A Espiã



Água e Vinho





Capítulo Quinze - A Espiã




Quando acordei na manhã seguinte, era como se tudo que acontecera não tivesse passado de um sonho. Parecia tudo tão fantástico, tão incrível... Remo era um lobisomem, Potter, Black e Pettigrew eram animagos, animagos de dezesseis anos... Eu havia sido atacada por um grupo nojento de Comensais da Morte chefiados por Lúcio Malfoy, e salva outra vez por Potter...



Ah puxa, talvez ele esteja mesmo melhorando... Com a exceção de Snape, ele não tem azarado tantos alunos assim... Ele parece mesmo ter começado a amadurecer...



E ele gosta de você, Lílian Evans. A idéia sempre me pareceu um grande absurdo, mas também eu nunca parara pra pensar de verdade sobre isso... Sempre me mantive tão arisca e tão agressiva com ele que nunca sequer parei pra pensar em tudo que ele andou fazendo por mim. Que idiota eu fui! Quando não estava pensando em Alice e Frank, estava pensando nas eternas doenças do pobre Remo ou ainda nas minhas lições... Ou, ainda, nos comensais. Mas desde as férias ele tem me salvado dos modos mais estranhos, e eu nunca prestei atenção de verdade a isso!



Lembrei-me então das duas vezes que ele me beijou... Lembrei-me também do modo como eu não fugira, muito ao contrário...E puxa, eu ainda nem contara a Alice sobre isso, e ela era minha melhor amiga... Por um momento, me imaginei como namorada de Tiago Potter. Era uma imagem nova, uma posição estranha... Justamente eu, a monitora que mais brigara contra os garotos que se auto intitulavam Marotos, namorando o pior deles...



Rolei na cama, enfiando a cabeça embaixo do travesseiro. Não, isso era um absurdo. Ele apenas faz tudo isso pra tentar impressionar a única garota que nunca se importou com ele. Poderia ter acontecido com qualquer outra garota. Se fosse Alice, ou Amy, com quem dividimos dormitório, a história seria a mesma.



Talvez eu estivesse fazendo a coisa certa sem querer, e o melhor fosse mesmo evitar pensar nesse tipo de assunto. Nunca tinha sido crucial pra mim antes, não havia motivo para ser agora. Mas o caso era que eu já havia perdido todo o sono. E, pra coroar, mais tarde teríamos aula de Adivinhação. Que maravilha.



Levantei-me, joguei um roupão por cima da camisola e saí do dormitório sem fazer barulho. Estava descendo as escadas, quase chegando na sala comunal quando ouvi vozes. E vocês sabem que eu não consigo nunca me segurar quando tenho oportunidade de ouvir uma conversa alheia sem ser vista. Sempre pode ter algo de importante, não concorda?



Escondi-me na última curva das escadas para a sala.



-Ainda não consigo acreditar que você fez isso, Aluado! Aliás, você nem deveria estar aqui agora! Como Dumbledore vai explicar pros outros se as pessoas te virem aqui quando você deveria estar em Londres agora, com os seus pais?



Era Potter quem falava.



-Não posso acreditar que você tenha se dado ao trabalho de acordar tão cedo apenas pra me dizer isso...- a voz vacilante de Remo respondeu, e eu resisti bravamente ao impulso de esticar um pouco o pescoço pra ver como ele estava. - Eu tenho uns assuntos pra resolver! Depois eu volto pra Casa dos Gritos, mas antes eu preciso esclarecer algumas coisas.



-Com a Lílian, é?- então Potter continuava usando secretamente o meu primeiro nome! Ora, essa... - Por que você faz tanta questão disso? Acha que o Rabicho e o Almofadinhas não poderiam responder todas as perguntas dela? E eu?



-Não seja infantil, Pontas...- ouvi barulho de pano, provavelmente Remo estava se sentando numa poltrona. - Seria ridículo fazer os outros falarem por mim, ainda mais sobre um assunto como esse! Eu quero que ela entenda, ela deve saber porque eu não contei antes para ela...



