a máscara cai
Capítulo VIII – a máscara cai
“O mundo,
meu bem,
não vale a pena
e a face serena vale a face fatigada”
Ele estava ali há horas, deitado, sem conseguir pregar os olhos. Era simplesmente... Estranho. Muito estranho o modo como todas as coisas se sucederam nos últimos tempos.
Primeiro, havia Hermione. Ele não a vira por meses desde... Bem, desde o incidente. Desde que o Sr. e a Sra. Granger foram assassinados, ela simplesmente... Sumiu. Evaporou. Fora como se ela mesma houvesse morrido, ou pelo menos uma grande parte dela.
Ron não se lembrava muito bem dos Granger. Eram trouxas e, naturalmente, pouco ou nada sabiam para instruir a filha depois que a misteriosa carta de Hogwarts lhes aparecera um dia. Os dois eram, o que foi mesmo que ela disse?, dentistas. Mas, ainda assim, talvez devessem ter estado mais presentes na vida da filha. Ele, no entanto, não sabia dizer ao certo como ela se sentia a respeito deles.
Depois de tanto tempo lendo, depois de tantos livros, talvez Hermione acabara se tornando um deles. Um livro lacrado. Ilegível.
Ela nunca fora do tipo de se queixar. Nunca se deixou abalar pelas ofensas que recebia de qualquer um, ou ao menos não deixou transparecer que se importava.
Mas Ron sabia.
Ele sabia que todo instante em que ela mergulhava nos livros, pensava que tinha de ser a melhor, pensava que tinha de saber tudo. E ele também sabia que não era porque queria ser mais do que todos os outros, mas porque se sentia inferior e queria ser igual.
Hermione nunca mencionou, nunca reclamou, mas ele sabia que se sentia assim. Porque ele a amava.
E, de repente, com o assassinato, ela se trancou de vez para todos e qualquer um. Meses sem falar com quem passara os últimos sete anos ao seu lado, com quem dividira as férias de verão, os presentes de Natal e os ovos de Páscoa. E, então, reaparece noiva. Noiva! E de Viktor Krum! Por conta das malditas relações internacionais!
Ele soltou o ar devagar para não se engasgar.
Em segundo, havia Harry. Também não o via há um bom tempo, mas não o culpava. Harry estava longe dele porque não tinha escolha. Além de ter sido marcado quando bebê, numa tragédia, deveria duelar numa batalha de vida ou morte, praticamente suicida, com o maior bruxo das trevas dos últimos cinqüenta anos. Ron sabia que Harry daria de tudo para estar junto dele.
E estava agora. Mas fora por um triz que ele não sobrevivera daquela vez e Ron rezava para que não houvesse seqüelas. Harry parecera um pouco... Fora de foco no hospital.
Ele franziu o cenho abruptamente.
A tal ponto, era levado ao terceiro estranho caso dos recentes acontecimentos: Ginny e o seu repentino mistério. Nos últimos dias, ela tinha mudado bastante. Calara-se mais, sumira por uns tempos. O que há de errado com as mulheres na vida de Ron?
Mas talvez ele apenas não houvesse percebido antes o que ela tinha. Talvez aquele seu tal segredo fosse de outros tempos e ele nunca tivesse reparado nela. Ele só não conseguia entender o porquê dela continuar insistindo tanto em esconder a verdade dele, do seu próprio irmão!
Ela se desesperara na última noite, ele pôde sentir. Ginny havia primeiro despistado o motivo de parecer desesperada, para depois ficar nervosa. Então, teve raiva e foi com desprezo que cuspiu as últimas palavras, “Won Won”, contra ele. Ele podia entender que ela não gostasse de Lavender, mas o que cargas d’água causaria todo aquele ódio e desprezo?
Mas, acima de todas essas sucessões de fatos, havia coisas que ele não poderia mesmo entender.
Quando os vira, Harry e Ginny, através do vidro fumê do quarto do hospital, conversando, sentira-se estranho. Realmente estranho. Era como se se sentisse mal... Estava feliz por ter Harry de volta, pelo amigo poder cumprir a promessa que fizera a Ginny. Então, por que ainda assim...?
Ele deixou os olhos vagarem pelo quarto por algum tempo. A claridade esgueirava-se para dentro do quarto por entre as frestas da janela, mas ele não queria se levantar. Já era dia e o café provavelmente estava servido, mas ele não estava com fome. Ainda assim...
Sentia-se doente sem saber o porquê. Um tanto nauseado. Talvez fosse produto de muito tempo junto de Lavender, respirando aquele perfume exageradamente doce... Talvez só se sentisse um pouco tonto com tanta confusão.
O que sentira, ao vê-los, talvez fosse medo.
Medo de que Harry e Ginny, ao voltarem a namorar, deixassem-no de fora de suas vidas e, logo, eles se casariam, e Hermione e Viktor, e ele ficaria sozinho. Bem... Ainda tinha Lavender, mas... Oras, não era a mesma coisa.
É, provavelmente fora isso, ele concluiu, cansado.
Lavender acabara de se agarrar ao seu peito quando ele ouviu um certo agito n’A Toca. Em geral, o Sr. e a Sra. Weasley acordavam cedo, mas eles haviam ficado no St. Mungus, ou assim pensava Ron quando desaparatara para casa.
