Quadribol
Capítulo Treze - Quadribol
Remo não tinha nem vaga idéia do que passava pela minha cabeça. Na verdade, muito menos eu. Por acaso eu estava prestes a contar para ele, um Maroto, que eu acabara de ser beijada por Potter? Mas puxa vida, ele tinha sido tão gentil comigo, estávamos até juntos numa confusão contra os Comensais sonserinos...Quero dizer, tanto faz a Casa, o que quis dizer é os comensais em geral.
Chegamos no Salão Principal. Nós nos sentamos e começamos a nos servir, quando ele me perguntou o que, afinal de contas, tinha acontecido. E quando eu olhei nos olhos dele, meio que perdi a coragem de contar sobre o que tinha acabado de acontecer.
_Fale, Lílian._repetiu Remo._ Você está agindo como se houvesse alguém à beira da morte.
Respirei fundo, várias vezes.
_Remo..._comecei._ Será que não dá pra você dar um jeito no insuportável do Potter?
_Como assim, o que aconteceu?
A hora tinha chegado. No último instante, mudei de idéia.
_Puxa vida, ele não pára de me chamar pra sair! Será que não tem um jeito de você fazer com ele se toque?
Remo ergueu as sobrancelhas.
_Foi pra isso que você me puxou nervosa daquele jeito?
Fiquei com vergonha de falar a verdade... Ah nossa, Lílian Evans com vergonha de falar a verdade? O que estava acontecendo?
_Ah... Sim, é isso... Desculpa, Remo, mas aquele garoto insuportável não pára de me encher a paciência! Não há a menor condição de um dia realmente nós acabarmos juntos!
_Puxa, Lílian._disse ele._ Achei que fosse algo tão mais...
_O que você pensou que fosse?
Remo olhou de relance para a mesa da Sonserina, e eu entendi.
_Ahhh _murmurei._ Sobre isso eu não soube de nada.
_Nem eu. E isso é o que me preocupa. Nem os nossos horários eles marcaram ainda. Mas _de repente ele parou de falar, e antes que eu pudesse perguntar o porquê, vi Black chegando e sentando ao lado dele._ Ah, oi Sirius.
_Ei, você viu o Pontas?_ele perguntou._ Eu mandei a Silvertorn atrás dele pelo corredor. Acho que você esbarrou com ela, Evans. Não viu os dois?
_Não._menti, enfiando a cara no prato de comida para que não notassem como eu fingia mal.
_Bem, acho que estão fazendo coisas que nós não gostaríamos muito de ver._Black riu.
Remo sorriu, enquanto eu continuava com a minha atuação do tipo "não estou prestando atenção na sua conversa". Ainda assim Black se virou pra mim.
_Pois é, Aluado, Pontas está lá nos amassos com Silvertorn, mas não é bem aquela Lílian que ele quer...
Virei-me depressa.
_Por acaso essa é alguma referência criminosa a mim?_inquiri.
_É uma referência, mas não sei bem se é criminosa._Black falou, sorrindo do modo como costumava fazer para Alice antigamente. Às vezes penso que ele faz aquilo pra sempre conseguir o que quer. Bem parecido com seu amiguinho convencido._Afinal, Evans, você bem sabe que Pontas é caído por você... A escola inteira sabe que todas essas brigas são sua fachada pra esconder que gosta dele mas não quer dar o braço a torcer.
_Black, peço suas desculpas, mas _retruquei._ não me lembro de alguém aqui ter pedido a sua opinião sobre como eu trato ou deixo de tratar o maldito Potter.
O outro riu. Remo, pelo que eu percebia, já estava se acostumando a essas brigas em que ele apenas escutava. Mas provavelmente estava dando graças a Deus internamente por não ser Potter ali no lugar dele.
_Mas sabe de uma coisa, Evans _Black continuou falando._ depois de amanhã vai ter um jogo de quadribol dos bons. Você ficou sabendo? Grifinória contra Sonserina. Vamos esmagar as cobrinhas. E sabe de uma coisa...
_Não eu não sei._interrompi._Remo, você me perdoa se eu for me sentar com as minhas outras amigas? Acho que você entende porquê.
_Sim, entendo. Tudo bem, Lílian, a gente se vê.
Enquanto eu ia me sentar do lado de Alice - e largara o prato de comida pela metade; Black conseguira me deixar sem fome - , vi que Potter estava chegando no Salão Principal. Ele olhava em volta o tempo todo, procurando Black, eu imaginei. Quando o olhar dele recaiu sobre mim, desviei imediatamente e senti uma onda de raiva subindo no meu estômago.
A meninas estavam conversando alegremente sobre um garoto da Lufa-Lufa, sétimo ano, sobre quem elas estavam quase fazendo um fã clube. Luane Zach, com quem eu também dividia dormitório, ficava dizendo o tempo todo que era nela que ele estava de olho quando, uma vez a cada meia hora mais ou menos (ou seja, totalmente por acaso) ele olhava na direção da nossa mesa.
