
Hermione sentiu as pernas vacilarem, as mãos ficando geladas e a cor se esvaindo de seu rosto. Não, não, não! Ele não podia fazer aquilo, era o dia de seu casamento!
- Se você já acabou... Acho melhor você ir agora, você vai perceber que não quer continuar a falar, Ronald... Vá embora.
- Sim, eu vou, vou embora e você não vai precisar me ver nunca mais. – as palavras dele cortaram seu coração como uma lâmina afiada.
- As coisas não são assim, Rony! – ela tinha que se controlar, tinha que se controlar.
- As coisas são do jeito que nós queremos que sejam! E se você o ama, se você o ama tanto quanto deve para se casar com ele, o que eu disser não vai abalar a sua convicção. Eu só não posso mais segurar tudo isso... É insuportável! Eu estou indo embora, não vou mais te forçar à minha companhia, não estarei aqui pra reavivar todos os dias as minhas palavras, por isso eu sei que devo dizer, sei que não é errado te contar hoje de todas as horas de amor, de paixão, de desespero e de arrependimento que eu passei e ainda passo por você. – seus olhos azuis encheram-se de lágrimas.
- Rony, não fala isso! Não era pra ser e não foi. Eu vou me casar, e eu amo o meu noivo. Pára!
- Não, não vou parar! Quero que ouça cada palavra. Quero que saiba que não foi por falta de amor. Talvez por burrice, ou por covardia, eu tenha guardado tudo isso até agora, mas não tenho mais nada a perder!
- Mas eu tenho! O que você está fazendo agora é covardia! O Vítor te considera um amigo! Meça as suas palavras, você vai se arrepender de dizer tudo isso, vai ver que é um erro... – ela tentava de todas as maneiras segurar as lágrimas, mas era tão difícil... Desviou seu olhar do dele; era insuportável fitá-lo.
- Dane-se o Vítor! Ele sempre foi um fantasma entre nós! Nunca, nada que eu fizesse ia ser tão bom quanto o que ele faz. Eu nunca ia ser tão rico quanto o Vítor, tão bom quanto o Vítor, tão educado, gentil, bonito quanto o Vítor! E eu fiquei em um canto olhando o príncipe encantado de merda levar a mulher da minha vida! E eu nunca fiz nada! – ele estava gritando.
- Ele não me levou! Foi você! Você terminou comigo! E isso já faz tanto tempo! Não existe razão pra trazer isso à tona! – ela também.
- Sim, eu te deixei livre para escolher! E veja... Você o escolheu! Tem razão... Já faz muito tempo... E não diga que não viu em meus olhos, nesses anos, o amor que eu nunca deixei de sentir por você! Eu vi nos seus! Eu também vi a sua indecisão, fiquei sempre te esperando, mas você nunca o deixou! Então me convenci de que eu estava enganado, que você gostava daquele panaca, sim. Deixei as coisas chegarem até aqui, e vou deixá-las irem em frente, mas você tinha que saber!
- Eu sabia! Sabia o tempo todo dos seus sentimentos. Mas eu tive medo, Ronald! Você me deixou uma vez, e eu quase morri. Achei a tranquilidade do amor no Vítor, ele me deu colo, um ombro. E com ele eu sei que tudo vai ficar bem. Com você eu tremia de receio, era tudo tão arriscado, meus sentimentos estavam sempre em xeque.
- Sim, você tremia! Tremia de amor, eu me lembro bem. Nossos corpos tremiam de desejo! Era uma paixão louca e tudo era bem melhor quando era assim! Admita!
- Não! – as lágrimas brotaram e caíram sem controle.
- Eu te amo e isso é tudo que eu tenho pra dizer. Não estou te pedindo nada, não tenho esse direito... – o ruivo murmurou, aproximando-se dela. – Eu te amo, para sempre. E o seu para sempre, comigo, acaba hoje, e eu te prometo, você não vai se arrepender de ter se despedido de mim... – ele ergueu o queixo dela delicadamente, aproximou seus lábios dos dela...
Hermione desviou o rosto, fazendo com que os lábios dele pousassem suavemente em sua bochecha. Ele lhe assentou um beijo demorado.