Ele levou ainda mais algum tempo para espantar a preguiça e, então, levantou-se e vestiu uma camisa qualquer, para logo depois se atirar ao corredor em busca dos pais, talvez para saber como Harry estava, talvez para respirar algo que não fosse essência de Lavender.
Ron chegou às escadas em poucos passos e desceu os degraus de dois em dois, um tanto sonolento. Num momento, a única pergunta que tinha em mente era se queria ovos batidos ou mexidos. No outro – e estancou no último degrau, perplexo – era o que um Harry de muletas fazia parado bem em frente a ele, sorrindo divertido, ao invés de estar no hospital, tomando soro e vestindo camisolas de papel.
Até o dado instante, a situação estivera curiosa, mas passou a ser embaraçosa assim que o ruivo percebeu que, a alguns passos de Harry, encontrava-se Hermione, examinando-o com uma das sobrancelhas arqueadas. Não parecia se divertir como Harry, mas estava igualmente surpresa. E, para piorar só um pouquinho mais, ao seu lado estava ninguém mais, ninguém menos que Viktor Krum, olhando-o quase tão perplexo quanto Ron parecera no início.
De repente, o ruivo se sentiu impropriamente vestido – ou, para ser exato, menos vestido do que deveria.
E, como se já não fosse bastante ruim e constrangedor aquele silêncio, Lavender apareceu logo atrás dele e observou os outros três, sem embaraço. Ron acerejou violentamente.
Harry boquiabriu-se, alargando o sorriso, enquanto Hermione lançava um olhar escaldante à loura, para dizer o mínimo. O que faria Lavender àquela hora da manhã n’A Toca, seguindo um Ron corado e vestindo-se de uma maneira que deixaria qualquer mãe que se preze de cabelos em pé? Viktor se limitou a mirar a noiva, enciumado com aquela súbita prova de irritação.
“Erm...”, soltou Ron, completamente sem jeito. Muitas revelações estavam sendo feitas num mesmo instante. Demais. “Oi, Harry... Hermione.”
Harry parecera prestes a falar quando Ron o cortou rapidamente.
“Sintam-se em casa”, e empurrou uma Lavender confusa – que trajava apenas uma das camisas de Ron – escadas acima, sem rodeios, sumindo em questão de segundos.
“Você... Você viu aquilo?”, perguntou Harry, rindo-se. Era bom ter um motivo para rir depois de tudo.
“Espero que não”, disse Hermione, irritada. “Aquela garota sempre foi uma...”
A porta da cozinha fora aberta e por ela aparecera Ginny.
“A mesa já está pronta, galera”, ela disse, sorrindo. Então seus olhos recaíram sobre Harry. “Oras, você não ia ver o...”
A ruiva observou a cara de poucos amigos de Hermione, enquanto Harry continuava sorrindo, divertido.
“Ah”, ela disse com amargura, “então vocês já sabem da oferecida.”
“O que ela está fazendo aqui?”, perguntou-lhe Hermione, desconfiada. Harry rolou os olhos.
“O que você acha que ela veio fazer aqui, Hermione?”, insinuou. A garota o fuzilou com os olhos.
“Venham”, disse Ginny, desgostosa, “antes que percam o apetite.”
Eles atravessaram a sala e passaram pela porta da cozinha, cruzando o aposento e chegando até o jardim, onde a mesa fora preparada. O Sr. Weasley já estava sentado ali, o jornal aberto, os olhos correndo depressa pela página. Molly acabava de fazer os pires e as xícaras de café pousarem sobre a toalha, delicadamente.
“Sentem-se, queridos, e comam enquanto está quentinho!”, disse ternamente. Seu rosto, no entanto, trazia os traços inconfundíveis do cansaço.
“Sra. Weasley, você está bem?”, perguntou Hermione logo após se sentar.
“É, mãe, parece cansada”, disse Ginny, examinando o rosto da mulher.
“Exausta, queridas. Acho que vou me deitar...” , e se virou a Viktor, um tanto decepcionada, “Desculpe a desfeita, querido. Sei o quanto é importante para Hermione que eu o conheça e...”
“Tudo bem, Sra. Weasley”, disse Vitor, sorrindo compreensivo. “A sua saúde é mais importante para nós.”
Ela sorriu.
“Bom garoto. Não deixe esse escapar, Hermione”, sugeriu e afastou-se. Hermione sorriu e corou, enquanto Viktor lhe acariciava as costas da mão. Ginny se sentiu um pouco estranha vendo os dois ali, juntinhos, abraçando-se, enquanto ela estava justamente ao lado de Harry. Quando Viktor deu um rápido beijo em Hermione, Ginny evitou os olhos de Harry, puxando a cesta de pães para mais perto de si.
Não demorou muito tempo, eles haviam acabado de servir, quando Ron e Lavender apareceram pela porta da cozinha e se sentaram junto deles. Lavender levou os olhos de Viktor a Harry, com interesse, mas nada disse.
Harry pigarreou.
“Bom dia, Ron! Dormiu bem?”, e sorriu significativamente. Ron entendeu muito bem o que ele quis dizer com aquilo.
“Você parece bem melhor, Harry”, ele murmurou, evasivo.
“É”, o moreno respondeu e passou a mirar o próprio prato, “Bem melhor...”
O silêncio de repente pareceu se propagar com a fragilidade daquelas palavras finais, mas não duraria por muito tempo – feliz ou infelizmente.