-Você nunca teve a menor obrigação de contar para ela que você é um... lobisomem - Potter baixou a voz para a palavra. - Até para os seus amigos você demorou séculos! E nós tivemos quase que encostá-lo na parede para descobrir toda a história! O que Lílian tem de tão especial para... Ei, espere...



Os dois ficaram em silêncio por um tempo, e eu estava doidinha pra enfiar a cara para o lado e ver o que estava acontecendo. De repente, eu ouvi passos bem lentos. Potter devia estar andando na direção de Remo.



-Você.. Você gosta dela!



Impossível, eu pensei. Mas Remo não respondeu nada, a não ser que eu não tenha ouvido.



-Não posso acreditar nisso! - Potter pareceu mais indignado do que nunca. - Aluado, você sabe que eu... Ah, simplesmente isso não entra na minha cabeça!



-Me desculpe, Tiago. - ouvi a voz de Remo. Por que ele estava se desculpando? - Eu sei disso, sempre soube, mas quando me dei conta já estava...



-Apaixonado? - Potter terminou a frase para ele. - Fantástico! Um dos meus melhores amigos... Nós combinamos que vocês não tentariam seduzir a Lílian! Até o Sirius refreou os hormônios malucos dele, e você...



Eu não conseguia computar o que estava ouvindo ali! Potter havia proibido os amigos dele de chegarem perto de mim?? Ele não tinha o MENOR direito de fazer isso! Pela milésima vez, eu pergunto: QUEM ELE PENSA QUE É??



Como você deve ter percebido, a raiva estava começando a transbordar.



-Você se deixou gostar dela! Sabendo que eu... Ah, Remo Lupin! - ouvi um murro na parede e supus que fosse do maldito Potter.



-Pare com esse dramalhão, Pontas - ouvi Remo responder com dificuldade. Sem agüentar mais, virei o rosto para ver. Ele estava tentando se levantar, apoiado na poltrona. - Você sabe que eu não quis que isso acontecesse. Ela nem sabe de nada!



Ele me viu então, e fechou a boca de repente. Potter estava de costas, e Remo olhou apreensivo para ele.



-Ela não sabe, e isso importa, por acaso? ELA também não sabe que eu gosto dela há séculos! E você sabe, Remo, que desde as duas vezes em que eu a beijei as outras foram uma dro...



Parou repentinamente, pois havia se virado e estava olhando para mim, parada bem no portal para os dormitórios. Eu não sei dizer que expressão eu tinha naquela hora, mas devia ser uma bem apavorante, pela cara que ele fez ao me ver.



-EVANS! Há quanto tempo você está aí???



Ignorei a pergunta.



-Você... Você contou a ele!! Potter, seu desgraçado! Não acredito que fez isso! - e isso foi apenas o começo. - Você está brigando com o Remo com ele NESTE estado?? Você é nojento! Sempre andando pra cima e pra baixo, se achando o máximo, proibindo seus amigos de chegarem perto de mim como se fosse meu dono! Gosta de mim, ah, espera mesmo que eu acredite nisso? Teve um modo bem galináceo de demonstrar isso todos esses anos! E depois vem me dizendo que eu sou uma idiota por não acreditar em você! Idiota, estúpido! Se não pode conseguir o que quer não tem o direito de proibir os outros de tentarem! E pensar que eu... AHH!



Potter parecia ter encolhido com a minha gritaria.



-Evans, pare com isso, você vai acordar a Grifinória inteira...



-Eu deveria parar? Ele merece que eu pare, Remo? Bom, pelo que ouvi, acho que NÃO! Você só me decepciona, Potter, justamente quando as pessoas começam a acreditar que TALVEZ você não seja tão asqueroso e baixo como sempre age, você vai lá e dá um jeito de desmentir qualquer esperança que se possa ter com você! Você merece cada coitadinha idiota que cai nos seus braços!



Eu ia falar mais ainda, quando fui interrompida por passos.



-Depois eu termino com você, Potter, mas tenho que tirar o Remo daqui agora - retorqui, enquanto ajudava depressa Remo a se levantar e o levava até o buraco do retrato. - Hipogrifo! Ande, Remo, venha, eu vou te deixar lá na Casa dos Gritos antes que te vejam.