- Por que você está fazendo isso? Por que não me deixa ser feliz? – já não conseguiria conter as lágrimas nem que quisesse. Sua respiração atravessada era cortada apenas pela dele, igualmente trêmula.
- Você não entende, não é mesmo?! Você vai ser feliz sim, aquele cara te ama. Não tanto quanto eu, mas ama. E ele vai te fazer feliz como eu não pude fazer. Mas eu, eu não podia carregar em mim essa dor. Eu ia me perguntar para sempre se você sabia ou não de tudo que eu sinto. Eu entendo, entendo que você o escolheu, eu entendo.
- Sim, sim, escolhi a ele, e você fica tentando fazer com que eu me arrependa. Não sei qual é o seu objetivo nisso tudo além de nos fazer sofrer. Não há mais nada entre nós, as coisas não podem e não vão mais mudar, isso é loucura!
- Cala a boca! Nós temos alguns minutos e eu só quero estar ao seu lado, eu preciso estar ao seu lado. É um pedido, por favor. – ele adiantou-se até ela e envolveu-a em seus braços. Quase involuntariamente ela recostou a cabeça em seu peito, como costumava fazer há muito tempo. Aquele perfume cítrico ainda a embriagava, aqueles dedos afagando sua nuca faziam-na se esquecer do mundo, como se nada houvesse além deles dois. Os soluços se misturaram por um segundo, os corações arfando um contra o outro. Já não parecia algo melancólico.
- Isso não é correto... Por favor, saia agora... Tenho que terminar de me... – ela foi calada por um dedo que pousou delicadamente em seus lábios. Rony deixou sua mão esquerda envolver a dela e a trouxe até seu peito, depois pousou a sua direita no dela.
- Veja... Ainda estão ritmados. Como da primeira vez. – ela sentiu o olhar dele invadir o seu, perfurando sua mente, sua alma, chegando ao fundo dos seus sentimentos mais secretos. Já não havia segredos entre os dois, ele podia ver tudo ali... Escrito em suas íris marejadas. E ela podia senti-lo absorvendo atentamente cada informação escondida dentro de seus olhos. E antes que pudesse entender, recuar, evitar, lábios quentes pressionaram os seus. E quando aquela língua penetrou sua boca foi como se o céu viesse a ela. Tinha se esquecido de como aquilo podia ser bom! As noites com Vítor eram carinhosas e amáveis, mas nem de longe lhe despertavam o tesão que um simples beijo daquele ruivo fazia incendiar seu corpo. E, talvez por que soubessem que aquela era uma última vez, havia um desespero contido, uma sofreguidão intensa naquela batalha que se travava em suas bocas. Nada mais fazia sentido, tudo era irreal.
Mas o paraíso se desfez assim que ela afastou seus lábios dos dele.
- Adeus, Rony. – disse como se nada houvesse ocorrido.
- Adeus. – ele respondeu com o olhar mais desolado que ela já tinha visto nele. Ela viu o ruivo caminhar com passos incertos até a porta e pôr uma mão trêmula e pálida na maçaneta, mas não a girou.
- Posso te fazer uma última pergunta? – ele voltou o rosto para encará-la – Prometo que depois disso eu vou embora de vez.
- Não complique mais as coisas, Ronald. Não temos mais nada a dizer.
- Eu só preciso saber, se não isso vai me atormentar para sempre.
- Isso?! Isso que está acontecendo agora vai me atormentar pra sempre. Essas lembranças vão me atormentar pra sempre, nada mais. Vai... – ela não ia deixar as lágrimas romperem novamente.
- Por que você não me procurou? Assim que nós terminamos, bem, eu realmente achei que você me procuraria, nem que fosse para me xingar ou pedir uma explicação... Mas não. Você não me procurou. E, um mês depois, apenas um mês depois, enquanto eu ainda estava destruído, você apareceu namorando o Krum... Sinceramente, o que queria que eu pensasse?!
- Eu já não me importava mais com você, ok?! Queria que você pensasse o pior de mim, queria que você fosse pro inferno! Você não me largou?! Perdeu!
- É mentira. – ele apressou-se em afirmar – Você não é insensível assim, eu sei! Me diga o que aconteceu, eu quero saber verdade!