“Então... Pra quando é o casamento?”, perguntou Lavender a Viktor. O rapaz se surpreendeu com o comentário, mas, sendo quem era, já havia se acostumado com a velocidade da fofoca. Olhou para Hermione, incerto.
“Logo, Brown”, disse Hermione, profundamente irritada com a presença da loura. Se o Sr. Weasley percebeu algo de hostil na sua fala – fato que não pode ser negado -, nada disse a respeito.
“Chame-me Lav”, ela disse e sorriu, “Será uma grande festa?”
Hermione estreitou os olhos. Ron desejou que a voz de Lavender sumisse momentaneamente – ou talvez um pouco mais. O que menos gostaria de discutir agora era casamento. E, especialmente, não queria discutir sobre o casamento de Hermione. Aquilo ainda o incomodava. Bastante.
“Querem saber?”, cortou Ginny sabiamente, “Na semana passada, Bill me disse – ah, Bill é meu irmão, Viktor – ele me disse que consegue ingressos para a próxima temporada de Quadribol!”
“Sério?”, perguntou Harry, animado, os olhos verdes cintilando na direção da ruiva.
“Posso arranjar alguns também”, disse Viktor, entrando na conversa, “Sempre recebemos alguns convites para os camarotes.”
“Genial!”
Ron os observava com interesse. Apenas Lavender e Hermione não pareciam animadas com a conversa. A primeira por ter sido grosseiramente ignorada, ao passo que se serviu de algumas torradas, fingindo não se importar, mas visivelmente irritada. A segunda por nunca ter gostado de Quadribol, o que era algo bastante curioso simplesmente pelo fato de ter noivado o mais famoso apanhador do jogo nos últimos tempos. Ron poderia menear a cabeça negativamente e jurar de pés juntos que o relacionamento deles não daria certo, mas... No momento, reparava noutra coisa.
Ginny conversava com Viktor e Harry sobre Quadribol, uma de suas paixões. Para um observador qualquer, ela não passaria de uma garota falando de algo de que gosta muito, despreocupadamente. Mas Ron não era um observador qualquer e, nos últimos tempos, ele aprendera a prestar mais atenção em cada um dos seus detalhes e mistérios.
A maneira com que Ginny evitava os olhos de Harry lhe gritava. A nova forma de Ginny olhar o menino que sobreviveu. A maneira com que perguntava a Vitor sobre o seu trabalho, focando sua atenção nele continuamente. Desesperadamente. A maneira com que ria com ele...
As palavras não se cansavam de perturbar os pensamentos do ruivo: “ela não o ama, ela não o ama!”
E ele tinha certeza disso. Estranhamente, tinha certeza.
Ron se levantou, ainda muito distraído, e recolheu algumas das xícaras que havia sobre a mesa. “Eu vou recolher a louça”, murmurou para quem quisesse ouvir e encaminhou-se para a cozinha.
Derrubou algumas das xícaras dentro da pia, descuidado, e abriu a torneira, levando um tanto d’água ao rosto com as mãos.
“Por que está tudo tão confuso?”, ele se perguntou, apoiando os braços na pia e observando o jardim pela janela. Parecia tudo bem. Não importava quão mal estivessem, tudo sempre parecia bem.
Os olhos azuis de Ron buscavam algum suporte nos presentes, mas não o conseguia encontrar. Harry havia acabado de sair do hospital, Hermione o havia abandonado e Ginny...
“Ah, ela não me conta nada!”, ele disse com raiva. Deixou os dedos correrem pelos cabelos cor de cobre, nervosamente. A porta da cozinha se abriu.
“Falando sozinho, Ron?”
Ele trocou o apoio de perna. Os olhos inteligentes de Hermione o fixaram enquanto ela fechava a porta atrás de si. Os olhos castanhos que ele já havia admirado com carinho e respeito. Os cabelos escuros que ele quisera acariciar, enroscar os dedos nos cachos volumosos. O sorriso que ele quis ver por tanto tempo sobre os lábios vermelhos. Agora, seus sorrisos eram secos e os olhos, vazios.
“Pensando”, sussurrou e voltou-se a janela, sucinto. Hermione ainda lhe doía. A sua simples presença parecia trazer à tona tudo o que poderia ter sido, mas não foi.
Era a primeira vez em muito tempo que ficava sozinho com Hermione.
Enfeitiçou a louça para que se lavasse magicamente e fingiu supervisioná-la, como se isso fosse preciso.
“Então... Não vai me contar?”, ela perguntou, sentando-se sobre a mesa. Ele fingiu não entender.
“Contar o quê?”
“Sobre ela”, disse, referindo-se a Lavender, “Nunca pensei que a veria novamente.”
“Bem...”, Ron parecia ter compreendido o rumo daquela conversa, irritando-se gradativamente, “Ela não morreu...”
“Eu quis dizer com você”, respondeu Hermione, rolando os olhos. Ron apertou os punhos, mas não disse nada. Ela continuou. “E vocês parecem ainda mais... Íntimos do que da última vez, com ela dormindo aqui e tudo”, ele resmungou alguma coisa, mas ela não ouviu, “Aposto que dividiram a mesma cama...” Hermione o observou de soslaio, com cuidado, mas não foi preciso. O ruivo virou-se todo para ela, os olhos azuis firmes, intensos.