Pensei por um momento em contar a Alice sobre o desastre que acabara de acontecer, mas quando flagrei um olhar dela para Frank, mudei imediatamente de idéia. Era melhor deixar que ela achasse que estava tudo bem comigo para não desviar suas atenções dele.
Olhei então de relance para o lugar onde os quatro marotos estavam sentados; Black estava conversando com uma menina do quinto ano, parecendo um tanto babão, o papa-anjo. Remo e Pettigrew falavam sobre algo em voz baixa, Pettigrew sempre com a boca muito cheia para responder, enquanto Potter, que devia, presumo eu, estar prestando atenção no que Remo dizia, estava revirando com o garfo um montinho de comida no prato. Devia estar ensaiando mentalmente um discurso pra lá de eloqüente para convencer Silvertorn a voltar com ele. Porque, com toda a certeza, ele já estava arrependido.
Acabei comendo mais um pouco com a insistência de Alice e subi para o dormitório, fiz a tarefa de Transformações e dormi.
Eu estava me mantendo ocupada o tempo todo naqueles tempos, porque assim que eu ficava um pouco ociosa a minha memória me trazia de volta a lembrança desconfortável dos dois beijos que Potter me dera, e da minha reação aos dois, que muito me intrigava... Tenho plena certeza de que ele é um grande arrogante insuportável, mas ainda assim correspondi a dois beijos que deveriam ter terminado com aqueles tapas de até deixar a marquinha dos dedos.
E para não me deter muito tempo pensando numa coisa que não me levaria a lugar algum, enfiei a cara nos livros durante dois dias, até que eu (e todo o resto da escola) arrumei outra distração bem mais radical: o jogo de quadribol da Grifinória contra a Sonserina, sobre o qual Black insistira tanto em me informar.
Bem, qualquer um tem que assumir, até eu, que mesmo se sendo um aluno exemplar é necessário descarregar aquela onda de raiva contra a Sonserina ao menos uma vez por ano. E esse era precisamente o meu hábito em todos os jogos nos quais a Grifinória a enfrentava.
Jack Tycon, da Lufa-Lufa, começou a narrar o jogo, tão logo os jogadores entravam. Eu estava sentada com Alice de um lado e sentado com ela Frank (puxa, eu realmente devia tentar carreira de cupido profissional), enquanto do meu outro lado estavam Remo e Pettigrew. Potter era o nosso apanhador e Black, um dos batedores. Luane era artilheira, junto com duas garotas do terceiro ano, Ninphadora Tonks e Ada Black, prima de segundo grau de Black, eram as outras duas. O outro batedor era George Wood e a goleira, Adrienne Dupré, uma imigrante francesa, do sétimo ano.
O time da Sonserina tinha o maldito Malfoy como apanhador e Snape como batedor, que havia começado aquele ano. O time tinha apenas uma garota, Patrícia Hallway, a artilheira mais fresca que você poderia esperar de qualquer time de quadribol.
O jogo começou e, meu Deus, como eu gritava; mal conseguia ouvir Tycon gritando os nomes! Lembro-me de um balaço maldoso do parceiro de Snape que fez Tonks dar uma volta completa com a vassoura; ela passou então de qualquer jeito para Ada Black, que levou um encontrão do artilheiro sonserino e deixou cair a goles, da qual Potter desviou de última hora, dando uma guinada rápida com a vassoura. Hallway pegou a goles que estava sobrando por ali e voou depressa da direção de Adrienne, mas Black jogou um balaço exatamente na cauda de sua vassoura, que a fez dar um giro de no mínimo trezentos e sessenta graus, enquanto gritava como uma mandrágora. Tonks recuperou e jogou com força para Luane, que estava quase emparelhada com goleiro da Sonserina.. Eu ao menos nunca esperei que uma menina não pequenininha de cabelos vermelhos - naquele dia - fosse capaz de jogar um goles com aquela força.
Eu quase não vi Luane jogando a goles para a aro com sucesso, pois Remo havia gritado do meu lado "Olhem para o Tiago!" e com isso quase estourou os meus tímpanos. Mais tarde ele pediu desculpas, claro, mas o estrago já estava feito.
Potter voava muito rápido mesmo, mais do que seria esperado de sua vassoura quase pré-histórica; ele havia quebrado a última no jogo contra a Lufa-Lufa no ano passado e Remo me dissera que seus pais não queriam lhe dar uma nova como castigo. Mesmo assim, Malfoy não demorou para alcançá-lo. Juro que vi um cotovelo de Potter nas costelas dele, mas como isso deixava o nosso time em vantagem, fiquei quieta. Eu não sou tão certinha assim, sabia??
Escutei Snape gritando alguma coisa não muito longe deles, erguendo o bastão para pegar impulso; isso porque Potter estava quase com a mão no pomo, e Malfoy era empurrado para o lado de fora da curva cada vez com mais força. Wood gritou também e Black, que estava mais perto da confusão, começou a voar de encontro a Snape, pelo jeito para impedir seus planos.