- A verdade?! – as lágrimas brotaram novamente, incontroláveis – Hipócrita! É isso que você é! – aquilo lhe trazia terríveis recordações – Quer saber o que aconteceu?
- Por favor.
- Eu te conto! Eu fui te procurar, sim! Três dias depois de você me deixar, lá estava eu, no seu apartamento, toquei a campainha algumas vezes, ninguém atendeu. Abri a porta com a minha chave... A casa estava uma zorra... Caminhei até o seu quarto, a porta do banheiro estava entreaberta... – sua voz ficou embargada, não queria continuar.
- O que houve?! Eu sei que não pode ter visto nada demais lá dentro.
- Nada demais?! Não, não vi nada demais! Apenas Grabrielle Delacour e você, tomando um... banho. – tinha vontade de vomitar.
- É o quê?! Você só pode estar maluca! Eu e Gabrielle Delacour?! Céus... Nunca!
- Não seja cínico, eu vi!
- É impossível! Eu nunca tive nada com ela, nunca!
- Ah, por Merlin, Ronald, você não me deve explicações, mas não me faça de idiota! Era a sua casa, seu banheiro, seus cabelos, e era ela sim! E eu sempre soube, sempre vi os olhares que ela dirigia pra você... Mas nunca pensei que você... retribuísse.
- Não era eu, não era eu! Me diz, você viu meu rosto? Ouviu a minha voz? – existia certo desespero no tom dele.
- De fato não, mas deduzi...
- Deduziu?! Você disse três dias depois que terminamos? Foi isso?
- Acho que sim. Não sei. – três dias exatos, ela sabia – E isso não importa mais!
- Eu sei que você sabe, não custa me dizer...
- Eu... – era voltar a dar importância – Sim, Rony. Três dias depois.
- Hermione, eu não estava em casa! Eu viajei por uma semana depois que nos separamos. Peguei uma missão do Ministério, em Angola. Muitos mosquitos e políticos chatos, mas eu não conseguia ficar em casa... Eu passei a semana inteira fora. – ele parecia buscar informações no fundo da memória.
- Você não precisa mentir, não precisa me dizer nada...
- Mas quando eu cheguei em casa... – ele continuou, naquela expressão pensativa – O Percy estava lá... Só pode ser isso! Só pode ter sido o Percy!
- Ah meu Merlin, cala a boca! Como poderia ser o P... – mas a visão de tudo voltou claramente à sua cabeça, a casa bagunçada, roupas jogadas e, sobre a escrivaninha... óculos! – Céus! Era o Percy?!
Rony abriu um sorriso triunfante.
- Não sorria assim, isso não muda absolutamente nada! – mas mudava. Mudava as noites de angústia e lhe tirava dos ombros a sombra escura que cobria Rony. Ele era inocente. Inocente!
- Eu nunca gostei muito do Percy, mas juro que nunca o odiei tanto quanto hoje! – as palavras dele tomaram um ar bem mais descontraído.
- Certo, agora vai.
- O quê?!
- Vai embora, acho que já passei da hora aqui... Não se esqueça, eu estou indo me casar... – e todo o peso da situação voltou a seus ombros. Rony esfregou os olhos como se, por um momento, tivesse se esquecido daquilo. Os dois ficaram em silêncio e, pela primeira vez, pareceu a Hermione que existia uma opção, mas ela não podia escolhê-la. Não podia. A angústia se intensificou, o peso do certo e do errado pareceu insuportável. Mas não era opção, não era opção!
- Mione...
- Não me peça isso... – ela apressou-se em dizer.
- A gente se ama!
- Fica calado! Melhor, vai embora! Me deixa em paz! Sai daqui!
- Eu sei o que você sente, sei que parece errado, mas você vai ser infeliz! E vai fazê-lo infeliz! Você sabe que sim!
- Não, eu não sei! Pare de falar isso! Não vai ser assim! Como você mesmo disse, terei um futuro brilhante!
- Comigo! Comigo e mais ninguém! Você sabe que sim...
- Não. – ela controlou as emoções, queria sua voz fria. – Não é mais assim, eu tenho prioridades, e já faz tempo que você não está entre elas.
- Você me ama. – o tom de voz dele era suplicante, pesaroso, era... Ah, ela não suportaria... - Vai... Embora. – e adiantou-se até a porta, abrindo-a com as mãos hesitantes e indicando o caminho.
