O Ingrato e o Exibicionista
Capítulo Dois - O Ingrato e o Exibicionista
Potter veio andado folgadamente até a mesa, e sentou-se do lado de Remo, quase de frente pra mim, como se há horas atrás eu não tivesse acabado de brigar com ele de novo. Pettigrew já estava comendo há muito tempo, mas sua chegada nem chamou à minha atenção. Era incrível como ele sabia chegar em silêncio.
-Então, Remo -ele disse, enchendo o prato, enquanto eu me esforçava para ouvir apenas a conversa de Black com Alice.- em que dia do mês estamos?
Remo pareceu congelar, e eu não entendi porquê.
-Dezesseis.
-Ah, ainda temos muito tempo.-riu Potter, e eu não sabia qual era a graça. Remo, por sua vez, parecia muito tenso. Mas pelo que pareceu ser sorte dele, o outro tratou de mudar de assunto, que se transformou no meu azar.- Oi, Evans.
Não respondi, mas apenas olhei de esgrelha pra ele, subitamente tão tensa quanto Remo estivera, também sem saber exatamente o porquê.
-Ah, Evans, não acredito que ainda está brava comigo por aquilo de hoje à tarde... O Ranhoso andou merecendo uma lição há tempos, você é que foi muito boazinha defendendo ele.
-E você pode me dizer o que Snape fez a você para que você o azarasse na frente de todo mundo daquele jeito?-provoquei, sem conseguir me conter.
-Bom, além do fato de existir, como eu te falei... Ele é um grande metido e ingrato, você não viu ele te chamar de Sangue Ruim?
-Até aí ele só provocou a mim, não fez nada pra você.-falei.
-E você ia deixar...?
-Claro que ia, Potter, Snape me chama de Sangue Ruim desde que me conheceu no primeiro ano, isso é a coisa mais normal do mundo, vinda dele. Mas você tem sido pior que ele, Potter. Será que você não percebe que todo mundo já está cansado de saber que você é apanhador da Grifinória, que se acha o cara mais inteligente do planeta e o mais sedutor??
-A parte sedutor fica por sua conta, Evans. Não posso fazer nada se tantas garotas me acham lindo.
-Bom, eu não acho, Potter, por isso você já podia começar a descer desse seu pedestal.
-Ei, já chega.-Frank interferiu.
Uma idéia vagamente cruel veio à minha cabeça.
-Tem razão, Frank.-falei.-Não vou perder o meu tempo com esse idiota. Então está combinado, iremos juntos a Hogsmeade, não é?
Enquanto me levantava, pude ver a cara que Potter fez. Exatamente o que eu queria, como os garotos são previsíveis. Adoro ferir o ego dele...
Ao menos o ano já estava no fim. O fim de semana que eu ia passar com Frank seria o último antes de entrarmos de férias, e eu estava morrendo de ansiedade de saber quantos N.O.M.s eu havia tirado. No sábado de manhã, acordei um pouco mais cedo e levei pergaminho, pena e tinteiro para o corujal, pensando em mandar uma carta pra casa antes de chegar, para evitar ficar falando o tempo todo dos N.O.M.s. Se eu escrevesse todas as minhas expectativas no papel, meus pais (ou Petúnia, aquela invejosa) poderiam dar fim na carta sem ler toda aquela papagaiada.
Eu já tinha contado sobre o teste de História da Magia e Feitiços, quando escutei um barulho de passos atrás de mim. Ao me virar, dei de cara com Snape. De novo.
-O que está fazendo aqui?-perguntei, antes que pudesse segurar a minha língua.
Snape me encarou, como se me avaliasse.
-Acho que o corujal não te pertence pra que eu precise te dar satisfações da minha vida, Evans.
-Com certeza não, mas acho que um pouco de educação não faria mal a você. Talvez fizesse com que o Potter se contivesse mais um pouco.-acrescentei, subitamente venenosa.
-Você deve ter se divertido bastante.-disse ele.-Mas não podia perder uma oportunidade daquelas de parecer a garota boazinha e piedosa, não é mesmo?
-Olha aqui, eu já me cansei de discussões por um bom tempo, Snape. Já briguei com Potter bastante hoje e sinceramente não estou com disposição pra mais uma.
Snape tirou um rolo de pergaminho das vestes e caminhou na direção de uma coruja-das-torres.