“E daí?”, ele perguntou, inflamado, “Não é da sua conta com quem eu faço o que eu quiser!”
“Pois eu acho que é, tratando-se de uma--”, mas Hermione jamais teve a chance de concluir aquela frase.
“NÃO OUSE”, as orelhas de Ron haviam ficado tão vermelhas quanto seus cabelos, “VOCÊ NÃO TEM O DIREITO”, ele não conseguia formar pensamentos que não fossem desconexos. Seu peito parecia que explodiria por dentro, “TALVEZ EU NÃO – VOCÊ NÃO TEM MAIS NADA A VER”, ele puxou o ar com mais força, os olhos se estreitaram perigosamente, as mãos trêmulas.
Nenhum dos dois percebeu que metade da louça havia caído no fundo da pia, estilhaçando-se. Ele sentiu um nó antigo apertar-se em sua garganta e, com raiva mal contida, ele fez livre o que há muito manterá em silêncio, “Foi você quem decidiu sair da minha vida... E não eu!”
Os olhos de Hermione chisparam faíscas com a insinuação. Como ele ousava? Como podia dizer uma coisa daquelas?
“Você está completamente fora de si! Isso não tem nada a ver com o que falávamos!”, defendeu-se.
“Claro, claro que não tem nada a ver com o que estávamos falando! Você só está tentando controlar a minha vida depois de ter sumido por dois anos!”, ele cuspiu enraivecido.
“Você só está com raiva por causa do Viktor!”
“Eu não estou com raiva só por causa do Viktor! Você... Você nos abandonou!”
Os olhos de Hermione encheram-se d’água, mas ela não as permitiu rolarem.
“Não abandonei ninguém”, ela disse fracamente, “Estou bem aqui!”
“Agora você está aqui.” A raiva de Ron foi morrendo. Ele ainda não agüentava vê-la chorar. Nunca agüentaria. Desviou os olhos, passando uma das mãos pelos cabelos, mecanicamente. “Durante a guerra você não veio aqui... O que estava tentando fazer?” Os olhos anis se chocaram com os avelã. Hermione, que sempre os lera tão bem, já não conseguia os entender. Durante a sua ausência muita coisa mudara. Tudo mudara. “Estava tentando nos esquecer?”
Ela o estava perdendo. Perdia Ronald Weasley para sempre. E a culpa era toda e exclusivamente dela.
“Era isso, Hermione? Nos afastou de você para que não se lembrasse de todos os outros? Nos deixou, enquanto nossos amigos morriam, para não sofrer?” Ele a observou, esperando por uma resposta. “Mas, claramente, isso não foi abandono”, ironizou.
“Você não entende, não é? Você...”
“Não”, Ron se aproximou de Hermione e levantou-lhe o queixo, os rostos tão próximos que ela podia ver o próprio reflexo nas íris anis, “essa é a primeira vez que acho que entendo melhor do que você.”
Tudo aquilo era verdade, não havia como negar. Hermione fugira dele, depois de tudo, mas foi a única forma que encontrou de seguir em frente quando perdeu os pais. A morte deles fora sua culpa, afinal. Se não houvesse se envolvido na guerra, talvez eles ainda estivessem vivos... Mas não, ela foi, lutou e se destacou. Seus pais foram assassinados porque ela estava lutando pelo que acreditava. Eles haviam lhe dito para tomar cuidado, para se proteger, mas ela não os protegeu. Não pôde salvá-los. Não conseguia viver com aquilo e, embora fosse um sinal de covardia, apenas não pudera deixar de se sentir sozinha, culpada. Pequena diante do mundo. Fraca. Insignificante. Só conseguiu fugir.
Ron estava certo. Tudo o que dissera estava certo em fatos. Ela o fizera mesmo. O que ele não poderia compreender – nem haveria de querer fazê-lo – era como ela se sentira, como que sem saídas. Hermione apenas não quis ver o que estava fazendo e seguiu em frente na escuridão.
“Espero que você seja muito feliz com o Vitinho na sua nova vida...” Ele se afastou. “Porque a mim você já perdeu.”
Lágrimas de raiva rolaram agora livres pelo rosto de Hermione.
“E quem disse que eu me importo?”, ela soltou, roucamente. Ron a observou por alguns instantes em silêncio, mas não desviou o olhar.
“Se não se importa... Então o que ainda está fazendo aqui?”
Os soluços de Hermione morreram abruptamente, calando-se. Os olhos deles se chocaram e o ambiente pareceu de repente mais pesado. O peito dela movia-se rapidamente, como se não houvesse ar o bastante, como se nada fosse o suficiente, mas emudeceu. Parecia não haver palavras que lhe restassem.
A porta tornou a se abrir e por ela apareceu um Viktor bastante preocupado, apreensivo com o que estava acontecendo ou, pior, com o que ainda estava para acontecer. Assim que entrou no ambiente, entretanto, soube que a situação era muito mais perigosa do que imaginara.
Nenhum dos dois o mirou uma vez sequer.
Os olhares tórridos foram se resfriando aos poucos, tornando-se gélidos, até que as lágrimas secassem. Sem dizer nenhuma palavra, apenas com os olhos ainda úmidos e a raiva ainda palpitando no peito, Hermione saiu da cozinha para a sala e bateu a porta com tanta força que um dos quadros despencou da parede.