- Eu te amo. – ele sussurrou antes de sair, antes de acabar com sua vida.
Ela deixou-se cair em uma das cadeiras de cedro daquela sacristia infeliz. Passou a fitar as paredes brancas sem realmente vê-las, seu coração pulsava acelerado e ela estava confusa demais para pensar realmente em algo... Depois de uns minutos ela ouviu vagamente do lado de fora da porta alguém que lhe dizia sobre algum problema com os vestidos das damas de honra, já não fazia diferença... Dez minutos se passaram... Vinte minutos... Meia hora... Por que ninguém vinha chamá-la?! O problema com os vestidos teria sido tão grave?! Aquela sala vazia, aquela dor excruciante estavam enlouquecendo-a. Queria entrar naquela igreja, olhar o sorriso tranquilo de Vítor e esperar algo dentro dela dizer que a sua vida seria a mais maravilhosa do mundo.
Já que decidira fazer o certo, que fosse feito antes que parecesse errado. Uma agitação preocupada começou a tomar conta da morena, perguntava-se se Rony estaria em casa, arrumando as malas e chorando suas últimas mágoas. Remoeu o dia em que achara ter visto Rony com Gabrielle, nunca se sentira tão mal em toda a vida. Perguntou-se o que teria acontecido de tão grave com os vestidos das damas de honra, e se era realmente preciso usar as tais damas de honra... Perdeu-se em seus vagos pensamentos...
- Mione... – uma voz suave a despertou.
- Gina?! Eu... Eu acho que acabei cochilando... Que horas são?! Já resolveram o problema com os vestidos? Já está na hora? – e uma aflição furtiva a imergiu.
- Nã-Não existe problema com os vestidos... – Gina parecia extremamente desconfortável.
- Não? Mas me disseram... Vieram aqui e me...
- Era só uma desculpa. – Gina a interrompeu – O problema é o Vítor.
- O quê?! O que houve?! Ele está bem?! Foi algo grave?! O que aconteceu com o Vítor?! – a preocupação irrompeu dentro dela, cenas grotescas e trágicas invadiram sua imaginação.
- Ele... – a ruiva parecia estar sendo forçada a dizer – Ele sumiu.
- Como assim sumiu?! Explica isso direito!
- Eu... não posso. A verdade é que... ninguém o acha em lugar algum. Mas acabou de chegar... essa carta... – a ruiva esticou a mão, um pequeno envelope vermelho, um tanto quanto amassado, lhe foi entregue.
As mãos trêmulas de Hermione arrebentaram o lacre apressadamente e desdobraram o pergaminho dentro do envelope. Ela reconheceu imediatamente a caligrafia grande e arredondada, um pouco infantil... Era de Vítor.
Querida Hermione,
Você sabe que eu a amo, sempre amei, e sempre irei amar. Sabe também que estarei ao seu lado em todos os momentos, te ajudando e apoiando no que você precisar. Cada dia e cada noite com você foram como estar no paraíso e os seus sorrisos para sempre me lembrarão o céu. E foi em meio a esse céu que, durante esse tempo em que estivemos juntos, eu não tive coragem de lhe dizer que encontrei uma pessoa... Por covardia deixei as coisas seguirem mesmo sabendo que não seria capaz de chegar ao final de tudo. E hoje, da maneira mais covarde, eu lhe deixo. Espero que um dia você me perdoe por estar fazendo as coisas desse modo. Mas não tive coragem de lhe dizer pessoalmente. Na verdade, sou muito covarde quando se trata de você, querida. Não conseguiria magoá-la, mas sei que isso não vai ser algo que vai te machucar mortalmente. A essa altura você já deve saber, eu, porém, já sei há algum tempo. Ronald está indo embora, ele vai para longe. E o que quero te perguntar, quero que você responda do fundo do coração. Não quer ir com ele? Tenho visto todo esse tempo o amor preso em seus olhos e como ele brilha às vezes, quando você se perde em lembranças. Mas não é o amor por mim. É por ele. No começo achei que um dia você ia me amar desse modo, mas com o tempo percebi que isso não ia acontecer. E ainda assim, fui covarde demais para te deixar livre pra escolher como ele fez. Não pense que eu não sei disso. Ele foi nobre como eu nunca fui e, de fato, eu nunca soube por que você continuava comigo, mas eu gostava de te ter ao meu lado e nada perguntei. Mas eu me apaixonei novamente, e descobri a agonia da dúvida, passei pelo que você passou todo esse tempo e, se tomei essa decisão, foi por que cheguei à conclusão de que nós dois ficaremos bem.