-Você brigou com Potter?-perguntou, num tom forçadamente indiferente.
-Eu brigo com ele o tempo todo.-falei, cuidando da minha própria coruja enquanto isso.-Bem mais do que com você, pois com ele sou obrigada a conviver na mesma Casa.
-Ou talvez porque eu não fico despenteando os cabelos o tempo todo.
"Se você fizesse isso ficariam piores do que já são", pensei, mas achei melhor guardar essa pra mim mesma.
-Mas acho que o fato de ele não me chamar de Sangue Ruim o tempo todo colabora para que ele continue vivo.-provoquei.
A coruja mandada por Snape saiu voando e ele ficou parado, olhando pro horizonte (ao menos foi isso que me pareceu).
-Mas você é, Evans. Passou a vida toda vivendo como trouxa, até receber uma carta amalucada de Hogwarts.
-Se você está tentando me ofender - eu disse, fechando a carta onde eu tinha parado de escrever mesmo.- vai ter que fazer mais do que me chamar de Sangue Ruim. Ao menos em uma coisa Potter estava certo, você é um tremendo ingrato.
-Por que, você aceitou sair com ele pra me impedir de ficar sem roupa no pátio de Hogwarts, por acaso?
-Eu não faria isso nem pela minha irmã, Snape.-falei, dando graças a Deus que ele não soubesse da minha relação amigável com Petúnia.
Snape se virou pra mim e disse:
-Você não sabe mesmo o porquê de brigar tanto com o maldito Potter, Evans?
Pega de surpresa, ergui uma sobrancelha.
-Do que está falando?
-Esqueça. Já vi que você nem desconfia.
Outra coruja saiu voando, dessa vez a que levava a minha carta.
Ah, eu não sou obrigada a ficar aqui ouvindo os seus enigmas.-bufei, saindo do corujal.
Achei Alice nos corredores próximos da sala comunal. Ela estava saltitante; finalmente Black a convidara pra sair. O que significava duas coisas. 1º:ela ia sair com ele só uma vez e depois entraríamos de férias, o que significa que ano que vem ele nem vai lembrar mais que saiu com ela; 2º: é melhor eu me preparar para ver nas cartas da Alice desse verão apenas suspiros de "oh, será que o Sirius gostou de mim??". Mas, mesmo assim, eu ainda tinha que demonstrar felicidade pela realização dela.
Alice é o tipo da amiga que não te deixa falar muito, sabe. Ela lembra de detalhes do sublime momento que Black foi falar com ela a todo instante, e isso estava ficando realmente insuportável, quando Frank veio me salvar. Já estava na hora de sairmos pra Hogsmeade.
-Alice parece estar muito feliz.-ele comentou, quando nos afastamos e a deixamos com Black.
-Sirius Black tem deixando a Alice muito alegre nos últimos meses.-falei, rindo.-Ela está caidinha por ele.
-Bom, isso dá pra notar a quilômetros de distância. Mas ela gosta dele pra valer?
Virei-me pra olhá-lo.
-Por acaso Frank Longbottom está com ciúmes de Alice Scorrell?
-E por acaso Lílian Evans está enciumada de Frank Longbottom?
-Não seja bobo, Frank -falei, enquanto cruzávamos os portões da escola.
-E aí, onde nós vamos primeiro?
-Não sei, que tal o Três Vassouras?
-Como queira.-sorriu Frank.
Eu também estava sorrindo muito, quando meu olhar encontrou a única pessoa que poderia desmanchá-lo. Sim, Potter de novo. Como ele sabe ser inconveniente. Por incrível que pareça, não estava com outra menina, e sim apenas andando com Remo, em direção à Zonko's, claro. Quando nos viu, ele me lançou um olhar muito estranho, algo como uma insinuação. A princípio, achei esquisito, mas logo me lembrei que atitudes irracionais são bem o tipo de Potter.
-Nossa, qual será o problema com Potter dessa vez...-murmurei, enquanto Frank e eu entrávamos no Três Vassouras.
-Com certeza sou eu.-riu ele.-Você viu a cara dele quando disse que ia sair comigo?
-Na verdade, pouco me importa. Ele que vá procurar consolo com o harém dele, que eu estou muito bem aqui.
Frank sorriu mais ainda, encarando meu comentário como um grande elogio a ele.
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