Viktor lançou a Ron um olhar nada amigável e seguiu a noiva. Ron se apoiou na mesa, tentando normalizar a respiração, para então Reparar a louça e novamente enfeitiçá-la para que terminasse de se lavar.
O Sr. Weasley já não lia. Ginny já não ria e Harry não parecia mais tão divertido. Apenas Lavender agia como se aquele fosse o dia mais feliz de sua vida – a velha rivalidade dos tempos de escola aflorando.
Quando Ron voltou à mesa do jardim, no entanto, todos fingiram ainda estarem muito bem.
“Eu estou satisfeito”, informou Harry, forçando um sorriso. Ginny e Lavender sorriram também. “Quer jogar xadrez, Ron?”
“Pode ser”, resmungou o ruivo, irritado. Eles se levantaram e, sob a aprovação do Sr. Weasley, que para a surpresa de todos se ofereceu para cuidar da louça, dirigiram-se para a sala.
Os rapazes sentaram-se em volta da mesinha de centro onde o jogo fora aberto.
“Peão na casa E4” – e a partida começou.
Ginny observou o cenho franzido do irmão, pensativo. A maneira com que ele comprimia o indicador sobre o lábio inferior quando estava planejando o próximo movimento. O modo com que, ao perder uma peça, soltava o ar pela boca, impaciente, fazendo com que vários dos fios de cabelos cor-de-cobre se esvoaçassem.
Ela entreouvira parte da conversa entre Ron e Hermione, assim como todos os outros. Agora parecia ser, afinal, definitivo. Não havia mais volta. Os dois jamais se acertariam.
Ginny não sabia ao certo se aquela era uma boa ou má notícia para ela. Era boa no sentido de que, com uma pessoa com Hermione, Ron seria plenamente feliz, amaria Hermione totalmente, com devoção, e destruiria Ginny. Sem Hermione, sem demolição. Mas era ruim, era horrível, pois então Ron teria muito mais dificuldade de ser feliz, alimentando relacionamentos infrutíferos como aquele com Lavender. E ela queria que ele fosse feliz. Mas por falar em Lavender...
“Ron?”, chamou.
“O que foi?”, ele disse sem tirar os olhos do tabuleiro. Ela rolou os olhos, ofendida.
“Eu tenho que ir”, informou.
“OK. Cavalo na C5... Isso! Arrá! O seu peão já era!”
“Ron!”
“Que foi, mulher?” Ele se virou para a loura.
“Venha comigo... Quero lhe mostrar uma coisa antes de ir.”
Ginny considerou aquilo como uma afronta de Merlin. Que é que ela tinha feito para merecer aquilo? “Uma coisa”, sei... Oferecida!
“Está bem...”, ele disse, levantando-se e dando uma última espiadela desconfiada em Harry, “Não mexa nesse jogo, hein!”, antes de desaparecer pelas escadas.
Lavender, ao chegar ao quarto, atirou-se por cima da cama, debruçando-se sobre ela e remexendo o conteúdo de sua bolsa, do outro lado da mesma. Ron pôs as mãos nos bolsos e tentou não reparar nas pernas desnudas sob a saia da loura, no seu corpo esguio, que dormira tão próximo ao seu... Oh, era impossível. Lavender era linda. Mas isso bastava?
“Ah!”, ela se levantou, escondendo algo atrás de si. Aproximou-se de Ron e estendeu-lhe o objeto. Era um urso. Um ursinho de pelúcia! “Esta aqui é a Lav”, ela lhe entregou em mãos, “para eu sempre estar junto de você.”
Ron pareceu perplexo. Ela está me dando um... Ursinho? Ah, claro. Depois da corrente de “meu namorado”, ela tinha que se superar.
“Me acompanha até a porta?”, ela perguntou suavemente.
“Claro...” Enquanto ela saía do quarto, Ron abandonou o ursinho em qualquer lugar. Não apareceria com aquilo na frente de Harry – nem morto!
Desceram as escadas. Lavender se despediu dos outros com um animado “até mais” – que Ginny pediu sinceramente que fosse apenas força de expressão – e atravessou a porta. Puxou Ron para fora junto consigo e colocou-o contra a mesma, apoiando o seu corpo no dele e beijando-o.
“Ron... Agora você está livre para que eu o diga”, ela olhou profundamente em seus olhos, “Amo você.”
Ginny se perguntava o que diabos Lavender fazia com o seu irmão lá fora, embora a resposta fosse bastante óbvia. Aquilo era quase uma tortura psicológica, saber que a loura aguada estava se enroscando em Ron e, o pior de tudo, que ele deveria estar gostando disso. Mas ela prometera não se importar, certo? Oh, céus... Como ela era péssima com promessas!
A porta fora aberta e fechada em seguida.
Ron pareceu um tanto atrapalhado. Havia confusão nos seus olhos azuis, Ginny podia perceber de longe. Portanto, não se surpreendeu tanto com suas próximas palavras. “Pensando bem, Harry, vamos... Vamos jogar mais tarde. Eu vou me deitar um pouco...”
“Ok”, disse Harry simplesmente. Harry Potter, o compreensivo.
Quando Ron saiu, eles ficaram novamente sozinhos, Harry e Ginny, em silêncio. Harry levantou-se do chão e sentou-se ao lado da ruiva. O coração de Ginny disparou, apreensivo.