O balaço veio, rebatido para ele de seu companheiro, ainda que um tanto atrasado. Então muita coisa aconteceu ao mesmo tempo: Potter fechou o pomo na mão, Snape rebateu um balaço na direção dele e Malfoy saiu do caminho, pelo jeito, como eles teriam ensaiado em treinos. Logo em seguida Potter fez menção de erguer a mão em vitória quando o balaço acertou em cheio sua cabeça, por trás. Meio segundo depois, Black partia pra cima de Snape com o taco, visivelmente despreocupado com qualquer balaço.
Potter apagou na hora, deu pra ver de onde eu estava. O pomo derrotado se soltou da sua mão e caiu no chão. Nós, que estávamos quase prontos para comemorar, paramos no meio do grito. Potter escorregou da vassoura e foi caindo, caindo cada vez mais depressa... Todos nós assistíamos apavorados. Levei as mãos aos olhos, imaginando que não gostaria de vê-lo se espatifando no chão. Muito bem, eu não o suportava, mas nem por isso ele merecia uma morte horrível como aquela.
A profª McGonagall se levantou na arquibancada dos professores e ergueu a varinha; Potter pareceu ter sido fisgado no ar, a mais ou menos um metro e meio do chão, e depois caiu de vez.
Olhei de novo para o ar, e vi uma tremenda confusão se formando entre os outros jogadores; Black batia em Snape já sem o bastão, mas socando cada centímetro dele que conseguia alcançar; a Madame Muller voou até eles e gastou um bom tempo até separá-los.
Nós, da Grifinória, descemos correndo as arquibancadas pra ver como Potter estava. Fosse ele como fosse, era mesmo um bom apanhador, e sem ele não tínhamos grandes chances de levar a taça.
Vi, por cima do ombro de Alice, Potter abrindo os olhos; enquanto os diretores das duas Casas reuniam os times para as punições por aquela briga pós-jogo, Madame Muller correu até Potter e nos dispersou, alegando que o levaria imediatamente para a ala hospitalar. Remo ficou por ali com Pettigrew, ao lado de Potter, enquanto todos nós íamos de volta para o castelo.
No dia seguinte, enfrentei um conflito interior, decidindo de devia ou não ir visitar o maldito Potter na ala hospitalar. A princípio, achei um absurdo ter simplesmente tido a idéia. Mas depois que me lembrei do que ele andava fazendo pela Grifinória nos últimos tempos, me lembrei que apesar de ser tão arrogante ele recusava veementemente se aliar aos Comensais da Morte e outras coisas mais, quase me senti ingrata por não ir. Chamei Alice para que fosse comigo, claro, mas quando ela deixou escapar pra mim que tinha marcado um encontro com Frank nos jardins, nem discuti muito.
Quando chamei Remo, achei que ele fosse gostar da idéia, mas ele parecia estar ficando doente de novo (estranho ver como ele é frágil com isso, não?) e acabei indo sozinha mesmo.
Abri a porta da ala hospitalar e o primeiro que vi foi Snape, deitado numa das primeiras camas, cheio de ataduras e curativos. Por dentro, quase dei risada; mas sabia que a maioria das coisas que ele sofria eram por arrogância de Potter e Black. O coitado estava até desacordado.
_Já sei o que está pensando, Evans _Potter disse, sentado na última cama da ala hospitalar._ que tudo que ele sofre é sempre minha culpa. Mas você tem que assumir que desta vez ele mereceu.
Voltei-me para ele.
_Isso não te torna nem um pouco mais nobre nas suas outras ações, Potter._respondi.
_Ei, Evans, se importa se eu perguntar o que diabos está fazendo por aqui?_Potter perguntou._ Com certeza não é pra me lembrar do quanto eu sou um mau garoto com o Seboso.
_Em tese, realmente não era._retruquei._ Mas você sempre me lembra disso, então nunca acabo conseguindo evitar.
_Está me dizendo então que veio aqui para me visitar?_Potter disse, meio incrédulo, com uma sobrancelha erguida.
_Era a idéia, Potter. Afinal, ainda que tenha quase rachado a cabeça no meio pra isso, conseguiu ganhar o jogo para a Grifinória. Chamei Remo para que ele viesse comigo, mas ele parece um pouco doente, de novo.
Ele jogou a mão na testa.
_Nossa, é verdade! Como eu pude me esquecer...?
_Do que está falando, Potter?
_Ah, nada. É que a sua presença somada a um balaço em cheio na cabeça me deixa bastante atordoado. Entende...?
Virei os olhos e cruzei os braços.
_Ah, céus, já estou vendo porque não deveria ter vindo aqui. Você realmente é incurável, Potter! Pois bem, continue com sua dor de cabeça que eu vou indo, porque senão você pode acabar sendo a minha presença com quatro dedos marcados na cara!
Dei meia volta me encaminhei para a porta.
_Ruivinha esquentada..._Potter resmungou.
_CALA A BOCA, POTTER!_gritei batendo a porta, e provavelmente acordando Snape.
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