Mudança
Capítulo Seis - Mudança
Felizmente, eu acabei não tendo que sair de casa. Meus pais quase morreram do coração com a notícia de um trouxa morto perto de casa, e realmente quiseram me mandar para a casa de uns parentes que moravam perto de Bristol. Você pode ter achado algo verdadeiramente apaixonado aquilo que o Potter disse, mas eu não acreditei em uma só palavra. E brigamos de novo por causa disso.
_Afinal de contas, Evans, qual é o problema com você?_ele perguntou, quando a minha reação foi apenas uma risadinha sarcástica e um "Hum!" que ousei exclamar._O que você pensa de mim, afinal? Que eu sou um monstro sem sentimentos que não acharia terrível você morrer pela Avada nas férias de verão?
_Você não ia querer saber o que eu realmente penso sobre você, Potter._respondi, percebendo então que o meu risinho estava irritando Potter ao extremo.
_E por que não? Será algo tão terrível assim? Ou será que você não quer assumir que simplesmente está apaixonada por mim?
Quando ele disse isso, eu me enfureci. De verdade. O sarcasmo desapareceu do meu rosto e encarei Potter com firmeza. Meus pais estariam em casa a qualquer momento.
_Como ousa imaginar que eu poderia UM DIA chegar a me apaixonar por você, Potter? Por acaso bateu a cabeça quando vinha voando com essa maldita vassoura? Saia da minha casa agora. Não agüento mais olhar pra sua cara!
Potter me olhou, também a expressão convencida se transformando em defensiva.
_Está me expulsando?
_Preciso ser mais clara? Quer que eu desenhe um esquema pra você entender?
Ele me olhou, parecendo muito bravo mesmo, passou a mão na vassoura e foi até a porta, segurando a Capa da Invisibilidade na outra mão. Quando chegou à porta, virou-se pra mim de novo e disse:
_Nos vemos na escola então, Evans.
Dito isso, vestiu a capa por cima dele e da vassoura, e apenas ouvi o rumorejo dele levantando vôo.
Minha mãe me disse, na véspera da volta para Hogwarts, que eu tinha mudado muito aquele verão, e vivia pondo a culpa no trouxa morto que Potter e eu encontramos. Eu tentava ser esperta, mudava de assunto dizendo que eu estava era apavorada com a idéia do mundo de tarefa que dizem que passam no sexto ano. Eu havia recebido o resultado dos N.O.M.s não havia muito tempo. Aceitável em Poções, Feitiços e Aritmancia, Excede as Expectativas em Transformações e Defesa Contra as Artes das Trevas, etc. Boas notas, ótimas até.
Eu não sei se eu realmente tinha mudado. Apenas me tornara um pouco mais assustada, talvez mais cautelosa e tinha evitado aquela praça durante o resto das férias. Mas minha mãe vivia dizendo que eu tinha me tornado muito mais calada. Não sabia do que ela estava falando até chegar o dia seguinte, quando eu voltei à Plataforma 9 ½ para pegar o Expresso de Hogwarts.
Eu não tive muita dificuldade em arrumar uma cabine por ter chegado cedo, quase meia hora antes do trem partir. Fiquei quieta ali, com a cara no vidro, observando as pessoas chegarem, passando pela parede da plataforma. Quase morri do coração quando escutei falarem comigo.
_Oi... Lílian?
Assustada, olhei para a porta, onde Remo me olhava, agora também surpreso.
_Ah, oi._respondi.
_Eu te assustei?
_Foi tão perceptível assim?_falei._Anda, senta aí.
Remo continuava me olhando cautelosamente quando se sentou. Parecia estar examinando algum monstro positivamente perigoso, que pudesse atacá-lo a qualquer momento.
_O que foi?_perguntei._Por que está me olhando assim?
_Não é nada. Você está parecendo... Diferente.
_Diferente?
_É, acho que é isso. Aconteceu alguma coisa nos últimos tempos?
Eu olhei fixamente para Remo, me perguntando como ele podia ver através de mim daquele jeito. Antes que eu respondesse, ele mesmo falou.
_Dá pra perceber que sim. Normalmente você nunca se assustaria sem rir depois. Você sempre faz isso.
_Como sabe?
_Eu nunca tinha percebido até agora, quando você deixou de fazer._Remo respondeu, com um sorriso apaziguador.
Dei um meio sorriso, pensando em como algumas pessoas podiam ser tão observadoras e perceber as nossas mudanças como se estivessem escritas na minha testa.
_Pode me contar o que aconteceu _Remo continuou._ se quiser que eu guarde segredo, eu guardo.
_Não foi nada._finalmente respondi._ Nada. É sério. Você está imaginando coisas.
Remo me encarou, erguendo apenas uma sobrancelha.
_Está bem, é mentira._deixei escapar, antes que pudesse me controlar de algum jeito._ Mas se importa se eu não quiser falar sobre o assunto?
_Ah, agora sim. Por mim tudo bem._disse ele._ Se quiser falar sobre isso outra hora, serei todo ouvidos.