Os olhos castanhos observaram, temerosos, uma das mãos de Harry escorregar mais para perto da dela e apanhá-la, acariciando-a de leve.
“Você está diferente”, ele comentou, mas não parecia se queixar. De fato, Ginny havia mudado muito desde a última vez que haviam se visto. Fazia muito tempo.
“Você também”, ela devolveu, não menos verdadeira.
Harry continuava com algumas cicatrizes, mas era indiscutível que crescera bem. Estava mais alto do que ela se lembrava e mais moreno, os olhos acesos em contraste com os cabelos negros ainda revoltosos. Ele sorriu, sem graça, enquanto ela o observava. Tinha um sorriso bonito também.
“Acho que todos estão diferentes. Ron e Hermione também... Muito diferentes.” Dessa vez, ela sabia que ele não se referia ao físico, apenas.
“Não podemos nos culpar... Pelo menos já acabou.”
“É... Acabou”, ele pareceu pensativo por um instante para então sorrir para ela novamente. Ginny sorriu de volta desta vez.
“Acho melhor ver como Ron está...”, ela comentou. Na verdade, quisera o fazer há muito tempo, logo que o ruivo se afastou, mas não admitiria.
“Então é melhor tomar cuidado. Ele pareceu estar um pouco sensível.” Ele alargou o sorriso. Ginny havia quase se esquecido que ele acariciava sua mão e teve de se conter para não ruborizar ao afastá-la.
“Não se preocupe. Sei lidar com ele”, garantiu.
Ela se afastou de Harry e, assim que subiu as escadas, apoiou-se contra uma das paredes. Como aquilo era... Difícil. Decididamente, com Harry presente as coisas mudariam. Ron era tolo e cego, mas Harry não costumava ser tão lerdo. Captaria os sinais, entenderia os olhares... Oh, sim. E ainda havia o fator “prometi que voltaria para você”. Ginny estava bastante encrencada.
Viver para Harry Potter seria negar a si mesma e perder Ron. Viver para si mesma seria correr o risco de perder Ron e, com o possível sucesso, ter um grande problema familiar. Mas se tivesse Ron...
“Cala a boca, Ginny, e pensa!”, mandou a si mesma, “Pare de sonhar e dê uma olhada ao seu redor! Você não terá Ron!”
Ela meneou a cabeça, cansada e decepcionada consigo. Mas que bobagem. Por que ela não podia simplesmente deixar isso para lá?
Resignada, abriu uma fresta da porta do quarto de Ron e espiou para dentro. O ruivo olhou-a por um instante e, em seguida, voltou os olhos para o teto, sem emoção. Ginny entrou, fechando a porta com cuidado, e aproximou-se da cama dele. Sentou-se ao seu lado e esperou.
“Perdi a cabeça e gritei com ela...” Ele suspirou. “Mas acho que dessa vez estou certo.”
“Não se preocupe conosco. Não ouvimos nada que fizesse muito sentido”, comentou. Ele sorriu. Ginny gostava de todos os seus sorrisos. Ron sempre sorrira diferente para ela, por ser sua irmã, supunha, mas ela não se importava: era um sorriso terno que a deixava tão feliz... Ela sorriu de volta. O sorriso favorito de Ron. “Pelo menos você pôs pra fora, não é?”
Ele se sentou abruptamente mais para perto dela. O estômago dela deu uma guinada.
“Falando em pôr pra fora...”
“De novo, não, Ron!”, ela o advertiu.
“Qual é, Ginny!”, disse aborrecido, “Não vou me cansar de perguntar até você me responder! Acaba logo com isso!”
“Não me faça perguntas e não direi mentiras, Ron!” Ele pareceu considerar suas palavras e, então, chegou ainda mais perto. Ginny achou aquela cama de repente tão pequena...
“Por que mentir pra mim? Sou seu irmão!”
“É exatamente por isso”, ela retorquiu. Ron pareceu desapontado.
“Eu... Só...”
“Ron, eu já falei, mas você parece não querer me escutar: ninguém pode resolver isso pra mim. Entendeu?”
Agora ele parecia preocupado.
“É tão grave assim?”
Ela o mediu. Ron estava se saindo mais que bem no seu papel de irmão mais velho... Mas ela bem que queria que as coisas não precisassem ser assim. Suspirou. O que diria?
“É... Sim.”
Ele a examinou, um dos olhos castanhos de cada vez. Então, sem mais, nem menos, abraçou-a. Por alguma estranha razão, gostava de ouvir o coração dela acelerar gradativamente contra o seu peito, enquanto seus dedos acariciavam os longos cabelos cor-de-cobre. Como pudera viver tanto tempo sem abraçá-la? Ele não se perguntava do porquê da aceleração ou dela se arrepiar quando ele a tocava, apenas o fazia. E gostava da sensação. Protecionismo?
Ginny sentiu o corpo estremecer com o contato. O calor se espalhava em suas veias, enquanto os lábios pareciam secar de repente. Ter a pele tocando diretamente a dele era algo de que gostava – e muito – mas que tinha absoluta certeza que não deveria fazê-lo.
Por quê?
Ficaram colados por algum tempo, quando Ginny achou que era perigoso se demorar muito mais – embora ele não demonstrasse sinais de que captava algo de estranho ali. De fato, ela gostaria de ficar ali longamente, até que ele decidisse que era hora de se separarem, o que não seria realmente estranho, uma vez que era ele que a envolvia e não o contrário. Mas preferiu não arriscar.