O retrato de fechou quando eu achei que alguém havia chegado à sala comunal. Dane-se, Potter, eu pensei, vire-se sozinho com quem quer que seja. Enquanto isso, Remo pareceu melhorar um pouco e quase se soltou de mim para andar. Mas não me olhava nos olhos.



-Puxa, Lílian, nem sei o que dizer. Estou morto de vergonha.



-Não precisa, Remo, você não é culpado de nada. Nem sei se você deveria ter ouvido toda aquela gritaria. Ainda vou acabar com aquele maldito Potter.



-Não me trate como se eu fosse seu filho, Lílian. - Remo replicou, subitamente áspero. - Eu tinha voltado até o Salão Comunal para uma explicação sobre ontem. Dizer porque eu resolvi te contar...



-Eu não te dei muita opção ontem. - interrompi com falso bom humor, tentando evitar que ele repetisse que gostava de mim; com certeza, não era o tipo do assunto que eu queria discutir naquele momento. - Aliás, você não devia estar transformado agora?



-A Poção Mata-Lobo permite que eu volte a ser humano de dia, além de me ajudar bastante à noite. - ele disse, tentando sorrir sem sucesso. - Quase terminei com o meu estoque pra vir aqui. Vou ter que pedir mais ao diretor.



Eu havia imaginado que Dumbledore soubesse de tudo aquilo, mas quando ele mencionou em voz alta a coisa pareceu até um pouco estranha, não sei porquê.



Chegamos nos jardins, e eu quase corri o puxando, com medo de que alguém nos visse. Não estou falando de Filch ou de algum professor, mas sim de algum panaca da Sonserina. Seria o Apocalipse se algum deles um dia descobrisse.



Assim que deixei Remo de volta no buraco sob o Salgueiro Lutador, me lembrei que bem ali Malfoy havia me atacado e tentado fazer com que eu... Ah, vocês se lembram. Era hora de ir até McGonagall.







-O que tem para me dizer tão cedo, Srta. Evans? - ela me disse, logo depois de eu ter me sentado à frente dela, na sala de Transformações.



Eu engoli em seco. Não tinha pensado em como iria contar vergonha como aquela que eu tinha passado. Acabei falando tudo de uma vez, sem pausas.



-Professora ontem eu descobri que Remo Lupin é um lobisomem e fui levá-lo até o esconderijo dele com seus amigos sei que não devia ter feito isso mas a senhora vai entender ele é meu amigo e eu não estava acreditando muito mas o caso foi que depois que ele entrou apareceram Lúcio Malfoy e mais outros que eu não consegui ver com varinhas em punho eles começaram a me atacar, até me lançaram a Imperius e quiseram que eu... mostrasse as minhas pernas e então do nada chegou o Potter que devia estar na ala hospitalar enfeitiçou todos eles e o infeliz me salvou e eu vim contar pra senhora que realmente Malfoy é um dos Comensais da Morte, ele chegou a dizer isso mas achou que eu não viveria para denunciá-lo mas...



-Basta - McGonagall me interrompeu, visivelmente atordoada. [N/A - Essa fala de Lílian enlouqueceria qualquer professor de português....]



Depois desse descarrego, ela me fez contar tudo de novo, só com vírgulas e pontos finais. Sem falar dos detalhes sórdidos, que eu não tinha conseguido esconder nem mesmo no meu relato gramaticalmente incorreto. Enquanto eu falava, notei com um pouco de medo uma linha fina que as sobrancelhas dela formaram, indicando, no mínimo, uma catástrofe a caminho. Mas, felizmente, a Prof.ª McGonagall tinha algo que me faltava: auto controle.



-Muito bem, Srta. Evans. A parte que consegui entender de toda a sua história é muito séria. Vou tomar providências imediatas. Agora vá para o Salão Principal tomar o seu café da manhã. Irei falar com o diretor imediatamente. Pode se retirar.



-Obrigada, professora.-falei, antes de me levantar e sair. Tinha me esquecido que ainda tinha um dia inteiro de aulas pela frente.




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