_Obrigada. Agora, onde estão os seus outros amigos que vivem grudados em você?
_Eu não sei... Acho que ainda não chegaram. Sirius e Tiago tendem a ser muito atrasados, e é bem capaz do Pedro ter se perdido no caminho, do jeito que é.
_Olha, se eu tivesse um amigo que falasse assim de mim, eu não precisaria de nenhum inimigo na vida...
Remo deu uma risada que tinha uma bizarra semelhança com um uivo.
_Eles não se ofendem com isso. Sabem que é a verdade.
_O que é que eu sei aí?_disse uma voz à porta.
Eu realmente preciso dizer quem era?
_Olá Tiago _Remo cumprimentou-o._Como foi de férias...?
_Pergunte à Evans _Potter respondeu._Ela vai saber responder.
Eu apenas bufei e me virei para a janela. Remo voltou a me olhar daquele jeito cuidadoso.
_Lílian, por acaso o que ele disse tem a ver com...
_Remo _eu o interrompi._, lembra-se de que eu pedi para não ter de falar disso?
_O quê?_cortou Potter._ Você ainda não contou a ele, Evans? Ah, então eu mesmo digo: aconteceu que Evans e eu encontramos um trouxa morto pela Avada perto da casa dela.
Dizendo isso, ele se sentou quase ao meu lado. Um centímetro mais perto e eu teria saído dali naquele momento. Remo encarou Tiago, estupefato. Eu não olhava diretamente, mas podia perceber isso, mesmo que estivesse primariamente observando Alice atravessando a barreira da plataforma.
_Vocês o quê...?
_É, foi isso mesmo que aconteceu...
_Remo, você sabe a que horas temos que ir ao vagão dos monitores?_tentei mudar de assunto.
Mas não adiantou nada, afinal a surpresa e o interesse de Remo haviam sido despertados. Tive que tolerar Potter ali, contando toda a história, desde quando eu quase trombara com ele até quando Dumbledore saiu da minha casa, omitindo, claro, aquela coisa estúpida que me disse depois.
_Lílian, então você... Podia estar morta agora?
_Bem _eu murmurei, muito a contragosto._ é sempre uma possibilidade quando se está vivo.
_Eu... Eu vou procurar o... Monitor Chefe _gaguejou Remo, visivelmente não sabendo como devia reagir._ e depois venho te buscar para a reunião no vagão dos monitores.
E saiu, quase tropeçando nos pés de tão pensativo.
_É, parece que eu assustei o bom Aluado.
_O quê?
_Nada, deixa pra lá.
_Aliás, Potter, posso te perguntar o que está fazendo aqui? Não me lembro de ter te convidado pra sentar comigo, e nem me lembro que Remo tenha feito isso em algum momento.
_Não se preocupe, Evans, eu tenho o meu próprio vagão onde costumo ficar..._Potter disse, sacando a varinha quando trem começou a andar.
_O que vai fazer?_perguntei, com uma ponta de interesse.
_Nada demais... Coloportus!
Me levantei dum impulso só.
_Potter, posso perguntar por que trancou essa porta?
Eu me arrependi de ter levantado quando ele se levantou junto e ficou bem diante de mim, me encurralando contra a janela. O trem ganhava velocidade, agora só se viam árvores e vegetação lá fora.
_Eu acho, Evans _disse Potter, me olhando de um jeito que me fez sentir encolhida, quase indefesa._ que você é uma grande estúpida de ter negado sair comigo até hoje.
Não pude evitar. Tive que demonstrar surpresa genuína, não tive tempo de escondê-la por baixo do meu tão usual sarcasmo.
_Potter, do que você está falando afinal?_perguntei, me recuperando._ Você sabe muito bem que eu não agüento te ver na minha frente!
_Talvez depois você mude de idéia.
_Eu estou avisando, Potter, saia de perto de mim. Estou avisando mesmo. Você não vai querer me ver com raiva de verdade.
_Eu já te conheço com raiva, Evans, e não é nesse seu lado que eu estou interessado agora.
Eu tentei enfiar a mão nas vestes pra pegar a minha varinha, mas não tive tempo, porque no momento seguinte Potter chegou MUITO perto, de verdade. Eu tentei bater nele com as minhas próprias mãos, mas ele deixou cair a varinha no chão atrás dele e segurou os meus pulsos com a maior facilidade do mundo. Tudo isso aconteceu em frações de segundos, muito depressa, e é mesmo estranho eu me lembrar de cada detalhe. É estranho eu me lembrar que ele segurou os meus pulsos mas depois soltou um deles pra tocar o meu rosto... E como em seguida eu percebi as vestes dele encostadas nas minhas, e como era nova aquela sensação... E como depois ele aproximou o meu queixo dele, vendo que eu aparentemente desistira de resistir... E, acima de tudo, é estranho que eu me lembre o modo como ele me beijou, escorregando a mão que estivera no meu queixo para a minha nuca.
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