Afastou-se dele e deu-lhe um beijo na bochecha antes que pudesse se conter. Que mal havia naquilo? Levantou-se e saiu do quarto, recostando-se na porta, sonhadoramente.
Ganhara o dia. Mas não por muito tempo.
Harry aparecera, só sabe Merlin de onde, e a observou, intrigado.
“Ele está bem?”
Ginny quase enfartou com o susto, mas se recompôs.
“Vai sobreviver”, apressou-se em responder. Teria ele visto o seu estado de pós-paraíso?
“Ah, bem... Então eu vou dar uma palavrinha com ele.”
Ginny abriu espaço para que Harry e suas muletas passassem, abrindo a porta para ele e fechando-a depois que ele já havia entrado, o que ele agradeceu.
A entrada de Harry fez com que Ron abandonasse suas divagações para prestar atenção no amigo.
“Tem um tempinho?”, perguntou Harry, sentando-se na cama junto de Ron.
“Dois”, respondeu o ruivo, curioso. Passados alguns instantes, porém, Harry ainda não havia dito nada. E isso preocupava Ron.
Harry era ligado a Ron de tal forma que, embora Ron tivesse muita dificuldade em perceber as peripécias e complexidades da vida, sobretudo de uma vida complicada como a de Harry, sentia os próprios nervos do Menino-Que-Sobreviveu como se fossem os seus. Era claro e óbvio que, o que quer que Harry tivesse para falar, era difícil para ele prosseguir.
“O que foi, Harry?”, ele o encorajou, “Pode contar comigo, cara.”
De certa forma, porém, aquilo não pareceu ajudar muito. As feições de Harry endureceram, agora sérias.
“A guerra acabou, Ron”, murmurou dolorosamente, “mas os seguidores de Voldemort ainda estão por aí. Não foram capturados. Não todos.”
O ruivo pareceu entender o ponto.
“Eles virão atrás de nós...”
“A não ser...”, e uma estranha obscuridade perpassou os olhos verdes de Harry, antes tão claros e límpidos, “Que os encontremos primeiro.”
Ron emudeceu. Harry precipitou-se para frente, aproximando-se mais do amigo.
“Sirius, Remus, Dumbledore e meus pais, Ron. Não há mais ninguém para lutar por eles além de nós. Além dos que restaram da Ordem da Fênix.” Harry fixou os olhos azuis de Ron, em súplica. “Você está comigo?”
Naquela noite, n’A Toca, o jantar estava mais quieto do que o normal. Apenas os talheres tagarelavam, tinindo no fundo dos pratos.
“Me passe as batatas, sim, Ginny?”, pediu o Sr. Weasley educadamente. A filha o atendeu e ele se serviu, generoso. “Tivemos um dia bastante agitado hoje, não?”
Ron concordou com um aceno de cabeça, decido a não comentar o pequeno deslize que tivera com Hermione naquela manhã. Desejou que Harry tivesse ficado para o jantar. O pai não puxaria o assunto se Harry ainda estivesse ali.
“Tem algo a dizer, Ron?”
“Hmm... Sem comentários?”, disse sem emoção.
“Já se desculpou com ela?”, a Sra. Weasley quis saber, ignorando o comentário do filho. Ron parecia chocado.
“Eu devo me desculpar? Ela é que...!” Sob o olhar dos pais, Ron percebeu que lutava por uma causa perdida. “Ah, deixa pra lá...”, murmurou aborrecido.
“Filho meu tem que ser educado”, disse Molly, pontual, recolhendo o próprio prato.
“Eu faço isso, mãe”, Ginny se ofereceu, adiantando-se para a pia.
“Não pensei que viveria para ver isso”, comentou a Sra. Weasley.
“Depois que o pai recolheu a louça de manhã, eu não duvido de mais nada”, Ron disse, observando Arthur.
“Ei!”, protestou o pai, “Mais respeito com seu pai! Eu faço muitas coisas, viu?”
“Sei, sei...”
Arthur se levantou da cadeira, encaminhando-se para a porta da sala.
“Mas... Não agora.”
Ron riu-se vendo o pai se afastar junto da mãe, para logo então se sentir deveras tolo. O riso foi morrendo gradativamente, frágil.
Ele resolvera não contar aos pais sobre a partida... Não ainda. Depois de todos aqueles anos de guerra e de luta, eles mereciam ao menos uma noite sem terem de se preocupar com a vida de um dos seus filhos. Ao menos uma.
Mas ele não conseguiria esconder de todos. Não conseguiria guardar aquilo só para ele. Por isso decidira contar a Ginny.
A ruiva fazia a louça voar da mesa para a pia com um aceno de varinha, abrindo a torneira da mesma forma e fazendo com que os pratos, copos e talhes fossem lavados.
Sorrateiramente, Ron se aproximou dela.
Ginny sentiu as pernas tremerem de leve quando ele sussurrou um “tenho algo para te falar” em seu ouvido. Ela virou-se para ele.
“Diga”, mandou.
Ele a examinou por algum tempo. Era realmente... Estranho. Muito estranho o modo como as coisas se sucederam nos últimos anos. Entre eles dois.