Carinhosamente, seu amigo,
Vítor.
As lágrimas salpicaram o papel, desciam irreprimivelmente. Tudo era tão confuso, não sabia ao certo em que pensar primeiro...
- Então? O que houve? – Gina perguntou afagando os cabelos da amiga.
- Ele foi embora. – ela respondeu simplesmente, um sorriso tranquilo aflorando vagamente em seus lábios.
- Como assim "foi embora"?
- Ele encontrou outra pessoa, foi embora, fugiu, fale como quiser... – Hermione retirou o véu dos cabelos e começou a desabotoar o vestido apressadamente.
- Ah, querida... Sinto muito.
- Não sinta, Gina. Apenas me ajude, eu preciso alcançá-lo...
- O Vítor? – a ruiva questionou ajudando-a imediatamente com os botões.
- É claro que não! O Rony! O Rony, Gina, o Rony! – ela despiu-se do longo vestido e se apressou a vestir um outro mais formal que seria usado na festa.
- Céus! Eu sempre soube! Você vai pra África, vai?! – Gina zombou-lhe.
- Até para o inferno, por que só ele, só ele vai me levar de novo ao céu! – Hermione correu até a porta e abriu-a afobadamente.
- E o que eu digo às pessoas?! – Gina questionou antes que ela fechasse a passagem.
- Diga que esses noivos estão apaixonados demais para se casarem! – ela abriu um sorriso radiante e recebeu outro por parte da ruiva. Depois desatou a correr.
***
Hermione entrou correndo no saguão do prédio de Rony, parou afobada e ofegante em frente ao porteiro e demorou alguns segundos para formular a pergunta.
- O senhor Weasley já deixou o prédio?
- Já faz mais ou menos meia hora, dona... – o homem respondeu simplesmente.
- E o senhor saberia me informar para onde ele foi? Por favor?
- Não sei, não, senhora. Mas ouvi ele resmungando alguma coisa com "Ministério", enquanto chutava as malas.
- Muito obrigada! – e ela voltou com seus passos largos à calçada. Correu para a viela ao lado do prédio e desaparatou.
***
- Senhor Arnold Wecker, favor comparecer ao Departamento de Mistérios.
Foi a primeira coisa que a morena ouviu assim que pôs os pés no Ministério da Magia. Estava lotado, como sempre, mas ela dava seu jeito de se mover na multidão.
- Por favor, você em que andar são feitas as viagens com chaves de portal?
- Hum, só um momento, por favor... – Hermione quis gritar na cara da atendente da recepção que não tinha um momento, mas de nada adiantaria – É na Subdivisão de Aparatações Extrapessoais, no décimo segundo andar.
- Obrigada.
- Disponha...
Mas ela não ficou para ouvir a última palavra daquele robô de falas decoradas e voz estridente. Seus passos apressados a levavam ao seu amor, e nada ia fazê-la parar. Quando saiu do elevador, no 12º andar, havia uma fila longa de pessoas, caminhando lentamente através de uma porta para a ala de espera, mas ela não o vira ainda. Caminhou com passos incertos até perto das pessoas, seu coração palpitava de modo importuno.
- Rony! Rony! – ele atravessava o portal para a sala de espera. – RONALD!
Ela viu-o virar-se, seus olhares encontraram-se mais uma vez. Ela podia jurar ter visto fogos de artifício explodindo-se dentro dos olhos dele. Seu rosto se contraiu em um sorriso jovial, a felicidade que se estourava em seu peito era quase insuportável de tão maravilhosa. Ele atropelou algumas pessoas até chegar a ela, estava sendo xingado pelos outros bruxos, mas não parecia se importar...
- O q... O que você fz... ?
- Shhhh! – ela fez. E beijaram-se. E beijaram-se, e beijaram-se.
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