Talvez por estarem ilhados n’A Toca, confinados em seu próprio lar, talvez por simplesmente ser assim que as coisas acontecem, o fato era que Ginny se tornara um grande apoio para Ron. Ainda mais do que isso.
Ele ousava arriscar que, no dado momento, a ruiva seria a pessoa que mais o conhecia e compreendia. Ginny sabia quem e como Ron era.
Ela conhecia todos os seus porquês.
A constatação disso o fez sorrir para Ginny, embora sorrisos estivessem muito longe do que estava prestes a lhe dizer. Ginny, que ficara confusa com tudo aquilo, aos poucos lhe retribuiu o gesto, sorrindo de volta.
Ele observou como os grandes olhos castanhos, infantis, fixavam-no com carinho e ternura, talvez até com demasiada admiração. Notou como as sardas se espalhavam pelo seu rosto numa linha graciosa sobre as bochechas. Admirou o róseo dos seus lábios úmidos descrever um arco sorridente que formava leves covinhas em sua face.
Ron afastou alguns dos fios cor-de-cobre do rosto de Ginny e percebeu que já não havia receio no que decidira fazer. Dera-se conta de que era por aquilo que Harry lutava: por quem foram seus entes queridos e quem agora já não podiam mais ser.
Ron gostaria que Ginny pudesse ser ela para sempre, ou o mais próximo disso possível. Era por isso que ele deveria lutar, era isso o que deveria proteger: Ginny e todos os outros.
Quando entendeu, já não havia mais o que temer.
“Amanhã Harry vai partir numa busca atrás dos últimos Death Eaters.” Ele fez uma pausa, durante a qual as íris anis cintilaram, determinadas. “Eu vou com ele.”
As palavras pegaram Ginny desprevenida. Ela se livrou do sorriso quase que instantaneamente. De longe, essa era a pior coisa que poderia lhe acontecer naquele momento. A pior.
Ron dissera o que? Que partiria numa busca pelos...? Não, impossível. Isso seria... Suicídio.
Ginny não conseguia aceitar que Ron, justo Ron, deveria partir numa busca pelos assassinos a sangue frio de Voldemort! Assassinos que já não tinham mais o que perder! Aquilo só poderia ser uma piada... Uma piada horrível.
“Não vai, não”, ela disse sorrindo. Pareceu desesperada.
“Ah, eu vou.” Ele começou a andar de um lado para o outro, pensativo. “Veja bem, Ginny: senão formos atrás deles, eles virão. Mas se nós formos, o elemento surpresa estará a nosso favor! Além disso...”
“Por que você, Ron? Você não precisa ir!”, arriscou.
Sentia-se nauseada. Ron não era um auror. O mundo parecia ter se deslocado da órbita e apenas ela havia percebido? Ron não era bom em duelos – não como assassinos. A mera possibilidade de perdê-lo – o que podia muito bem acontecer caso ele se metesse numa batalha varinha-a-varinha com um Death Eater – deixava-a tonta.
“Ginny...”, ele pegou numa de suas mãos, “Harry precisa de mim.”
Os olhos azuis pareceram mais decididos do que em qualquer outra vez que os vira. Não havia volta. Ginny sentia-se apenas fora de si – sim, talvez estivesse num sonho ruim. Num pesadelo. Sentia-se fraca e pesada.
“Harry precisa de mim.”
Seus olhos se encheram d’água enquanto a cabeça parecia rodar.
“Harry precisa de mim, Ginny...”
“Eu também preciso!”, ela gritou com raiva.
Ron pareceu mais que perplexo. As palavras dela ricochetearam contra ele, produzindo uma espécie de feitiço vertiginoso, e Ron se sentiu de certa forma embriagado, mas voltou à realidade a tempo de apanhá-la antes que batesse contra o chão.
Desacordada.
N/A: ok, sem desculpas dessa vez. Eu não vou falar dos seis challenges, nem do meu Word ter expirado, nem de uma beta-reader incompetente, eu juro. Whoops... Já falei, né? Que espertinha canalha, viu. Mas o Word voltou, arrumei uma beta-reader perfeita (obrigada, Bruna F., obrigada mesmo!) e, embora eu ainda esteja nos seis challenges, eu me proíbo de deixar eles me atrapalharem de novo.
Bem, aqui está o oitavo capítulo de Blood & Love. Tudo foi por água abaixo, hum? Ah, vocês gostaram do segundo round Ron versus Hermione? Eu me lembrei bastante daquela briga que eles tiveram... Depois do baile, não? Ah, e ele “amava ela” ficou muito fofo, mas chega de falar desses dois pestinhas, que eles não são prioridade por aqui, esses barraqueiros. O próximo capítulo, por enquanto, se chama flame’n’fire. Eu estou com minhas dúvidas sobre manter o nome ou mudar para algum outro capítulo ‘diferente’, mas acho que será esse nome mesmo. Agora, quero agradecer a todos os que comentaram. A cada comentário, eu fico mais feliz. E asrail feliz signiifica mais capítulos, mais rápido. ^^ Só um parêntesis para o marcio-api: ué, o seu comentário era maior. O que houve? Eu gostei do toque. Fico feliz quando as pessoas prestam atenção nos capítulos e, como estou planejando revisá-los, a sua dica valerá bastante, obrigada.
Tomaram que vocês gostem desse capítulo. Eu gostei de escrever, pelo menos. Beijos a todos. Até o próximo capítulo, pessoal!
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